sexta-feira, 28 de agosto de 2020
MÃE - DITOS E ESCRITOS I
MÃE DITOS E ESCRITOS
UMA MENINA DE GONDOMAR
1925 VILA MARIA Avós e meninos na varanda.jpg
1922 Avó Maria e filhos.jpg1922 mae t lina carnaval .jpg
A pequena Maria Antónia, excelente aluna a História e a Geografia, sempre muito dada a recolhas de natureza cripto-etnográfica, (no que terá sido influenciada pelo exemplo da Tia Rosaura de quem também se conhecem apontamentos soltos sobre mezinhas e rezas das mulheres do antiquíssimo Gondomar, anotou os lugares, que faziam os seus encantos - o Barroco, a represa de Cascaneira, entre a Gandra e Ramalde, Bouça Cova, Azenha, Ermentão, Rio Carreiro, Fontela, Ponte Real, São Miguel, Pevidal, Santo André...
E, também, expressões, nomes e alcunhas, que lhe despertavam a curiosidade, como Pojeiras,Restivos, Cabaças, Jeque-Jeque,Tarré Fome Negra, Caga Troços, Carriças, Pilha Galinhas,Patacas, Pirabeca, Arregalados, Folhetas, Estabões, Bagulho,Parraxila, Chasco, Varetas, Melros, Pisco, Choco, Pimpão, Pinguinhas, Pombalinos, Toca- certo (um músico, evidentemente)......
Menos invulgar o nome de Isidro Izidoro, que, todavia, fez história, quando deixou dito que, nas exéquias, queria levar um cravo vermelho na lapela. Era ela uma criança, mas conseguiu que a levassem a vê-lo. A Maria Póvoas, fez-lhe a vontade, às escondidas da família...
OS SEUS VERSOS PARA GONDOMAR
1930 aprox postal de GONDOMAR.jpg
OH, MEU GONDOMAR
Oh, meu Gondomar, minha linda terra
Tu que embalaste o meu 1º amor
Porque não levar-te presa nos meus braços
Oh, meu Gondomar, para onde eu for?
Encantamento que nunca esqueci
Roseiral em flor desse meu jardim
Tanta rosa murcha pelo chão caída.
Mas tanto botão a abrir para mim...
Gondomar, meu berço, capital do mundo
És a minha casa, és o meu jardim
Foste tu que viste os meus primeiros passos
E irás guardar-me, ao chegar ao fim.
1933 MÃE.jpg
Procuro-me e não me encontro
E fico parada assim
A chorar, meu Deus, porquê?
Por ter saudades de mim!
À CONVERSA SOBRE O TIO ALEXANDRE
(conversa comigo, a 7 de fev de 2012)
"Já atravessaste os Pirinéus?"
Disse que sim. Continuou:"E paraste em alguma aldeia?"
"Que me lembre, não; talvez, não sei..."
Era para saber se eu tinha visto artefactos de lã dos Pirinéus. Depois, falou dos Xailes de lã (dos Pirinéus, certamente), que o Tio Alexandre lhe ofereceu, durante um passeio pelo Porto. Um era cor-de-rosa, comprado numa loja dos Clérigos, na Rua dos Lóios. Outro beije. A Tia Lola não quis nenhum e ela aproveitou o que devia ser para a mana. Ambas iam com ele, muitas vezes, à baixa da cidade.
No verão, lanchavam sempre na Brasileira. Mandava vir enormes pratos de bolos e insistia: "Comei os bolos todos!". Nas outras estações, às vezes, gostava de ir a um pequeno café, na esquina em frente à Brasileira, na rua que vai dar à Av dos Aliados, ou a um outro, junto à Igreja dos Congregados. Ótimo, até tinha música! Descia-se para a rua por um pequeno degrau.
