NO CONVÉS
Os Avós Maria e António Aguiar no convés de um vapor, na hora de partir - não se sabe extamente a data, Seria a primeira viagem, em outubro de 1910? pode ser qualquer outra, mas não estão ainda com os filhos, que, a partir de 1912, os acompanhavam nas viagens (o que não exclui o facto de esta ser de qualquer dos anos seguintes, pois se sabe que eram sempre acompanhados pela "nanny" das crianças...
A Avó Maria está ao centro entre o Avò Aguiar e uma fila de senhores de chapéu. Só se vê outra senhora, obviamente mais velha e mais à direita, na foto
PASSAPORTE
O passaporte dos Avós com os seus filhos (cinco), nesse anos de 1919.
Augusto, o mais pequenino não chegaria a fazer a viagem, faleceu no início de 1920, vitimado por uma pneumonia. Mas na viagem transoceânica vinha já a Maria Antónia, que nasceria pouco depois, em São Cosme
CARTAS 1915
Sobre a sofrida separação dos dias em que permaneciam cada um de um no seu lado do mar Atlântico, é bem elucidativa uma carta de 1915, que ele escreve do Brasil
Fotografia do casamento dos Avós MARIA e ANTÓNIO AGUIAR
10 de setembro de 1910
versão mais antiga
ANTÓNIO CARLOS PEREIRA DE AGUIAR
Nasceu a 20 de fevereiro de 1880. Foram padrinhos, António Castro Nogueira e Maria Martins das Neves, um casal da Gandra.
O mais novo dos irmãos, desde o berço um menino muito bonito e esperto, foi sempre bom aluno. sempre cuidadoso com os seus livros, cadernos, com a roupa, e a apresentação. Nos retratos coletivos, está, invariávelmente em pose, como se fosse candidato ao título de mais fotogénico e de mais bem vestido. Esse sei jeito não diminuiu pela vida fora. A Maria Antónia dizia: "O meu Pai era muito vaidoso com a sua aparência". Ela também, e proclamava-o com orgulho. Na sua opinião o contrário é que seria defeito...
Podemos imaginar que o benjamim de tão larga prole, terá tido "muitas mães e pais", nos progenitores e em todos os irmãos muito mais velhos, Na verdade, alguns dos seus sobrinhos seriam quase da mesma idade. Isso, porém, não parece tê-lo tornado mimado e caprichoso e talvez explique a sua queda para "pregar partidas" benignas aos amigos e o facto de não proferir, nunca, um palavrão, mesmo dos mais inofensivos - caraterística que, ao caricaturar o seu perfil em jeito de adivinha, décadas depois, um periódico da terra apontaria. Outra nota que ressaltariam: era baixinho, com pouco mais de 1.60 m, como se adivinhava viria a ser, aos 15, 16, anos, em vésperas de emigrar para o Brasil, sobretudo no grupo em que a comparação se faz com três das irmãs, bastante mais altas (por acaso, as três, embora também as houvesse de pequena estatura - Doroteia e Guiomar, por exemplo. Mimos e cuidados não lhe abrandaram a determinação, a vontade de estudar, de trabalhar, com rigor, duramente, se preciso fosse, para tirar o máximo proveito dos seus talentos. Como manda o Evangelho... O Brasil servia esses fins, e para os pais o deixaram ir. A insistência sua ou, sobretudo, influenciado pelo irmão João?
João, então já lançado em altos voos, tinha apostado, anos antes, na cooperação de Alfredo, que não conseguiu moldar à sua imagem.Talvez no mais jovem dos Pereira de Aguiar visse todas as qualidades que àquele faltavam.
E, nesta segunda tentativa, não se enganou.
