sexta-feira, 19 de abril de 2019

ANTEPASSADOS apontamentos da LENINHA 2019

Antonio Mendes e Joaquina Roza Coelho Barboza pais de Joaquim Mendes  Barbosa, que nasceu em Sta Maria Madalena Paredes. Foi o primeiro tabelião  de  Gondomar (tenho a secretária  onde ele trabalhava). Faleceu em S. Cosme Gondomar  em 24.03.1923 com 83 anos

Casou na Capela de Na Sa Mãe dos Homens (capuchinhos)  S. Cosme - Gondomar  em 02.05.1870 (30 anos) com Carolina Ferreira Ramos (26 anos) que nasceu em 20.02.1844 e faleceu com 81 anos em 05.04.1925 em S. Cosme Gondomar, de bronco-pneumonia gripal

A Carolina era filha de Joaquim  Ferreira Ramos de S. Verissimo de Valbom e de Anna Pereira do Lugar de Quintam
Foram pais de Manuel Guedes Ferreira Ramos que vivia onde é hoje o Clube dos Caçadores  de Gondomar  em Quintã, de  Joanna Ferreira Ramos, de Antonio Ferreira Ramos que tinha um armazém  de vinho do Porto e de Carolina Ferreira Ramos (afilhada dos irmãos  Manoel e Joanna)
Viviam na Quinta da Boavista 

O Joaquim  Ferreira Ramos  era filho de Francisco  Ferreira Ramos e de Catharina Alves

A Anna Pereira era filha de Jose Pereira e de Thereza d'Almeida do Lugar do Vinhal

O Joaquim Mendes Barbosa e a Carolina Ferreira Ramos foram pais de

ANTONIO Mendes Barbosa N. 05.09.1871 e F. 20.11.1945 com 74 anos,  de infeção  intestinal, no Lugar da Bóca. Casou com Maria das Dores Dina e com Teresa (espanhola) Nasceu e faleceu em S. Cosme - Gondomar 

AMÉRICO  Mendes Barbosa (padre) N. 16.03.1874   F. 22.10.1921 com 47 anos, de tuberculose.  Nasceu e faleceu em S.Cosme - Gondomar 
Foi pároco  da freguesia  de Covelas - Sto Tirso, da freguesia de  S. Lourenço de Asmes - Valongo e da freguesia de Gundelães - Paredes. Esteve pouco tempo a dizer missa na Capela de Baguim do Monte -  Rio Tinto -  Gondomar (em frente ao Zé Pacheco  dos Leitões) 
Monografia de Gondomar  vol. III, pag. 79 e 80

ALBERTO  Mendes Barbosa  N. 19.09.1876  F. 04.11.1943  nasceu em S. Cosme - Gondomar e faleceu em Bonfim - Porto com  68 anos
Casou com Maria do Rosário  (Zarita). Foram pais de
 Maria Isabel Barbosa da Costa  Ferreira (Mimi) N. 1898 e F. 02.03.1991 que casou com um pintor Mário  Ferreira e tiveram a Maria Laura (segundo  a mãe, feia como o pai) que teve a Anabela (Bebinha) e o Luís
Mário médico (paixão da tia Carolina Rosa, tia Lina) que casou com Maria do Céu e tiveram o Mário (Tico) também  médico  e Américo (Bebé) 

ALEXANDRE  Mendes Barbosa  N. 18.10.1877  e F. 27.06.1945, com 67 anos, de tuberculose . Nasceu e faleceu em S. Cosme - Gondomar 
Foi Secretário  na Câmara  Municipal  de Gondomar.  Figura proeminente. Foi um dos fundadores dos Bombeiros Voluntários,  do Clube Gondomarense, do Orfeão e do Clube Nuno Álvares. 
Casou com 32 anos com Maria Hermínia Ferreira Barbosa (N. 1900 e F. 10.07.1965)
O casamento foi celebrado em 04.06.1910, na freguesia  de Gundelães - Paredes pelo irmão  Pe Américo.  Tiveram  uma filha que morreu bebé 

ROZAURA Mendes Barbosa  N. 19.10.1879 em S. Cosme  - Gondomar  e F. 02.01.1979 em Espinho com 99 anos (era madrinha da irmã  Maria da Conceição  e do sobrinho António  Maria Barbosa  Aguiar)
Casou com Manuel  Marques N. 12.02.1874 e F. 02.11. 1929 que era viúvo  de Adozinda e foi padrinho da sobrinha Maria  Antónia  Barbosa  Aguiar 
Casou em 2as núpcias  com Manuel  da Silva Lima em  12.09.1931
Ficou  novamente  viúva  em 02.01.1950
Não teve filhos

JOSÉ  AMÂNCIO  N. 30.09.1881  F. 20.01.1883 com 16 meses, de tuberculose 

JOSÉ  Barbosa  Ramos N. 05.11.1883  F. 16.06.1959 com 75 anos, de enfarte do miocárdio.  Juíz Conselheiro
Casou em Arganil  em 17.06.1922  quase com 39 anos, com Maria  Celestina d'Abreu Mesquita N. 14.11.1891 e F. 11.02. 1978 (ensinou-me a fazer crochet)
Foram pais de 
José  Joaquim  (Zé Quim) N. 13.04.1923  F. 14.12.1991 com 68 anos e de
 Maria  Celestina (Tininha) N. 14.12.1927
O Zé Quim casou com Maria da Luz com quem teve o José e a Ana Madalena
Casou com uma americana  com quem teve 4 filhos e que os levou para a América 
Casou com a 1a namorada Maria Teresa com quem não  teve filhos. Viviam em Coimbra
A Tininha, que tinha farmácia  em Sobrado - Valongo casou com José Martins e adoptou os filhos que o marido tinha com a amante.

GLÓRIA  Barbosa  Ramos N. 11.01.1886  F. 24.01.1907 com 21 anos, de tuberculose  
Foi das 1as a tirar o curso de  professora primária em Gondomar, mas não exerceu

MARIA DA CONCEIÇÃO  Barbosa  Ramos N. 06.08.1888  F. 28.03.1979 com 90 anos
Foram padrinhos os irmãos Américo  e Rozaura
Casou com 22 anos, em 10.09.1910 na Igreja de S. Cosme - Gondomar com António  Carlos  Pereira d'Aguiar , de 30 anos, que faleceu em 10.07.1926, com 46 anos de aneurisma  cardíaco 
Nasceu e faleceu  em S. Cosme- Gondomar 

Em homenagem  ao  nosso avô, pus o nome de Antonio Carlos ao meu primeiro filho. O meu pai ofereceu-me a secretária  dele  que estava no quarto da nossa avó Maria

quinta-feira, 18 de abril de 2019

ESCRITOS de MINHA MÃE


FORMATURA DA MARIA DO SAMEIRO

Deu-te Deus essa fé determinada
Dos que sabem seus sonhos realizar
Que nasce em ti, em cada madrugada
A Estrela que brilha em teu olhar

Esse teu ar esbelto e elegante
Esse andar airoso de gazela
Teu olhar sereno e confiante
Sejam eco da tua Boa Estrela


Espinho, Março 1988
---------------------------------------------------------------------------------------------

Resposta à Nita
  verão 1978

E das arribas do mar
agradeço a atenção
Bem quis logo responder, 
mas não tinha a direção

-----------------------------------------------------------------------
23 - 8 - 79
O postalzinho da "praxe" 
cá chegou, muito obrigada
Agora espero a visita 
Dessa minha "sobrinhada"

Para a Nita, Sameiro, Rosário, Lisa e Paulo
------------------------------------------------------------

1982
A saudade quando veio
veio mesmo para ficar
aqui no meio do peito, 
fazendo rir e chorar

Saudade fica comigo,
porque já me acostumei
Não fujas de mim saudade
 - de uma vida que te dei
--------------------------------------------

Eu tinha umas tranças loiras
E tão loiras eram elas
passando em campo de espigas
eu parecia uma delas.

Saltando muros e leiras
Na pressa com que corria
Voaram as tranças loiras 
E só por isso me ria

-----------------------------------------------------------------------
Perverso, inconstante mar
revolto do meu ser
Vagas em fúria
na porcela tenebrosa

Ao longe o meu olhar perdido 
na imensidão deste mar revolto
Vem-me a lembrança daquele louco amor
que agora é minha solidão
Pediste ao mar para me falar de ti 

 ou
Ao longe, o meuolhar perdido na imensidão
deste mar em fúria, revolto como eu.
Vem-me à lembrança aquele louco amor
que enche agora a minha solidão

Pediste ao mar para me falar de ti

------------------------------------------------------------------------------------------------------------

(Para o João)

Há tantos anos que não te vejo, que já nem me lembro bem da tua cara. Apesar dos retratos que tenho espalhados por toda a casa.
-----------------------------------------------------------------------------------------------
(Para a Lecas)
Minha adorada, luz da minha vida
A noite inteira conversei contigo
Num pranto de saudade infinda
destruí minha alma

LECAS
Depois de nos faltar uma filha, nunca mais se esquece. Tenta-se viver como se pode, mas o coração está sangrando constantemente e nunca mais se é a mesma pessoa
,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,
 Turbilhão de amores que me deixou presa
Insatisfeito amor minha alma perturbando
Sempre na procura de um amor melhor

---------------------------------------------------------------------------------
Em noite longas de dor e sofrimento. 
meus olhos já cansados de chorar
Eu peço a Deus que me dê alento
E me deixe contigo conversar

A minha adorada, minha confidente, 
Conversei contigo, solucei meu pranto,
De saudade infinda, que no peito trago
A noite inteira falei e tu falaste

Compus outrora poemas desmembrados
sem conseguir dizer o que queria
mas agora, passados muitos anos.
 a sós contigo  (já conseguiria?)
------------------------------------------------------------------------------------------
A CASINHA DA PEDREIRA
Queria voltar a ver
as camélias a florir,
as laranjas a crescer.

Queria voltar a ter 
na minha mão pintaínhos 
acabados de nascer

Queria voltar a ver
o jardim, a capoeira,
a horta - querida Maria - 
que te enchia de canseira

Limonete ao fim da escada
Alecrim pro's ramos bentos
toda uma festa, a ramada
a casinha, tão modesta,
com o nicho e a cantareira...

Agora, recordo a chorar
as pedrinhas da calçada
que já não volto a pisar. 
--------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------
Ainda tocam trindades na Igreja de São Cosme. Ouvi tocar a primeira carreira para a missa das 7, uma hora antes da missa. !/4 de hora antes,  2ª carreira e, depois, picou para a missa.
Fez-me muitas saudades, ouvir tocar para a Missa. Pareceu-me ouvir a voz da minha mãe a dizer: "Meninas, vamos embora, já tocou a segunda carreira".
---------------------------------------------------------
Tenho saudades de pedir a benção à minha Mãe e minha Tia
---------------------------------------------------------------------------------------------------------------
Vila Maria
Apesar de sentir a falta do nosso Pai, eu e os meus irmãos éramos felizes e não sabíamos. A única falta nas nossas vidas (ainda tão jovens) era aquele lugar na mesa da grande sala de jantar, o do Papá (como a nossa Mãe dizia)ocupado pelo meu irmão António agora


-------------------------------------------------------------
Agradeço à Nossa Senhora
A VIDA
Fátima, 26-4-86
-------------------------------------------------------------------------------------- 
Agradecer, agradeço esta paz diferente, que sinto em Fátima, como se fosse, em cada ano, a primeira vez. E, neste constante turbilhão de sentimentos, que me invade, sinto-me, aqui em Fátima, mais benevolente e compassiva são só três dias de "tratamento", mas já é bom para o meu espírito cansado e atormentado.
Parece que renasci, aqui, hoje.
Fátima, 27- 4 - 89
--------------------------------------
Compus outrora uns poemas desmembrados
sem conseguir dizer o que queria
e hoje, volvidos tantos anos, 
não sei se era verdade ou se mentia...
quando dizia , amor, quanto te amava,
que era capaz de morrer por ti
-------------------------------------------------------------
 (A Manela)

Corria veloz. cheia de energia
ceifando flores do belo jardim.
Protestos e ralhos. Como elea se ria...
São minhas as flores, são todas para mim...

Manelinha, mas isso é maldade,
dizia-lhe alguèm, decerto era eu.
Intervinha a Avó, ar de cumplicidade, 
São dela, claro, foi Deus que lhas deu

É muito inteligente, não trecisas ralhar
Um anjo a menina e só eu a entendo. 
Só a Avó  a sabia levar

E aquele anjo, menina vestida de anjo, de asas partidas, cabelo em desalinho, laçarote perdido, ia para a procissão
Eu peço a Deus para te acompanhar
O tempo vai passando e a saudade fica connosco pela vida fora
----------------------------------------------------------------------------
Nos 50 anos da Manela

Tempestade traz bonança
o passado traz saudade,
 a vida é sempre esperança,
 busca da felicidade

Passa um ano, entra a saudade
mil beijos para ti, meu bem
a maior felicidade 
te deseja sempre a mãe

Espinho, 8-6-92

---------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------
De todos os sentimentos humanos, nenhum mais natural do que o amor pela Terra, pelo vale, ou pelo bairro onde crescemos. A nossa Terra aviva-nos as recordações mais familiares (íntimas), mexe com as nossas emoções mais profundas. Tudo o que faz parte dela, pertece-nos, em alguma medida, e, decerto forma, nós fazemos parte dela também, tal como a folha pertence à árvore.
-------------------------------------------------------------------------------------
Saudade, palavra amarga e doce. Saudades da minha linda terra, S Cosme de Gondomar, onde imperam os grandes artistas de filigrana de ouro. Saudades do meu Monte Crasto majestoso, donde em noites de luar (esse luar ímpar das noites de Natal, que eu guardo na minha memória e recordo comovida), se abrangia toda a minha terra, banhada de um manto de prata. Saudades daquela prenda do menino Jesus, que a minha querida Mãe, com tanto amor e carinho, pòs debaixo do meu travesseiro: uma linda pulseira de prata, toda feita de margaridas, que ainda hoje guardo, com todo o meu amor. Saudades da minha mocidade, dos meus amores, das minhas ilusões, dos meus tempos de colégio, de minha casa, do meu jardim cheio de flores, do meu piano, meu confidente, o meu piano, que escutou tantas histórias de amor,
Saudades da minha Terra, a minha casa, os meus Natais...
----------------------------------------------------------------------
Não posso olhar para a nossa casa, a casa da minha Mãe, sufoco de saudades, e as recordações são tantas! Festas de Natal, os risos das crianças, o cheiro das rabanadas, o cheiro da minha adorada casa. Tantas Páscoas = o compasso!), casamentos,  E, de repente, pela minha cabeça passava a minha meninice, adolescência, as nossas gargalhadas - eramos sete - as repimendas da nossa querida Mãe. "meninas (a minha irm-a Lolita e eu passávamos a vida a rir):não se riam tão alto, não é bonito". Além disso, Muito riso, pouco siso"
Dentro daquelas paredes guarda-se a história das nossas vidas, meus irmãos, minha Mãe, quantas alegrias, quanto amor, e quantas tristezas também!
Parece mentira que tanta história caiba dentro daquela adorada casa, Desci aquelas escadas para me casar na Igreja da minha Terra. Deois, e a história continua, ali nasceram as minhas filhas. Mais risos, mais gargalhadas. tudo se repete. é a nova geração!
--------------------------------------------------

Compasso na minha Terra
Corações cantando almas em flor, flores em casa e no jardim também. Vem o compasso - é Deus , é amor. Pela aldeia fora campaínhas a tocar. Flores desfolhadas e "verde" pelo chão, Aí vem o compasso, aí vem a Cruz a chegar.
Pojeiras onde os criados da minha Mãe iam buscar verdes para pôr no chão - fora do portão, do portão até ao terraço e pelas escadas acima, o percurso que, no domingo de Páscoa fazia o cortejo do compasso.
Alguns anos antes, íamos com a Nucha buscar fetos e verdes ao Barroco. Tão lindo! Era um vale entre a Gândra e Pevidal

Mês de maio

Mês de maio, minha aldeia tão linda,tão florida. Ao entardecer subíamos o Monte Crasto, para as novenas do "mês de Maria". Eu toco o pequenino órgão do coro da capela de Santo Izidoro. no Crasto, a Lolita e outras raparigas, como nós, cantam coisas tão belas!