O Tio era um homem encantador, nessa altura, já de meia idade. Em novo, dizia a sobrinha, "era muito bonito, parecia o Gregory Peck"
UM ZEPPELIN EM GONDOMAR
( relato recolhido no início de 2019)
Já a guerra tinha terminado, quando, em pacífico voo turístico, um enorme avião, diferente de tudo quanto se conhecia, atravessou os céus de São Cosme, sobre o Monte Crasto. A aparição foi olhada com pasmo e emoção. Segundo a Mãe, testemunha visual, parecia um gigantesco melão voador! Estava no quarto e a criada foi buscá-la, aos gritos - uma a quem chamavam "Maria nariz de pau". Correu para a varanda que ficava à saída da cozinha, ainda a tempo de se extasiar com o espetáculo - aquela "coisa" estranha, que avançava, lenta e majestosamente, como as suas dimensões e peso permitiam, Um prodígio, como gorga baleia que voava feita pássaro. Era meio dia. Para além da providencial Maria nariz de pau, não se recorda se a mãe e alguns dos irmãos partilharam com ela a singular experiência. Talvez não. Mostrei à Mãe as maravilhas da internet, Procurei em Zeppelin e logo apareceu a precisa imagem do que ela vira numa manhã dos anos quarenta. Lá estava, tal qual ela o descrevera... Não tinha uma máquina à mão para fotografar o momento... .
COM AMÁLIA NO CAFÉ RIALTO e VIRGÍLIO TEIXEIRA NO PRAIA GOLFE
A Mãe e a Tia lola adoravam a Amália, cantavam as suas músicas constantemente - não tão bem, porque isso é impossível, mas muito bem.
A primeira vez que a viu, de perto, foi no Café Rialto, lindíssima, vestida de preto... Muitos anos mais tarde, falou com ele, várias vezes ao telefone, quando ela estava em casa do primo e nosso amigo Dr Seabra da Veiga, cônsul de Portugal em Connecticut - um home engraçadíssimo, muito parecido com o tio Zé, em feitio e até fisicamente, com uma diferença: vestia-se sempre muito bem, muito chique...
Virgílio Teixeira, o famoso ator, um dos homens mais belos que jamais vieram ao mundo, e um amigo maravilhoso que fiz nas lides da emigração estava em Espinho Espinho, em março de 1995, no Congresso Mundial de Mulheres Migrantes. Em nova, achava-o tão bonito que andava com uma retrato dele (colecionava postais de atores dessa época) na carteira, quando não o deixava debaixo do travesseiro, Depois de casada, apesar de guardar numa gaveta a fotografia, tanto o gabava que marido chegava a sentir ciúmes (antigamente tinham ciúmes por tudo e por nada.. na minha geração já não era assim, sempre considerei normal que o meu "ex" tivesse uma paixão cinéfila por Catherine Deneuve, e ele que eu sentisse o mesmo por Gérard Philippe ou Paul Newman)....
Virgílio estava com a sua simpática mulher Vanda, a Mãe também com o marido e conversaram e riram, animadamente...
1995 Espinho Pais V Teixeira e eu.jpg
UM CASAL DE CINÉFILOS
O cinema, nos anos, 40, 50, 60, fazia parte da vida. Ir ver um filme numa sala bonita, (São João, Batalha, Rivoli...) era um ritual que pontuava a semana, como lanchar na Ateneia ou na Villares, tomar um café no Guarani, no Imperial, Estivessem em Gondomar ou em Avintes, o centro da animação era sempre a cidade do Porto. Era lá que tudo acontecia. De tarde, a sétima arte era só para as senhoras (os homens trabalhavam...). A Tia Lina era uma companheira constante. Quando gostava do espetáculo repetia. No São João viram juntas a Madame Butterfly três vezes! À noite, geralmente ao sábado, o acompanhante era o marido. Ambos muito chiques, como então se usava, visto que havia dois intervalos, ocasião propícia de olhar e comentar "toilettes". A Mãe punha os seus óculos escuros (muito graduados), mais uma extravagância, pois na altura. ninguèm mais o fazia e, nem era muito prático, suponho, pois veria, no ecrã, as imagens escurecidas...