Dos primeiros anos de António Carlos, longe de Gondomar, da sua Gandra tão querida, não há peripécias que tenham chegado aos ouvidos dos descendentes. Nada, absolutamente nada! Das pessoas felizes não há histórias. É de crer que sido feliz, recebido, com alegria, em casa do irmão, ainda solteiro nesse ano de 1896, e que se tenha sentido sempre muito animado com a perspetiva de vencer no "novo mundo". Era composto daquela matéria de que se fazem os grandes viajantes, como a sua trajetória futura, de princípio a fim, evidenciaria. Não há dúvida sobre a sua paixão pelo movimento, pelas travessias do oceano, pelas incursões na costa brasileira ou africana, escolhendo carreiras de vapor, que lhe permitiam ver terras novas, ou cruzando as fronteiras da Europa. Incansavelmente...
Trabalhou, de início, com toda a certeza, para João, próspero proprietário de uma joalharia, Pela ligação que cultivou, muito para além do círculo familiar, com amigos de infância e com a vila, de onde viera, é a perfeita imagem daquele género de emigrante, que, como dizia Jaime Cortesão, "levava a Pátria consigo".
Cruzava, como vimos, com regularidade, o Atlântico, e passava férias em São Cosme. Certamente, não só férias, mas negócios também, de princípio os do irmão, depois, os seus, à medida que se autonomizava. O mesmo duplo propósito seria o motivo de visitas a outros países, como a Inglaterra e a França. De um dos postais que de lá enviou, em 1909, justifica dar tão sintéticas notícias pelos muitos "afazeres" que o ocupavam. Não se limitava, pois, a subir à Torre Eifel, e a passeios a Versalhes, ao Bois de Boulogne, de onde mandava postais. Provavelmente, os "afazeres" tinham a ver com projetos seus e dos irmãos, João e Augusto, relacionados com a internacionalização de negócios, parcerias na exportação/importação de jóias do estrangeiro e de ouro e filigranas de Gondomar. (tudo suposições, mas a que outras ocupações profissionais se poderia dedicar um joalheiro? )
Na família, a ligação à arte e indústria de ourivesaria, da filigrana, que é o "ex-libris" de Gondomar, vinha de trás - vários antepassados eram dono de estabelecimentos, mas outros teriam sido simples artífices, como foi o caso do pai de sua avó Anna Pereira de França, que , por sua vez, casou em segundas núpcias com um ourives muito rico, O marido de Rosa, a filha primogénita, Manuel Aguiar, era igualmente ourives e com os proventos da profissão (fabricante ou comerciante) comprou a sua casa da Gandra e criou os 15 filhos, Deles, pelo menos três foram, não industriais mas proprietários de elegantes joalharias e fizeram fortuna, num tempo propício aos negócios do ouro, que abundava no Brasil e tinha em São Cosme uma repercussão dourada... .
Sem dados concretos em que nos possamos basear, é de pôr a hipótese. muito plausível. de João, que casara em 1902, com uma jovem da alta burguesia do dinheiro, se ter concentrado, crescentemente, em outros negócios,
António Carlos, passou, se não passara já, a morar em sua própria casa. Tinha 22 anos e seis de experiência de trabalho comum com o irmão, que nele, e bem, depositava inteira confiança. Ter-lhe-á, então, oferecido sociedade, e, poucos anos depois, trespassado a sua parte na Joalharia Aguiar da Rua do Ouvidor?
Não há notícia de visitas de João a Gondomar. Ou não apreciava as longas viagens marítimas, ou preferia dar ao irmão a oportunidade de matar saudades da Gandra, fazendo-o intermediário dos seus negócios, que envolveriam, também Augusto, o dono da Joalharia Aguiar da Rua das Flores,.Sinais seguros da especial ligação desse trio de irmãos há-os, no convívio que se sabe ter sempre existido, e na correspondência trocada entre Augusto e os sobrinhos do Rio, ainda em 1930, e entre Judith e Maria até aos anos 50 ou 60)
É por recortes da imprensa de Gondomar, não por relatos orais, que tomámos conhecimento de que António Aguiar não faltava na época da caça - desporto que, pelo visto,, o entusiasmava mais em São Cosme do que no Rio, porque ali tinha, evidentemente, os melhores companheiros para passeatas e convívios. Como alegre e sociável jovem que era, juntava trabalho e diversão, também em Portugal, relações familiares como de trabalho com Augusto, o joalheiro, no Porto (aparentemente, nenhum deles começou como artífice, eram todos empresários, nascidos nesa meca da ourivesaria portuguesa, que era a sua terra...).
