Maria Manuela Aguiar |
versão mais completa só no tempo de juventude??? 3 out |
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A 1 de novembro de 1941, os noivos celebraram, sem celebrações. o casamento civil. em Gondomar. Para a avó Maria o que contava era o compromisso assumido perante Deus, não face a um funcionário da República, como a lei exigia, em tempos pré concordatários. Após a breve e burocrática cerimónia, os recém-casados regressaram a casa de seus pais, em São Cosme e Avintes.
O Conservador do Registo, Dr Jazelino, marcou o ato para o dia em que, em São Cosme, se evoca a memória dos mortos. A Mariazinha, de casaco debruado a azul marinho, carteira e sapatos da mesma cor, tomou o único táxi da vila para a Conservatória, acompanhada apenas pela mãe. No breve trajeto pela rua principal, cruzaram-se com dezenas de conterrâneos de coroas de flores na mão, e trajes escuros, que faziam caminho em sentido contrário, para o cemitério,
O "casamento a valer", realizou-se na Igreja Matriz de Gondomar, duas semanas depois. O pedido formal da "mão da noiva" tinha sido feito à mãe e ao irmão Alexandre, o republicaníssimo mas conservador nos costumes, tio Alexandre, o mais próximo e mais querido, que fez as vezes do pai, depois da morte do avô António Carlos. O tio, numa variante de "sermão laico", lembrou ao noivo as suas obrigações e o estatuto a que a Mariazinha estava habituada - ou seja, a ser servida, nada de trabalhos de casa.. Laico e anti-clerical não valorizava particularmente a faceta religiosa do candidato a sobrinho. realista, sabia que aquela era, de todas as sobrinhas, a que menos cultivava as prendas domésticas. Na verdade, numa cozinha era um desastre, sabia menos do que ele.
Para a lua de mel escolheram a região centro. O noivo ainda não tinha comprado o primeiro de uma série de velhos carros cinzentos, em que, quando eu era criança, circulávamos no triângulo Gondomar-Porto-Avintes, em curtos passeios à Foz e a Espinho, e em excursões de domingo por vales e serras do Minho e Douro.
Viajaram, pois, de comboio, no famoso "vouguinha", de Espinho a Viseu, fazendo paragens para pernoitar, aqui e ali, até ao fim de linha. Era outono, quase inverno, o que pouco importava. Ainda hoje Viseu é uma das cidades preferidas da minha mãe.
Em Gondomar, passaram a viver, por insistência da avó Maria. Com ela já só moravam, no enorme casarão, os filhos solteiros, Zé e Lena e ela estava habituada a mais movimento. Era avessa à solidão - quanto mais gente à sua volta, melhor. A relação sogra-genro foi sempre cordial, talvez não muito efusiva, porém, certamente mais cordial do que a da grande matriarca com os outros genros O pai ganhou uma nova família, mais extensa e festiva do que a sua. Gostava de todos, todos gostavam dele. E a mãe podia dizer o mesmo, no seu convívio com os parentes de Avintes, à exceção - não pequena - dos sogros, de quem manteve distância, de princípio a fim. Não sei e ninguém sabe porquê. Razões muito subjetivas. Provavelmente simples e insolúvel questão de ciúmes. Ciúmes anacrónicos da primeira mulher do marido, que eles recordavam mais como filha do que nora - mutação que nunca houve hipótese de acontecer com a segunda....
Na Villa Maria ficaram por mais de oito anos, aí nasceram as duas filhas. Maria Manuela em 1942, Maria Madalena no ano seguinte. Aí deram os primeiros passos. Durante esse período, casou a tia Lena com o tio David (de Almeida Ribeiro) e o tio Zé, um dos irmãos brasileiros, voltou às origens, ao Rio de Janeiro. Saídas compensadas pelo regresso à Villa Maria da filha mais velha, a tia Lina, com o marido e os dois filhos. Dessa vez, com obras que tornaram independentes os dois andares, a maior das quais foi o aproveitamento de parte da casa de banho para uma cozinha - como era um compartimento enorme, com nada mais nada menos que sete janelas, deu facilmente para a divisão) Os tios ficaram em cima, nós no 1º andar, com a avó. Os primos era, doze e dez anos mais velhos do que eu. Ganhei dois irmãos e com eles fiz o tirocínio de menina-rapaz. A Lecas também, mas menos, porque não era tão dada a correrias e atividades desportivas.
Com os pais andávamos constantemente num vaivém de curtas viagens, entre São Cosme e Avintes, onde passávamos muitos fins de semana. No verão, o destino era Espinho, por um ou dois meses - às vezes, mais.
