FORMATURA DA MARIA DO SAMEIRO
Deu-te Deus essa fé determinada
Dos que sabem seus sonhos realizar
Que nasce em ti, em cada madrugada
A Estrela que brilha em teu olhar
Esse teu ar esbelto e elegante
Esse andar airoso de gazela
Teu olhar sereno e confiante
Sejam eco da tua Boa Estrela
Espinho, Março 1988
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Resposta à Nita
verão 1978
E das arribas do mar
agradeço a atenção
Bem quis logo responder,
mas não tinha a direção
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23 - 8 - 79
O postalzinho da "praxe"
cá chegou, muito obrigada
Agora espero a visita
Dessa minha "sobrinhada"
Para a Nita, Sameiro, Rosário, Lisa e Paulo
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1982
A saudade quando veio
veio mesmo para ficar
aqui no meio do peito,
fazendo rir e chorar
Saudade fica comigo,
porque já me acostumei
Não fujas de mim saudade
- de uma vida que te dei
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Eu tinha umas tranças loiras
E tão loiras eram elas
passando em campo de espigas
eu parecia uma delas.
Saltando muros e leiras
Na pressa com que corria
Voaram as tranças loiras
E só por isso me ria
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Perverso, inconstante mar
revolto do meu ser
Vagas em fúria
na porcela tenebrosa
Ao longe o meu olhar perdido
na imensidão deste mar revolto
Vem-me a lembrança daquele louco amor
que agora é minha solidão
Pediste ao mar para me falar de ti
ou
Ao longe, o meuolhar perdido na imensidão
deste mar em fúria, revolto como eu.
Vem-me à lembrança aquele louco amor
que enche agora a minha solidão
Pediste ao mar para me falar de ti
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(Para o João)
Há tantos anos que não te vejo, que já nem me lembro bem da tua cara. Apesar dos retratos que tenho espalhados por toda a casa.
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(Para a Lecas)
Minha adorada, luz da minha vida
A noite inteira conversei contigo
Num pranto de saudade infinda
destruí minha alma
LECAS
Depois de nos faltar uma filha, nunca mais se esquece. Tenta-se viver como se pode, mas o coração está sangrando constantemente e nunca mais se é a mesma pessoa
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Turbilhão de amores que me deixou presa
Insatisfeito amor minha alma perturbando
Sempre na procura de um amor melhor
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Em noite longas de dor e sofrimento.
meus olhos já cansados de chorar
Eu peço a Deus que me dê alento
E me deixe contigo conversar
A minha adorada, minha confidente,
Conversei contigo, solucei meu pranto,
De saudade infinda, que no peito trago
A noite inteira falei e tu falaste
Compus outrora poemas desmembrados
sem conseguir dizer o que queria
mas agora, passados muitos anos.
a sós contigo (já conseguiria?)
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A CASINHA DA PEDREIRA
Queria voltar a ver
as camélias a florir,
as laranjas a crescer.
Queria voltar a ter
na minha mão pintaínhos
acabados de nascer
Queria voltar a ver
o jardim, a capoeira,
a horta - querida Maria -
que te enchia de canseira
Limonete ao fim da escada
Alecrim pro's ramos bentos
toda uma festa, a ramada
a casinha, tão modesta,
com o nicho e a cantareira...
Agora, recordo a chorar
as pedrinhas da calçada
que já não volto a pisar.
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Ainda tocam trindades na Igreja de São Cosme. Ouvi tocar a primeira carreira para a missa das 7, uma hora antes da missa. !/4 de hora antes, 2ª carreira e, depois, picou para a missa.
Fez-me muitas saudades, ouvir tocar para a Missa. Pareceu-me ouvir a voz da minha mãe a dizer: "Meninas, vamos embora, já tocou a segunda carreira".
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Tenho saudades de pedir a benção à minha Mãe e minha Tia.
A minha Mãe dizia: a água lava tudo, só não lava as más acções.
Quando não se lembrava do nome das pessoas, chamava Francisca e Francisco - a toda a gente...