23-2 - 74   PORTO (um sábado)
Primavera nos jardins, primavera nas casas e nas pessoas, sim, porque entrou também a primavera nos corações de cada um. Minha terra tão linda, estás perdida, mas eu encontro-te, minha raínha. Minha terra  coroada de mimosas, A tua coroa é o Crasto. Sala de visitas das gentes de Gondomar e de tantas outras. Minha terra, berço de todos os meus... Não é a minha vida que vou passar ao papel, -são várias vidas, porque terei de lembrar antepassados e contemporâneos
----------------------------------------------------------------
Oh, meu Gondomar, minha linda terra
Tu que embalaste o meu 1º amor
Porque não levar-te presa nos meus braços
oh, meu Gondomat, para onde eu for?

Encantamento que nunca esqueci
roseiral em flor desse meu jardim
tanta rosa murcha pelo chão caída.
mas tanto botão a abrir para mim...

Gondomar, meu berço, capital do mundo
És a minha casa, és o meu jardim
Foste tu que viste os meus primeiros passos
E irás guardar-me, ao chegar ao fim. 
-----------------------------------------------------------------
Procuro-me e não me encontro
E fico parada assim
A chorar, meu Deus, porquê?
Por ter saudades de mim!
-----------------------------------------------
E o tempo passava
O tempo corria
Eu já não chorava
Apenas sofria

Andava à procura de um sonho vivido
Num lindo castelo entre árvores e flores
Perdida, encontrei-me num mundo perdido
Meus ais, meus queixumes, meus loucos amores.
--------------------------------------------------------------
Gondomar, ponto final
do mundo tão grande assim
Mas para mim e, afinal, 
a terra maior
deste nosso Portugal

Meu Crasto bendito
Mimosas em flor, Minha Terra
Novenas de Maio
quando era menina
Festas de S Izidoro
Música no coreto do Monteiro...
----------------------------------------------
Sonhos meus, audaciosos, inquietantes, insatisfeitos - como eu, uma insatisfeita - sonhos belso de um amor quase perfeito. Mais de uma vez desci o Crasto num voo pleno de graça e leveza. Senti mesmo os pés a levantarem-se do solo e voei acima daqueles queridos pinheirais, eucaliptos e mimosas, voava em direção a minha casa...
Mas fiquei diferente, sim, depois que perdia minha querida filha. Ela era a minha alegria e a minha vida, era minha e roubaram-ma. Fique perdida num deserto, fiquei sozinha, Que me perdoem todos os que ficaram comigo, ficaram muitos, ficámos todos , menos ela. Que me perdoem, mas eu fiquei sozinha.
-------------------------------------
Não sou bonita, nem feia, sou simpática, fui sempre muito simpática (isto não é narcisismo...). É verdade. E fui em tempos, há muitos anos, uma rapariga 
interessante, pequena, bastante pequena, mas cheia de saúde, extuante de vida, vida e alegria, que transbordava por todos os poros do meu corpo. Diziam até que eu tinha muita graça, aquela graça natural de uma rapariga que da vida só queria a vida e nada mais. E o fulcro da vida era o amor. De uma sensibilidade doentia, muito sincera, expansiva e nada egoísta. 
LECAS
Depois de nos faltar uma filha, nunca mais se esquece. Tenta-se viver como se pode, mas o coração está sangrando constantemente e nunca mais se é a mesma pessoa

A minha Mãe e a minha Tia diziam: "Quem muito dorme, pouco aprende (ou seja. é estúpido)
---------------------------------------
A minha Mãe recitava:
Minha terra tem coqueiros
onde canta o sabiá
As aves que cá gorgeiam
não gorgeiam com
-----------------------------------------
12-6-93 ESPINHO
Pmtem fui a Gondomar ao baptizado do António, filho da Ana e do Tozinho. Lindo baptizado, maravilhoso jantar em casa dos pais da Ana em S Cosme.
Qie saudades da minha linda Terra, que saudades da minha Mãe, da minha querida casa, dos meus irmãos todos (quando éramos jovens), do terço rezado à volta da mesa, depois do jantar - as criadas e o criado, à porta da cozinha, a rezar connosco), que saudades de mim, meu Deus! Tantas saudades de tudo, que nem me cabem no coração. E chor, choro, por tudo o que eu tive e perdi. Oh minha terra,(onde se vê o céu), meus verdes campos, meu lindo Monte Crasto.
18-5-93 ESPINHO
Daqui do meu sofá, na minha sala virada para o jardim, a partir da porta larga - de parede a parede - vejo um retalho pequeníssimo do jardim da minha casa (pensando) no jardim da casa da minha Mãe, da nossa querida casa.
O meu jardim, o meu roseiral,, as minhas adoradas rosas, que parecem as nossas rosas, minha Mãe!A trepadeira vermelha que sobe pela parede, junto ao poço, (e tem ao lado uma japoneira) está coberta de flores e todas as outras mais parecem rir-se para mim.

19-8-93, quinta-feira  
UM DIA
Levantei-me às 9/2. Está um dia de sol e calor. O João passou por mim nas escadas e disse: "bom dia" (mais para dentro do que para fora). A Plívia foi às compras de "cara" amarrada, aliás, como anda sempre.
Vou tomar o meu chuveiro e vou ao café, Talvez encontre a Leninha, (que está cá, a passar uns dias no apartamento do pai). Porque aqui em casa, não há conversa. Não há agora, nem houve nunca, só discussões. Sofro muito, mas só Deus sabe porque sofro, nem eu   
27 Set 94
TITA
Hoje tenho-me lembrado todo o dia da Tita, minha querida cadelinha, que morreu há mais de um ano.
Mas hoje vejo-a sentadinha no sofá, tão pequenina (era uma yorshire terrier). Não gostava que ninguém se sentasse perto, queria o sofá todo para ela.
Sabia quando eu estreava uns sapatos, farejava-me os pés.
29 - 3- 95
LENA E DAVID
Gosto de encontrara a Lena e o David (ao domingo), em casa do Mário. Já vamos tendo tão pouco tempo para nos encontrarmos, munha querida irmã. temos de aproveitar as ocasiões que se proporcionam para nos vermos. Está a aproximar-se a Páscoa. Que saudades das nossas Páscoas, na nossa casa, que saudades do compasso (com a nossa Mãe, claro), nós, todos or irmãos reunidos, as minhas adoradas filhas, os meus sobrinhos,, os namorados deles, as 
criadas na cozinha, o cheiro dos cozinhados,o saudoso cheiro bom da nossa casa, que cheirava sempre a flores, o nosso jardim, aquele paraíso, como a minha mãe dizia

LECAS
Minha Lecas, minha filha, a coisa mais linda que eu fiz e criei, na minha vida. Nem as rosas, as flores do meu jardim. Minha querida filha, valeu a pena viver e sofrer, só para te ter, a ti.
Tristes prenda sque te dou, minha adorada filha, padre nosso e flores. Tu que gostavas tanto de vestidos, de sa+patos, de pequenos chocolates.

ESQUEMA de BIOGRAFIA 4 partes
1ª - nascimento e vida em família
2ª internamento no colégio
3ª regresso a casa aos 18 anos: namoros
4ª  - casamento e peripécias seguintes

(quem não se enfeita, por si se enjeita)