Nos primeiros anos, o pai manteve emprego na Câmara de Gaia, depois, foi o Porto.o seu local de trabalho. Deixou a Câmara para se lançar, a convite do avó Manuel num negócio de venda de tecidos, na Praça Carlos Alberto. O avô era o sócio capitalista, um tal Oliveira o sócio gerente e o pai, algo de intermédio. A aventura terminou num desastre. O sócio de indústria era um ladrão, fez o desfalque e fugiu para África e nunca mais foi visto. O avô pagou os prejuízos e retiro-.se. definitivamente desses domínios do empreendedorismo comercial e o filho, fez o mesmo. Confiaram demais em quem não merecia e perderam a sua auto-confiança no mundo capitalista. O Grémio dos Ourives foi a entidade patronal do meu pai durante décadas, até à sua reforma, nessa altura, depois de dois tardios bacharelatos, seguidos de uma licenciatura no ISCTE, já no topo da carreira, como Secretário-Geral.
Desde fins da década de sessenta, o Porto foi, também o nosso lugar de residência, num andar pequeno e simpático, na Rua Latino Coelho, perto do Colégio da Paz e do Marquês de Pombal. Solução muito criticada pelos avós dos dois lados, que os queriam nas suas casas grandes. Mais ainda pela avó Maria que chamava a prédios altos de apartamentos, por melhor que fosse a sua qualidade arquitetónica, "Ilhas na vertical" - ilhas no sentido portuense, de casario horizontal, térreo e modesto. A minha irmã Madalena (Lecas) e eu não fomos da mesma opinião. Adorávamos, positivamente, o Porto e o nosso confortável apartamento.
Por fim, ainda antes dos anos de reforma, uma última mudança, consensual e liderada por ele, trouxe-nos para Espinho, na começo da década de 70, já sem a Lecas, que morreu em 1964, aos 20 anos
A geografia da sua vida, incluí, ainda, incontáveis excursões pelo norte, até à Galiza, muitas viagens a Lisboa, onde colecionou os vários títulos académicos (alcançados como aluno voluntário) e poucas, mas memoráveis visitas a sul, a Olhão, onde morava a nossa amiga e antiga vizinha de Latino Coelho, a Maria do Carmo. O estrangeiro limitava-se, para além da Galiza, que é difícil considerar estrangeiro, à Espanha, da Estremadura e Castela ao País Basco e a França... Nunca ninguém conseguiu convencê-lo a entrar num avião.
POETA NASCIDO NUMA TERRA ANTIGA
Homem de várias terras, dois casamentos, duas filhas, muitas amizades. A sua história começou há 100 anos. Nasceu, em Avintes, a 6 de junho de 1918, uma quinta-feira. Eram. precisamente, 11.00 da manhã. Dia inesquecível para a família reunida na casa da Rua do Paço. Ali, a muito poucas centenas de metros, as águas do Douro corriam tranquilas, longe, muito longe das terras que a grande guerra, a meses do seu termo, ainda devastava. A mais terrível epidemia de gripe, a espanhola, era a ameaça muito concreta, o País chorava os mortos do massacre de La Lys e Sidónio Pais, que fora opositor da nossa desastrada intervenção militar na Europa e na África, enfrentava vagas de contestação, no que seria o seu último verão. Tempos de incerteza e de angústia. Católicos, conservadores, monárquicos, os pais, Olívia e Manuel, de quem era o primeiro filho, e os avós paternos, Quitéria Francisca e João Dias Moreira, e maternos, Joaquina e João Fernandes Capela, de quem era o primeiro neto, aceitavam Sidónio como "presidente - rei", ou como mal menor, mas, de momento, todos esqueciam os destinos de Portugal e do mundo. Sonhavam, simplesmente, o destino de um menino forte e perfeito. Nome já tinha. O de ambos os avós: João.
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O menino já tardava. Os pais tinham casado, na Igreja de Avintes, dois anos antes, a 24 de setembro de 1916. Casamento simples, apenas com a presença de famíliares e amigos íntimos. A mãe, Olívia, ia muito bonita no seu vestido branco, alta, magra, pálida, olhos grandes e cabelos negros, sorriso doce, e apenas dezasseis anos, menos dez do que o loiro e melancólico Manuel, homem bem parecido e elegante. Seguia os cânones da moda, era frequentador do Clube Recreativo Avintense, desportista, melómano, ator amador do Grupo Dramático Mérito. A noiva não girava nos mesmos círculos. Tímida e recatada, muito religiosa, quase se limitava a ir de casa para a igreja, com a mãe e a irmã mais velha, Clementina, que haveria de ser sempre bem mais "chique" e mais dada à vida social.
Nas missas de domingo se cruzaram Olívia e Manuel. Um caso de amor "à primeira vista", que durou pela vida fora. Ele continuaria a frequentar as tertúlias, as salas de concertos e os cinemas, onde ela raramente o acompanhava. Saía para fazer o que verdadeiramente lhe agradava - para a missa diária, para visitar a mãe e as amigas, quase todas senhoras mais velhas, e para os convívios de família. Dentro de sua casa, era uma anfitriã natural, sempre pronta a receber convidados, em grandes almoços e jantares, onde, geralmente, pontificavam senhores abades, mas todos eram bem-vindos. A culinária era o seu domínio de elleição, cozinhava por gosto. As criadas, moças rudes vindas do interior, nunca passavam do estatuto de ajudantes, para tarefas marginais, não lhes dava ensinamentos nem oportunidades.
