segunda-feira, 1 de dezembro de 2025

ASSIM ERA ELA apresentação do livro

Short Bio: João Miguel Aguiar é atualmente Investigador integrado e Professor Adjunto no Instituto Politécnico de Gestão e Tecnologia (ISLA-Gaia), onde dirige a licenciatura em Multimédia. João é licenciado em Sociologia e mestre em Ciências da Comunicação, ambos pela Faculdade de Letras da Universidade do Porto, e doutorado em Media Digitais - Indústria, Públicos e Mercados (2018) pela Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto e pela Universidade NOVA de Lisboa, em colaboração com a Universidade do Texas em Austin. João Aguiar foi também investigador no programa UT Austin | Portugal, financiado pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT). João Aguiar trabalha na área dos Processos Sociais, Humanidades Digitais, com ênfase nas Ciências e Tecnologias da Comunicação e dos Media Digitais. Nas suas atividades de investigação tem colaborado com diversos investigadores de diferentes áreas, sendo autor de vários trabalhos científicos. Foi ainda professor auxiliar convidado na Faculdade de Letras da Universidade do Porto e professor auxiliar na Universidade Fernando Pessoa. Um anexo • Verificado pelo Gmail Muito boa tarde, Com muito gosto agradeço o honroso convite para esta apresentação e cumprimento cordialmente todas e todos os presentes. É com profunda honra — e uma emoção difícil de disfarçar — que apresento esta fotobiografia Minha Mãe. Assim era Ela, da autoria de Maria Manuela Aguiar, integrada na coleção Mulheres Entre Mundos, da Associação Mulher Migrante. Uma coleção que preserva percursos femininos marcados pela mobilidade, pela resiliência e pela memória. Não vos falo apenas como apresentador: falo como sobrinho e afilhado da grande mulher aqui celebrada — alguém que cresceu dentro da sua presença luminosa, da sua inteligência afetiva e dessa cumplicidade rara que só o amor familiar verdadeiro permite. Na verdade, este livro é mais do que memória: é um território de pertença. É um gesto de amor, uma restituição afetiva e histórica da vida de Maria Antónia Barbosa Aguiar, a Mariazinha, ou, para muitos sobrinhos, a eterna Tia Giginha. Para mim, é ainda mais — é a celebração de uma das presenças fundadoras da minha vida: a minha tia, minha madrinha, e uma das pessoas com quem partilhei uma cumplicidade rara e inesquecível. A narrativa conduz-nos desde as raízes da família Barbosa Aguiar, entre Portugal e o Brasil, revelando a infância da “Mariazinha”, nascida em São Cosme de Gondomar, a 28 de agosto de 1920, depois de uma viagem silenciosa no ventre da mãe, que regressava do Rio de Janeiro. O texto restitui-nos o universo simbólico da mítica Villa Maria — esse espaço emocional onde a infância, a festa e o luto coexistiram. Onde se aprendeu que a felicidade é feita de detalhes: da casa imponente, da sombra dos roseirais, dos pomares, mas principalmente da família, dos recitais improvisados, do teatro amador, das celebrações em conjunto e da alegria que atravessava gerações. Com a Tia sempre presente, com o seu riso contagiante, a sua energia inesgotável, o humor atrevido que nenhuma adversidade conseguiu silenciar. Uma mulher que “tinha da vida apenas vontade de vida” — como escreve a Manuela — mas que carregou também a dor irreparável da perda. Da perda precoce do pai em 1926, da perda da filha Lecas, transformando o sofrimento numa força silenciosa, jamais em amargura. A fotobiografia acompanha o casamento com o seu João, as tertúlias familiares, as romarias, os veraneios em Espinho e aquela elegância natural que a fazia simultaneamente conservadora e iconoclasta — capaz de respeitar tradições, mas sem deixar de enfrentar a moralidade tradicional. Ler estas páginas é reencontrar uma mulher que viveu 98 anos sem nunca desistir de ser inteira: generosa sem ostentação, alegre sem ingenuidade, firme sem dureza. Uma mulher que não cabia nos estereótipos do seu tempo — nem nos de hoje. Nas páginas que percorremos — feitas de cartas, retratos, postais, memórias orais e arquivos familiares — reencontramos não apenas uma biografia, mas uma história social de Gondomar, das suas famílias, das migrações atlânticas, das transformações culturais do século XX e do século XXI. Este livro preserva o que raramente fica registado: o modo como uma vida comum se torna absolutamente extraordinária. É, portanto, mais do que memória: é legado. Não apenas para a família, mas para Gondomar, para a diáspora portuguesa e para a história das mulheres que, sem procurarem palco, acabaram por merecê-lo. E como ela o merecia… Agradeço à Associação Mulher Migrante por reconhecer que vidas como a da Tia Giginha não são apenas privadas — são património. E agradeço-vos por estarem aqui, a testemunhar este reencontro entre a história e o afeto. Um gesto de continuidade entre o passado e o futuro. E, para mim, é também um reencontro íntimo: o privilégio de ver, nas imagens e nas palavras, aquilo que sempre soube — que ela era assim, exatamente assim, e que continuará a sê-lo enquanto houver memória para a nomear. João Miguel Aguiar Fundação Engº António de Almeida, Porto, 29 de novembro de 2025