domingo, 9 de outubro de 2011

LEMBRANDO O AVÔ MANUEL NO "NOSSO CAFÉ"

Passei hoje pelo lugar em que existiu "O nosso café". Café fechado há anos, edifício semi-demolido e agora derrubado inteiramente. Mas até este desaparecimento definitivo, ainda lá estava o lugar exacto onde me sentava com o Avô, junto à parede envidraçada, com vista para a linha do comboio, para tomarmos "o nosso café" e para conversarmos, interminavelmente, como bons companheiros, sobre isto e sobre aquilo, coisas do quotidiano, novidades, projectos...
Está tudo gravado na memória - bem viva a cor da mesa redonda, dos azulejos, da luz que enchia o salão e o tornava acolhedor, apesar de ser tão amplo... E a simpatia dos empregados... E o pequeno televisor, onde, entre tantos programas, que iam passando e, em geral, mal olhávamos, me lembro de ter assistido, atentamente, ao funeral de Salazar. O Avô muito comovido, porque era "salazarista", eu indiferente porque não era (salazarista - antes pelo contrário!). Salazar já estava morto muito antes de morrer - aquele ponto final nada acrescentava à história ou à situação.
O Avô era sempre fiel àquela mesma mesa, em frente à vidraça, a meio caminho entra as duas portas de entrada.
Foi com muita pena que vi o desfazer daquele recanto, por uma máquina gigantesca, que, em cada nova investida, "devorava" metros quadrados das ruínas que viveram de pé, sem esperança, durante vários anos.
Sempre a pensar, sobretudo, no Avô Manuel, no prazer enorme que nos dava a conversa e o cafézinho.
Um lugar de boa memória, indestrutível.