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João aparece na sua fotografia mais antiga, possivelmente de fins de 1918, sereno e confiante perante as câmaras, entre os pais. Olha em frente, sem sorrir. Com a mesma expressão o vemos meses depois, sozinho, sentado, vestindo uma diáfana camisa de cambraia branca, o cabelo claro escondido numa touca de renda. Fotos de época, de fotógrafo profissional, que nos falam apenas de um casal burguês, orgulhoso do seu pequeno sucessor.
Note-se, pormenor sem importância, mas revelador da faceta puritana da mãe, em matéria de modas e costumes, que o infante está vestido... Era comum, então, retratar os bebés nus, como os anjinhos do céu, mas ela não admitia tamanha exposição. Se pudesse, vestiria até o menino Jesus nos presépios e os anjinhos nas esculturas e nas telas das igrejas. Nunca perderia essa faceta, embora fosse, em tudo o mais, um paradigma de tolerância. Em qualquer caso, o traje escolhido para a foto, sumário e leve, é certamente mais etnográfico do que a mera nudez.
Do batizado, a 21 de junho desse ano, não há imagens. No livro de apontamentos de capa de capa de seda vermelha, o feliz pai, apenas regista a data e o nome dos padrinhos, João Dias Moreira e João Fernandes Capela, os dois avós, sem referência a madrinhas.
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Cinco ou seis anos passados, o rapazinho, que viria a ser um homem tão jovial, de sorriso fácil, continua de semblante fechado para a câmara, nas poses artificiais ensaiadas pelo esforçado retratista profissional. De perfil, com calção e "blazer", encostado a uma coluna, ou de frente, junto a um brinquedo de praia. Recordação do verão em Espinho. Foto Evaristo.
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Nesse ano, (1924, provavelmente) já não existiriam os seus três irmãos, Maria, nascida a 28 de janeiro, em 1922, e os gémeos, Alberto e Manuel, tão auspiciosamente vindos ao mundo, na data de aniversário de seu pai, em 9 de outubro de 1923 - todos desaparecidos com poucos meses de vida, de doenças, então fatais, agora facilmente combatidas com antibióticos. Deixaram saudades, e o Joãozinho regressado à condição de filho único. Com o sucedâneo de seis primos-irmãos. Do lado paterno, da tia Maria Francisca Reis, o António e a Maria Angélica, dois e três anos mais novos, e da tia materna, Clementina, o Alberto (1922), a Alda (1923), o Manuel (1924) e a Maria Helena (1925).
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Todos os seus "quase irmãos" moravam por perto, em Avintes. Davam-se bem, sem rixas nem rivalidades, num circulo que abrangia outros primos. o Francisco e o Corinto Marques e os primos desses primos,como a Maria Argentina, o Carlos e o Fernando Reis. Crianças saudáveis e alegres, suficientemente bem comportadas para não deixarem um rasto de histórias extravagantes para a posteridade. Decerto a razão porque, desse tempo de infância, recordava mais ambientes do que episódios. Falava de Avintes, como de um paraíso terreal. E Avintes podia, então, candidaatr-se ao título de uma das mais encantadoras terras percorridas pelo Douro, situada numa das largas curvas do seu curso mais tranquilo, já perto do Porto e da foz. Era a vista que se lhe oferecia contemplar da janela do quarto. Os pais moraram, nos primeiros tempos de casados, no Outeiro, colina verde, que descia suavemente para a ribeira, até uma das mais belas propriedades dos seus avós paternos, que chamavam a quinta da Pena. Ele encurtou muitas vezes essa distância, correndo, rua abaixo. A quinta era ponto de encontro com os primos Reis, nas visitas aos avós, que viviam em frente, numa casa rústica, com altos muros de pedra, ao longo da estrada, na subida até à casa da quinta do Paço. Um conjunto edificado em épocas diferentes, a mais antiga, talvez, dos inícios do século XVII, a mais moderna terminada em 1901, data gravada na pedra da entrada principal.
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Na quinta da Pena, a casa estava vazia.Tinha pertencido a um famoso advogado do Porto, que morreu sem herdeiros diretos, deixando-a a um coletivo de muitos sobrinhos, a quem a comprou o avô Moreira, interessado, sobretudo, nas terras de cultivo. A casa teria sido construída, inicialmente, para os feitores da Quinta do Paço, e, depois, sucessivamente remodelada. Era pequena pequena e discretamente senhorial, com as paredes de pedra caiadas de branco, janelas verdes, linhas retas à face da rua do Paço, a entrada principal e a vivência voltadass para o pátio das traseiras, para o que restava dos jardins, em redor da carranca antiga, incrustada num conjunto de pedra, que ás crianças parecia um altar de capela. A enigmática carranca lançava um fio de água sobre um lago retângular talhado no granito. Um simples espelho de água,que foi cenário de muitas aventuras infantis e de piqueniques da família inteira. Ali tinha, nos seus últimos anos, algumas vezes, celebrado missa campal, para família e vizinhos, o tio Padre Manuel Pinto da Silva. O eco dessas reminiscências dos mais velhos acrescentava à "capela" uma aura de misticismo e magia, propício à invenção de enredos e de personagens por rapazes cheios de Imaginação e energia (as meninas eram mais novas, e a diferença de idades parecia, então, considerável.