;MÃE BIOG 18 - 04 - 2019

Mãe dia 18 às 15



As nossas memórias da das suas memórias - a Mãe

1 - EM GONDOMAR, NA MARGEM NORTE DO DOURO

Maria Antónia, que viria a ser a Musa do  Poeta e a sua Mulher por mais de meio século, nasceu em Gondomar, a 28 de agosto de 1920, pouco depois de ele ter festejado os seus dois anos no lugar do Paço, em Avintes, do outro lado do rio.
A Vila Maria. (a casa grande que fez parte da sua vida, com estatuto de afetos e pertença, como se fosse um membro da família),  estava ainda em plano de construção.
Os pais, Maria e António Aguiar, preparavam o regresso definitivo do Brasil. António, com quase 30 anos de  de expatriação, Maria com uma década, pontuada por constantes viagens a Portugal. Na última travessia do Atlântico transoceânica, estava grávida. Nesse estado tinha vindo três vezes à sua terra, para que os filhos fossem gondomarenses de naturalidade. A menina que, invisível, trazia consigo na primeira classe de um paquete de luxo (o marido era muito seletivo, não vinha em qualquer navio, mas só nos melhores), Maria Antónia, nunca teria oportunidade de fazer o percurso de retorno, mas considerava-se tão brasileira, como os três irmãos dados à luz na radiosa cidade do Rio de Janeiro, na Rua 7 de Setembro, depois em Santa Teresa. O pai manteria o vai-vem, então já solitário, por mais algum tempo, a fechar os negócios, onde se tinha feito um homem rico, ou, como se dizia, em fins de novecentos, "um empresário de sucesso", com joalharia na Rua do Ouvidor. e o projeto de integrar uma sociedade bancária, que a morte prematura inviabilizaria.
De Gondomar partira aos 16 anos, ao encontro de um irmão mais velho, João Pereira de Aguiar,  já estabelecido  com grandes empreendimentos no Rio e casado com uma brasileira de "boas famílias", a lindíssima Tia Judith, que seria, nos anos seguintes a 1910, a melhor amiga da cunhada Maria. Quem casa com brasileira,  como João, fica no Brasil... Tendo procurado noiva portuguesa, António  para Gondomar voltou, quase quarentão  Embora descrevesse o Rio como um paraíso e os anos aí passados como os mais felizes da sua vida, Maria sentia saudades dos pais e amigos. O exotismo tropical era interessante para viver intensa, mas brevemente. Não gostava do calor, durante dois a três meses no verão mudava-se para Teresópolis, com os meninos, a gozar a frescura serrana, e o marido deambulava, para lá e para cá, sempre que  os compromissos da empresa o chamavam.  Arrendava boas casas, na montanha, como na cidade, mas não investia nelas. Comprar propriedades é, para o português,  sinal que aponta à integração. Dos dois irmãos, só João mandou construir um belo palacete na Rua de Payssandú, A fotografia da elegante mansão foi por ele enviada aos pais, exatamente como, muitas vezes, lhes ofereceu a sua foto de estúdio. Os filhos enveredaram pela política, pela diplomacia e pelos negócios. Eles e toda a descendência direta, são brasileiros e, depois da morte da geração mais velha, sem ligação  com as origens lusas - excetuando na década de cinquenta, quando José Augusto, o quarto filho de António e Maria, e um dos naturais do Rio, aí viveu, por pouco tempo, antes de reemigrar, com passaporte brasileiro, para  Nova York. Retomou, então, por poucos anos. uma relação familiar com simpáticas primas, hoje provavelmente já desaparecidas.
O casarão de António tinha de ser em Gondomar. A sua ideia inicial era comprar um solar do século XVI e a  quinta, onde hoje se encontram os Frades Franciscanos. A Mulher não quis e foi feita a sua vontade. Para ela, o sítio era isolado e sombrio. O seu sonho era uma edificação moderna, no coração da vila.Sonho difícil de concretizar. O centro de São Cosme, terra idílica, de enormes casas de lavoura de pedra e cal, com amplos pátios,  arquitonicamente harmoniosas e imponentes, não estava. à venda. Pertencia a lavradores abastados, com orgulho em proclamar que "não vendiam terras, compravam". Acabaram por vender ao amigo António, a alto preço e por especial favor, o espaço onde se implantou a única grande mansão de "brasileiro" de São Cosme, com os seus jardins à frente e, atrás, a quinta agrícola, que, embora o fosse, nunca deu por esse nome. Ao gosto da época, chamou-se ao conjunto, simplesmente, "Villa Maria".
 No ano de 1920, era o sogro, Joaquim Mendes Barboza, tabelião em Gondomar, quem, por procuração, ultimava os contratos de aquisição das propriedades. 
 Maria Antónia nasceu na casa desse Avô, que o roteiro profissional trouxera de Paredes para Gondomar. Nascido em Santa Maria Madalena de Paredes, filho de António Mendes e de Joaquina Roza Coelho Barboza, Joaquim estudou no seminário, que trocaria pelo ensino das Leis. Foi o primeiro tabelião  de  Gondomar e a secretária onde trabalhava ainda existe, na casa de uma bisneta chamada Maria Madalena. Em São Cosme casou, na capela de Nossa Senhora Mãe dos Homens, em 2 de maio de 1870. Ele tinha ele 30 anos e ela 26. Carolina era, tal como Joanna, sua madrinha, uma das muito bonitas e voluntariosas filhas de Anna Pereira (filha de José Pereira e Thereza d' Almeida, ambos oriundos de São Cosme) e de Joaquim Ferreira Ramos, (filho de Francisco Ferreira Ramos e de Catharina Alves, de Valbom). 
Como pretendente à mão de Carolina, Joaquim não teria sido, segundo o registo que chegou até hoje, muito bem recebido na Quinta da Bela Vista... Educação, boas maneiras  e boa  ascendência não contavam tanto como haveres materiais, em que o jovem notário, era mais parco... Belo rapaz, letrado. mas simples e cordial, fez os encantos de Carolina, que levou avante a sua escolha. E, prontamente, os sogros converteram a antiga animosidade em fundada admiração. Adotaram-no, como o adotou a sociedade gondomarense. Com as suas origens (Bitarães. Penafiel) parece ter mantido escassos contactos. Dos antepassados não há presença notória nas crónicas de família, com a exceção de um sobrinho, que era Visconde de Paredes (ou um dos filhos do Visconde) e namorou sua filha Maria. Ela, porém, preferiu o "brasileiro" António, que tinha, segundo contava, os mais lindos olhos verdes que jamais vira.
Os outros ramos da família de Maria Antónia têm também raízes no concelho de  Gondomar, a (então) pacata vila que recebera, antes da fundação do reino de Portugal,  o nome de um rei godo. A avó materna, Ana Pereira era de São Cosme, o avô, Joaquim Ferreira Ramos de São Veríssimo de Valbom. Pertencia à burguesia comercial, e de lá veio para o centro de Gondomar, onde comprou a Quinta da Bela Vista, (que, após a sua morte, terá sido vendida, certo é que largas décadas antes da sua demolição deixara de pertencer à família).
Os filhos de Carolina e Joaquim não seguiram as pisadas empresariais do Avô: um padre (Américo), um funcionário público (Alberto), um juiz (José, conselheiro do Supremos Tribunal de Justiça) e dois funcionários públicos (Alexandre, que foi Administrador do Concelho e António, o revolucionário, que chegou a estar degredado em África). Das três filhas, a mais velha, Rozaura, casou com um funcionário da Contrastaria, Glória tirou o curso do Magistério (tornando-se a primeira mulher da família com um diploma de ensino oficial) e morreu de uma fatal tuberculose aos 20 anos e, a mais nova, Maria casou com o milionário "brasileiro", senhor de fortuna, cultura acima da média e uns assombrosos olhos verdes.
A garra empresarial não se perderia, porém, em alguns dos numerosos irmãos de Carolina, como Manuel Guedes (Ferreira Ramos), que dá o nome à praça do Município em Gondomar, e António Ferreira Ramos, que emigrou para o Brasil, onde lançou com um Salgado Zenha (decerto antepassado do que ficou na história da nossa democracia) uma sociedade destinada a grande êxito, a "Ramos e Zenha". Esse Tio, de quem tanto gostava a pequena Maria, (a que viria a ser Maria Aguiar), e com quem manteve correspondência assídua e troca de muito retratos, casou com Carolina Silveira, irmã daquele notável Governador do Rio Grande do Sul, que fez história nos primeiros anos da República brasileira. Verdadeiro patriarca, a sua descendência é incontável e acha-se hoje espalhada pelo sul do Brasil, de Bagé, onde viveu, a São Paulo, e aos confins do Uruguai. Desses inúmeros primos que, separados pelo oceano, se desconhecem, só dois se encontrariam, um dia, em fins do século XX, em Brasília, os primos Manuela Aguiar, Vice-Presidente da Assembleia da República portuguesa, e Sá Azambuja, Senador da República Federativa do Brasil, ambos descendentes diretos, e no mesmo grau, de Ana e Joaquim Ferreira Ramos.
Tinha o mesmo nome, António Ferreira Ramos, um primo direito, filho de Manuel Guedes, também muito próximo da jovem Maria, que a vida também levou para longe, mas não tanto, apenas Lisboa, depois do casamento com uma filha de Ramalho Ortigão, de quem descendem todos os Ortigão Ramos, Foi, entre outras coisas, proprietário do teatro que é hoje o São Luís e, tal como seu Pai, um benfeitor da terra de origem. Camilo de Oliveira, nas memórias de Gondomar, regista, por exemplo, a instituição de bolsas de estudos, em igual quantidade e montante para rapazes e raparigas, o que o torna particularmente simpático às feministas da família, em gerações seguintes.
A instrução feminina foi, certamente, uma das boas causas republicanas, defendida pelo movimento feminista, mas, em boa verdade,  também por muitos dos seus companheiros de revolução.
Não há dúvidas de que este genro de Ramalho Ortigão se contava neste seleto grupo. Manuel Guedes foi igualmente conhecido pelo seu republicanismo, mas terminou os seus dias nos últimos anos do regime monárquico. A sua memória, porém, continuava viva e o se nome de cidadão exemplar foi dado à Praça onde tinha a sua empresa comercial, na casa grande, de azulejos, que se mantém intacta (coisa que, infelizmente, se não pode dizer da Villa Maria, nem da Quinta da Boavista, destruída num dos mandatos de triste memória do Major Valentim Loureiro. Resta de todo esse património, que esteve classificado, e ele conseguiu "desclassificar" um pequeno lago de pedra, transplantado para junto da capela do Monte Crasto.(a crer na história contada por um simpático velhinho que conhecia a propriedade, saída da posse dos Ferreira Ramos em fins de oitocentos -  muito melhor do que qualquer dos atuais descendentes.
Republicanos eram, igualmente, os tios, irmãos da mãe de Maria Antónia - o António, o Alberto, o Alexandre e o José, assim ordenados pelo grau de militância. Em António adivinha-se um perfil anarquista- , no consulado de Sidónio,foi degredado para Angola, tinha andado aos tiros em escaramuças várias - Alberto, tal como António, anos depois, várias vezes preso no Aljube, Alexandre e José, que, por se ter envolvido em intentonas falhadas, foi aposentado compulsivamente do Supremo Tribunal de Justiça, onde era o mais jovem Juiz Conselheiro de sempre. A exceção era Américo, padre católico e monárquico regenerador, como o pai e as irmãs (da mãe se desconhecem as convicções políticas, embora não custe admitir que fosse monárquica também), Ideologicamente divididos em campos opostos, mas afetivamente unidos, nunca deixaram que isso interferisse no quotidiano familiar. Nos anos 30, muitas vezes António se refugiou, onde a polícia do regime nunca se lembraria de o procurar, na "Villa Maria" junto da irmã que dava o nome à Villa e era uma cidadã, acima de toda a suspeita, catolicíssima e dirigente local da "Obra das Mães". Às criadas dizia:  "Daquele Senhor, que está lá em cima, não se fala a ninguém". E elas não falaram. Nas últimas vezes, esteve ele já acompanhado da sua companheira espanhola, a Teresita, e de um cãozinho. Era viúvo já, mas da falecida mulher nada consta, nem sequer como se chamava. À sua memória só associamos a ex-bailarina espanhola e o cão que, no seu funeral (civil, exatamente como quis) ficou sentado no chão, durante todo o velório, ao lado de um busto da República. Nenhuma das irmãs acompanhou o cortejo fúnebre até ao cemitério. Ficaram a chorar a sua morte, dentro de casa, de portas e janelas fechadas. 
Monárquico. de alma e coração, era António Aguiar, progenitor de Maria Antónia e, possivelmente, seus pais, Ana Pereira e Miguel Aguiar e alguns dos 14 irmãos. Só sobre ele há absolutas certezas, Ficou para a posteridade o dito, que repetiu muitas vezes: "Talassa passa, Buíça chiça"! 
Era um grande conversador, um homem culto e cosmopolita, que gostava de rosas, de caça e de viajar. Quando atravessava o Atlântico em direção à Europa, não se limitava a passear pelo Porto ou por Lisboa. Ainda hoje se conserva um postal, mandado de Paris, com o seu perfil recortado contra a Torre Eifel, os vestidos de seda e renda, que comprava para as filhas e as bonecas francesas de porcelana, com que elas brincavam, ou a carpete persa comprado no Oriente (o tapeçaria do vistoso pavão azul, sobre a qual passaram, na Villa Maria, três gerações de descendentes). Ia, quando solteiro, e até depois de casado, enquanto a Mulher ficava com os meninos, matando saudades no círculo da família e amigos.
António era um dos mias novos dos quinze filhos de Rosa Pereira e Manuel de Aguiar. O casal vivia a sul, na Gândara, num casarão de pedra, que ficava à face da estrada e dava, atrás, para um extenso jardim de contornos geométricos O Pai,era, tal como o filho seria, mais tarde, na Villa Maria, um cultor de rosas -  não sabemos, porém, se, como o filho, participante em concursos e vencedor de prémios.
Manuel era filho de Miguel Aguiar. Dos antepassados mais distantes não foi, ainda, procurado o registo. De sua mulher, Rosa, sim, está traçada a árvore genealógica, naquela mesma terra de Gondomar, até aos inícios do século XVII. Incluindo alguns ligados à ourivesaria, que era a atividade dominante no concelho.(Dessa geração, que crescia, três enriqueceram como joalheiros, João e António no Rio de Janeiro, Rua do Ouvidor, e Augusto no Porto, Rua das Flores). Desse ramo "Pereira", com muitos outros apelidos, como "França. ficou a vaga memória de uma prima, que foi a primeira mulher de Camilo Castelo Branco e de um Bispo, figura ainda mais nebulosa.
Os quinze filhos de Rosa, (que só se conhece em fotos de meia idade ou da velhice, uma imponente matrona, de poucos sorrisos),e de Manuel,com os seus olhos muito azuis,   alto, elegante e jovial, como surge nos retratos), tiveram as mais diversas caraterísticas físicas e destinos díspares - de belezas invulgares (como Florinda e Gracinda, no feminino, ou António, no masculino) a rostos fechados e inexpressivas, de muito altos a muito baixos, de extremamente prósperos a pobres e dependentes dos outros. Parecia não haver meio termo para eles... Dos que partiram para o Brasil, dois acabaram milionários, o terceiro (Alberto?), que os irmão tentaram, em vão, encaminhar, desapareceu, um dia, nos sertões tropicais, para não mais ser visto.. .Dos que ficaram, há uma mulher que se tornou lendáriaria - Amélia, que fez um fortuna em estaleiros e numa frota de barcos pesqueiros, não muito longe, em Matosinhos. Do marido pouco se sabe. A grande empresária terá sido mesmo ela, com o discreto companheiro ao lado... Felizes, provavelmente, e abençoados com numerosa prole. Amélia dizia (frase se tornou emblemática): "Deus castigou-me com dinheiro, filhos e saúde". 
Ainda hoje, muitos dos seus descendentes vivem em Matosinhos e outras cidades do Grande Porto, embora perdidos do convívio dos Aguiar da São Cosme. Destes, foi com os Aguiar Saraiva que os primos da Villa Maria mantiveram laços de verdadeiros "primos-irmãos". António Aguiar Saraiva era afilhado dos tios Maria e António Carlos e mais parecido, fisica e temperamentalmente, com o padrinho do que os seus próprios filhos (na opinião da madrinha). Morenos e atraentes, extrovertidos, divertidos e extremamente generosos, assim foram ambos, em duas sucessivas gerações. Mais tarde, só a Maria Antónia continuaria a manter com eles um convívio frequente - com todos eles, mas mais ainda com a Cristina, a Belita (mesmo depois de morar em Lisboa) e o António.
Do lado Barbosa, os primos-irmãos eram, somente, dois, o José Joaquim (Zé Quim) e Celetina (Tininha), filhos do Tio José, que viviam perto, em São Cosme, na casa que fora dos avós Carolina e Joaquim, e faziam praia juntos,e, em alguns anos, até, também, férias nas termas de Vizela.
Casa de traça antiga, mas já adaptada ao que se considerava a modernidade  nos anos 30 e dividida.. A parte norte foi destinada a arrendamento. Aí esteve, durante muitos anos, um bom vizinho, a Foto Guimarães. A sul, a outra parte dava para o terreno grande com jardim, hortas e vinhas e no extremo, à face da estrada,  a garagem, mais tarde convertida pelo Zé Quim numa espécie de "cottage", um pequeno apartamento para fins de semana, depois de arrendar a casa ao município, para lar de idosos, que não se sabe se algum dia funcionou..
A garagem acolheu um dos primeiros automóveis de São Cosme, Quando foi aposentado (compulsivamente, por envolvimento político anti.regime), O ainda jovem Juiz- Conselheiro comprou carro e passou no exame de condução, mas guiava muito mal. Mandou o criado tirar carta e passou a ter motorista. Uma das poucos vezes que o Conselheiro Barboza se aventurou ao volante, a caminho do Porto, embateu na muralha de pedra da quinta dos Van Allen, em Valbom, porque  não conseguiu fazer devidamente a curva na descida íngreme.
O irmão Alexandre foi o segundo a possuir um belo carro, e não parece ter sido muito melhor ao volante, a avaliar por um episódio "a posteriori" bastante divertido, que o levou a dar uma infinidade de voltas entre o Souto e Quintã, porque  não conseguia parar o carro em frente à porta de casa. Ao lado, preocupada, a mulher Hermínia, a quem dizia: "Sorri e acena às pessoas. Assim, julgarão que andamos a passear". Não era exatamente o caso e só a falta de gasolina pôs fim ao vai-vem.
Morava muito perto da Vila Maria, face ao mirante, junto ao qual começava o roseiral. Das janelas do 1º andar tinha uma vista privilegiada de toda a parte norte da edifício, do jardim, árvores e telhados da pequena "casa do forno" e "da casa da eira" onde as meninas eram surpreendidas muitas vezes, em cima não só do arvoredo, como , também, dos telhados. A Tia Hermínia, alarmada, dava-lhes um ordem para descerem, de imediato. Elas tratavam de descer e de recomeçar, quando a Tia saísse do posto de observação. E nunca ninguém se despenhou, nem as raparigas, nem os rapazes. Ali sempre se sentiram no melhor recanto do mundo. O seu mundo, de fronteiras traçadas geometricamente entre as propriedades dos vizinhos (os que haviam vendido toda aquela porção de terra ao amigo Aguiar).  

Ao longo da divisória com  o terreno do Monteiro ficavam as ramadas com suporte  em bardos,  ocupando metade da quinta agrícola, desde a casa da eira ao mirante do fundo do terreno. Entre as vinhas, havia americano preto e, junto à eira, americano branco (nunca foram cortadas, escaparam ao massacre imposto por lei) e à esquerda, o "Chance la rose", que era reservado para a Avó Maria, grande apreciadora,
Os primeiros bardos eram de moscatel de Hamburgo.
O piso térreo da casa era ocupado por lojas, garrafeira e adega. Do interior, descendo a escada víamos, em frente, a garrafeira, e, passando uma porta verde, a enorme adega, com o lagar e as pipas de vinho.  A Mãe recordava os homens a pisar as uvas, e, no fim do trabalho,  a comer na cozinha, enormes pratos de bacalhau e carne de porco.
A mais famosa história ligada à garrafeira, aconteceu numa visita Pascal, quando era Pároco o Abade Andrade, pessoa muito discreta e cerimoniosa. Foi o Tio Serafim quem abriu as garrafas de vinho branco e de champanhe recém chegadas da garrafeira.  A primeira não saiu com o estrondo habitual, parecia ter perdido força. Outras foram circulando, mas ninguém parecia ter a habitual vontade de beber. Alguém comentou "É fraquinho, perdeu a força". Quando já os hóspedes se haviam retirado, a Avó Maria decidiu fazer a prova dos vinhos e descobriu que em quase todos a percentagem de pura água era elevada - adicionada pelos filhos para substituir o original, que tinham partilhado em noites de paródia secreta com amigos...
Imagine-se o sermão materno que se seguiu - dirigido mais a uns do que a outros, conforme o grau de suspeição. O Tio Zé batia de longe os demais...
Uma prole sempre difícil de controlar.  Eles e elas. Assim, por exemplo, das filhas só a Tia Lina a acompanhava na visitação dos doentes. A Mãe recusava-se, firmemente e não consta que as Tias Lola e Lena fossem muito assíduas.

A Vila Maria foi um paraíso terreal para várias gerações da família Aguiar, embora a sua vida, por desleixo e descaso de quem manda no município, fosse relativamente curta, do início doa anos 20 ao fim do século, quando foi permitida a sua demolição (uma barbaridade, porque a casa com o terreno circundante teria tido fácil utilização para turismo, a mais evidente, ou para uma clínica ou um Museu, até para um centro comercial, ou condomínio de luxo, se soubessem aproveitar o enorme espaço que ladeia o edifício de época, em construções a que o ligassem harmoniosamente). Comprada por um pato bravo que faliu está hoje transformada em parque de estacionamento. Dizem. Nem a mãe nem eu o vimos com os nossos olhos, porque os fechávamos, firmemente, sempre que passávamos pelo local
A casa ficava dentro do jardim, distantes uns 30 metros da rua principal e separada de roseirais simétricos um metro mais altos e bordejados a granito, por um caminho largo, que permitia fazer à sua volta gincanas com os carros, como as que algumas vezes se organizaram. Ladeando o portão de ferro as japoneiras, de camélias cor-de-rosa. No extremo norte, à face da estrada, o mirante (que chamávamos o mirante da frente para o distinguir do mirante que ficava no outro extremo, dava, então, para um caminho de terra batida, onde agora é uma escola). Ao lado, espalhando os ramos sobre o mirante e o muro, um enorme diospireiro, A sul, também à face da estrada, o “chalet”, que fora destinado a cavalariça ou garagem, e, depois da morte do Avô, acabou arrendado a vizinhos tranquilos, gente respeitável da terra
A simetria dos canteiros, terminava nas espaços que ladeavam a casa - de lado do mirante, prolongava-se até a pequena "casa do forno e à área em que  o pomar confinava com as vinhas. Do lado do chalet, o início do pomar e, por trás, num retângulo fechado por muros de granito, a pocilga. Vista de fora, sem porcos à vista, dir-se.ia uma longa   casa térrea, discretamente avistada entre muitos troncos e ramos das árvores de frutos. Havia sempre dois porcos e, quando chegava o dia da matança, as meninas era fechadas na sala, tão longe quanto possível, para não ouvirem os grito do tenebroso ato sacrificial. Ouviam, mesmo longe ouviam e recordaram o horror do som, sem imagem. Quem vinha executar o ritual era o dono do talho, negociante próspero e homem simpático. pai da Felismina, que era amiga das meninas e aluna de piano da prima Nucha
Depois, era dia de comer rojões, esquecendo a sua origem trágica...
Não só a carne de porco era guardada numa arca, antes limpa com areia e, depois, cheia de quilos e quilos de sal. A Avó Maria não só conservava os pedaço de porco, como, por exemplo, as laranjas numa grande arca de castanho, em areia.ou os dióspiros em gavetões, embrulhados em papel...
Para além da Felismina, outra amiga do círculo das lições de piano era a Maria Amélia da Estrela (que não era apelido, mas alcunha. Seu pai tinha construído um palacete muito original, em  forma de estrela. Foram muito próximas, durante muito tempo - da Maria Amélia e de uma irmã, a Madalena, Faziam parte do grupo que ia , muitas vezes, lanchar à Ateneia. Há muitas fotografias do casamento da Maria Amélia, mas depois perderam contacto. ela foi viver para Viana. A irmã casou com um rapaz de Avintes que não tinha grande fama. Gostava dele, e não quis saber dos vaticínios. Casou com ele, e perderam-lhe o rasto, um armador de barcos.
A Felismina, rapariga bonita, alta e loira, foi a primeira a casar, com um Ramos, a quem chamavam o "Ramitos". Contou às colegas das lições de piano, pormenores pedagógicos sobre a noite de núpcias.  e um conselho: "Não vale a pena gastarem dinheiro na camisa de noite. Não vele mesmo a pena...