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Vila Maria
Apesar de sentir a falta do nosso Pai, eu e os meus irmãos éramos felizes e não sabíamos. A única falta nas nossas vidas (ainda tão jovens) era aquele lugar na mesa da grande sala de jantar, o do Papá (como a nossa Mãe dizia)ocupado pelo meu irmão António agora
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Agradeço à Nossa Senhora
A VIDA
Fátima, 26-4-86
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Agradecer, agradeço esta paz diferente, que sinto em Fátima, como se fosse, em cada ano, a primeira vez. E, neste constante turbilhão de sentimentos, que me invade, sinto-me, aqui em Fátima, mais benevolente e compassiva são só três dias de "tratamento", mas já é bom para o meu espírito cansado e atormentado.
Parece que renasci, aqui, hoje.
Fátima, 27- 4 - 89
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Compus outrora uns poemas desmembrados
sem conseguir dizer o que queria
e hoje, volvidos tantos anos,
não sei se era verdade ou se mentia...
quando dizia , amor, quanto te amava,
que era capaz de morrer por ti
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(A Manela)
Corria veloz. cheia de energia
ceifando flores do belo jardim.
Protestos e ralhos. Como elea se ria...
São minhas as flores, são todas para mim...
Manelinha, mas isso é maldade,
dizia-lhe alguèm, decerto era eu.
Intervinha a Avó, ar de cumplicidade,
São dela, claro, foi Deus que lhas deu
É muito inteligente, não trecisas ralhar
Um anjo a menina e só eu a entendo.
Só a Avó a sabia levar
E aquele anjo, menina vestida de anjo, de asas partidas, cabelo em desalinho, laçarote perdido, ia para a procissão
Eu peço a Deus para te acompanhar
O tempo vai passando e a saudade fica connosco pela vida fora
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Nos 50 anos da Manela
Tempestade traz bonança
o passado traz saudade,
a vida é sempre esperança,
busca da felicidade
Passa um ano, entra a saudade
mil beijos para ti, meu bem
a maior felicidade
te deseja sempre a mãe
Espinho, 8-6-92
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De todos os sentimentos humanos, nenhum mais natural do que o amor pela Terra, pelo vale, ou pelo bairro onde crescemos. A nossa Terra aviva-nos as recordações mais familiares (íntimas), mexe com as nossas emoções mais profundas. Tudo o que faz parte dela, pertece-nos, em alguma medida, e, decerto forma, nós fazemos parte dela também, tal como a folha pertence à árvore.
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Saudade, palavra amarga e doce. Saudades da minha linda terra, S Cosme de Gondomar, onde imperam os grandes artistas de filigrana de ouro. Saudades do meu Monte Crasto majestoso, donde em noites de luar (esse luar ímpar das noites de Natal, que eu guardo na minha memória e recordo comovida), se abrangia toda a minha terra, banhada de um manto de prata. Saudades daquela prenda do menino Jesus, que a minha querida Mãe, com tanto amor e carinho, pòs debaixo do meu travesseiro: uma linda pulseira de prata, toda feita de margaridas, que ainda hoje guardo, com todo o meu amor. Saudades da minha mocidade, dos meus amores, das minhas ilusões, dos meus tempos de colégio, de minha casa, do meu jardim cheio de flores, do meu piano, meu confidente, o meu piano, que escutou tantas histórias de amor,
Saudades da minha Terra, a minha casa, os meus Natais...~
22 - 7 - -92
Um sonho
Eu vinha de cima, a chegar a casa, e vi a entrar na minha porta a minha Tia, a minha Mãe e várias crianças. Cumprimentei a minha Tia, dei-lhe dois beijos, e ela abraçou-me. A minha Mãe estava mais adiante. Dentro não era a minha casa de Espinho, era aquela sala antiga, muito grande, com um quarto à esquerda, uma porta em frente à porta da rua, que dava para dois quartos interiores, à esquerda do corredor a cozinha e a sala de jantar, ao fundo, com porta e janela para o quintal. Cumprimentei também a minha Mãe, dei-lhe dois beijos, ela também me abraçou. Numa alcofa estava uma criança muito linda e elas disseram-me as duas: "é a Marta, a Martinha, vai ver que é bonita". Aproximei-me, uma dizia: "é parecida com o Avô" (o meu Pai) e eu chamei a Manela, peguei na menina e os olhos eram tão azuis, tão azuis (como eu nunca vi, ou antes, devia ter visto, deviam ter sido assim os olhos do meu irmão Manuel). A criança era lindíssima e era tal e qual este retrato do meu irmão (Manuel), que eu tenho aqui no quarto. Entretanto, a minha Mãe sentou-se numa cadeira e encostou-se a uma mesa, com a mão na cabeça. Eu perguntei : "O que tem a Mamã"? "Estou com azia", e eu virei-me para a Olívia e mandei-a fazer um cházinho