Mais difícil era a conciliação de gostos. Ele tendia para filmes de ação, de guerra, westerns", policiais. Ela adorava comédias, Cantinflas, Doris Day. Talvez o ponto de consenso um bom drama, com os grandes nomes de Hollywood. Havia tempo e ocasião para alternarem os géneros. Começavam a noite, antes do filme, sempre num café, onde ele bebia mesmo café e ela um "peppermint" e no café, de novo, terminavam o serão, antes do regresso a Gondomar (ou a Avintes, onde também passavam temporadas)..
Depois, quando a Lecas e eu tínhamos 6, 7 anos, levava-nos, às vezes, a "matinés". E eu tive de suportar as comédias do Cantinflas, que já dessa tenra idade, considerava excessivamente "infantis" - habituada que estava a ir ao cinema com o Avô Manuel assistir a espetáculos sérios, incluindo westerns e operetas, tão do agrado desse querido avô, o mais cinéfilo de toda a família....
OLD FRIENDS
Falava-se do ISCTE, do seu aniversário, e a Mãe relembrou os tempos em que o Pai ali estava a terminar o seu curso de sociologia, em que ela o acompanhava em frequentes idas a Lisboa. Aos voluntários do Porto os professores davam, também como "voluntários" (noutro sentido). aulas especiais nos fins-de-semana e enquanto o pai assistia às aulas, de vez em quando, a mãe encontrava-se com o velho amigo Fernando Marques Ribeiro. Para falarem dos tempos da juventude e daquele romance interrompido para sempre. Se o pai ia diretamente do ISCTE para minha casa, o Maestro levava-a de carro à Av do Uruguai. Nunca contou nem a marido nem a filha. Que pena! Eu gostava de o ter conhecido - o seu mítico namorado, o pianista, compositor e maestro, o "Chopin português"! Zangou-se com ela, quando soube que tinha vários outros namorados, em simultâneo... mas achava-a um talentosa pianista e até a convidou a dar um concerto com ele, no Porto. Ao que a Avó Maria disse. "Nem pensar!"...
E ficaram amigos para sempre.
1940 aprox Marques Ribeiro pianista.jpg1950 aprox JFernado Marques Ribeiro.jpg
QUERIA SER ATRIZ OU PIANISTA
O seu sonho de ser pianista ou atriz, não se concretizou...Os únicos palcos que pisou foram os do Teatro Nuno Álvares de São Cosme.E, pelos anos fora, atraiu com as suas canções, as suas histórias e as suas benignas excentricidades, a família próxima, um grande número de sobrinhos netos e bisnetos.
Curioso é que até o seu dentista, o Dr Morris, um dia, sem saber dessa ambição secreta. lhe disse: Devia ter sido atriz. Vê-se mesmo que tem jeito!"
Até na cadeira do dentista representava bem a sua personagem. "tem a certeza de que isto está limpo? Não usou essa agulho nos dentes do anterior?" E o Dr Morris, simpático e bonito odontologista respondia: "Claro que sim, serve para todos e nunca é limpa!"
A Maria Antónia gostava de médicos bonitos. E foi tendo vários, ao longo da vida, o anterior dentista, do Porto, o Dr Figueiredo, o Dr Guimarães, o cardiologista...Até no hospital de Gaia, um mês antes de morrer, o neurocirurgião era um rapaz alto, loiro, de expressivos olhos azuis. E o motorista do táxi que nos trouxe para casa, também.
Ao Doutor tratou-o por tu, começando por perguntar "És meu sobrinho?"
Quando ele veio falar comigo, para lhe dar alta, informando que o TAC estava perfeito, disse-me: "Está muito bem. Só achei um bocadinho confusa, porque me julgava um sobrinho!