II - A SEXTA FILHA

  Mãe 10 março





Maria Antónia Barbosa Aguiar nasceu em Gondomar, a 28 de Agosto de 1920.
A Mãe tinha regressado, definitivamente, do Rio de Janeiro poucos meses antes. Quando fez a última travessia do Atlântico já estava esperando a menina. E, por isso, a Maria Antónia se considera brasileira! Ou brasileira e portuguesa. Mas não conhece o país de origem (hoc sensu...). Eu tê-la-ia convidado para uma viagem até lá, se ela estivesse disponível para essa "aventura". Não está. O mais longe que consegui que fosse, de avião foi à Madeira, em 1977, juntamente com a Maria do Carmo, também minha convidada. O susto enorme que todos apanhámos com a aterragem no Funchal ("todos" incluía ainda a Tia Lola e o Tio Gustavo e a Rosa Maria Gayoso) foi, para ela, dissuasor de futuros "voos"...
Voltando à sua história, muito sintética:
Tem um olho de cada cor, um azul esverdeado e outro mais verde, verde. Quem descobriu a anomalia foi o Pai. "Maria, a menina tem os olhos de cor diferente", disse à mulher, um pouco abalado. Não sei se ela se preocupou muito com isso. Pela forma como, mais tarde, me contou esse episódio, parece-me que não... Certo é que a filha sempre gostou da singularidades! Uma das primeiras coisas para que chamava a atenção dos namorados de juventude (vários!) era para esse detalhe.
O pior é a forte miopia, de que sofre e o facto de não terem detectado, a tempo, a diferença de diopetrias entre os seus belos olhos, que acabou por lhe provocar, a partir dos 4 ou 5 anos, a cegueira funcional do olho esquerdo. Nada que a tenha tornado infeliz. Soube, em regra, escolher bem os óculos - e para as fotografias quase sempre os retirava.
Do Pai, lembra-se mal. Morreu quando tinha 6 anos. A irmã "quase gémea", a Tia Lola (Glória Doroteia), apesar de mais nova, parece guarda mais memórias do Papá, que lhe chamava "a minha molequinha", por ser muito morena, como ele e muitos dos Aguiar. Curiosamente, uma das lembranças que ambas partilham é a do Pai a colher morangos, a lavá-los, um a um, na água corrente do tanque da quintq, e a oferecê-los, nuns cestinhos bonitos, às duas meninas. Era um apreciador de frutas e elas também.
As duas suportaram e detestaram a vida no Colégio da Esperança. Eram cábulas, irreverentes e tão mal comportadas que as colegas lhes chamavam "os galos doidos". Podemos imaginar o que fariam para merecer o epíteto...
A Maria Antónia era brilhante em história e geografia, boa aluna a línguas - não a matemática ou a ciências. Fez o antigo 5.º ano (hoje 9.º), em "disciplinas singulares", selecionando as que lhe agradavam -  uma modalidade, entretanto, desaparecida..
Do que gostava mais era de música, de  piano, que aprendeu, desde pequena, com a prima mais velha Nucha Aguiar. Um dos seus amigos , o pianista Fernando Marques Ribeiro, a quem chamavam o "Chopin português", considerava-a talentosa! E, por sinal, o seu compositor preferido era o Chopin original... Ainda é.
Os romances de jovem, em Gondomar, foram variados, mas superficiais. O primeiro, a sério, foi o jovem viúvo, João Dias Moreira, de Avintes. Conheceram-se, num encontro, porventura, programado pelas famílias, na capelinha do Monte da Virgem, em Gaia. No curriculum, ele tinha duas qualidades muito apreciadas pela Avó Maria: em 1.º lugar, o ser muito católico, em segundo, o facto de ser filho único de pais ricos.

Para a Mª Antónia terá contado mais o ele ser um belo rapaz, alto e loiro, poeta romântico, comunicativo e divertido.
Namoraram pouco tempo, mas intensamente, a partir de umas muito faladas férias em Branzelo, na quinta de uns amigos da Avó. Casaram em Novembro de 1941, em Gondomar. Lua de mel no itinerário do Vouguinha ( o combóio, claro...) de Espinho até Viseu!

.

CV Breve

Estudos
Primária na Escola de Gondomar, com a Professora Dona Clarinda Bismarck de Melo, "uma senhora muito chique", segundo esta antiga aluna.
Exame da 4.º classe, com distinção.
Liceu no internato de Nª Sª da Esperança - Porto
Fez o antigo 5.º ano do liceu (actual 9.º), escolhendo as cadeiras que mais lhe agradavam, como história, geografia, francês, inglês. Chamava-se a esse regime optativo: "singulares".
Era óptima também em dactilografia, mas não trouxe para casa o diploma porque não lhe apeteceu ir ao Porto para a prova final de exame!

Música
Piano desde os 8 anos, com professora em casa - a Nucha Aguiar. Prosseguiu no PORTO. Fez o 5º ano do Conservatório. Em Gondomar, retomou as aulas com a Nucha. Compositores favoritos: Chopin, Mozart, Shubert
Considerada talentosa. Muito elogiada pelo compositor e amigo José Fernando Marques Ribeiro.

Casamento e descendência
Casamento na Igreja Matriz de Gondomar, em 15 de Novembro de 1941 (depois do casamento civil, no início do mês).
Filhas nascidas em Junho de 1942 e Dezembro de 1943: Mª Manuela e Mª Madalena.




Nos primeiros anos de casados viveram na Vila Maria - o enorme casarão, onde com a Avó já só morava o filho José Augusto. Mais tarde, mudaram-se para outra casa espaçosa, a da Tia Rozaura, que era a madrinha e uma verdadeira segunda Mãe para a Mª Antónia e segunda Avó para a Lecas e para mim.
A partir dos anos 60, seria a Tia Rozaura a mudar-se para o Porto, para o nosso andar da Rua Latino Coelho, e, depois do 25 de Abril de 1974, para Espinho.
Passamos temporadas em Avintes, com os Avós Olívia e Manuel, de quem nós, as crianças, éramos muito amigas, mas com quem a Mãe nunca se entendeu bem. Muito boa era a ligação ao círculo da família do marido,  os Tios Reis, Francisca e António, os primos,  Mª Angélica, Corinto Marques, António e a mulher, Amélia Soares de Albergaria, desde o seu casamento na Sé do Porto, em que os meus Pais foram padrinhos do noivo - e outros primos de Avintes, a Nini e o Chico Marques, os Fernandes Capela, Alda Mª Helena, Manuel e Alberto.
A Mª Antónia nunca trabalhou fora de casa - e não gostava da tarefas domésticas. À época do casamento, nem sequer sabia fazer chá ou café! Em casa da Mãe ou da Tia Rozaura, não tinha de se preocupar com isso. Ia quase quotidianamente passear para o Porto, com a Tia Lina, e lanchar na Ateneia ou encontrar-se com a prima Cristina, que gostava mais de frequentar o café Ceuta. Às vezes, optavem por uma sessão de cinema. O Pai também era "cinéfilo", acompanhava-a nas sessões da noite. Aos fins-de-semana, grandes passeios, com lautos almoços e jantares, sobretudo "minhotos", com irmãos, cunhados e sobrinhos - e a Avó Maria. Fátima, era outro dos destinos, o preferido da Avó, que, porém, estava sempre disponível para sair, fosse para onde fosse... As corridas, em Vila Real, ou no Porto: um "must"!
A maior tragédia da sua vida foi a doença e a morte da Lecas, de leucemia, aos 20 anos, em 1964. A Mãe andou de preto durante anos, até que eu decidi oferecer-lhe um vestido de cores garridas e convenci-a a usa-lo. O desgosto não diminui, nunca, nem a lembrança, mas o luto absolutamente inútil e deprimente, terminou, de vez.
Os Pais celebraram as bodas de ouro, em Espinho, com uma festa alegre e muito animada, ao som das canções dos Aguiar Pereira!
O pai morreu, subitamente, sem um sinal de aviso, a meio de uma frase, num domingo de Páscoa, ao jantar. Foi terrível, mas,desta vez, a Mãe não se transformou numa velhinha vestida de negro. Os sobrinhos têm sido uma boa razão para viver, com entusiasmo, como se deve sempre viver.
Está cada vez mais excêntrica, e faz gala da sua excentricidade. Insiste em se vestir bem. Mas os pormenores ficam para os comentários. Aqui está o convite, a contar histórias sobre uma Tia muito especial ( um pouco à Mourinho, num outro terreno de jogo...)

Ei-la nas várias idades : com um ano, doze, vinte e tal, quase quarenta, cinquenta e muitos, à beira dos oitenta, e aos oitenta e oito (quem diria?).







































Parabéns à GIJA
Para a melhor tia do mundo que, nestes anos tem feito o papel "Super Avó"...
muitos beijinhos
manelinha
Anónimo disse...
Maria Antónia disse: hoje comprei um grilo e chamei-lhe Isidoro.
Lembrei-me de um Isidro Isidoro, do Gondomar, que morreu, ainda eu era pequena. Ele tinha, em vida, deixado bem claro que queria ir no caixão com um cravo vermelho na lapela. Por isso, quando soube da sua morte, pedi à Maria Póvoas que me levasse ao velório para o ver. Nem a Mamã nem a Tia Rozaura consentiram, mas a Maria levou-me, em segredo. E lá estava o morto, de flor vermelha ao peito!
O Isidoro recordou-me outras figuras típicas do Gondomar dessa época:
o Arregalado, que era o trolha da Tia Rozaura;
Pichela;
as Amarelas, que viviam,logo abaixo da casa da Adriana, na Pedreira;
a Ana Facas e o Caminha, que moravam ao lado da casa da D. Aurora e da Marília Montenegro, perto da Pedreira, numa bonita casa com um mirante ladeado de glicínias, como o da casa da minha Avó Carolina.
Memórias...

Estou preocupada com o grilo!
Não que eu seja sequer capaz de lhe pegar...
De qualquer modo, com 7 gatos em casa, que, à falta de ratos, caçam e desfazem tudo quanto move, temo pela vida do Isidoro e preparei o melhor lugar para a sua estada segura, nas alturas!
A Mãe serviu-lhe uma refeição de verduras e pedaços de maçã. Pobre bicho... O que ele mais anseia é sair da gaiola.
Esteve aqui, de tarde, a Lélé e propôs-se libertá-lo, lá na aldeia pacífica onde dá aulas. Se calhar é o melhor, embora possa ser comido por sardões ou outros inimigos não menos letais do que os nossos gatos...
A propósito da história que a Mãe lembrou, sem quaiquer referências ao 25 de Abril, que hoje se comemora - mas que ela não comemora nada... - pergunto a mim própria até que ponto, sem se dar conta, foi influenciada pela efeméride revolucionária, ao prender na gaiola o grilo com nome do homem do cravo vermelho - muitas décadas antes de década de 70!
Descrição: https://img1.blogblog.com/img/blank.gif
Anónimo disse...
Maria Antónia disse:
Não me falem de 25 de Abril!
Não tem nada a ver uma coisa com a outra. Vi, na rua, uma mulher a vender grilos. Tinha muitos, numa bacia grande.
E eu lembrei-me de ter, uma vez, andado com o meu irmão Zé, a apanhar grilos, quando íamos dar um recado ao Dr. Cardoso, em corta-mato.
Eu não tinha mais de 12 ou 13 anos.

Estou mesmo a ver os dois irmãos, a atravessarem a vila, numa missão muito concreta, mas em correrias, e não resistindo à tentação de se divertirem um pouco, fosse com o que fosse, a meio da empreitada. Acha a Mª Antónia que foi o Zé quem teve a ideia:
"Maria, e se fossemos agora aos grilos, ali, naquele mato?"
E ela, logo pronta para a distracção, disse que sim... (tinham acabado de passar "os 7 caminhos", interessante nome, esse!).
Aranjaramin loco, umas palhinhas, procuraram cuidadosamente e foram recolhendo vários exemplares, que o Tio Zé guardava no bolso.
Não devem ter tido problemas, em casa, porque a Avó Maria também gostava de grilos.
Eu tenho uma vaga recordação de tentar, em excursões campestres, despistar pequenso buracos no chão, e de sondar o seu interior com as tais palhinhas... E até de ver grilos. Mas parece-me que sempre preferi deixa-los no seu meio ambiente!
Do que gostei foi de encontrar, hoje, e pela 1ª vez, no meu mini-jardim, mal cuidado, uma linda joaninha. Há anos, sem conta, que isto não acontecia!... A Mãe veio logo que a chamei, pegou na Joaninha e começou a recitar a lenga-lenga:
"Joaninha voa, voa
Que o teu pai foi para Lisboa..."
Depois, como ela não queria voar, foi pousa-la na trepadeira, ao fundo do seu mini-jardim.
No qual andou, ontem, a plantar roseiras novas. Não sei se resistirão a "pipi" de gato...

Casamento oficiado pelo pároco de Gondomar, Abade Andrade e Silva, um grande amigo da Avó Maria.
Foi também ele que casou a Tia Lola, no ano seguinte, na capela da casa de Rio Tinto.
O copo de água, em ambos os casos, foi na Vila Maria, naturalmente.

Os CV's escolares das manas são semelhantes, assim como a relativa importância que lhes atribuiam - ambas destinadas a serem senhoras casadas e mães de família, como foram.
Divergências, registam-se algumas, por exemplo, na música, mais clássica para a Mª Antónia, mais ligeira para a Glória Doroteia. Também no namoro - uma constelação de namoradinhos para a mais velha, uma só paixão juvenil para a Lólita - o Eduardo.
E até no casamento - durável o de uma, não tanto o de outra...

A Mª Antónia recusa, firmemente, ser considerada "dona de casa". De coisas e tarefas de casa, quis sempre o menos possível...
Profissão: Senhora!
O feminino do que os ingleses designam por "gentleman of leisure"...
Já a Tia Lola foi, sem dúvida, uma prendada "dona de casa", que tudo sabe fazer ou mandar fazer, na perfeição. Caso, igualmente, das outras duas irmãs, Lina e Lena...
Mª Antónia é a excepção. Cultivou e praticou a excepção, sempre, pela vida fora.
Isto já nasce com a pessoa. Eu saio à mãe, nesse aspecto, embora tenha profissão ou profissões exteriores ao lar...
Lecas, pelo contrário, era muito dotada para as artes domésticas. Mas não só: também para o canto, a dança, o desporto, a condução de automóveis... Embora tivesse, face a estudos curriculares, a mesma atitude da geração anterior.
Do que a nossa famosa "lady of leisure" gosta é de fatiotas chiques, perfumes caros, champagne (doce, hélas!), para além das telenovelas brasileiras, dos escritores brasileiros (Jorge Amado,
Érico Veríssimo...), da música clássica ou dos fados de Amália e de revistas "ligeiras", a Holla, A Semana, a Caras, a Gente, etc, etc...
E adora fazer palavras cruzadas! É uma perita. Rapidíssima!
Com tanta revista espanhola que lê, acho que até já faz palavras cruzadas em espanhol...

Maria Manuela Aguiar disse
À conversa com a Mãe e a Tia Lola sobre 
VIZELA
 - Ficavam, em regra, numa pensão que pertencia ao Sr João e à Senhora Mariquinhas, pais da Aurora, de quem gostavam. Era bonita, ruiva e divorciada - uma raridade, então.
 - Lembram-se também do tolinho que, um dia, viu uma mulher nua nas águas da Mourisca 
 - O Hotel Sul Americano era uma atração, sobretudo o salão, profusamente iluminado, onde pares, elegantemente vestidos, davam espetáculo, em infindáveis danças. E as duas pequenas irmãs olhavam e invejavam os adultos. Quem lhes dera ser grandes para deslizarem também, entre eles, ao som da música. Excelente era um outro hotel, o "Cruzeiro do Sul", mas a Avó Maria mantinha-se fiel à simpática pensão da  Aurora, onde a esperavam, anp após ano.
 - Uma diversão que a idade lhes permitia era andarem de burro, em cima de uma cadeirinha... E mirarem o bazar com muitas bonecas na montra - mesmo ao lado da pensão. Ou a bica de água sulfurosa, que ficava no centro de Vizela.
De Vizela para o rio Douro.
O Tio Eduardo era um excelente nadador e praticante de vários desporto nauticos. Era dono de uma canoa para duas pessoas, que fazia sucesso entre os amigos. Até que o amigo Licínio caiu ao rio e morreu afogado. No funeral, o Tio chorava e dizia. "Foi no men barco!"
De seguida, vendeu a canoa...
VILLA MARIA
Ao longo da divisória com  o terreno do Monteiro ficavam as ramadas com suporte  em bardos,  ocupando metade da quinta agrícola, desde a casa da eira ao mirante do fundo do terreno. Entre as vinhas, havia americano preto e, junto à eira, americano branco (nunca foram cortadas, escaparam ao massacre imposto por lei) e à esquerda, o "Chance la rose", que era reservado para a Avó Maria, grande apreciadora,
Os primeiros bardos eram de moscatel de Hamburgo.
O piso térreo da casa era ocupado por lojas, garrafeira e adega. Do interior, descendo a escada víamos, em frente, a garrafeira, e, passando uma porta verde, a enorme adega, com o lagar e as pipas de vinho.  A Mãe recordava os homens a pisar as uvas, e, no fim do trabalho,  a comer na cozinha, enormes pratos de bacalhau e carne de porco.
A mais famosa história ligada à garrafeira, aconteceu numa visita Pascal, quando era Pároco o Abade Andrade, pessoa muito discreta e cerimoniosa. Foi o Tio Serafim quem abriu as garrafas de vinho branco e de champanhe recém chegadas da garrafeira.  A primeira não saiu com o estrondo habitual, parecia ter perdido força. Outras foram circulando, mas ninguém parecia ter a habitual vontade de beber. Alguém comentou "É fraquinho, perdeu a força". Quando já os hóspedes se haviam retirado, a Avó Maria decidiu fazer a prova dos vinhos e descobriu que em quase todos a percentagem de pura água era elevada - adicionada pelos filhos para substituir o original, que tinham partilhado em noites de paródia secreta com amigos...
Imagine-se o sermão materno que se seguiu - dirigido mais a uns do que a outros, conforme o grau de suspeição. O Tio Zé batia de longe os demais...
Uma prole sempre difícil de controlar.  Eles e elas. Assim, por exemplo, das filhas só a Tia Lina a acompanhava na visitação dos doentes. A Mãe recusava-se, firmemente e não consta que as Tias Lola e Lena fossem muito assíduas.

