sexta-feira, 17 de janeiro de 2020

ANTÓNIO CARLOS PEREIRA DE AGUIAR
Nasceu a 20 de fevereiro de 1880.  Foram  padrinhos, António Castro Nogueira e Maria Martins das Neves, um casal da Gandra
Um dos mais novo dos irmãos, desde o berço um menino muito bonito e esperto, foi sempre bom aluno. sempre cuidadoso  com os seus livros e cadernos, com a sua roupa, e apresentação. Nos retratos coletivos, está, invariavelmente em pose, como se fosse candidato ao título de mais fotogénico e de mais bem vestido. Esse sei jeito não diminuiu pela vida fora.
 Maria Antónia dizia: "O meu Pai era muito vaidoso com a sua aparência". Ela também, e proclamava-o com orgulho. Na sua opinião o contrário é que seria defeito...
Podemos imaginar que sendo dos mais novos de tão larga prole, terá tido "muitas  mães e pais", nos progenitores e nos irmãos muito mais velhos,  Na verdade, alguns dos seus sobrinhos seriam quase da mesma idade. Isso, porém, não parece tê-lo tornado mimado e caprichoso e talvez explique a sua queda para "pregar partidas" benignas aos amigos e o facto de não proferir, nunca, um palavrão, mesmo dos mais inofensivos - caraterística que, ao caricaturar o seu perfil em jeito de adivinha, décadas depois, um periódico da terra apontaria. Outra nota que ressaltariam: era baixinho, com cerca de 1.60 m, como se adivinhava viria a ser, aos 15, 16, anos, em vésperas de emigrar para o Brasil, sobretudo no grupo em que a comparação se faz com três das irmãs, bastante mais altas (por acaso, as três, embora também as houvesse de pequena estatura - Doroteia e Guiomar, por exemplo. Mimos e cuidados não lhe abrandaram a determinação, a vontade de estudar, de trabalhar, com rigor, duramente, se preciso fosse, para tirar o máximo proveito dos seus talentos. Como manda o Evangelho... O Brasil servia esses fins, e para os pais o deixaram ir. A insistência sua ou, sobretudo, influenciado pelo irmão João? 
João, então já lançado em altos voos, tinha apostado, anos antes, na cooperação de Alfredo, que não conseguiu moldar à sua imagem.Talvez no mais jovem dos Pereira de Aguiar visse todas as qualidades que àquele faltavam.
E, nesta segunda tentativa, não se enganou.
 Dos primeiros anos de António Carlos, longe de Gondomar, da sua Gandra tão querida, não há peripécias que tenham chegado aos ouvidos dos descendentes. Nada, absolutamente nada! Das pessoas felizes não há histórias. É de crer que sido feliz, recebido, com alegria, em casa do irmão, ainda solteiro nesse ano de 1896, e que se tenha sentido sempre muito animado com a perspetiva de vencer no "novo mundo". Era composto daquela matéria de que se fazem os grandes viajantes, como a sua trajetória futura, de princípio a fim, evidenciaria. Não há dúvida sobre a sua paixão pelo movimento, pelas travessias do oceano, pelas incursões na costa brasileira ou africana, escolhendo carreiras de vapor, que lhe permitiam ver terras novas, ou cruzando as fronteiras da Europa. Incansavelmente...
Trabalhou, de início, com toda a certeza, para João, próspero  proprietário de uma joalharia, Pela ligação que cultivou, muito para além do círculo familiar, com amigos de infância e com a vila, de onde viera, é a perfeita imagem daquele género de emigrante, que, como dizia Jaime Cortesão, "levava a Pátria consigo".
Cruzava, como vimos, com regularidade, o Atlântico, e passava férias em São Cosme. Certamente, não só férias, mas negócios também, de princípio os do irmão, depois, os seus, à medida que se autonomizava. O mesmo duplo propósito seria o motivo de visitas a outros países, como a Inglaterra e a França. De um dos postais que de lá enviou, em 1909, justifica dar tão sintéticas notícias pelos muitos "afazeres" que o ocupavam. Não se limitava, pois, a subir à Torre Eifel, e a passeios a Versalhes, ao Bois de Boulogne, de onde mandava postais.  Provavelmente, os "afazeres" tinham a ver com projetos seus e dos irmãos, João e Augusto, relacionados com a internacionalização de negócios, parcerias na exportação/importação de jóias do estrangeiro e de ouro e filigranas de Gondomar. (tudo suposições, mas a que outras ocupações profissionais se poderia dedicar um joalheiro? )
António Carlos, como o irmão João, continuou no Brasil, as melhores tradições da sua terra e, não só, também as da sua família. Disso, creio  que os seus filhos não tinham uma perfeita noção. Embora a arte da ourivesaria e, em especial, a da filigrana sejam um "ex-libris" de Gondomar, do lado Barbosa e Ferreira Ramos os antepassados, apesar de gondomarenses, não estavam ligados ao setor e, talvez por isso e pelo facto de terem convivido muito mais com esses ramos da família (materna), não se viam, pelo ramos paterno, como descendentes de uma longa linha de gente tão ligada à atividade que fizera a fama de São Cosme. Viam o Pai como uma exceção até porque prosperara no estrangeiro, e não em Portugal, mesmo depois do seu regresso definitivo. Viam-no, pois, como empresário que escolhera aquele domínio, um pouco ao acaso, podia ter escolhido qualquer outro. De resto, nos últimos anos, preparava a entrada numa sociedade bancária e investira no mercado de capitais e no imobiliário. 