O jardim, sombreado pelo arvoredo, perdera muito terreno para os campos de milho do novo proprietário, que desciam até às margens do Douro. Os milheirais quase entravam pela água adentro. Antes do abandono da agricultura tradicional e da invasão do cimento clandestino sobre essas terras baixas e fertilíssimas, a ribeira de Avintes não tinha rival, na singularidade desse encontro entre o rio e as searas, que nele deixavam, ao sabor da brisa, o seu reflexo ondulante. Searas altas, onde os meninos se escondiam, como numa floresta... Na zona de transição entre as searas e as matas, a casa desocupada era, livremente, usada por eles (esconderijo ideal, à vista de todos os que deviam vigia-los). Sentavam-se nos bancos de pedra que ladeavam as janelas, arrumavam os brinquedos nos fogões de sala dos quartos, vazios de qualquer outro mobiliário. A privacidade desse espaço só deles, contrastava com o movimento da casa dos avós, do outro lado da passagem estreita. Eles habitavam no andar de cima da parte nova, o pessoal contratado para os trabalhos dos campos - ao menos, os rapazes solteiros - ficava na ala antiga, com a sua entrada separada pelas portas, que davam para o terreiro. Em baixo, lojas para máquinas e alfaias e a adega, o lagar grande. No terreiro, protegido por altos muros de pedra, erguera o avô João um edifício de quatro andares, a acompanhar os desníveis do terreno - em baixo, aidos para o gado, em cima, a eira, o espigueiro. O granito predominava nas paredes, nos muros, nas escadarias, e até no chão, onde a pedra irregular alternava com a terra batida. O exterior da casa fora rebocada numa cor beige, pouco contrastastando com a pedra.
O pai sempre teve predileção pela quinta, com a moldura verde das suas árvores, a sua frente sem muros, aberta para o rio. Era o sítio dos seus sonhos e não sabia a razão porque os pais a preteriram, procurando vivenda no Outeiro.Talvez não tenham querido ficar tão longe do centro urbano de Avintes. Era um longe relativo... A perceção da distância em pequenas urbes, tem menos a ver com a geografia do que com a sensação de isolamento, que ali ainda hoje persiste, um século depois - salvo nos meses de verão, quando a baixada se transforma em praia fluvial, para multidões de turistas. O conceito de praia fazia ainda, pouco a pouco, o seu percurso, e não ali, mas à beira-mar, O rio era apenas caminho para o comércio com o Porto, que já fora mais intenso, quando dezenas de embarcações, cruzavam as suas águas durante o dia inteiro. Avintes tinha até tido os seus prósperos estaleiros, mas em breve, os automóveis e as camionetes iriam aparecer e ganhar o seu espaço, deixando o rio quase deserto, por muitas décadas, até ser redescoberto, em fins do século XX, por barcos de cruzeiro e de desporto.
Por isso, para o pai e os seus primos, a diversão fluvial limitava-se à travessia do Douro, de vez em quando. Viagem curta, mas nem por isso menos excitante. O barqueiro estava estacionado em Gramido, chamava-se de Avintes, gritando e gesticulando. E ele vinha logo, a remar, compassadamente. Nesse vaivém tranquilo, há uma exceção, envolta em tão nebulosa narrativa, que se pode duvidar da sua existência. Tem por protagonista o menino João aos três anos de idade. Alguém o terá deixado, por momentos, sozinho, dentro do grande barco, rodeado de água. Partida estúpida, de um miúdo mais velho? Só poderá ter acontecido, se aconteceu, numa breve ausência do barqueiro. O susto, diz a narrativa, foi tal que o menino voltou para casa, gaguejando. E, daí em diante, não mais se livrou da gaguez, que se acentuava em situações de nervosismo e quase desaparecia, quando descontraído. Ele próprio não se lembrava de nada, apenas de ouvir dizer, imprecisamente. Certo é que era o único gago da família. A hereditariedade não fazia parte desta história, que, aliás, não deixara outros traumas, a envolver barcos e águas fluviais ou marítimas. O pai um experiente mergulhador nas ondas batidas do mar de Espinho.