Sem dados concretos em que nos possamos basear, é de pôr a hipótese. muito plausível. de João, que casara em 1902, com uma jovem da alta burguesia do dinheiro, se ter concentrado, crescentemente, em outros negócios,
António Carlos, passou, se não passara já, a morar em sua própria casa. Tinha 22 anos e seis de experiência de trabalho comum com o irmão, que nele, e bem, depositava inteira confiança. Ter-lhe-á, então, oferecido sociedade, e, poucos anos depois, trespassado a sua parte na Joalharia Aguiar da Rua do Ouvidor?
Não há notícia de visitas de João a Gondomar. Ou não apreciava as longas viagens marítimas, ou preferia dar ao irmão a oportunidade de matar saudades da Gandra, fazendo-o intermediário dos seus negócios, que envolveriam, também Augusto, o dono da Joalharia Aguiar da Rua das Flores,.Sinais seguros da especial ligação desse trio de irmãos há-os, no convívio que se sabe ter sempre existido, e na correspondência trocada entre Augusto e os sobrinhos do Rio, ainda em 1930, e entre Judith e Maria até aos anos 50 ou 60)
É por recortes da imprensa de Gondomar, não por relatos orais, que tomámos conhecimento de que António Aguiar não faltava na época da caça - desporto que, pelo visto,, o entusiasmava mais em São Cosme do que no Rio, porque ali tinha, evidentemente, os melhores companheiros para passeatas e convívios. Como alegre e sociável jovem que era, juntava trabalho e diversão, também em Portugal, relações familiares como de trabalho com Augusto, o joalheiro, no Porto (aparentemente, nenhum deles começou como artífice, eram todos empresários, nascidos nesa meca da ourivesaria portuguesa, que era a sua terra...).
Terá começado tão rápida ascensão empresarial, provavelmente na joalharia de João, com quem aprendeu os segredos de a bem gerir. A diferença de idades era substancial, a relação foi, decerto, mais do que fraterna, quase paternal/filial. Não se sabe se terá sido sócio do irmão. Certo é que, com pouco mais de 20 anos, já tinha o seu próprio estabelecimento, e aos 28, na altura em que se terá enamorado da futura mulher, era um homem muito abastado. Milionário antes de atingir os 30, com que casou,
Viagens, que contudo, pelo menos algumas, eram também de trabalho - assim indicia uma mensagem, enviado num postal de França, em que se desculpa de não escrever mais, por força dos "muitos afazeres" - quais não diz, mas deduz-se).
É, sobretudo, em pequenos pormenores que se vai vislumbrando uma pessoa especial, com gostos e hábitos adquiridos em outras latitudes, sob céu de outras estrelas. Começava o dia a nadar num tanque com dimensão de piscina, em água gelada. tomava duches frios numa casa de banho com sete janelas panorâmicas, e, depois, o pequeno almoço composto essencialmente de frutas variadas. Entre as suas excentricidades, uma das mais curiosas, era o prazer helénico de quebrar a loiça, nomeadamente nas romarias de Gondomar. Mania, que se tornou conhecida e muito popular entre feirantes. Logo que o avistavam, as vendedoras de cântaros e vasos, desatavam numa gritaria: "Senhor Aguiar, venha aqui partir a minha louça!". E ele lá ia, varrer com vigorosas bengaladas, uma das tendas, pagando principescamente os estragos. Restam ainda muitas das bengalas de castão de prata ou ouro, com que executava o ato.
Sem comentários:
Enviar um comentário