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Não posso olhar para a nossa casa, a casa da minha Mãe, sufoco de saudades, e as recordações são tantas! Festas de Natal, os risos das crianças, o cheiro das rabanadas, o cheiro da minha adorada casa. Tantas Páscoas = o compasso!), casamentos, E, de repente, pela minha cabeça passava a minha meninice, adolescência, as nossas gargalhadas - eramos sete - as repimendas da nossa querida Mãe. "meninas (a minha irm-a Lolita e eu passávamos a vida a rir):não se riam tão alto, não é bonito". Além disso, Muito riso, pouco siso"
Dentro daquelas paredes guarda-se a história das nossas vidas, meus irmãos, minha Mãe, quantas alegrias, quanto amor, e quantas tristezas também!
Parece mentira que tanta história caiba dentro daquela adorada casa, Desci aquelas escadas para me casar na Igreja da minha Terra. Deois, e a história continua, ali nasceram as minhas filhas. Mais risos, mais gargalhadas. tudo se repete. é a nova geração!
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Compasso na minha Terra
Corações cantando almas em flor, flores em casa e no jardim também. Vem o compasso - é Deus , é amor. Pela aldeia fora campaínhas a tocar. Flores desfolhadas e "verde" pelo chão, Aí vem o compasso, aí vem a Cruz a chegar.
Pojeiras onde os criados da minha Mãe iam buscar verdes para pôr no chão - fora do portão, do portão até ao terraço e pelas escadas acima, o percurso que, no domingo de Páscoa fazia o cortejo do compasso.
Alguns anos antes, íamos com a Nucha buscar fetos e verdes ao Barroco. Tão lindo! Era um vale entre a Gândra e Pevidal
Mês de maio
Mês de maio, minha aldeia tão linda,tão florida. Ao entardecer subíamos o Monte Crasto, para as novenas do "mês de Maria". Eu toco o pequenino órgão do coro da capela de Santo Izidoro. no Crasto, a Lolita e outras raparigas, como nós, cantam coisas tão belas!
23-2 - 74 PORTO (um sábado)
Primavera nos jardins, primavera nas casas e nas pessoas, sim, porque entrou também a primavera nos corações de cada um. Minha terra tão linda, estás perdida, mas eu encontro-te, minha raínha. Minha terra coroada de mimosas, A tua coroa é o Crasto. Sala de visitas das gentes de Gondomar e de tantas outras. Minha terra, berço de todos os meus... Não é a minha vida que vou passar ao papel, -são várias vidas, porque terei de lembrar antepassados e contemporâneos
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Oh, meu Gondomar, minha linda terra
Tu que embalaste o meu 1º amor
Porque não levar-te presa nos meus braços
oh, meu Gondomat, para onde eu for?
Encantamento que nunca esqueci
roseiral em flor desse meu jardim
tanta rosa murcha pelo chão caída.
mas tanto botão a abrir para mim...
Gondomar, meu berço, capital do mundo
És a minha casa, és o meu jardim
Foste tu que viste os meus primeiros passos
E irás guardar-me, ao chegar ao fim.
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Procuro-me e não me encontro
E fico parada assim
A chorar, meu Deus, porquê?
Por ter saudades de mim!
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E o tempo passava
O tempo corria
Eu já não chorava
Apenas sofria
Andava à procura de um sonho vivido
Num lindo castelo entre árvores e flores
Perdida, encontrei-me num mundo perdido
Meus ais, meus queixumes, meus loucos amores.
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Gondomar, ponto final
do mundo tão grande assim
Mas para mim e, afinal,
a terra maior
deste nosso Portugal
Meu Crasto bendito
Mimosas em flor, Minha Terra
Novenas de Maio
quando era menina
Festas de S Izidoro
Música no coreto do Monteiro...