Esclareci que não era assim tão anormal, pois era senhora de muitos sobrinhos, alguns médicos, (sendo certo que os médicos não me parece que tenham olhos azuis) . Mas confusão não era - talvez, sim, uma maneira de fazer conversa com um jovem interessante, que poderia ser, mas não era, da família.
1950 VILA MARIA O PIANO.jpg
O piano da sala de visitas da Vila Maria, onde todas as meninas tiveram aulas de piano
(à convers, a 1 de agosto de 2012)
O Colégio da Esperança, nunca foi para as manas Mariazinha e Lolita, um lugar de boa esperança - tudo o que queriam era fugir de lá. No 1º anos, passaram o tempo a arquitetar planos de fuga, nunca concretizados... De boa memória é, contudo, a sala de piano do colégio! A Profª Margarida Portela, que era uma extraordinária executante, considerava-a uma aluna especial, uma futura grande pianista, e ofereceu-lhe as valsas de Chopin, com uma dedicatória. A Mãe deu-as à única pianista da família na nova geração, a Sameiro, mas esqueceu-se de copiar a dedicatória,e tinha muita pena desse esquecimento. Nas festas, as pianistas eram sempre a Mãe e a Amélia Moreira, de Avintes - chegaram a tocar a quatro mãos, Amélia morreu jovem, vítima da tuberculose, como a Celina. Foi a costureira da terra, que conhecia a mãe da Amélia que quis e conseguiu que se encontrassem, A senhora pediu-lhe que tocasse no piano, que estava fechado desde a morte da Amélia. Parece que a c.
Ah, um pormenor: a professora era muito bonita e tal como a Mãe, muito míope...
Outras memórias do mesmo lugar...
Aí lhe roubaram-lhe uns brincos muito bonitos, dados pela Tia Rozaura. E ela até viu, a rapariga a mexer nas suas gavetas, mas hesitou. Depois, a Miriam, que também era amiga da ladra, pediu-lhe que não a denunciasse. E, assim, nunca mais recuperou os brincos... Há outro relato de um roubo de brincos, com especial valor afetivo, porque tinham pertencido à Tia Glorinha. Não foram achados, mas a ladra foi chamada à diretora e expulsa. Esteve lá apenas no 3º ano do Liceu e, no dormitório ficava ao lado da Mãe, Do outro, estava uma grande amiga a Fernanda Malen (que viria a ser freira)
Anos mais tarde, numa reunião de antigas alunas, a Mãe encontrou a ladra. Talvez tenha sido nessa ocasião , tantas décadas depois, que a Miriam lhe pediu que fizesse silêncio sobre o escândalo.antigo . faz mais sentido...
Os dormitórios estavam separados pela sala de piano. O das mais pequenas completamente aberto, sem cortinas. O das maiores com a privacidade relativa de cortinas que podiam fechar-se . As irmãs ficavam sempre juntas e era aí que planeavam escapadelas e partidas, falando baixinho..
1935 tia lola f14 mae colegio.jpg1935 Mãe Tia lola colégio.jpg
Em 1937, já quase a sair definitivamente da clausura, as duas irmãs, à frente.
Eram conhecidas, entre as colegas, como "os galos doidos". Imagina-se porquê .
SAUDADES
Saudade, palavra amarga e doce. Saudades da minha linda terra, S Cosme de Gondomar, onde imperam os grandes artistas de filigrana de ouro.
Saudades do meu Monte Crasto majestoso, donde em noites de luar (esse luar ímpar das noites de Natal, que eu guardo na minha memória e recordo comovida), se abrangia toda a minha terra, banhada de um manto de prata. Saudades daquela prenda do menino Jesus, que a minha querida Mãe, com tanto carinho, pòs debaixo do meu travesseiro: uma linda pulseira de prata, toda feita de margaridas, que ainda hoje guardo, com todo o meu amor.