Maria Manuela Aguiar disse
O COLÉGIO da ESPERANÇA
As colegas
 - Zita Seabra, muito bonita, loira, de olhos azuis, mãe da Zita Seabra, antiga deputada 
 - Renia Finkelstein, que veio ainda muito pequena da Polónia, de onde trouxe muitos "pins", que lhe ofereceu
 - Miriam Gabriela Cavalier, outra amiga muito especial, que viria a ser uma excelente médica
 - Manuela Abrantes, que as convidava para os aniversários, numa belíssima casa, que ficava ali perto, no Prado do repouso   - ocasião para saírem do colégio, com autorização da mãe, primorosamente falsificada.
 - a Olímpia e a Julieta, transmontanas, que tinham casa em Espinho, as únicas com quem manteve convívio frequente
(A Mãe ainda foi algumas vezes a reuniões de antigas alunas, onde reencontrava Miriam. Acabou por desistir, porque ficava sempre deprimida, Quando perguntava por esta ou aquela, a resposta era "morreu", "morreu"...  Com exceção da Miriam, estavam praticamente todas irreconhecíveis, desinteressantes, velhas, de muletas...).
Nos últimos anos já a Tia Lola namorava o futuro marido, que não só tinha uns anos mais do que ela, como parecia ainda mais velho, visitava-a, apresentando-se como tio! Manifestavam-lhe toda a consideração, davam-lhe acesso ao salão, cumprimentavam-se com um beijinho na face, como mandava o parentesco. Ela de soquetes, com lacinhos vermelhos no cabelo. (Vermelho era a sua cor favorita. A da Mãe foi sempre o amarelo) . A quinta-feira era o dia reservado às visitas de família. Um dia o irmão Manuel apareceu , em substituição da Mãe, que estava doente, levando-lhes os presentinhos do costume (bolachas, queijo, marmelada, chocolates...).  A certa altura, subiu a um banco, desatarrachou a lâmpada e levou-a, deixando as manas apavoradas! 
Ambas detestavam o internato. Choravam noites inteiras - ou seja, até adormecerem. Ficavam em camas pegadas. A 
encarregada do dormitório chamava-se Beatriz. Só iam a casa no Natal, no Carnaval e na Páscoa - e nas férias grandes, evidentemente. Tentavam adoecer, caminhando com as meias ou soquetes molhados, mas poucas vezes conseguiam apanhar a desejada constipação... Também planeavam fugas, não concretizadas. Os muros da quinta eram baixos. Na capela, havia uma porta com grade e uma chave enorme. Não lhes faltava vontade de roubar a chave, para sair. Uma vez, quase o iam fazendo e foi a amiga Maria Laura Horta que as convenceu: "Não façam isso"!
Gostavam de jogos, a Mãe era ótima no ping-pong

PAIS na VILA MARIA
No verão, ficavam no quarto grande, no 2º andar (e, por isso, ai nasci, no mes de junho de 42), no inverno mudavam para baixo, para o 1º andar ( em 12 de dezembro 43 , aí veio ao mundo a Madalena)
Para o Pai, os cunhados agiam perigosamente, quando havia ladrões noturnos na quinta, depois do criado fechar os portóes e ir dormir, tranquilamente, num pequeno anexo, perto da eira. O Tio Zé avançava no escuro, armado de um pau. O tio António, com o seu ar muito sereno  usava pistola.  (Tinha uma pontaria fantástica, começou por treinar com fisgas, em criança, depois passou a armas de fogo). O ladrão tentava saltar o muro ao lado do portão e o tio disparou para as pernas e acertou-lhe. No dia seguinte, havia vestígios de sangue no local, mas nunca se soube quem era o homem.
Noutra altura, foi o Tio Zé, que vislumbrou, entre as sombras do jerdim, um estranho, às duas ou três da manhã. Foi acordar o Pai. "João, depressa, depressa! Vamos apanhar um ladrão". O Pai só dizia à mãe: "O teu irmão é tolo", mas ela respondeu-lhe: "tens de ir, não podes deixar o meu irmão sozinho!" E ele foi, sem convicção. Enquanto o cunhado corria em direção ao suposto vulto, empunhando um pau, e ordenava ao cunhado que guardasse a saída do portão, o pai tropeçou, magoou-se, queixou-se que tinha rachado a cabeça e tratou de facilitar a fuga ao ladrão. Mas o Zé queria mesmo ir à guerra. Com um pacifista por companheiro, foi uma guerra perdida...

Tia LINA NA VILA DEOLINDA
Vila Deolinda foi a terceira  casa dos Tios Lina e Serafim (Depois da residência no Souto e antes da vivenda da Cónega e, finalmente, a Vila Maria)
 A Vila Deolinda era de uma prima (Beatriz?), que a arrendou quando foi viver para Lisboa.
As manas Maria e Lolita passavam lá tardes inteiras. Lanchavam no terraço, em frente ao Largo Manuel Guedes (um tio avô materno), e de lá era fácil darem uma escapadela até aoCrasto
HOBBYS da AVÓ MARIA e da Mãe
Bordados, ponto de pé de flor, rendas de bilros, flores (não deixava ninguém podar as rosas do Avô Aguiar - só ela, com um grande chapéu de palha na cabeça para se proteger do sol...), compotas maravilhosas, de cereja, de chila... Chila que crescia no lugar de separação do jardim para a quinta agrícola. Dizia a Tia Lola: a mamã era absolutamente perfeita em tudo o que fazia". Tb gostava imenso de música, sobretudo de piano. Todas as meninas aprenderam a tocar piano com a Nucha, que tinha o conservatório e era talentosa. Muito excêntrica - no inverno usava dois sobretudos um a fechar atrás, outro a abrir à frente. As lições sucediam-se na mesma tarde. Tinha dois filhos  que sobreviveram. Homero e Álvaro. A irmã Lucinda, madrinha da mãe teve 3 filhos, todos regressaram ao Brasil, onde ela tinha vivido.
A Avó era também uma visitante assídua do centro do Porto. Ia muitas vezes de elétrico até ao Bolhão, onde a linha 10 terminava. Muitas vezes me levava com ela, lanchávamos na Villares, fazíamos compras na Lã Maria, no Bazar de Sá da Bandeira, Para fotografias, o escolhido era a Foto Vieira, em Santa Catarina - na montra tinha sempre jogadores do FCP.
Um dos amigos do genro, o meu pai era o Danilo, que tinha uma sapataria elegante, salvo erro, em S Catarina. Foi ele que ofereceu à Tia Lola os sapatos do seu casamento. Em matéria de sapatos. lembravam o caso curioso do Tio António, que quando gostava de um modelo de sapatos, comprava não um mas dois ou três pares. A Mãe seguia o exemplo, variando as cores, por ex Chanel branco e beige, branco e preto
 Não a Avó , mas os meus pais e os primos António e Chico  frequentavam muito o Guarani, que, já nesse tempo, oferecia espetáculos de música e canto. Ali perto, nos "Leões" a Xana fazia um tratamento experimental químico para uma doença de pele. O Mário então estudante frequentava o café de estudantes "O Piolho"
Ali perto a Tia Lena frequentou o Colégio Liverpool (Rua dos Bragas, perto da Fac de Engª), depois que a mana Lolita foi expulsa do Colégio da Esperança (por delito de liberdade de expressão . uns escrito contra a diretora do colégio, entre outras  heterodoxias. Ao que parece admiravam muito a anterior diretora Dona Mª Luísa, uma verdadeira Senhora. A sucessora era, na expressão da Tia Lola uma mulher sem maneiras, que às refeições punha os cotovelos em cima da mesa. O precioso escrito num caderno escolar foi apreendido, As suas companheiras de protesto, Tina Ramalheira e Gracinda Andrade, ao que  parece, tiveram a mesma sorte  (o mesmo se passaria comigo no Sardão - não cheguei a ser expulsa mas o caderno foi apreendido. Graças à minha esplêndida memória, nas férias reproduzi-o, palavra por palavra...).
Lojas de que a mãe gostava - Vogue, Vicent, Armando de Sá, jóia... Tb Clérigos...

10 de Julho de 2011
MARIA ANTÓNIA DISSE
 - Chapéus e fatos de praia
A Mamã  gostava de imaginar os modelos dos nossos chapéus de praia - cortava os moldes, com muita habilidade, e mandava-os à Maria Folhelha para cozer e para enformar as abas, que ficavam impecáveis. Abas largas, para proteger do sol. Era também uma artista a tricotar.  E havia ainda os chapéus de ráfia, muito bonitos, para condizer com os vestidos e fatos de praia.
Os fatos de banho eram de malha, que a Mamã comprava e mandava fazer a uma modista do Porto. Curtinhos, sem exagero, pelo meio da coxa,  alça larga e decote pequeno. Por baixo da saia usávamos calções justos à perna. Escolhia sempre cores neutras.
 - O Tio Alexandre
Quando iam para o Colégio, o Tio dava-nos 20 escudos a cada uma para comprarmos  doces e chocolates. E levava-nos muitas vezes ao Porto a fazer compras, sobretudo vestidos e sapatos. A Lolita era rápida a escolher o que queria. Eu não gostava de nada, corríamos o Porto inteiro, de loja em loja, sem eu me decidir. O Tio, muito paciente dizia-me: "Quando vires uma menina com uns sapatos de que gostes, eu pergunto à Mãe dela onde os comprou. Depois que o emu Pai morreu, ele ocupou o seu lugar
Sobre o seu Pai:
Gostava de reunir os amigos no jardim. Sentavam-se nos bancos e cadeiras verdes, de ripas de madeira, à volta de uma mesa redonda. Mandava buscar vinho à adega e discutiam longas horas sobre política da terra, sobre a República, que ele considerava uma desgraça. Costumava dizer " monarca passa, Buíça, chiça"
Mas dava-se bem com os cunhados republicanos. Já depois da sua morte o Tio António esteve escondido na Vila Maria. Era o mais radical de todos, chegou a estar exilado em Angola, onde teve negócios que, por acaso, correram bem. Mas no Porto não. os investimentos acabaram mal e voltou a ser funcionário público.  Recordo-me da Mamã recomendar às criadas:  "Viste aquele senhor lá em cima, mas não podes falar dele a ninguém". Ele era muito simpático com as senhoras e tratava bem as criadas. Nunca foi denunciado. Também era bom para nós. Tinha com ele o seu cão, que apresentava às primas (nós).
O Tio António chorou muito, quando morreu o irmão Alexandre. "Lá se foi o meu segundo pai!" Morava, então, numa casa pequena, em Quintã, perto do irmão José. o juiz, que morava na casa que tinha sido dos meus avós Carolina e Joaquim.
 - O pianista Marques Ribeiro
Foi um dos meus pretendentes, mas zangou-se quando soube que eu namorava, ao mesmo tempo, dois rapazes de São Cosme. o Jacinto e o Albino.  O Marques Ribeiro soube pelo Eduardo e levou a mal.  Disse.me: "Gosto muito de si, e espero encontra-la mais tarde, quando deixar de ser criança". Quando veio eu já estava casada com o João. e já tinha uma filha.
 Nessa primeira visita a Mamã recebeu-o  muito bem, ficou encantada de o ouvir tocar Chopin, Liszt, Beethoven. À saída ele perguntou, "Posso voltar na 5ª feira?" "Claro que sim", respondeu ela. Ele voltou algumas vezes, até se zangar comigo. E até queria que eu desse um concerto com ele, no Porto, achava que eu tocava muito bem, A Mamã não consentiu...
O Albino, Jacinto, Adriano e João
Estava na tropa e quando terminou o serviço encontrou-se com o Jacinto e tiveram uma grande discussão sobre quem era o meu namorado, Chegaram mesmo a envolver-se numa cena de pancadaria. O Licínio ficou curioso e veio perguntar-me qual era, realmente o meu namorado e eu dei-lhe a resposta: "Oh Licínio, eu gosto dos dois". Mas pouco depois acabei, primeiro com o Albino e, depois, com o Jacinto.. O seguinte foi o Adriano de rio Carreira,  mas o namoro não durou muito. Decidi que era cedo, que não queria comprometer-me com nenhum, Tinha 20 anos quando fui na camionete do Coelho ao Monte da virgem à Missa Nova do Padre Eduardo Soares Pinheiro, onde conheci o João. Já tinha havido uma troca de correspondência entre a Mamã e a mâe dele, mediada pela Dona Arminda. Por ela sbiam que a Dona olívia tinha um filho viúvo. Na capela fiquei com a Lolita longe da Mamã e junto de dois rapazes. Um deles era, com certeza, o viúvo. Qual seria? Os dois pareciam interessados nela, um era loiro, outro moreno, ambos bonitos. Afinal foi o loiro que veio ter comigo, cá fora. Era o viúvo, o joão.
VILA MARIA MEMÓRIAS DA MÃE (2011)
O meu Pai era apologista de comparar caro - para durar
Por sinal, pagou caro pela propriedade onde construiu a casa, Foram lavradores ricos, seus amigos, que condescenderam em lha vender, mas não precisavam, não queriam e não facilitaram no preço. O lema de todos eles era "não vendemos, compramos" (o Zé do Paço, um Paciência e o Cosme Ribeiro). Iriam pertencer ao grupo que se reunia com o meu pai no jardim..
O negócio concretizou-se quando o Papá ainda estava no Brasil, foi o avô Joaquim, que era notário, quem tratou de tudo.
Na altura o Papá pensou em comprar a quinta que agora pertence aos frades Capuchinhos, uma bela casa antiga, do século XVI ou XVII, mas a mamã não quis. Achava o lugar solitário, muito longe do centro. Não ficava assim tão longe de quintã, mas, na altura era, de facto, isolada.
A Mamã não se arrependeu da escolha.. Tinha uma paixão pela sua casa nova, a dois passos do Souto, da Ala Nuno Álvares  e da Igreja. A Vila Maria, com o seu próprio nome posto pelo Papá

MÃE EM PARIS
Pequeno almoço delicioso no Flash Rouge - não melhores Croissants
La Sainte Chapelle. Louvre. Não subiu ao alto da Torre Eifel, mas subiu ao Arco do Triunfo. 8 de maio.  Passeios de bateau mouche,  Opera, Madeleine, Champs Elysées...Ficou na Cité Univ, no meu quarto, entre os meus simpáticos colegas (eu migrei para a Casa da Noruega). De noite, com o Padre Micael e o Padre Mário. 
MontmartreSacré Coeur. Paris iluminada.