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Sonhos meus, audaciosos, inquietantes, insatisfeitos - como eu, uma insatisfeita - sonhos belso de um amor quase perfeito. Mais de uma vez desci o Crasto num voo pleno de graça e leveza. Senti mesmo os pés a levantarem-se do solo e voei acima daqueles queridos pinheirais, eucaliptos e mimosas, voava em direção a minha casa...
Mas fiquei diferente, sim, depois que perdia minha querida filha. Ela era a minha alegria e a minha vida, era minha e roubaram-ma. Fique perdida num deserto, fiquei sozinha, Que me perdoem todos os que ficaram comigo, ficaram muitos, ficámos todos , menos ela. Que me perdoem, mas eu fiquei sozinha.
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Não sou bonita, nem feia, sou simpática, fui sempre muito simpática (isto não é narcisismo...). É verdade. E fui em tempos, há muitos anos, uma rapariga
interessante, pequena, bastante pequena, mas cheia de saúde, extuante de vida, vida e alegria, que transbordava por todos os poros do meu corpo. Diziam até que eu tinha muita graça, aquela graça natural de uma rapariga que da vida só queria a vida e nada mais. E o fulcro da vida era o amor. De uma sensibilidade doentia, muito sincera, expansiva e nada egoísta.
LECAS
Depois de nos faltar uma filha, nunca mais se esquece. Tenta-se viver como se pode, mas o coração está sangrando constantemente e nunca mais se é a mesma pessoa
A minha Mãe e a minha Tia diziam: "Quem muito dorme, pouco aprende (ou seja. é estúpido)
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A minha Mãe recitava:
Minha terra tem coqueiros
onde canta o sabiá
As aves que cá gorgeiam
não gorgeiam com
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12-6-93 ESPINHO
Ontem fui a Gondomar ao baptizado do António, filho da Ana e do Tozinho. Lindo baptizado, maravilhoso jantar em casa dos pais da Ana em S Cosme.
Que saudades da minha linda Terra, que saudades da minha Mãe, da minha querida casa, dos meus irmãos todos (quando éramos jovens), do terço rezado à volta da mesa, depois do jantar - as criadas e o criado, à porta da cozinha, a rezar connosco), que saudades de mim, meu Deus! Tantas saudades de tudo, que nem me cabem no coração. E chor, choro, por tudo o que eu tive e perdi. Oh minha terra,(onde se vê o céu), meus verdes campos, meu lindo Monte Crasto.
18-5-93 ESPINHO
Daqui do meu sofá, na minha sala virada para o jardim, a partir da porta larga - de parede a parede - vejo um retalho pequeníssimo do jardim da minha casa (pensando) no jardim da casa da minha Mãe, da nossa querida casa.
O meu jardim, o meu roseiral,, as minhas adoradas rosas, que parecem as nossas rosas, minha Mãe!A trepadeira vermelha que sobe pela parede, junto ao poço, (e tem ao lado uma japoneira) está coberta de flores e todas as outras mais parecem rir-se para mim.
19-8-93, quinta-feira
UM DIA
Levantei-me às 9/2. Está um dia de sol e calor. O João passou por mim nas escadas e disse: "bom dia" (mais para dentro do que para fora). A Plívia foi às compras de "cara" amarrada, aliás, como anda sempre.
Vou tomar o meu chuveiro e vou ao café, Talvez encontre a Leninha, (que está cá, a passar uns dias no apartamento do pai). Porque aqui em casa, não há conversa. Não há agora, nem houve nunca, só discussões. Sofro muito, mas só Deus sabe porque sofro, nem eu
27 Set 94
TITA
Hoje tenho-me lembrado todo o dia da Tita, minha querida cadelinha, que morreu há mais de um ano.
Mas hoje vejo-a sentadinha no sofá, tão pequenina (era uma yorshire terrier). Não gostava que ninguém se sentasse perto, queria o sofá todo para ela.
Sabia quando eu estreava uns sapatos, farejava-me os pés.