Espinho era a sua segunda terra. A terra no verão, dos longos dias de sol e férias, com a atração do mar de vagas altas, dos cinemas e cafés, onde tinha a companhia de muitos colegas dos Carvalhos, Ficava sempre na rua 7, numa casa de praia que os avós Capela compraram, nos começos do século, e que foi servindo para o veraneio das filhas, dos netos, e que eles ocupavam apenas durante umas semanas em fim de "saison". Espinho era uma estância de praia em ascensão, estava na moda, ficava perto. O primeiro pároco de Espinho tinha sido o Padre Manuel Pinto da Silva, tio-avô do neto João. Não sei se esse dado teve importância na escolha dos Capela e de muitos outros avintenses. Talvez porque, antes de ser família por afinidade, o Padre Pinto da Silva foi encarregado da paróquia de Avintes. E, talvez, não só os Capela, mas outros paroquianos o tenham seguido. Muitos mais. Recordo-me que, nos anos 50, quando, seguindo os passos do pai, mergulhava nas ondas da praia azul, pela manhã, gozava as "matinés" nos cinemas, jogava dominó nos cafés, e engrenava, vestida a preceito. no vai-vém das multidões na "Avenida", já não havia vagas de turistas espanhóis. O turismo matricial do estrangeiro, há muito, dera lugar ao nacional e vizinho - dizia-se, com nostálgica ironia, que Espinho estava "cheio de espanhóis de Avintes",,,
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Quanto ao Padre Pinto da Silva, nos anos em que esteve à frente da paróquia, na última década do século XIX, parece não ter tido a missão facilitada. Por razões políticas, provavelmente. Era monárquico, pouco dado a transigências, sempre pronto a partir para o ataque e a confrontar ideias e posições, numa vila nova, onde o sentimento republicano parecia já enraízado nas elites. Próximo do Bispo do Porto, o Cardeal D Américo Ferreira dos Santos, de quem foi secretário, mantinha distâncias com os poderes ascendentes. Passou os últimos anos retirado no lugar do Paço, junto ao meio-irmão. Podemos imagina-los a passear junto ao rio, dois gigantes, com quase dois metros, o padre de batina preta, o empresário não menos impressionante no seu comprido capote alentejano. Concordantes na condenação dos novos tempos políticos. O Padre ainda teria a energia para lançar, em 1915, um jornal de combate, "A Aurora". Morreu em 1917, sem conhecer o sobrinho neto.
ONZE ANOS FELIZES NUM COLÉGIO
Os 6 anos de meu pai foram de grandes mudanças, que "o levaram de casa de seus Pais" para um internato. Ao contrário do que poderia esperar-se, sem lágrimas nem lamentos. O Colégio dos Carvalhos. Aí começou, igualmente, a sua involuntária mas definitiva rotura com o paraíso rural da ribeira do Douro. Estava a dar passos irreversíveis no mais mais citadino dos futuros. Os pais iriam, entretanto, estabelecer-se da Rua 5 de outubro, na reta que levava à ponte sobre o Febros, o formosíssimo afluente do Douro, entretanto soterrado em cimento. Ao lugar do Paço voltava em férias, de vez em quando, para os almoços de família. Decisão paterna certamente. O avó Manuel queria para o filho o que tinha idealizado para si, um título académico, uma carreira profissional. Um curso de Direito, de preferência, uma carreira na magistratura ou no notariado. Notário era o seu melhor amigo de mocidade, num percurso que ele acompanhou, com a nostalgia das suas próprias oportunidades perdidas. O pai contrariou esses projetos. Não tinha outro continuador para a sua obra de lavrador moderno e bem sucedido. Diferentes mentalidades, sonhos opostos. Quando chegou a hora de herdar as terras, meu avô entregou-as a caseiros, que nelas fizeram fortuna. Da sua parte, resposta tardia, mas definitiva a uma imposição com a qual nunca se conformou. Valorizava, acima de tudo a cultura, não a agricultura... Ofereceu ao filho a melhor formação académica que um colégio privado podia assegurar, e, com certeza, lhe disse a frase que lhe ouvi tantas vezes: "a melhor herança que te posso deixar é um curso na universidade".
A mãe, que, apesar da aparência amável, não era pessoa fácil de contrariar, deu o seu acordo. O Colégio dos Carvalhos foi uma opção natural. Era próximo, dirigido por padres e tinha uma reputação de excelência. E, sobretudo, terá pesado a aceitação do filho, que, pelo que via, estava talhado para a vida em comunidade, fazia amigos com facilidade. Era alegre e popular
Nas fotografias desta época já tem parecenças com a pessoa que foi, na idade adulta. Sorri, no meio dos colegas, todos irradiando boa disposição Foi um bom desportista (futebol, atletismo) e um aluno despreocupado, que cumpria os mínimos em ciências e se dedicava entusiasticamente às letras, com uma inclinação para os autores latinos. Lia Virgílio e Ovídio no original, "por gosto" .na sua própria expressão. O que infundiria respeito às filhas - à Madalena, que nunca estudou latim e a mim, que fiz a disciplina, penosamente, nos dois últimos anos do liceu, sem ter lido uma só frase, no original, por puro gosto.