MARIA MANUELA AGUIAR DISSE
EM AVINTES
Lecas doente. A Mãe recusava-se a comer. O Pai ameaçava que se absteria também, mas mas , mal ela voltava costas, subia as escadas para ir ver a menina, ele apressava-se a engolir tudo o que havia no prato. Uma imagem que me ficou.
Gostava de grão de bico, de melância, de amendoins. Também de lagosta e de todos os mariscos. De bons bifes. De vinho tinto e de whisky, mas só bebia socialmente, em festas. Então se tornava um homem alegre e despreocupada e a Mãe que o era, em qualquer caso, dizia: "este homem só fica normal quando bebe", Recordo uma noitada divertida em casa dos tios Reis, Para lá, o Pai foi devagarinho, queixava-se do mau estado da estrada, De volta, veio em boa velocidade e sem notar os buracos da rua!
Era uma ótimo condutor e nunca teve um acidente. Já a Mãe era um desastre! Conseguiu a carta à primeira tentaiva - graças, suponho, a uma cunha do irmão António - mas arrancava a sua predileta "Joaninha" (Renault), como se fosse um avião a levantar voo. A amiga Maria do Carmo era igualzinha., mas não consta que batesse em paredes. A Mãe, sim. Célebre ficou o acidente num subida íngreme, ali para os lados do Freixo. falhou a bateria, uns homens vieram ajudar, empurrando o carro. Em vão. A Lecas saiu, também, e juntou-se ao grupo, o que deixou a Mãe aflita, porque a menina era doente e não podia fazer esforços. Sem pensar duas vezes, também ela deixou o volante abriu a porta, saltou para fora---e o carro começou a deslizar, imparavelmente para trás até bater, em linha reta num portão de ferro, antes da curva da estrada...
A Mãe só gritava: Deixem ir! Fujam todos!
Não houve feridos, só um embate dramático, que o portão e o pequeno Renault aguentaram, para surpresa geral, O motor da Joaninha era nas traseiras, mas as amolgadelas foram relativamente ligeiras. (Já não se fazem automóveis assim..). Houve que chamar o João - que se preocupava sempre até com a mais pequena arranhadela na pintura...
Outro percalço que ficou para a história, aconteceu em Gondomar, numa festa de Natal, na entrada mal sucedida para os jardins da Vila Maria. O carro era minúsculo, branquinho, parecia de brincar, numa pista de feira.  E o portão era largo, largo, dava para um enorme StudebakerCadillac, ou até um camião. Mas a Mãe prudentemente não
 ousava tentar. Imprudentemente, o meu "ex" incitou-a. Entendiam-se muito bem, Tratavam-se pelo nome e por "tu": "Vai, Maria Antónia, tu consegues!". Quase conseguiu fazer um "pião" e sair sem desastre. Apontou ao portão, carregou no pedal (demais) e bateu com o farol direito na aresta da pedra que segurava o portão - à esquerda!
Mais uma preocupação e despesa para o João

Maria Manuela disse:

O CARNAVAL DE 1962
Grande festa nos dois andares do R/C da Rua Latino Coelho. A Mãe e a Maria do Carmo Razzini pediram aos vizinhos para fechar a porta da entrada e usar o átrio como pista de dança, a continuar a sala dos meus pais, Na sala dos Razzini era a ceia, com mesa cheia de doces, salgados e bebidas.. Todos fantasiados, O Dr Figueiredo fazia um chinês convincente, embora muito alto (Tb há chineses altos). O Pai com vestido, chapéu e sapatos da Maria do Carmo fez sucesso (ele calçava 42, ela 40, deve ter sofrido de aperto e,talvez, dado cabo dos sapatos - possivelmente velhos. Havia muita gente, o Domingos, muito engraçado, sempre a falar da "minha Berta". Os donos do Café Príncipe, a Ester e o Sr Rosas, ela com farda de magala e ele com um traje de vianesa, Simpático casal - gostaram tanto da festa, que, no ano seguinte, a organizaram na sua casa. Foi igualmente uma festa esplêndida. Moravam perto de nós, numa vivenda grande. A recordação mais viva que guardo é a da Madalena a cantar a Índia e outras das suas músicas preferidas, com um voz maviosa - a grande estrela da noite

 A AMÁLIA NO CAFÉ RIALTO
Tanto a mãe como a Tia lola adoravam a Amália, cantavam as suas músicas constantemente - não tão bem, porque isso é impossível, mas muito bem.
A primeira vez que a viu de perto foi no Café Rialto, lindíssima, vestida de preto
Outra celebridade que conheceu, mas em circunstâncias mais anómalos foi o ator Rogério Paulo. Num cinema do Porto, onde na companhia da Maria do Carmo chegou atrasada. Foram conduzidas até à fila, à luz da lanterna, depois, ficaram por conta própria no escuro, A mãe enganou-se na cadeira e sentou-se ao colo do ator (pediu as devidas desculpas e só viu quem era no abrir das luzes para o intervalo). Grande embaraço...
Melhor foi, muitos anos mais tarde, o convívio com Virgílio Teixeira, amigo maravilhoso que fiz nas lides da emigração. Em Espinho, durante o Congresso Mundial de Mulheres Migrantes. Virgílio era para ela, o homem mais belo do mundo, Em nova chegara a dormir com o seu retrato debaixo do travesseiro. Já depois de casada, apesar de recolhida numa gaveta a fotografia, tanto o gabava que o meu pai chegava a sentir ciúmes (antigamente tinham ciúmes por tudo e por nada . sempre considerei normal que o meu "ex" tivesse uma paixão estética por Catherine Deneuve, e ele que eu sentisse o mesmo por Gérard Philippe.
),
Sorte teve a Mãe que, de nós três, foi a única a conversar com o seu "idealtipo". Virgílio não era só bonito e talentoso, era uma pessoa maravilhosa. Um verdadeiro amigo, com uma mulher também encantadora, a Vanda. E com Amália, nos anos 80 a Mãe falou longamente pelo telefone, num dia em que eu estava com ela em Connecticut , na casa do primo Seabra da veiga - outro querido e saudoso amigo meu.

CONVERSA SOBRE O TIO ALEXANDRE (a 7 de fev de 2012)

A conversa sobre o Tio Alexandre começou com uma pergunta;"Já atravessaste os Pirinéus?"
Disse que sim. Continuou:"E paraste em alguma aldeia?"
"Que me lembre, não; talvez, não sei..."
Era para saber se eu tinha visto artefactos de lã dos Pirinéus. Depois, falou dos Xailes de  (dos Pirinéus, certamente), que o Tio Alexandre lhe comprou no Porto. Um era cor-de-rosa, comprado numa loja dos Clérigos, na Rua dos Lóios. Outro beije. A Tia Lola não quis nenhum. Não devia gostar...
Ambas as sobrinhas iam só com ele, talvez para evitar que a irmã, a Avó Maria, interferisse nas livres escolhas das meninas.
No verão lanchavam sempre na Brasileira. Mandava vir enormes pratos de bolos e insistia: "Comei os bolos todos!". Nas outras estações, às vezes, variava. Gostava de  um pequeno café, na esquina em frente à Brasileira, na rua que vai dar à Av dos Aliados.  
E de outro, junto à Igreja dos Congregados. Ótimo, até tinha música! Descia-se para a Rua por um pequeno degrau

UM ZEPPELIN EM GONDOMAR
(um relato recolhido no início de 2019)
Depois da guerra, quer dizer, em utilização pacífica, um enorme avião, diferente de tudo quanto se conhecia, atravessou os céus de Gondomar, semeando pasmo e emoção em toda a gente. Segundo a mãe, parecia um gigantesco melão voador. Foi busca-la ao quarto, para ver o fenómeno, uma criada que chamavam "Maria nariz de pau". Correu para a varanda que ficava à saída da cozinha, ainda a tempo de contemplar aquela coisa estranha, que avançava com a majestade e do  das suas dimensões e do seu peso, um prodígio que parecia impossível voar como um pequeno pássaro. Era meio dia. Para além da providencial Maria nariz de pau, não se recorda se a sua mãe ou alguns dos irmãos partilhou com ela a experiência. Talvez não.
Mostrei à Mãe as maravilhas da internet, Procurei em Zeppelin e logo apareceu a precisa imagem que ela viu naquela manhã dos anos 40.

CINEMA NOS ANOS 40


Maria Manuela Aguiar

14:47 (há 3 horas)

para eu
O cinema fazia parte de um modo de viver. Ir ver um filme numa sala bonita, (São João, Batalha, Rivoli...) era um ritual que pontuava o dia, como lanchar naAteneia ou na Villares ou tomar um café no Guarani, na Brasileira, no Imperial, Estivessem em Gondomar ou em Avintes, o centro da animação era sempre a cidade do Porto. Era lá que tudo acontecia. De tarde, a sétima arte era só para as senhoras (os homens trabalhavam). A Tia Lina era uma companheira constante. Quando gostava do espetáculo repetia. No São João viram juntas a Madame Butterfly três vezes.  À noite, geralmente ao sábado o acompanhante era o pai. Era altura para luzir uns vestidos mais chiques, pois havia dois intervalos, ocasião propícia de olhar e comentar as indumentárias alheias. A Mãe punha os seus óculos escuros (muito graduados, a miopia era forte). Um toque de singularidade -  não se usava, na altura, nem era muito prático, suponho, pois veria no ecrã as imagens de outra cor. Para ela era um gesto de afirmação feminina.
Mais difícil era a conciliação de gostos. O Pai tendia para filmes de ação, de guerra, westerns", policiais.   A Mãe adorava comédias, Cantinflas, Doris Day. Talvez o ponto de consenso fosse musicais, e dramas com os grandes nomes de Hollywood. Havia tempo e ocasião para alternarem os géneros. Começavam a noite, antes do filme, sempre num café, onde o Pai bebia mesmo café e a Mãe um "peppermint" e acabavam, uma vez mais, num café, antes de rumarem a casa, a pouco quilómetros de distância.
Depois que a Lecas e eu chegámos aos 6, 7 anos, levava-nos frequentemente, com ela, às "matinés". E eu tive de suportar as comédias do Cantinflas, que já dessa tenra idade, considerava excessivamente "infantis" (habituada que estava a ir ao cinema com o Avô Manuel assistir a espetáculos sérios, incluindo westernse operetas, tão do agrado desse querido avô, o mais cinéfilo de toda a família).

OLD FRIENDS

Falava-se do ISCTE, do seu aniversário, e a Mãe relembrou os tempos em que o Pai ali estava a terminar o seu curso de sociologia, em que ela o acompanhava nas frequentes idas a Lisboa. Os voluntários do Porto beneficiavam de aulas especiais nos fins-de-semana e enquanto o pai assistia às aulas, de vez em quando, a mãe combinava um encontro com o velho amigo Maestro Fernando Marques Ribeiro. Para falarem dos tempos da juventude e daquele romance interrompido para sempre. Se o pai ia diretamente do ISCTE para minha casa, o Maestro levava-a de carro à Av do Uruguai. Nunca contou nem a marido nem a filha. Que pena! Eu gostava de o ter conhecido
Impossível no caso de Celina, desaparecida anos antes do casamento do seu viúvo com minha Mãe e tão fácil no caso do Maestro, que, então, vivia em Lisboa, como eu... Assim, tal como Celina, Marques Ribeiro é uma imagem guardada num retrato. Mais uns fragmentos de histórias que fui recolhendo...


FESTAS NA VILA MARIA

A Vila Maria foi um paraíso terreal para várias gerações da família Aguiar, embora a sua vida, por desleixo e descaso de quem manda no município, fosse relativamente curta, do início doa anos 20 ao fim do século, quando foi permitida a sua demolição (uma barbaridade, porque a casa com o terreno circundante teria tido fácil utilização para turismo, a mais evidente, ou para uma clínica ou um Museu, até para um centro comercial, ou condomínio de luxo, se soubessem aproveitar o enorme espaço que ladeia o edifício de época, em construções a que o ligassem harmoniosamente). Comprada por um pato bravo que faliu está hoje transformada em parque de estacionamento. Dizem. Nem a mãe nem eu o vimos com os nossos olhos, porque os fechávamos, firmemente, sempre que passávamos pelo local
A casa ficava dentro do jardim, distantes uns 30 metros da rua principal e separada de roseirais simétricos um metro mais altos e bordejados a granito, por um caminho largo, que permitia fazer à sua volta gincanas com os carros, como as que algumas vezes se organizaram. Ladeando o portão de ferro as japoneiras, de camélias cor-de-rosa. No extremo norte, à face da estrada, o mirante (que chamávamos o mirante da frente para o distinguir do mirante que ficava no outro extremo, dava, então, para um caminho de terra batida, onde agora é uma escola). Ao lado, espalhando os ramos sobre o mirante e o muro, um enorme diospireiro, A sul, também à face da estrada, o “chalet”, que fora destinado a cavalariça ou garagem, e, depois da morte do Avô, acabou arrendado a vizinhos tranquilos, gente respeitável da terra
A simetria dos canteiros, terminava nas espaços que ladeavam a casa - de lado do mirante, prolongava-se até a pequena "casa do forno e à área em que  o pomar confinava com as vinhas. Do lado do chalet, o início do pomar e, por trás, num retângulo fechado por muros de granito, a pocilga. Vista de fora, sem porcos à vista, dir-se.ia uma longa   casa térrea, discretamente avistada entre muitos troncos e ramos das árvores de frutos. Havia sempre dois porcos e, quando chegava o dia da matança, as meninas era fechadas na sala, tão longe quanto possível, para não ouvirem os grito do tenebroso ato sacrificial. Ouviam, mesmo longe ouviam e recordaram o horror do som, sem imagem. Quem vinha executar o ritual era o dono do talho, negociante próspero e homem simpático. pai da Felismina, que era amiga das meninas e aluna de piano da prima Nucha
Depois, era dia de comer rojões, esquecendo a sua origem trágica...
Não só a carne de porco era guardada numa arca, antes limpa com areia e, depois, cheia de quilos e quilos de sal. A Avó Maria não só conservava os pedaço de porco, como, por exemplo, as laranjas numa grande arca de castanho, em areia.ou os dióspiros em gavetões, embrulhados em papel...
Para além da Felismina, outra amiga do círculo das lições de piano era a Maria Amélia da Estrela (que não era apelido, mas alcunha. Seu pai tinha construído um palacete muito original, em  forma de estrela. Foram muito próximas, durante muito tempo - da Maria Amélia e de uma irmã, a Madalena, Faziam parte do grupo que ia , muitas vezes, lanchar à Ateneia. Há muitas fotografias do casamento da Maria Amélia, mas depois perderam contacto. ela foi viver para Viana. A irmã casou com um rapaz de Avintes que não tinha grande fama. Gostava dele, e não quis saber dos vaticínios. Casou com ele, e perderam-lhe o rasto, um armador de barcos.
A Felismina, rapariga bonita, alta e loira, foi a primeira a casar, com um Ramos, a quem chamavam o "Ramitos". Contou às colegas das lições de piano, pormenores pedagógicos sobre a noite de núpcias.  e um conselho: "Não vale a pena gastarem dinheiro na camisa de noite. Não vele mesmo a pena..."