Saudades da minha mocidade, dos meus amores, das minhas ilusões, dos meus tempos de colégio, de minha casa, do meu jardim cheio de flores, do meu piano, meu confidente, o meu piano, que escutou tantas histórias de amor,
Saudades da minha Terra, a minha casa, os meus Natais.
1930 Avó MARIA e filhas em vizela.jpg1932 comunhao mae T Lola com T Lena.jpg
1931 MÃE na Vila Maria.jpg1929 MÃE NA FOZ.jpg1930 Monte Crasto Avó Maria e filhas.jpg
De todos os sentimentos humanos, nenhum mais natural do que o amor pela Terra, pelo vale, ou pelo bairro onde crescemos. A nossa Terra aviva-nos as recordações mais familiares (íntimas), mexe com as nossas emoções mais profundas. Tudo o que faz parte dela, pertence-nos, em alguma medida, e, decerto forma, nós fazemos parte dela também, tal como a folha pertence à árvore.
Saudade, palavra amarga e doce. Saudades da minha linda terra, S Cosme de Gondomar, onde imperam os grandes artistas de filigrana de ouro.
Saudades do meu Monte Crasto majestoso, donde em noites de luar (esse luar ímpar das noites de Natal, que eu guardo na minha memória e recordo comovida), se abrangia toda a minha terra, banhada de um manto de prata. Saudades daquela prenda do menino Jesus, que a minha querida Mãe, com tanto carinho, pòs debaixo do meu travesseiro: uma linda pulseira de prata, toda feita de margaridas, que ainda hoje guardo, com todo o meu amor.
Saudades da minha mocidade, dos meus amores, das minhas ilusões, dos meus tempos de colégio, de minha casa, do meu jardim cheio de flores, do meu piano, meu confidente, o meu piano, que escutou tantas histórias de amor,
Saudades da minha Terra, a minha casa, os meus Natais...
1928 AVÓ MARIA e família Villa Maria (1).jpg1931 Avó filhos netos Clara Serafim V Maria.jpg1931 avo m foto fam anos 30.jpg
1934 Mãe T Lola e M Laura Barboza.jpg1937 avo Maria carro de flores.jpg1938 Avó Maria e família na Vila Maria (1).jpg1938 Mariazinha Lola e amiga no Lusitania REST .jpg
Não posso olhar para a nossa casa, a casa da minha Mãe, sufoco de saudades, e as recordações são tantas! Festas de Natal, os risos das crianças, o cheiro das rabanadas, o cheiro da minha adorada casa. Tantas Páscoas = o compasso!), casamentos... E, de repente, pela minha cabeça passava a minha meninice, adolescência, as nossas gargalhadas - éramos sete - as reprimendas da nossa querida Mãe. "meninas (a minha irmã Lolita e eu passávamos a vida a rir):não riam tão alto, não é bonito". Além disso, Muito riso, pouco siso".
Dentro daquelas paredes guarda-se a história das nossas vidas, meus irmãos, minha Mãe, quantas alegrias, quanto amor, e quantas tristezas também!
Parece mentira que tanta história caiba dentro daquela adorada casa. Desci aquelas escadas para me casar na Igreja da minha Terra. Depois, e a história continua, ali nasceram as minhas filhas. Mais risos, mais gargalhadas. tudo se repete. é a nova geração!
1942 pais eu nero.jpg1942 Vila Maria família Aguiar natal.jpg
1945 Vila Maria Mãe Avó gr.jpg1948 Tia Lena Avó Mãe e crianças na Vila M.jpg
COMPASSO NA MINHA TERRA
Corações cantando almas em flor, flores em casa e no jardim também. Vem o compasso - é Deus , é amor. Pela aldeia fora campainhas a tocar. Flores desfolhadas e "verde" pelo chão, Aí vem o compasso, aí vem a Cruz a chegar.
Pojeiras onde os criados da minha Mãe iam buscar verdes para pôr no chão - fora do portão, do portão até ao terraço e pelas escadas acima, o percurso que, no domingo de Páscoa fazia o cortejo do compasso.