29 - 3- 95
LENA E DAVID
Gosto de encontrara a Lena e o David (ao domingo), em casa do Mário. Já vamos tendo tão pouco tempo para nos encontrarmos, munha querida irmã. temos de aproveitar as ocasiões que se proporcionam para nos vermos. Está a aproximar-se a Páscoa. Que saudades das nossas Páscoas, na nossa casa, que saudades do compasso (com a nossa Mãe, claro), nós, todos or irmãos reunidos, as minhas adoradas filhas, os meus sobrinhos,, os namorados deles, as
criadas na cozinha, o cheiro dos cozinhados,o saudoso cheiro bom da nossa casa, que cheirava sempre a flores, o nosso jardim, aquele paraíso, como a minha mãe dizia
LECAS
Minha Lecas, minha filha, a coisa mais linda que eu fiz e criei, na minha vida. Nem as rosas, as flores do meu jardim. Minha querida filha, valeu a pena viver e sofrer, só para te ter, a ti.
Tristes prenda sque te dou, minha adorada filha, padre nosso e flores. Tu que gostavas tanto de vestidos, de sa+patos, de pequenos chocolates.
ESQUEMA de BIOGRAFIA 4 partes
1ª - nascimento e vida em família
2ª internamento no colégio
3ª regresso a casa aos 18 anos: namoros
4ª - casamento e peripécias seguintes
(quem não se enfeita, por si se enjeita)
31-8-94
A Manela foi ontem para Lisboa de carro, (Peugeot), sozinha, e hoje, de manhã cedo partia para a Turquia, a esta hoara ainda vai a voar, São 4 horas. da tarde. Esteve aqui em Espinho 3 semanas e por acaso com um tempo ótimo de praia. Esteve também cá, no andar da Manela, a Terezinha, Helder e Tozinho - que está um encanto - uns 15 dias. Foram ontem à tarde embora, para Gondomar, ficámos sozinhos, e com muitas saudades.Estou muito trista, também, porque a Lélé foi fazer e tem de ser operada ao útero. Deus a proteja.
23-9-94
A Maria do Carmo esteve cá 4 dias. Vinha para passar 15 e sentiu-se mal da bronquite, de que já sofre há muitos anos e de uma hérnia no estómago, que também já tem há muito tempo. Estou muito triste por isso e porque a Terezinha também vinha para aqui com o menino, para casa da manela, e agora a manela resolveu alugar o andar e eu fico sem a companhia deles.
A Maria do Carmo vinha cá 2 ou 3 vezes por ano, mas a viagem é muito longa, faz um grande sacrifício, coitada. É uma grande amiga Assim, eu vou ficando mais pobre (não de dinheiro, mas de dinheiro também, porque os juros vão descendo e eu vivo dos juros) mas de amizades verdadeiras, que tanta falta me fazem. Sinto-me muito abalada e desanimada.
28-4-93
Viagem para Fátima no nosso carro, eu e o João
Matos cheios de verdura, os pinheiros com as suas "crescências" e um mar de juventude. Campo enfeitados de ( /...?) irradia, alegria e jardins cobertos de flores variadas, parecem cascatas ali...para receber a primavera. Há ainda as maias a quebrar o verde das matas, essas flores tão lindas , que alegram os olhos e aquecem o coração. As flores amarelas encantam-me. O céu está carregado de nuvens brancas, o sol espreita, de vez em quando e vai adoçando a viagem. Chove, de longe a lomge. Não gosto de viagens com chuva. Com todas as viagens (aliás, como na nossa vida), não há conversa -2 ou 3 palavras de Espinho a Fátima e estamos agora a parar num bar da Mealhada.para tomar um cafézinho. O João enganou-se, passou o bar e teve de dr meter o carro em marcha atrás, mais adiante.E parou um carro da polícia mesmo ao nosso lado.. Foi manobra perigosa, esteve prestes a pagar multa, mas lá nos deixaram em paz (o João alegou que tinha tomado um diurético...), Ameaçaram-no de ficar sem carta na próxima transgressão. Agora continuamos a nossa viagem, atravessamos a serra (de Lousã?). Continua o céu cinzento, com abertas de azul, de vez em quando. Há uma cordilheira à nossa frente e do lado esquerdo, a bordar o horizonte.A auto-estrada permite-nos ir a 120, o que para o João é uma grande aventura.. Os matos dos dois lados da estrada continuam cobertos de maias. Que lindo! É para alegrar o cinzento do céu .Estamos a 20 km de Leiria, portanto já perto de Fátima. A paisagem é bonita, mas quanto mais lindas eram aos caminhos por onde eu vinha há 30 , há 50 anos?