-------
No colégio, roubaram-lhe uns brincos muito bonitos, dados pela Tia Rozaura. E ela até viu, a rapariga a mexer nas suas gavetas. Mas hesitou. Depois, a Miriam, que também era amiga da ladra, pediu-lhe que não a denunciasse. E, assim, nunca mais recuperou os brincos...
Há outros relato de um roubo de brincos, com especial valor afetivo, porque tinham pertencido à Tia Glorinha. Não foram achados, mas a ladra foi chamada à diretora e expulsa. Esteve lá apenas no 3º ano do Liceu e, no dormitório ficava ao lado da Mãe, Do outro, estava uma grande amiga a Fernanda Málem (que viria a ser freira)
Anos mais tarde, numa reunião de antigas alunas, a Mãe encontrou a ladra. Talvez tenha sido nessa ocasião , tantas décadas depois, que a Miriam lhe pediu que fizesse silêncio sobre esse escândalo.
Os dormitórios estavam separados pela sala de piano. O das mais pequenas completamente aberto, sem cortinas. O das maiores com a privacidade relativa de cortinas que podiam fechar-se 
----------------------------------------------------------------------------
(conversa a 1 de agosto de 2012) - A sala de piano foi a que melhores recordações lhe deixou.. A Profª Margarida Portela, que era uma extraordinária executante, e que a considerava uma aluna especial, uma futura grande pianista, e ofereceu-lhe as valsas de Chopin, com uma dedicatória. A Mãe deu-as à única pianista da família na nova geração, a Sameiro, mas esqueceu-se de copiar a dedicatória,e tinha muita pena desse esquecimento. Nas festas, as painistas eram sempre a Mãe e a Amélia, que era de Avintes - chegaram a tocar a quatro mãos, Amélia morreu jovem, vítima da tuberculose, com a Celina. Foi a costureira da terra, que conhecia a Mãe da Amélia que quis e conseguiu que se conhecessem. Parece que a costureira era uma rapariga nova, muito engraçada.
A profª era muito bonira e tal comoa Mãe, muito míope,  
-------
O seu sonho de ser pianista ou atriz, não se concretizou...Os únicos palcos que pisou foram os do Teatro Nuno Álvares de São Cosme.E, pelos anos fora, atraiu com as suas canções, as suas histórias e as suas benignas excentricidades, a família próxima, um grande número de sobrinhos nets e bisnetos.
Curioso é que até o seu dentista, o Dr Morris, um dia, sem saber dessa ambição secreta. lhe disse: Devia ter sido atriz. Vê-se que tem jeito!"
Até na cadeira do dentista representava bem a sua personagem. "tem a certeza de que isto está limpo?  Não usou essa agulho nos dentes do anterior?"
Claro que sim, serve para todos e nunca é limpa - respondia ele a rir-se, Muito simpático e bonito. A Maria Antónia gostava de médicos bonitos. E foi tendo vários, ao longo da vida, o anterior dentista, do Porto, o Dr Figueiredo, o cardiologista...Até no hospital de Gaia, um mês antes de morrer, o neuro cirurgião era um rapaz de expressivos olhos
azuis. E o motorista do táxi que nos trouxe para casa também.
Ao Dr tratou-o por tu, começando por perguntar "És meu sobrinho?"
Quando ele veio falar comigo, para lhe dar alta, dizendo que o TAC estava perfeito, disse-me: "Está muito bem. Só achei um bocadinho confusa, porque me julgava um sobrinho!
Esclareci que não era assim tanto anormal, pois era senhora de muitos sobrinhos, alguns médicos, (sendo certo que os médicos não me parecem ter olhos dessa cor. Mas confusão não era - antes uma maneira de fazer conversa com um jovem interessante, que poderia ser, mas não era, da família.
-------------------------------------------------------------------------
O Encontro com o Pai contado pela Mãe

13 de outubro. Um dia de chuva e frio para a missa nova do Padre Eduardo Pinheiro na capela do Monte da Virgem. Levava um casaco comprido  cor de rosa (feito por uma modista de alta costura do Porto. Sua Mãe de preto, como de costume. Foram numa camionete de excursão, guiada pelo Sr Coelho..A mãe julga que o encontro não foi 

inteiramente casual, Uma tia da Nucha e da Lucinda. madrinha da Mariazinha, casada com um farmacêutico, Homero Figueiredo (teve farmácia no Porto e, depois, em Avintes). a Tia Arminda era, em simultâneo, amiga de Olívia Capela, Mãe do João, e de Maria Aguiar, a mãe da Mariazinha e já levara livros religiosos emprestados por uma à 
outra. No caso da Avó Maria brochuras sobre o Frei Bernardo, por exemplo, que deviam ser raridade. Morava em Avintes, perto da Avó Olívia e da farmácia, por trás da qual ficava a Escola do Magarão, onde eu fiz a 2ª classe. e já tinha vivido na casa do Tio João Aguiar. Mais tarde, emigraram para o Brasil, com os filhos, um deles também chamado Homero, como o filho mais velho da Nucha. O Tio João era o pai de Lucinda e Nucha.
A Avó Maria era  muito empreendedora, em tudo o que dizia respeito à sua paróquia e à pratica e devoção religiosas, Com facilidade organizava excursões ou peregrinações à sepultura de Frei Bernardo ou a Fátima, ou a uma missa nova... Chamava o Sr Coelho,(um homem muito simpático e delicado, cujas filhas estudavam no Porto), dizia-lhe o número de participantes e o destino da peregrinação, e ele tratava de tudo e era sempre o motorista de serviço. Foi assim na camionete do Sr Coelho, com a lotação esgotada, entre jovens e seniores, que rumaram nesse domingo ao Monte da Virgem . Estavam a entrar na capela, quando chegaram o viúvo e a mãe. A Mariazinha, não tinha a certeza que fossem, mas achava provável, pois naquele par havia uma diferença de idades, pertenciam obviamente a diferentes gerações.
A excursão de Gondomar ficou no fundo do templo, enquanto ele, o eventual viúvo e um amigo alto e moreno  estavam junto ao altar.. No final da missa, enquanto  as "velhas" se dirigiam à sacristia para os cumprimentos, os jovens saíram para o adro. A Mariazinha distanciou-se, quis ver um cruzeiro, subiu os degraus de pedra e foi ler os dizeres  gravados na cruz e ouviu uma voz que lhe perguntava: "Boa tarde, dá-me licença?
Olhou para trás - era ele, o jovem viúvo loiro e bonito! Pedia licença para lhe oferecer uns soquinhos- miniatura de couro, ligados por um fio de prata. Aceitou. Ele tinha acabado de os comprar num lojinha que vendia, terços, imagens religiosas e artesanato. E assim começou a conversa, Contou que no dia seguinte ia para Lisboa com um primo, o António, visitar a Exposição do Mundo Português.
As apresentação formais das minhas (futuras) Avós Maria e Olívia foram feitas pela Tia Arminda e a conversa decorreu animadamente até à hora de partir. De Lisboa, João enviaria um soneto à bonita menina de Gondomar e.seguidamente muitas outras cartas. A Avó Maria estava sempre atenta à chegada do correio. Era ela que abria as cartas, Li-as e so depois as entregava às filhas. 
Nunca teve nada a opôr às dele. Um católico de missa e comunhão quase diária era tudo o que queria para genro. Tudo, não , mas era " condição "sine qua non"
A Mariazinha gostava dele, mas não queria um viúvo. Em conversa com a Tia Rozaura, desabafava: " Ó Titia, um viúvo...não quero!"
E a sábia Tia disse-lhe: "Não te importes. De facto todos os homens são viúvos. Antes de casar connosco, andaram com outras mulheres. quer estejam vivas ou mortas.
Passados poucos dias ele telefonou. Na altura, só a irmã Carolina tinha telefone privado. Chamou-a a casa e falaram, combinando um encontro, que aconteceu logo.
Passou a ir lá com frequência. Às 3.00 da tarde. Ia diretamente para a igreja, era a hora do Terço.. Acompanhava-as a casa e ficava a conversar com a Mariazinha no terraço. 
A Avó não aparecia, ficava no quarto ou na sala, mas mandava a Lolita atravessar a sala de jantar, que dava para o terraço - como se fosse à cozinha... Ao fim da tarde ele regressava como tinha vindo, a pé pela Gândara e São Gemil, até Gramido, onde atravessava o Douro, de barco, para Avintes.
Anos depois, contou à Mulher que se ela lhe tivesse dito "não"  junto ao Cruzeiro do Monte da Virgem, tentaria uma de outras duas de quem gostava - a irmã Lena e  a Teresa "da Pinta" - uma de várias irmãs, todas bonitas, que viviam numa daquelas grandes e famosas casas de lavoura de São Cosme).
No verão, se seguissem a agenda habitual de férias familiares, estariam mais longe um do outro, ela nas termas de Vizela e na Foz, ele em Espinho, na casa da rua 7. Nesse ano, porém, a Lena estava a recuperar de uma primo.infeção e os médicos receitaram  uma longa estadia no campo. Passaram o verão em Branzelo. numa quinta de amigos (Novais da Cunha?). A casa era enorme, os convidados foram muitos, incluindo os primos do João, a Alda, a Maria Helena e o  Manuel. O joão, também , aos fins de semana. E um Rangel, que morava numa quinta próxima, e era mais velho do que o grupo das meninas Aguiar.
Não faltava pessoal doméstico - os caseiros da quinta, e as filhas, muito prestáveis. Em fins de outubro, estiveram todos numa desfolhada de lavra
------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------
1069 - A VISITA A PARIS
O "Diário" da Mãe
 2ª feira
Em frente à "Cité", à cidade universitária, fica o belo Parque Montsouris, onde fui com a Manela, atravessando o Boulevard Jourdan, De  metro, seguimos para o "Quartier Latin",  - jardins do Luxemburgo, Panthéon (onde está sepultado Voltaire, entre outros grandes vultos franceses). Almoçamos rapidamente numself service, Wimpy, , mesmo em frente ao Luxemburgo, e descemos Saint Michel, a ver montras, Atravessamos as lindas pontes do Sena, visitámos a catedral de Notre Dame, passámos pela Câmara de Paris, pela Conciergerie, a Totte de Sait Jacques. Tomámos o metro no Chatelet, com os seus longos corredores rolantes. Viemos para a Cité, às 4.00 a Manela fez um chá. Voltámos ao Parque Montsouris. Fiquei junto do lago dos cisnes, enquanto a Manela foi comprar pão, queijos e vinho  -  um bom jantar (como eu gosto).no quarto dela. Ela foi ao cinema com a Laura, eu preferi ficar no quarto a ler.
3ª feira
Levantámo-nos cedo (a Manela dormiu mal, não quis ficar nos 3 grandes cochins do sofá da sala, como tínhamos combinado. Fui a Vincennes no carro da Eduarda. A Manela e ela têm trabalhos das 9.00 ao meio dia. Eu estou sentada no bar da Universidade à espera.que voltem. Acaba de se sentar na minha mesa um velhote, sem pedir licença, a tomar uma bebida qualquer,
A minha estadia em Vincennes (cont)
A Manela está a fazer um exame (especializou-se em Direito do Trabalho e eu no bar, em conversa com os "colegas" (chamavam-me colega), num francês horroroso, como o Mário DSoares, metade francês, metade português, e até com certas palavras em inglês. Enfim, a Manela ficava furiosa, quando me ouvia falar assim.
E, quando a Manela estava a fazer o tal exame, eu, já farta de de passear no jardim (a Universidade tem um jardim enorme), depois de ter estado no bar, encaminhei-me para aqueles grandes corredores e vi a Manela, numa sala, a falar com um homem. E eu, cá de fora, (vamos indo que não entrei)a apontar-lhe o relógio, a fazer-lhe ver que era tarde  .vamos embora! Enfim , ela nessa altura não andava tão irritada como agora e, quando me disse que estava a fazer um exame, até nos fartámos de riri.

Passámos pelo Bosque de Vincennes e almoçámos em casa. Saímos para o centro de Paris com a Eduarda, que foi ao médico, Estou sentada numa esplanada, junto à Opera. A Manela e eu viemos, a pé, pelo Boulevard de la Madeleine. Uma das zonas chiques de Paris, Entrei na Igreja da Madeleine, onde a Manela me tirou fotografias, Mais fotografias, adiante, junto ao Maxim's, na Praça da Concórdia. Na viagem para a Cité, h+a partes em que o metro é aéreo, passei à vista da Torre Eifel. Fiquei no quarto da Manela, na Casa de Portugal, e ela foi para a Casa Luso-britânica., onde havia um quarto vago.

4ª feira
Fomos visitar a Torre Eifel, tomámos umas bebidas num  bar agradável, no 1º andar, com uma vista lindíssima, sobre o Champs de Mars, que de cima parece uma passadeira gigante, o Palácio de Chaillot, os telhados da cidade e,ao longe, o Sacré Coeur. Daí fomos até à margem do Sena e demos um maravilhoso passeio de barco, de cerca de uma hora. Passámos pela ilha de São Luís, pelos bairros mais bonitos de Paris, onde mora a Brigitte Bardot,  Saímos do barco e subimos os Campos Elísios. Havia grandes manifestações. Acho que que por causa da tomada de posse de Pompidou. Os polícias, aos magotes, todos engalanados, e uma bandeira enormíssima, no Arco do triunfo. Qs Campos Elísios são um encanto!
À noite, fomos de carro, com o Padre Micael e o Engº Pires a Montparnasse, belos restaurantes, boites" e cafés, onde se reune a boémia mais selecta. Lindas "boutiques" em Sèvres Babylone e o contraste dos talhos de Halles, que abastecem de carne a região parisiense. Demos a volta à Concorde, à noite tem mais encanto, assim com a Torre Eifel iluminada e o Palácio de Chailot, ou os Campos Elísios. Parámos no carro mesmo em baixo do Arco, com a sua gigantesca bandeiram o facho a arder, e as enormes coroas de flores, azuis, branas e vermelhas, em honra dos mortos de Guerra.
Cenário especialmente solene, na altura da posse do Presidente Pompidou. Continuámos para Montmartre, Sacré Couer, estivemos junto a varias "boites", a de Patchou e outras. Que ambiente, com grupos de músicos, artistas a pintar as suas telas nas ruas, muitos turistas, muita animação.
Atravessámos Pigalle, "boites" mais duvidosas, vimos o Moulin Rouge e o Lido.
Chegámos à Cité depois da 1 hora

5ª feira
Constipei-me, não pude sair à rua.

6ª feira
De manhá, ainda fiquei em casa, almocei no quarto. Disse-me agora uma amiga da Manela, que ela andava no corredor às 9.00 da manhã, para não me acordar.
À tarde, fomos às Galerias Lafayette, onde andámos horas, Vimos o Maurice Chevalier, que estava a autografar um livro seu. As Galerias são um mundo gigantesco, com escadas rolantes que subimos e descemos. Fizemos algumas compras. Fomos, depois, ao mesmo bar onde já tinha estado, perto da Opera, quando a Manela foi ao famoso otorrino  A Manela tirou-me várias fotografias, Tomámos um autocarro já em andamento, o revisor, um preto enorme, segurou-me, mas rasguei a saia...

sábado
Saímos às 10.00 com a Laura e a Isabel, e tiramos muitas fotografias nos jardins da Cité. De metro, para o Luxemburgo, todas a ver as montras e a fazer compras nas boas lojas do Quartier. com uma pausa para almoço rápido num restaurante de Sait Germain, A pé para a Sainte Chapelle, com os seus vitrais lindíssimos, do teto até ao chão. Andámos num super mercado, como aqueles que se vêem nos fimes. à noite, a Manela foi revelar fotografias para um laboratório com o Padre Mário até à meia noite e eu estive no quarto a conversara com a Laura.

Maria Manuela Aguiar <mariamanuelaaguiar@gmail.com>

12:48 (há 3 minutos)
para eu
Jantámos na Cité. A Manela voltou ao apartamento da Casa de Portugal e dormiu nas almofadas.

Domingo
Levantámo-nos cedo. A Manela continua a recvelar as fotografias com o Padre Mário,
Ás 11.00 a Laura, a Manela e eu fomos ver um filme erótico (na realidade pornográfico - só mulheres nuas e striptease, pretendia ser uma comedia). Saímos a meio. Almoço rápido num self +erto do cinema e, depois, foi tempo de cultura. Longa visita ao Louvre, Mona Lisa, Vénus de Milo, Votória de Samotrácia. pirâmides do Egipto, um túmulo autêntico de Faraó...
Chegámos à noite à cité e fomos jantar as três e mais a Eduarda a Gentillym num restaurante, Passámos ao sítio onde existiu a casa da M.me Curie (já demolida)

"2ª feira.
Dormimos as duas no apartamento. Estivemos em arrumações,. Encontrámos uns escritos do PadreMário, dentro de uma revista. Estivemos, de novo, em Gentilly, em frente à Casa de Portugal. Fomos a um café, onde a Manela respondeu a uma carta do Manel, que tinha recebido. Acabámos por almoçar num bar da Cité.
A Eduarda levou-me de carro até à estação de Austerlitz. A Manela ficou e vai esperar pela Docas, que chega às 5.00 de comboio
Na carruagem em que vou está o actor Jean Pierre Casset, mas no meu compartimento são 4 velhos, que já estão a dormir.
Dois parolos portugueses quiseram meter conversa, mas não estou para os aturar.
Em Bordéus, entrou uma canadiana, muito simpática, conversámos (mal) em francês. Em Irun, atrelei-me ao 1º grupo de portugueses. Vim numa carruagem, que o carregador espanhos me arranjou. - despediu-se, estendendo-me a mão - com um dinamarquês (muito chique), com uma filha de 12 anos. Falámos francês, e à noite, fartámo-nos de rir, os três, porque avariámos uma cadeira para fazer cama.
Na fronteira, não me abriram mala nenhuma e Villar Formoso, nem à ida, nem na volta.. Os portugueses que entraram em Paris, foram mandados da 1ª para a 2ª classe. Em Irun, tornaram a entrar na 1ª, com mais 3 de botas grossas e linguagem ordinária . car----, filho da p---. O que vale é o dinamarquèss não entender...
-------------------------------------------------------------------------------------------
LECAS
Depois de nos faltar uma filha, nunca mais se esquece. Tenta-se viver como se pode, mas o coração está sangrando constantemente e nunca mais se é a mesma pessoa

VERSOS PARA A MEI MEI

FORMATURA DA MARIA DO SAMEIRO

Deu-te Deus essa fé determinada
Dos que sabem seus sonhos realizar
Que nasce em ti, em cada madrugada
A Estrela que brilha em teu olhar

Esse teu ar esbelto e elegante
Esse andar airoso de gazela
Teu olhar sereno e confiante
Sejam eco da tua Boa Estrela


Espinho, Março 1988
---------------------------------------------------------------------------------------------

Resposta à Nita
  verão 1978

E das arribas do mar
agradeço a atenção
Bem quis logo responder, 
mas não tinha a direção

-----------------------------------------------------------------------
23 - 8 - 79
O postalzinho da "praxe" 
cá chegou, muito obrigada
Agora espero a visita 
Dessa minha "sobrinhada"

Para a Nita, Sameiro, Rosário, Lisa e Paulo
------------------------------------------------------------

1982
A saudade quando veio
veio mesmo para ficar
aqui no meio do peito, 
fazendo rir e chorar

Saudade fica comigo,
porque já me acostumei
Não fujas de mim saudade
 - de uma vida que te dei
--------------------------------------------

Eu tinha umas tranças loiras
E tão loiras eram elas
passando em campo de espigas
eu parecia uma delas.