Alguns anos antes, íamos com a Nucha buscar fetos e verdes ao Barroco. Tão lindo! Era um vale entre a Gândra e Pevidal.
1938 Avó Maria e família na Vila Maria (1).jpg1970 PÁSCOA NA VILA M Avó Pais gr.jpg
1977 Vila Maria Avó gr natal.jpg1974 VILA MARIA gr pascoa.jpg
MÊS DE MAIO
Mês de maio, minha aldeia tão linda,tão florida. Ao entardecer, subíamos o Monte Crasto, para as novenas do "mês de Maria". Eu tocava o pequenino órgão do coro da capela de Santo Isidoro. no Crasto, a Lolita e outras raparigas, como nós, cantam coisas tão belas...
EU...
Não sou bonita, nem feia, sou simpática, fui sempre muito simpática (isto não é narcisismo...). É verdade. E fui em tempos, há muitos anos, uma rapariga interessante, pequena, bastante pequena, mas cheia de saúde, estuante de vida, vida e alegria, que transbordava por todos os poros do meu corpo. Diziam até que eu tinha muita graça, aquela graça natural de uma rapariga que da vida só queria a vida e nada mais. E o fulcro da vida era o amor. De uma sensibilidade doentia, muito sincera, expansiva e nada egoísta.
1941 MÃE na Vila Maria.jpg1951 MÃE na praia de Espinho.jpg
1944 MÃE Gondomar.jpg1943 Mãe de fato preto e branco.jpg1950 MÃE nos anos 50.jpg
1951 Mãe (1).jpg1950 mae.jpg1950 aprox Mãe foto preferida.jpg
1985 MÃE junto a buganvília 1 set.jpg1972 MÃE foto de estúdio que detestava.jpg1990 A Mãe nos 70 anos foto favorita.jpg
2001 Mãe 28 agosto anos.jpg2005 MÃE em dia dos 85 anos .jpg
2004 Mãe na expo J Tavares 2 maio.jpg2007 MÃE café Palácio.jpg
2012 Mão na Pastelaria Latina.JPG2016 Mãe.jpg
2013 Mãe verao.jpg2017 Mae Natal (1).jpg
FORMATURA DA MARIA DO SAMEIRO
Deu-te Deus essa fé determinada
Dos que sabem seus sonhos realizar
Que nasce em ti, em cada madrugada,
A Estrela que brilha em teu olhar
Esse teu ar esbelto e elegante
Esse andar airoso de gazela
Teu olhar sereno e confiante
Sejam eco da tua Boa Estrela
Espinho, Março 1988
RESPOSTA À NITA
verão 1978
E das arribas do mar
agradeço a atenção
Bem quis logo responder,
mas não tinha a direção
23 - 8 - 79
O postalzinho da "praxe"
cá chegou, muito obrigada
Agora espero a visita
Dessa minha "sobrinhada"
(Para a Nita, Sameiro, Rosário, Lisa e Paulo)
1982
"A saudade quando veio
veio mesmo para ficar
aqui no meio do peito,
fazendo rir e chorar
Saudade fica comigo,
porque já me acostumei
Não fujas de mim saudade
- de uma vida que te dei"
"Eu tinha umas tranças loiras
E tão loiras eram elas
passando em campo de espigas
eu parecia uma delas.
Saltando muros e leiras
Na pressa com que corria
Voaram as tranças loiras
E só por isso me ria"
"Perverso, inconstante mar
revolto como o meu ser
Vagas em fúria
na procela tenebrosa
Ao longe o meu olhar perdido
na imensidão deste mar revolto
Vem-me a lembrança daquele louco amor
que agora é minha solidão
Pediste ao mar para me falar de ti
ou
Ao longe, o meu olhar perdido na imensidão
deste mar em fúria, revolto como eu.