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Do ciclo do colégio recordava um sem fim de episódios engraçados, coisas de rapazes, partidas que pregavam uns aos outros, como surripiar queijos, alheiras, bolas de carne, doces, que alguns guardavam nos cacifos). E passeios, excursões, bailes locais, em que conseguiam intrometer-se, não sei se quebrando as regras da instituição, ou não. Numa dessas festas, à porta de uma popular associação, o cartaz dizia: "Pede-se às excelentíssimas damas para virem calçadas". Esta é impossível de esquecer, ao contrário de muitas outras, Se me fosse então possível imaginar que, largas décadas volvidas, quereria escrever sobre o pai como personagem central desse enredo, mais atenção teria prestado a pormenores. É também um pouco vaga a memória sobre outras situações, que terão sido frequentes, em cenário variados, feiras, lojas,ou cafés dos quais o grupo de amigos não fosse cliente habitual, A diversão consistia em o pai fazer de estrangeiro, papel em que, com as suas melenas aloiradas, os "blazers" de "tweed", e um inglês desembaraçado, era muito credível. Num tempo em que os turistas de fora eram raridade, e a nossa gente os idolatrava, aquele número teatral causava sensação. Mas, uma vez, e logo numa feira concorrida, o pai tropeçou, pelos ares ecoou o seu brado em calão português, e pouco faltou para que todos, o falso inglês e os falsos tradutores, fossem sovados.
O pai não era dado a escrever diários, nem a guardar cartas, notas ou mesmo poemas, que com tanta facilidade, compunha desde criança. Do colégio, resta um, quadras de sabor popular, na senda da famosa avó Quitéria Francisca, a repentista, que ganhou fama a cantar ao desafio nos serões de aldeia e nas romarias.
É, afinal, uma espécie mista de auto-retrato/ caricatura:
Sou cá de Avintes... é terra
de boa gente, afinal
Nasci em mil... já lá vão
dezoitos anos e tal!
Tenho altura regular
- Mais esperto que um onagro
nariz grande e recurvo
carão vermelho e não magro
Para comer valho por sete
para beber por trinta e um
para escrever uns sete ou oito
como eu não valem um...
Mas, afinal, meus amigos,
sou filho de boa gente
Tenho alma e vou tentar
dizer-vos o que ela sente
Se alguma coisa quiserdes
De mim, meus caros ouvintes,
deixa aqui escrito o seu nome
o célebre
João de Avintes
Encontrei, também, no singular, um breve apontamento, escrito no verso de uma fotografia de grupo: "Em horas de alegria, junto a um monumento religioso onde figura o Crucificado". O humor discreto não surpreende quem o conheceu, exceto, talvez, juvenil irreverência - logo ele, sempre católico praticante e homem de fé ortodoxa e inabalável.... Verdes anos, 14 ou 15.
Houve, contudo, um hiato nos onze anos de colégio, uma época escolar, justamente no sétimo ano do liceu, então, o último. Influenciado, certamente, pelos primos, insistiu em se mudar para o Liceu Rodrigues de Freitas. O pai terá pensado que, assim, melhor o rapaz faria a transição para a universidade. Novas rotinas!Tomava, de manhã, a camionete para o Porto à porta de casa, onde havia uma conveniente paragem, e seguia viagem num grupo de colegas. Foi um belo tempo de liberdade, de deambulações pela cidade grande, de conversas à mesa dos cafés. Sabemos que, muitas vezes, a troco de um café, escrevia um soneto para os amigos, surpreenderem as namoradas por uma veia poética insuspeitada. Também redigia, em prosa, cartas bonitas, ao correr da pena. Mas, por fim, chumbou! Para tudo há uma primeira vez. Queixava-se da sanha persecutória do professor de alemão. Confessava que partilhavam o interesse numa jovem portuense, que se revelou fonte de conflitos de todo alheio ao curriculum liceal. Paixões juvenis, devaneios sentimentais, só mencionava os dos outros, com exceção desse caso que era justificação pouco comum de "insucesso escolar". Não sei se nos convenceu, inteiramente, à minha irmã e a mim, conseguiu, sim, deixar-nos a suspeita de que não lhe faltavam namoradas, num vasto plural. Aos 17, 18 anos era um rapaz bem-humorado, desembaraçado, comunicativo, apesar de ligeiramente gago, elegante, um desportista de várias modalidade, "sprinter" nas corridas, extremo no futebol, seu desporto favorito, como praticante ou espetador. E, se isso podia constituir para algumas das meninas do Porto uma mais valia, com fama de rico.
Face ao desastre académico, não hesitou em fazer "mea culpa", pedindo, avisadamente, aos pais para voltar ao colégio. Na irresistível boémia portuense, reconhecis que não lhe era fácil corrigir a trajetória, como seria, e foi, na branda e protetora clausura dos Carvalhos. Do Liceu Rodrigues de Freitas, nesse ano de 1934/35, ficou-lhe, como uma das melhores recordações, Leonardo Coimbra, o pedagogo, o melhor professores professor que teve na sua vida , e a cujo nível, só colocava Vasco Pulido Valente, que lhe daria aulas em Lisboa, trinta anos depois, no regresso tardio aos bancos da Faculdade. Improvável dueto de vultos que fascinavam meu pai. tendo, ao menos, isso em comum.