A 1ª vez que vim a Fátima com a minha Mãe e a Mª Ernestina, irmã do Eduardo, tinha 17 anos.
Uma grande chuvada e estamos a 16 km de Fátima, avista-se ao longe uma povoação, deve ser Vila Nova de Ourém. Já se Vêem as características desta região, os muros de pedrinhas - como há em Fátima. Aqui e ali um campito verde, verde tão verde e fresco,parece um tapete de entrada em Fátima
Estamos em Fátima. A chuva parou, deu lugar ao sol, lá fora e no meu coração.
Espinho, 24 de Abril de 1996
Vai fazer no próximo domingo 3 semanas que o meu querido João foi para o céu. Meu amigo, meu companheiro de 55 anos. Foi no dia de Páscoa, às 8 e meia da noite no dia 7 de Abril de 1996,
Está em Gondomar, ao pé da nossa Lecas. Mas como tem sido difícil para mim sofrer sozinha tão grande desgosto, não tenho com quem desabafar e isto é uma tortura enorme. Tento resistir, mas preferia ir para perto dele e da nossa Filha.
12 de Maio
João e Lecas quero ir para perto de vós, vinde buscar-me, não tenho nada que fazer aqui. A Manela tem a vida dela e eu vivo sozinha, (esta criada que vive aqui em casa não é ninguém)
Não posso sofrer asim , quero ir embora, descansar perto de vós. Pedi a Deus por mim. João, meu companheiro, meu amigo, tu tinhas tantos cuidados comigo, e agora deixaste-me sozinha. Eu dasabafava contigo e agora não tenho com quem falar. Sofro atrozmente de saudades e solidão. Que mal nós aproveitámos ou vivemos o nosso tempo juntos, João.. Tudo o que eu fazia era para ti, João. Queria um piano para que tu me ouvisses tocar. Agora já não quero. Fiz o meu jardim para tu veres. Vestia-me bem para tu olhares para mim. Lembras-te como antes de estriar uma roupa te perguntava se me ficava bem? E tu sabias como ninguém aconselhar-me, eu acreditava, piamente, no que dizias. Agora já nada me interessa, acabou tudo para mim.Eu não posso, não sei viver sem ti. Triste primavera, triste sol e até as flores do meus jardim são tristes.
Espinho, 1 de Junho de 1995
Já quase de manhã o meu João esteve sentado na cama , em frente à minha. Eu estava para me deitar (sonho ou realidade?) e ele abraçou-me, sentou-me ao colo dele e falava não sei de quê, duma gaveta que precisava de ser levada, mas falava e ia-me puxando para o colo dele e eu abracei-o também. E acordei, ou ele foi embora?
3 de Junho de 1996
Cada pessoa tem a sua casa exatamente para poder sofrer e chorar sozinha.Meu querido João eu ando perdida e perdida por esta casa sem te ver e pergunto. para onde foste sem mim? Tu que não ias a parte nenhuma sem me dizer, para onde foste sem me dizer? E deixaste-me aqui, assim, desesperada, Eu morro de saudades tuas.
5 de Junho de 1998
Meu João, meu amor, grande partida me fizeste, naquele dia de Páscoa, 7 de Abril, ao jantar. Tínhamos chegado de Gondomat às 7, tu foste ao Café Vieira tomar o teu cafezinho e chegaste atrasado para o jantar. Eu e a Manela já estávamos à mesa e tu chegaste, sentaste-te em frente a mim, comeste a sopa e ias continuar, quando eu, conversando contigo, te disse que tinha a cara muito vermelha e inchada do calor dos aquecimentos em casa do Mário (eu costumo ficar
assim com o calor). Tu, querido, olhaste para mim e ias dizer qualquer coisa. Já não disseste. A cabeça caiu lentamente para a frente e tu, meu amigo e companheiro de 56 anos, partiste e deixaste-me sozinha. Quem me dera ter ido contigo. As minhas lágrimas são de saudade e desepero, eu não sei viver sem ti!. Agora, só agora sei que tudo o que eu fazia era para ti, João. Todos os vestidos que eu comprava, quando eu cantava nas festas da família, as flores do nosso jardim, os móveis para a nossa casa, tudo era para ti, meu querido João. Eu queria que tu gostasses do que eu gostava.. Amanhã, dia 6, fazias 78 anos.e, no dia 7, faz dois meses que me deixaste!