Vem-me à lembrança aquele louco amor
que enche agora a minha solidão
O 1º ENCONTRO DOS MEUS PAIS, CONTADOS PELA MÃE
13 de outubro. Um dia de chuva e frio para a missa nova do Padre Eduardo Pinheiro na capela do Monte da Virgem. Levava um casaco comprido cor de rosa (feito por uma modista de alta costura do Porto. Foram numa camionete de excursão, guiada pelo Sr Coelho, um homem simpático, cujas filhas estudavam no Porto, e que era sempre o escolhido nas peregrinações organizadas ao túmulo de Frei Bernardo pela Senhora Dona Maria Aguiar - e a quaisquer outras, Com a lotação esgotada, partiu a camionete do Sr Coelho para o Monte da Virgem
A mãe suspeita que o seu 1º encontro com o jovem viúvo João Dias Moreira não foi inteiramente casual, Uma tia materna da Nucha e da Lucinda Aguiar, (sua madrinha, casada com Homero Figueiredo, que foi dono de farmácias no Porto e em Avintes e, depois, em países do sul da América, do Brasil ao Peru), Arminda de Sá era, em simultâneo, amiga de Olivia Capela, mãe do João, e de Maria Aguiar, a mãe da Mariazinha, que já trocavam correspondência e livros religiosos. Morava em Avintes, perto da amiga Olívia e da farmácia de Homero, (junto à Escola do Magarão), e visitava, muitas vezes a casa da Gandra do tio Augusto Aguiar e de sua irmã Leonor.
Estavam há pouco na capela, quando chegou o grupo de Avintes, com o viúvo e a mãe. A excursão de Gondomar ficou no fundo do templo, enquanto ele, o eventual viúvo e um amigo alto e moreno estavam junto ao altar.. Na verdade, um era loiro, o outro moreno e a Mãe não sabia qual era o João...No fim da missa, enquanto as senhoras mais velhas se dirigiam à sacristia para os cumprimentos, os jovens saíram para o adro. A Mariazinha distanciou-se, foi ver de perto um cruzeiro, subiu os degraus de pedra e para ler as inscrições gravadas na pedra e ouviu uma voz que lhe perguntava: "Boa tarde, dá-me licença? Olhou para trás - era ele, o jovem viúvo, o loiro... (tão atraente como o moreno!...). Pedia licença para lhe oferecer uns soquinhos- miniatura de couro, ligados por um fio de prata. Sorriu e aceitou. Ele tinha acabado de os comprar num lojinha que vendia, terços, imagens religiosas e artesanato. E assim começou a conversa, Contou-lhe que no dia seguinte ia para Lisboa com um primo, o António, visitar a Exposição do Mundo Português. A conversa, porém, teve os seus momentos críticos. Quando ele lhe perguntou a idade ele quis saber: "Que idade me dá?". Não se sabe porquê, talvez por a ver tão magra e pequenina, caiu na tentação de brincar, interrogando: "15 anos?". Mariazinha não achou graça nenhuma e quando ele lhe fez a mesma pergunta, sobre a idade que aparentava, disse-lhe: Não sei... Talvez uns 35..."". Ela tinha 20, ele 22... Logo depois, falaram de música, ela tocava piano, ele violino e o tom cordial foi recuperado...
As apresentação formais das minhas (futuras) avós Maria e Olívia foram feitas pela amiga Arminda e a conversa até à hora de partir não foi longa, mas animada e teria continuação.... De Lisboa, João enviou um soneto à bonita menina de Gondomar e,.seguidamente, uma carta atrás de outra. A Avó Maria estava sempre atenta à chegada do correio. Era ela quem abria as cartas, Li-as e só depois as entregava às filhas. Nunca teve de censurar as dele, quase sempre acompanhadas por sonetos românticos, que agradavam a mãe e filha. Um rapaz exemplar, bem comportado, muito religioso, de família conhecida (e abastada), filho único.... Perfil perfeito para um genro!