Creio que foram desse tempo do Liceu outras divertidas aventuras partilhadas com o primo António. O tio António Reis era funcionário superior das Finanças e vinha sempre de carro para a cidade. O automóvel ficava o dia inteiro estacionado por perto, na rua e quem, secretamente, o utilizava era Reis filho, exímio em abrir portas e acionar motores, sem chaves. E, evidentemente, em conduzir sem carta de condução. Convidava o primo, e alguns amigos, para passeios até à Foz ou outro destino aprazível. Por fim, retornava o veículo ao lugar de estacionamento. Mesmo que não fosse rigorosamente o mesmo lugar, o pai, muito distraído, (caraterística que o filho herdou), não notava desfasamentos. Reparava, sim, no consumo excessivo de gasolina e trocou de carro por causa desse defeito. Não sei se também trocou o seguinte, ou se os rapazes passaram a dar passeatas mais curtas. Uma vez, apareceu um polícia, quando o António estava se preparava para abrir o carro... Nada que o embaraçasse. Chamou a autoridade e pediu ajuda, dizendo que tinha perdido a chave. O polícia, amavelmente, ajudou. O António tinha, de facto, ar de dono do carro. Outra história, em mais do que um sentido, bombástica, deste primo tão inteligente e empreendedor, na altura aluno do Colégio João de Deus, contou com a colaboração de um colega chamado José Augusto Aguiar, que quatro ou cinco anos depois, seria cunhado do primo João. Ambos fizeram explodir parte do laboratório, numa experiência em que alguma coisa falhou. Os pais pagaram o prejuízo, e parece que não houve outra espécie de sanções, apesar dos antecedentes do José Augusto que já fora expulso de alguns de colégios da cidade. Do historial disciplinar de João, não consta nada de semelhante...
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De Avintes, as narrativas mais divertidos começam com a chegada dos novos "vizinhos do lado", donos da quinta que confinava com os terrenos da casa dos pais: o Coronel Novais e Silva, a mulher Haydée Genelieu (descendente de um dos engenheiros que acompanharam Eifel na construção da ponte sobre o Douro) e os filhos, Maria Beatriz e António Júlio. Uma família encantadora, da alta burguesia portuense, que trocou a cidade por aquela aldeia milenária e tranquila, numa colina com esplendorosa vista sobre casas rurais, campos de milho e uma larga curva do Douro ao longe. A mesma vista que se desfrutava das janelas do 1º andar da casa do Pai (ou dos seus Pais) na Rua 5 de outubro, a primeira que se encontrava à vinda do Porto ou de Oliveira do Douro, depois de atravessar o Febros, afluente do Douro, no início de uma subida íngreme. As propriedades eram separadas por uns metros de declive, cada vez mais acentuado, à medida que se descia vários lances de escadas fe pefra, para o interior da quinta. Entre as casas, a divisória era apenas um muro alto, onde colocaram, de ambos os lados, escadas de madeira para um trânsito fácil,no convívio quotidiano. Os três adolescentes, a Maria Beatriz um pouco mais velha e o António Júlio um pouco mais novo do que o João eram tratados como irmãos pelas duas famílias. O Coronel. naturalmente, mais severo com eles do que com a menina, impunha-lhes regras de disciplina, a que meu pai não estava habituado. Foi esse o contacto mais estreito que manteve com o mundo militar. Apesar da estima pelo Coronel, que sabia ser recíproca, o respeito era mais forte, e sempre se sentia intimidado na sua presença, gaguejava mais do que o costume, sinal de atrapalhação geral e a falta de auto-confiança levava a que as coisas lhe corresses menos bem, muitas vezes.
A relação de grande amizade entre as famílias havia de manter-se, naturalmente, depois dos Novais e Silva retornaram ao Porto. A quinta foi comprada por um casal minhoto, sem filhos, que manteria as escadas de ligação por sobre o muro e uma relação de vizinhança muito amistosa. Eram mais velhos dos que os meus avós, e, quando se viram demasiado frágeis para sozinhos continuarem a governar a quinta, tentaram, em vão, que a avó Olívia deles cuidasse até ao fim, em compensação lhe doando a quinta e mais património. A avó era uma boa cristã, a tarefa não a assustava e criados não faltavam. Foi porque achava que estariam melhor com os sobrinhos e que não era justo deserdá-los. Quod erat demonstrandum... mas a avó era tão prestável quanto inflexível nos seus julgamentos morais. Já só conheci a casa vazia, por muitos anos, sempre ao cuidado da minha avó e ao seu inteiro dispôr. Podíamos entrar apenas quando se abriam as janelas e uma das criadas (expressão, ao tempo, ainda socialmente correta) ia fazer limpezas de manutenção. E usávamos a parte social, os salões, muito maiores e elegantes do que os dos avós para festas excecionais. Que me lembre, apenas o banquete da comunhão solene da minha irmã Madalena e a minha.
Ao meu olhar atento de feminista precoce, o que mais me surpreendia nas reminiscências que o pai, aos serões, nos confiava, era o facto de referir rapazes e raparigas do seu círculo no mesmo plano, um plano de igualdade. Um bom exemplo: o indisfarçável agrado com que conviveu, no colégio dos Carvalhos, com colegas no feminino, não sei porque razão, nesse ano (o último, o antigo 7º ano), admitidas, a título excecional. Poucas, é claro, uma delas, se não me engano, Virgínia de Moura. Com a mesma simpatia, recordava episódios passados com as primas, com a Maria Beatriz, Todavia, outra categoria feminina, as namoradas, sempre foram singularmente omitidas e eu nunca perguntei. Com a mãe por perto, podia dar aso a polémica, na sua aus~encia, pareceria deslealdade filial, não obstante a mãe alardear, sem complexos, a lista longa dos seus pretéritos pretendentes.