Oh, João, como é possivel eu não falar mais contigo e tinha tantas coisas para te dizer, como disse quando era mais nova (éramos mais novos). Mas que eu queria agora, ainda, dizer-te outra vez.
João, leva-me para o pé de ti e da nossa Lecas, meu amor, chama por mim, este mundo não tem interesse nenhum para mim. Nem estes dias esplendorosos de sol, nem o meu jardim cheio de flores, nada, já não há nada que me faça ficar aqui. Sinto-me sozinha e abandonada num mundo desconhecido, João, vem-me buscar!
9 de Junho de 1996
Dia dos anos, 54 anos, da Manela. Está na Venezuela, em Caracas, eu estou aqui, com as minhas recordações. Meu querido João, os dias estão cheios de sol, mas tão tristes para mim! Acabou tudo desde que me deixaste, mas que amargura de vida!
11 de Junho de 1998
Meu João, eu morro cheia de saudades tuas, não posso viver assim, porque me deixaste? Eu não posso nem quero viver sem ti. Preciso de ir para perto de ti e da nossa Lecas.
15 de Junho
Pode-se morrer de saudade e eu acho que vou morrer Já há mais de dois meses, meu amor, que te foste embora. E eu sentada no meu maplesinto que tu estás ao meu lado, sentado no teu maple, e eu viro a cabeça e vou falar contigo. João, como posso viver assim? Durante o dia, de vez em quando,estou a pensar: logo quando o João chegar eu pergunto-lhe isto ou aquilo.
Ouço os teus passos a subir a escada, ouço o meter a chave, ouço-te a tossir. e morro, aos poucos, de saudades. Como ficou tudo vazio á minha volta
20 Junho
Esta noite sonhei contigo, Em casa da minha Mãe, em Gondomar., no nosso quarto de inverno, (onde nasceu a nossa Lecas), o quarto azul. Tu estavas a chegar a casa (do emprego, cansado), agarraste-me atrás da porta e deste-me muitos beijos e dosseste-me que já tinhas muitas saudades minhas.
Tínhamos em casa da minha Mãe outro quarto, de verão, no andar de cima (chamávamos-lhe "o quarto de hóspedes", foi onde nasceu a Manela.
21 de Junho
Meu querido João, eu dizia até agora "feliz de quem fica cá", mas já não penso assim. Agora sei verdadeiramente que quem é verdadeiramente que feliz é quem parte. Por isso peço-te para me chamares, eu quero partir.
22 de Junho
João passo os dias a chorar, nem sei como tenho tantas lágrimas nos meus olhos. Estamos no verão, eu continuo sozinha, a Manela veio, mas já foi outra vez, ficou só uma noite. Está um sol a brilhar e um céu azul, e é tudo tão triste, Como o mundo ficou diferente, meu companheiro, eu até acho, meu companheiro, que estou a viver noutro mundo. João anda.me buscar.
14 de Julho
João meu amor, que saudades da tua voz, dos teus passos, de te ouvir subir as escadas, meter a chave à porta e dizer :"Sou eu". Que saudades, joão, de te ouvir chamar por mim. Quem me chama és tu, ou o meu irmão Zé, que está aí no céu contigo, desde o dia de Natal 24 - 12- 95, pobre e querido Zé, tão meu amigo também. Meu querido João, tenho saudades de te ouvir tossir, andar à noite no corredor, até de fumar o cigarro (que tão mal te fazia),, Até tenho saudades das nossa zangas, das nossa "guerras"!
11-12 96
João, meu amor, vem aí o Natal, só quero dizer-te: o meu mundo desabou em cima de mim. Mas que deserto é este?
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