Saltando muros e leiras
Na pressa com que corria
Voaram as tranças loiras 
E só por isso me ria

-----------------------------------------------------------------------
Perverso, inconstante mar
revolto do meu ser
Vagas em fúria
na porcela tenebrosa

Ao longe o meu olhar perdido 
na imensidão deste mar revolto
Vem-me a lembrança daquele louco amor
que agora é minha solidão
Pediste ao mar para me falar de ti 

 ou
Ao longe, o meuolhar perdido na imensidão
deste mar em fúria, revolto como eu.
Vem-me à lembrança aquele louco amor
que enche agora a minha solidão

Pediste ao mar para me falar de ti

------------------------------------------------------------------------------------------------------------

(Para o João)

Há tantos anos que não te vejo, que já nem me lembro bem da tua cara. Apesar dos retratos que tenho espalhados por toda a casa.
-----------------------------------------------------------------------------------------------
(Para a Lecas)
Minha adorada, luz da minha vida
A noite inteira conversei contigo
Num pranto de saudade infinda
destruí minha alma

LECAS
Depois de nos faltar uma filha, nunca mais se esquece. Tenta-se viver como se pode, mas o coração está sangrando constantemente e nunca mais se é a mesma pessoa
,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,
 Turbilhão de amores que me deixou presa
Insatisfeito amor minha alma perturbando
Sempre na procura de um amor melhor

---------------------------------------------------------------------------------
Em noite longas de dor e sofrimento. 
meus olhos já cansados de chorar
Eu peço a Deus que me dê alento
E me deixe contigo conversar

A minha adorada, minha confidente, 
Conversei contigo, solucei meu pranto,
De saudade infinda, que no peito trago
A noite inteira falei e tu falaste

Compus outrora poemas desmembrados
sem conseguir dizer o que queria
mas agora, passados muitos anos.
 a sós contigo  (já conseguiria?)
------------------------------------------------------------------------------------------
A CASINHA DA PEDREIRA
Queria voltar a ver
as camélias a florir,
as laranjas a crescer.

Queria voltar a ter 
na minha mão pintaínhos 
acabados de nascer

Queria voltar a ver
o jardim, a capoeira,
a horta - querida Maria - 
que te enchia de canseira

Limonete ao fim da escada
Alecrim pro's ramos bentos
toda uma festa, a ramada
a casinha, tão modesta,
com o nicho e a cantareira...

Agora, recordo a chorar
as pedrinhas da calçada
que já não volto a pisar. 
--------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------
Ainda tocam trindades na Igreja de São Cosme. Ouvi tocar a primeira carreira para a missa das 7, uma hora antes da missa. !/4 de hora antes,  2ª carreira e, depois, picou para a missa.
Fez-me muitas saudades, ouvir tocar para a Missa. Pareceu-me ouvir a voz da minha mãe a dizer: "Meninas, vamos embora, já tocou a segunda carreira".
---------------------------------------------------------
Tenho saudades de pedir a benção à minha Mãe e minha Tia
---------------------------------------------------------------------------------------------------------------
Vila Maria
Apesar de sentir a falta do nosso Pai, eu e os meus irmãos éramos felizes e não sabíamos. A única falta nas nossas vidas (ainda tão jovens) era aquele lugar na mesa da grande sala de jantar, o do Papá (como a nossa Mãe dizia)ocupado pelo meu irmão António agora


-------------------------------------------------------------
Agradeço à Nossa Senhora
A VIDA
Fátima, 26-4-86
-------------------------------------------------------------------------------------- 
Agradecer, agradeço esta paz diferente, que sinto em Fátima, como se fosse, em cada ano, a primeira vez. E, neste constante turbilhão de sentimentos, que me invade, sinto-me, aqui em Fátima, mais benevolente e compassiva são só três dias de "tratamento", mas já é bom para o meu espírito cansado e atormentado.
Parece que renasci, aqui, hoje.
Fátima, 27- 4 - 89
--------------------------------------
Compus outrora uns poemas desmembrados
sem conseguir dizer o que queria
e hoje, volvidos tantos anos, 
não sei se era verdade ou se mentia...
quando dizia , amor, quanto te amava,
que era capaz de morrer por ti
-------------------------------------------------------------
 (A Manela)

Corria veloz. cheia de energia
ceifando flores do belo jardim.
Protestos e ralhos. Como elea se ria...
São minhas as flores, são todas para mim...

Manelinha, mas isso é maldade,
dizia-lhe alguèm, decerto era eu.
Intervinha a Avó, ar de cumplicidade, 
São dela, claro, foi Deus que lhas deu

É muito inteligente, não trecisas ralhar
Um anjo a menina e só eu a entendo. 
Só a Avó  a sabia levar

E aquele anjo, menina vestida de anjo, de asas partidas, cabelo em desalinho, laçarote perdido, ia para a procissão
Eu peço a Deus para te acompanhar
O tempo vai passando e a saudade fica connosco pela vida fora
----------------------------------------------------------------------------
Nos 50 anos da Manela

Tempestade traz bonança
o passado traz saudade,
 a vida é sempre esperança,
 busca da felicidade

Passa um ano, entra a saudade
mil beijos para ti, meu bem
a maior felicidade 
te deseja sempre a mãe

Espinho, 8-6-92

---------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------
De todos os sentimentos humanos, nenhum mais natural do que o amor pela Terra, pelo vale, ou pelo bairro onde crescemos. A nossa Terra aviva-nos as recordações mais familiares (íntimas), mexe com as nossas emoções mais profundas. Tudo o que faz parte dela, pertece-nos, em alguma medida, e, decerto forma, nós fazemos parte dela também, tal como a folha pertence à árvore.
-------------------------------------------------------------------------------------
Saudade, palavra amarga e doce. Saudades da minha linda terra, S Cosme de Gondomar, onde imperam os grandes artistas de filigrana de ouro. Saudades do meu Monte Crasto majestoso, donde em noites de luar (esse luar ímpar das noites de Natal, que eu guardo na minha memória e recordo comovida), se abrangia toda a minha terra, banhada de um manto de prata. Saudades daquela prenda do menino Jesus, que a minha querida Mãe, com tanto amor e carinho, pòs debaixo do meu travesseiro: uma linda pulseira de prata, toda feita de margaridas, que ainda hoje guardo, com todo o meu amor. Saudades da minha mocidade, dos meus amores, das minhas ilusões, dos meus tempos de colégio, de minha casa, do meu jardim cheio de flores, do meu piano, meu confidente, o meu piano, que escutou tantas histórias de amor,
Saudades da minha Terra, a minha casa, os meus Natais...
----------------------------------------------------------------------
Não posso olhar para a nossa casa, a casa da minha Mãe, sufoco de saudades, e as recordações são tantas! Festas de Natal, os risos das crianças, o cheiro das rabanadas, o cheiro da minha adorada casa. Tantas Páscoas = o compasso!), casamentos,  E, de repente, pela minha cabeça passava a minha meninice, adolescência, as nossas gargalhadas - eramos sete - as repimendas da nossa querida Mãe. "meninas (a minha irm-a Lolita e eu passávamos a vida a rir):não se riam tão alto, não é bonito". Além disso, Muito riso, pouco siso"
Dentro daquelas paredes guarda-se a história das nossas vidas, meus irmãos, minha Mãe, quantas alegrias, quanto amor, e quantas tristezas também!
Parece mentira que tanta história caiba dentro daquela adorada casa, Desci aquelas escadas para me casar na Igreja da minha Terra. Deois, e a história continua, ali nasceram as minhas filhas. Mais risos, mais gargalhadas. tudo se repete. é a nova geração!
--------------------------------------------------

Compasso na minha Terra
Corações cantando almas em flor, flores em casa e no jardim também. Vem o compasso - é Deus , é amor. Pela aldeia fora campaínhas a tocar. Flores desfolhadas e "verde" pelo chão, Aí vem o compasso, aí vem a Cruz a chegar.
Pojeiras onde os criados da minha Mãe iam buscar verdes para pôr no chão - fora do portão, do portão até ao terraço e pelas escadas acima, o percurso que, no domingo de Páscoa fazia o cortejo do compasso.
Alguns anos antes, íamos com a Nucha buscar fetos e verdes ao Barroco. Tão lindo! Era um vale entre a Gândra e Pevidal

Mês de maio

Mês de maio, minha aldeia tão linda,tão florida. Ao entardecer subíamos o Monte Crasto, para as novenas do "mês de Maria". Eu toco o pequenino órgão do coro da capela de Santo Izidoro. no Crasto, a Lolita e outras raparigas, como nós, cantam coisas tão belas!

23-2 - 74   PORTO (um sábado)
Primavera nos jardins, primavera nas casas e nas pessoas, sim, porque entrou também a primavera nos corações de cada um. Minha terra tão linda, estás perdida, mas eu encontro-te, minha raínha. Minha terra  coroada de mimosas, A tua coroa é o Crasto. Sala de visitas das gentes de Gondomar e de tantas outras. Minha terra, berço de todos os meus... Não é a minha vida que vou passar ao papel, -são várias vidas, porque terei de lembrar antepassados e contemporâneos
----------------------------------------------------------------
Oh, meu Gondomar, minha linda terra
Tu que embalaste o meu 1º amor
Porque não levar-te presa nos meus braços
oh, meu Gondomat, para onde eu for?

Encantamento que nunca esqueci
roseiral em flor desse meu jardim
tanta rosa murcha pelo chão caída.
mas tanto botão a abrir para mim...

Gondomar, meu berço, capital do mundo
És a minha casa, és o meu jardim
Foste tu que viste os meus primeiros passos
E irás guardar-me, ao chegar ao fim. 
-----------------------------------------------------------------
Procuro-me e não me encontro
E fico parada assim
A chorar, meu Deus, porquê?
Por ter saudades de mim!
-----------------------------------------------
E o tempo passava
O tempo corria
Eu já não chorava
Apenas sofria

Andava à procura de um sonho vivido
Num lindo castelo entre árvores e flores
Perdida, encontrei-me num mundo perdido
Meus ais, meus queixumes, meus loucos amores.
--------------------------------------------------------------
Gondomar, ponto final
do mundo tão grande assim
Mas para mim e, afinal, 
a terra maior
deste nosso Portugal

Meu Crasto bendito
Mimosas em flor, Minha Terra
Novenas de Maio
quando era menina
Festas de S Izidoro
Música no coreto do Monteiro...
----------------------------------------------
Sonhos meus, audaciosos, inquietantes, insatisfeitos - como eu, uma insatisfeita - sonhos belso de um amor quase perfeito. Mais de uma vez desci o Crasto num voo pleno de graça e leveza. Senti mesmo os pés a levantarem-se do solo e voei acima daqueles queridos pinheirais, eucaliptos e mimosas, voava em direção a minha casa...
Mas fiquei diferente, sim, depois que perdia minha querida filha. Ela era a minha alegria e a minha vida, era minha e roubaram-ma. Fique perdida num deserto, fiquei sozinha, Que me perdoem todos os que ficaram comigo, ficaram muitos, ficámos todos , menos ela. Que me perdoem, mas eu fiquei sozinha.
-------------------------------------
Não sou bonita, nem feia, sou simpática, fui sempre muito simpática (isto não é narcisismo...). É verdade. E fui em tempos, há muitos anos, uma rapariga 
interessante, pequena, bastante pequena, mas cheia de saúde, extuante de vida, vida e alegria, que transbordava por todos os poros do meu corpo. Diziam até que eu tinha muita graça, aquela graça natural de uma rapariga que da vida só queria a vida e nada mais. E o fulcro da vida era o amor. De uma sensibilidade doentia, muito sincera, expansiva e nada egoísta. 
LECAS
Depois de nos faltar uma filha, nunca mais se esquece. Tenta-se viver como se pode, mas o coração está sangrando constantemente e nunca mais se é a mesma pessoa

A minha Mãe e a minha Tia diziam: "Quem muito dorme, pouco aprende (ou seja. é estúpido)
---------------------------------------
A minha Mãe recitava:
Minha terra tem coqueiros
onde canta o sabiá
As aves que cá gorgeiam
não gorgeiam com
-----------------------------------------
12-6-93 ESPINHO
Pmtem fui a Gondomar ao baptizado do António, filho da Ana e do Tozinho. Lindo baptizado, maravilhoso jantar em casa dos pais da Ana em S Cosme.
Qie saudades da minha linda Terra, que saudades da minha Mãe, da minha querida casa, dos meus irmãos todos (quando éramos jovens), do terço rezado à volta da mesa, depois do jantar - as criadas e o criado, à porta da cozinha, a rezar connosco), que saudades de mim, meu Deus! Tantas saudades de tudo, que nem me cabem no coração. E chor, choro, por tudo o que eu tive e perdi. Oh minha terra,(onde se vê o céu), meus verdes campos, meu lindo Monte Crasto.
18-5-93 ESPINHO
Daqui do meu sofá, na minha sala virada para o jardim, a partir da porta larga - de parede a parede - vejo um retalho pequeníssimo do jardim da minha casa (pensando) no jardim da casa da minha Mãe, da nossa querida casa.
O meu jardim, o meu roseiral,, as minhas adoradas rosas, que parecem as nossas rosas, minha Mãe!A trepadeira vermelha que sobe pela parede, junto ao poço, (e tem ao lado uma japoneira) está coberta de flores e todas as outras mais parecem rir-se para mim.

19-8-93, quinta-feira  
UM DIA
Levantei-me às 9/2. Está um dia de sol e calor. O João passou por mim nas escadas e disse: "bom dia" (mais para dentro do que para fora). A Plívia foi às compras de "cara" amarrada, aliás, como anda sempre.
Vou tomar o meu chuveiro e vou ao café, Talvez encontre a Leninha, (que está cá, a passar uns dias no apartamento do pai). Porque aqui em casa, não há conversa. Não há agora, nem houve nunca, só discussões. Sofro muito, mas só Deus sabe porque sofro, nem eu   
27 Set 94
TITA
Hoje tenho-me lembrado todo o dia da Tita, minha querida cadelinha, que morreu há mais de um ano.
Mas hoje vejo-a sentadinha no sofá, tão pequenina (era uma yorshire terrier). Não gostava que ninguém se sentasse perto, queria o sofá todo para ela.
Sabia quando eu estreava uns sapatos, farejava-me os pés.
29 - 3- 95
LENA E DAVID
Gosto de encontrara a Lena e o David (ao domingo), em casa do Mário. Já vamos tendo tão pouco tempo para nos encontrarmos, munha querida irmã. temos de aproveitar as ocasiões que se proporcionam para nos vermos. Está a aproximar-se a Páscoa. Que saudades das nossas Páscoas, na nossa casa, que saudades do compasso (com a nossa Mãe, claro), nós, todos or irmãos reunidos, as minhas adoradas filhas, os meus sobrinhos,, os namorados deles, as 
criadas na cozinha, o cheiro dos cozinhados,o saudoso cheiro bom da nossa casa, que cheirava sempre a flores, o nosso jardim, aquele paraíso, como a minha mãe dizia

LECAS
Minha Lecas, minha filha, a coisa mais linda que eu fiz e criei, na minha vida. Nem as rosas, as flores do meu jardim. Minha querida filha, valeu a pena viver e sofrer, só para te ter, a ti.
Tristes prenda sque te dou, minha adorada filha, padre nosso e flores. Tu que gostavas tanto de vestidos, de sa+patos, de pequenos chocolates.

ESQUEMA de BIOGRAFIA 4 partes
1ª - nascimento e vida em família
2ª internamento no colégio
3ª regresso a casa aos 18 anos: namoros
4ª  - casamento e peripécias seguintes

(quem não se enfeita, por si se enjeita)