sábado, 25 de janeiro de 2025

Foi no dia 5 de outubro de 1910 que em Lisboa implantaram a República. Há 113 anos. Os nossos avós, que tinham casado em 10 de setembro estavam num hotel na Praça da Figueira. Não só estavam em lua-de-mel, mas também estavam à espera de embarcar para o Rio de Janeiro, onde o avô António Carlos Pereira d'Aguiar, exercia a sua profícua vida profissional. Estavam a vestir-se quando ouviram a multidão e lhes entrou pela janela uma bala, que ficou alojada no guarda vestidos. Com um canivete o avô tirou-a e guardou-a. Ele faleceu de aneurisma cardíaco em 10 de julho de 1926, tinha 40 e poucos anos. Ela, Maria da Conceição faleceu de pneumonia em 28 de Março de 1977, com quase 90 anos e uma fabulosa memória. Nasceu em 6 de agosto de 1888. Guardava com carinho essa bala, que eu vi, assim como guardava tudo o que dizia respeito ao avô. Até a simples pétala duma flor que ele lhe ofereceu. Idolatrava-o. Nunca mais dormiu no quarto do casal. Dormia na cama onde ele morreu. Mobília que eu comprei e que orgulhosamente tenho na quinta do Marco de Canaveses. É o meu quarto. De tempos a tempos, a avó convidava-me para dormir no quarto grande, que estava sempre fechado à chave. Dizia que mais ninguém deixava tudo a brilhar, como eu. Deitava-me cansada, mas sentia-me uma princesa, porque dormiria numa cama com colchão de penas, com cortinas e banquinho com degraus para entrar e sair. Era altíssima aquela cama; num quarto enorme, com sala de estar, chaise longue para disfrutar duma boa leitura e duas varandas com reposteiros de veludo. Um quarto com móveis lindíssimos, em pau preto. Com um santuário onde o Cristo era ladeado pelas estatuetas do S. Cosme e S. Damião. Para mim era uma semana de pura felicidade, e hoje são caríssimas recordações que me fazem feliz e me deixam a alma em paz. Como os nossos avós, também tive um casamento feliz, um marido idolatrado, que foi e sempre será a minha PAIXÃO.

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