Mas, à medida que se caminha no conhecimento do passado dos Pereira de Aguiar, os registos vão mostrando o contrário., ou seja, uma 
inesperada preponderância de gente ligada à grande indústria local, ainda que em vestes e dimensões diversas. Difícil, na maioria dos casos é, aliás, determinar se eram fabricantes ou negociantes, empregados ou patrões, pequenos, medianos ou abastados. O documento indica simplesmente a profissão, ourives...  
 Nos mais próximos ascendentes de António Carlos, em linha reta, só há, mesmo, ourives": o bisavô materno Pedro de França, pai da avó Anna, o primeiro marido desta  (que, por morte não lhe deixaram fortuna...), e, também, o segundo, o maior e mais rico fabricante da vila, no seu tempo. A mãe casou igualmente com um ourives, seu pai, Manuel de Aguiar, seu pai, ao que se julga, filho de ourives... 
Muitas das sua irmãs casaram com conterrâneos, que eram ourives. Dos irmãos, três foram proprietários de elegantes joalharias e, todos, muito bem sucedidos nessa aventura empresarial. Os tempos eram propícios, o ouro abundava no Brasil,  e tinha, em São Cosme, em boa medida, por força da emigração e do retorno, uma repercussão dourada... 
António Carlos integra-se nesta corrente, em parceria com o irmão e protetor, João. Não dispomos de dados concretos sobre os seu negócio. Certo é quem em 1902, João casou com uma jovem da alta burguesia, e, através dela, da sua família, poderá ter optado por investir em outros setores.
 António Carlos, então com 22 anos e seis de experiência de trabalho comum com o irmão, que nele depositava inteira confiança, ter-se-á
autonomizado, arrendando casa própria e, talvez, o seu próprio estabelecimento, É de admitir que João lhe tenha oferecido sociedade, e, poucos anos depois, trespassado a sua parte na Joalharia Aguiar da Rua do Ouvidor. Em favor desta tese, vale o facto de ambos fazerem gala no apelido "Aguiar" e, por isso,  anómalo teria sido o mais velho não o usar na denominação da sua firma. Tendo essa denominação ficado ao dispor do mais novo, a hipótese do trespasse é a mais razoável..
De João Pereira de Aguiar não há qualquer notícia de visita a Gondomar, nem imagem em reuniões de família. Não apreciaria as longas viagens marítimas, e terá feito do irmão o incansável viajante (com certeza, voluntário!), o "relações públicas", o intermediário de negócios, que envolveriam, também Augusto, o dono da Joalharia Aguiar da Rua das Flores,.Sinais seguros da especial ligação desse trio de irmãos há-os, no convívio que se sabe ter sempre existido, e na correspondência trocada entre Augusto e os sobrinhos do Rio, ainda em 1930, e entre Judith e Maria até aos anos 50 ou 60.
É por recortes da imprensa de Gondomar, não por relatos orais, que tomámos conhecimento de que António Aguiar não faltava na época da caça - desporto que, pelo visto, o entusiasmava particularmente em São Cosme, porque ali tinha os melhores companheiros para passeatas e convívios. Como alegre e sociável jovem que era, juntava trabalho e diversão, também em Portugal, e em outros paíse da Europa.
Com João aprendeu, seguramente, os segredos de bem gerir. A diferença de idades era substancial, a relação foi, decerto, mais do que fraterna, quase paternal/filial. Não se sabe precisamente quando se tornou o dono da Joalharia Aguiar, mas, aos 28, na altura em que se terá enamorado da futura mulher, era um pretendente considerado muito rico. Milionário antes de atingir os 30, idade com que casou,