A jovem Mariazinha gostava dele, mas não lhe agradava namorar com um viúvo. Em conversa com a Tia Rozaura, desabafou: " Ó Titia, um viúvo...não quero!". E a tia, avisadamente respondeu-lhe:: "Não te importes. De facto, todos os homens são viúvos. Antes de casar connosco, andaram com outras mulheres. quer estejam vivas ou mortas".
Passado pouco tempo, ele telefonou. Na altura, só a irmã Carolina tinha telefone privado. Chamou-a lá a casa e puderam falar, combinando um encontro, que aconteceu prontamente.. E ele passou a aparecer, com frequência. Às 3.00 da tarde, a hora do Terço, ia diretamente para a Igreja, e, depois, acompanhava as senhoras à Vila Maria e ficava a conversar com a Mariazinha no terraço.
A mãe entrava e ficava lá dentro, não aparecia mais, mas mandava a Lolita atravessar, de vez em quando, a sala de jantar, que tinha portas largas e vitrais para o terraço... Ao fim da tarde, ele regressava como tinha vindo, a pé, pelos caminhos da Gandra e São Gemil, até Gramido, onde atravessava o Douro, de barco, para Avintes.
Anos depois, contou à Mulher que se ela lhe tivesse dito "não" junto ao Cruzeiro do Monte da Virgem, tentaria uma de outras duas jovens presentes, a mana Leninha ou a Teresa "da Pinta" - uma de várias irmãs, todas bonitas, que viviam numa das grandes casas de lavoura de São Cosme.
No verão de 1941, a agenda habitual de férias levava a família Aguiar para a Foz e as termas de Vizela, e a família Moreira para Espinho, onde tinham casa de praia na rua 7. Nesse ano, porém, a Leninha estava a recuperar de grave primo infeção e os médicos recomendaram uma longa estadia no campo. Passaram o verão em Branzelo. numa quinta de amigos (Novais da Cunha?), um casarão enorme, e convidaram os primos do João, Alda, Manuela e Maria Helena Capela. O João, também, aos fins de semana. Conviva constante era um Rangel, que morava numa quinta próxima, e que, apesar de ser um pouco mais velho, alinhava bem este grupo numeroso.
Não faltava pessoal doméstico, os caseiros da quinta, e as filhas, eram muito prestáveis. Em fins de outubro, estiveram todos numa desfolhada de lavradores... O romance entre Mariazinha e João progredia, e ritmo mais intenso - ficaram noivos e casaram pelo civil a 1 de novembro (continuando nas casas paternas) , e a 15, "a valer", pelos critérios familiares muito católicos, pela Igreja.
1941 Pais Branzelo verão .jpg1941 Pais passeio 14 julho (1).jpg1941 MÃE out.jpg
1941 mae e pai Branzelo.jpg1941 Pais cas Nov (1).jpg1941 Pai (restaurada).JPG
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1943 Mãe de fato preto e branco.jpg
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1950 MÃE nos anos 50.jpg
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1944 MÃE Gondomar.jpg
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1950 aprox Mãe foto preferida.jpg
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1950 mae.jpg
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1972 MÃE foto de estúdio que detestava.jpg
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1985 MÃE junto a buganvília 1 set.jpg
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1990 A Mãe nos 70 anos foto favorita.jpg
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2001 Mãe 28 agosto anos.jpg
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2004 Mãe na expo J Tavares 2 maio.jpg
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2005 MÃE em dia dos 85 anos .jpg
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2007 MÃE café Palácio.jpg
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2012 Mão na Pastelaria Latina.JPG
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1928 AVÓ MARIA e família Villa Maria (1).jpg
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1931 MÃE na Vila Maria.jpg
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1930 Monte Crasto Avó Maria e filhas.jpg
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1941 MÃE na Vila Maria.jpg
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2013 Mãe verao.jpg
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2016 Mãe.jpg
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