Curiosamente, nas relações de género, nos anos 20 e 30 do século XX, a mesma atitude parece ter tido o primo António, que reagiu, até onde pode, às limitações que eram impostas à irmã, caso da proibição de conduzir carro e tirar carta. Ensinou-lhe a guiar, às escondidas, deixava-a levar o carro, pelas estradas cheias de curvas perigosas, nas subidas e descidas da estrada de Avintes para Oliveira do Douro. Em compensação, ela deixava-o tocar o "seu" piano. Para o conservadorismo dos tios Reis, o volante do automóvel era para mãos masculinas, tal como o piano para as femininas. Na verdade, o pianista mais talentoso era mesmo o António, que sem nunca ter tido professor, tocava, de ouvido, excelentemente, um vasto repertório de Chopin a Mozart... O pai também quis um piano. O avô, reconhecido melómano, que também tocava de ouvido vários instrumentos, ofereceu-lhe um pequeno violino no lugar de um grande piano, como a Jacob, ao quem "em vez de Raquel lhe davam Lia", no poema camoneano. Ao contrário de Jacob depressa se conformou. Nunca se converteu em exímio executante, mas sentiu a falta do violino depois de o ter, imprudentemente, emprestado ao amigo de um amigo, que lhe deu sumiço...
Ao som do violino, ou do piano, na casa dos tios Reis, ou no coro familiar, a cantar à capela, os nossos serões em Avintes eram muitas vezes animados, pela música. Todos, exceto eu, cantavam bem, tanto em Avintes como em Gondomar, à volta do piano alemão da avó Maria.
Outras vezes, eram essas peripécias de juventude que nos entusiasmavam, por mais que fossem já conhecidas. Verdadeiramente triste só a tragédia dos saguís do António, sobre a qual davam, os dois primos, uma infinidade de detalhes, protestando a sua completa inocência no desenlace final, aliás, credível porque ambos era amigos de todos e quaisquer animais. Resumindo: os pequenos macacos engraçados, trazidos dos trópicos e oferecidos ao António, por um tio, que era médico de bordo de navios, em longas viagens intercontinentais, estranhavam os invernos europeus. O tio, e os macaquinhos, as suas momices e brincadeiras eram descritos com muita graça - o seu desconforto no confinado horizonte de um casarão de Avintes, cinzento e frio. Solução, com a marca mais do António do que do João, certamente: sessões de alguns minutos numa fornalha, bem temperada para os aquecer, mas não demais. Os saguís davam espetáculo, coitados, saltitando lá dentro, até serem libertados para o exterior, à temperatura ambiente. Para surpresa dos rapazes, não resultou. Adoeceram subitamente e morreram, dias depois. O sobrinho Mário, a quem, numa tarde de conversa, em Gondomar, deu todos esses e mais detalhes, fez o diagnóstico médico, sem hesitações: vítimas de pneumonia, provocada pela alternância de calor sufocante e frio de enregelar
Estes primos não eram fisicamente parecidos - António mais longuilíneo, alto e magro, umas lindíssimas mãos de pianista, que serviram de modelo a um escultor, de que ouvi falar, mas cujo nome esqueci. Um Gary Grant mais aristocrático do que o de Holliwwod (essa pose, nele tão natural, explica, por exemplo, a boa cooperação do polícia que o ajudou na benigna "tomada de empréstimo" do automóvel do pai). O João, mais entroncado, mais atlético, com um ar menos ousado, mais "terra a terra". Quem era o mais alto? De pé, sem dúvida, o António, com o seu 1, 80, mas sentado o João, que andava por 1,75. Discutir essa curiosa questão, era coisa que os divertia na juventude e de que ainda se riam, anos depois, já eu tinha idade para me lembrar da conversa e para constatar a veracidade do facto. Muito semelhantes eram numa caraterística, que talvez seja hereditária, pois é partilhada na geração seguinte - a distração. Guarda-chuvas, luvas, chapéus, canetas, pastas, tudo o que não estivesse vestido ou calçado, sem ser de tirar e por, ficava esquecido em comboios ou mesas de café, precisando de ser constantemente renovado. O pai raras vezes usou, fora de casa, um isqueiro "Ronson" de ouro, uma caneta Monblanc, ou mesmo um guarda-chuva de estimação... O exemplo pior está atribuída ao António, por uma conversa telefónica com o Coronel Novais e Silva. O pai, que, como disse, sempre se enervava na presença do Coronel, nunca foi além de "gaffes" menores, do género de apertar a mão à criada, que acabava de lhe abrir a porta da casa, ( gesto que hoje poderia passar sem censura, mas não naquele tempo), ou