sexta-feira, 28 de agosto de 2020

MÃE DITOS E ESCRITOS I e II

DITOS E ESCRITOS DA MARIA ANTÓNIA AGUIAR RECORDANDO, A 28 DE AGOSTO DE 2020 UMA MENINA DE GONDOMAR 1925 VILA MARIA Pais e meninos na varanda.jpg A pequena Maria Antónia, excelente aluna a História e a Geografia, sempre muito dada a recolhas de natureza cripto-etnográfica, (no que terá sido influenciada pelo exemplo da Tia Rosaura de quem também se conhecem apontamentos soltos sobre mezinhas e rezas das mulheres do antiquíssimo Gondomar, anotou os lugares, que faziam os seus encantos - o Barroco, a represa de Cascaneira, entre a Gandra e Ramalde, Bouça Cova, Azenha, Ermentão, Rio Carreiro, Fontela, Ponte Real, São Miguel, Pevidal, Santo André... E, também, expressões, nomes e alcunhas, que lhe despertavam a curiosidade, como Pojeiras,Restivos, Cabaças, Jeque-Jeque,Tarré Fome Negra, Caga Troços, Carriças, Pilha Galinhas,Patacas, Pirabeca, Arregalados, Folhetas, Estabões, Bagulho,Parraxila, Chasco, Varetas, Melros, Pisco, Choco, Pimpão, Pinguinhas, Pombalinos, Toca- certo (um músico, evidentemente)...... Menos invulgar o nome de Isidro Izidoro, que, todavia, fez história, quando deixou dito que, nas exéquias, queria levar um cravo vermelho na lapela. Era ela uma criança, mas conseguiu que a levassem a vê-lo. A Maria Póvoas, fez-lhe a vontade, às escondidas da família... VERSOS PARA GONDOMAR 1930 aprox postal de GONDOMAR.jpg OH, MEU GONDOMAR Oh, meu Gondomar, minha linda terra Tu que embalaste o meu 1º amor Porque não levar-te presa nos meus braços Oh, meu Gondomar, para onde eu for? Encantamento que nunca esqueci Roseiral em flor desse meu jardim Tanta rosa murcha pelo chão caída. Mas tanto botão a abrir para mim... Gondomar, meu berço, capital do mundo És a minha casa, és o meu jardim Foste tu que viste os meus primeiros passos E irás guardar-me, ao chegar ao fim. 1933 MÃE.jpg Procuro-me e não me encontro E fico parada assim A chorar, meu Deus, porquê? Por ter saudades de mim! À CONVERSA SOBRE O TIO ALEXANDRE (conversa comigo, a 7 de fev de 2012) "Já atravessaste os Pirinéus?" Disse que sim. Continuou:"E paraste em alguma aldeia?" "Que me lembre, não; talvez, não sei..." Era para saber se eu tinha visto artefactos de lã dos Pirinéus. Depois, falou dos Xailes de lã (dos Pirinéus, certamente), que o Tio Alexandre lhe ofereceu, durante um passeio pelo Porto. Um era cor-de-rosa, comprado numa loja dos Clérigos, na Rua dos Lóios. Outro beije. A Tia Lola não quis nenhum e ela aproveitou o que devia ser para a mana Ambas iam com ele, muitas vezes, à baixa da cidade. No verão lanchavam sempre na Brasileira. Mandava vir enormes pratos de bolos e insistia: "Comei os bolos todos!". Nas outras estações, às vezes, gostava de ir a um pequeno café, na esquina em frente à Brasileira, na rua que vai dar à Av dos Aliados, ou a um outro, junto à Igreja dos Congregados. Ótimo, até tinha música! Descia-se para a rua por um pequeno degrau. O Tio era um homem encantador, nessa altura, já de meia idade. Em novo, dizia a sobrinha, "era muito bonito, parecia o Gregory Peck" UM ZEPPELIN EM GONDOMAR ( relato recolhido no início de 2019) Já a guerra tinha terminado, quando, em pacífico voo turístico, um enorme avião, diferente de tudo quanto se conhecia, atravessou os céus de São Cosme, sobre o Monte Crasto. A aparição foi olhada com pasmo e emoção. Segundo a Mãe, testemunha visual, parecia um gigantesco melão voador! Estava no quarto e a criada foi buscá-la, aos gritos - uma a quem chamavam "Maria nariz de pau". Correu para a varanda que ficava à saída da cozinha, ainda a tempo de se extasiar com o espetáculo - aquela "coisa" estranha, que avançava, lenta e majestosamente, como as suas dimensões e peso permitiam, Um prodígio, como gorga baleia que voava feita pássaro. Era meio dia. Para além da providencial Maria nariz de pau, não se recorda se a mãe e alguns dos irmãos partilharam com ela a singular experiência. Talvez não. Mostrei à Mãe as maravilhas da internet, Procurei em Zeppelin e logo apareceu a precisa imagem do que ela vira numa manhã dos anos quarenta. Lá estava, tal qual ela o descrevera... Não tinha uma máquina à mão para fotografar o momento... . COM AMÁLIA NO CAFÉ RIALTO e VIRGÍLIO TEIXEIRA NO PRAIA GOLFE A Mãe e a Tia lola adoravam a Amália, cantavam as suas músicas constantemente - não tão bem, porque isso é impossível, mas muito bem. A primeira vez que a viu, de perto, foi no Café Rialto, lindíssima, vestida de preto... Muitos anos mais tarde, falou com ele, várias vezes ao telefone, quando ela estava em casa do primo e nosso amigo Dr Seabra da Veiga, cônsul de Portugal em Connecticut - um home engraçadíssimo, muito parecido com o tio Zé, em feitio e até fisicamente, com uma diferença: vestia-se sempre muito bem, muito chique... Virgílio Teixeira, o famoso ator, um dos homens mais belos que jamais vieram ao mundo, e um amigo maravilhoso que fiz nas lides da emigração estava em Espinho Espinho, em março de 1995, no Congresso Mundial de Mulheres Migrantes. Em nova, achava-o tão bonito que andava com uma retrato dele (colecionava postais de atores dessa época) na carteira, quando não o deixava debaixo do travesseiro, Depois de casada, apesar de guardar numa gaveta a fotografia, tanto o gabava que marido chegava a sentir ciúmes (antigamente tinham ciúmes por tudo e por nada.. na minha geração já não era assim, sempre considerei normal que o meu "ex" tivesse uma paixão cinéfila por Catherine Deneuve, e ele que eu sentisse o mesmo por Gérard Philippe ou Paul Newman).... Virgílio estava com a sua simpática mulher Vanda, a Mãe também com o marido e conversaram e riram, animadamente... 1995 Espinho Pais V Teixeira e eu.jpg UM CASAL DE CINÉFILOS O cinema, nos anos, 40, 50, 60, fazia parte da vida. Ir ver um filme numa sala bonita, (São João, Batalha, Rivoli...) era um ritual que pontuava a semana, como lanchar na Ateneia ou na Villares, tomar um café no Guarani, no Imperial, Estivessem em Gondomar ou em Avintes, o centro da animação era sempre a cidade do Porto. Era lá que tudo acontecia. De tarde, a sétima arte era só para as senhoras (os homens trabalhavam...). A Tia Lina era uma companheira constante. Quando gostava do espetáculo repetia. No São João viram juntas a Madame Butterfly três vezes! À noite, geralmente ao sábado, o acompanhante era o marido. Ambos muito chiques, como então se usava, visto que havia dois intervalos, ocasião propícia de olhar e comentar "toilettes". A Mãe punha os seus óculos escuros (muito graduados), mais uma extravagância, pois na altura. ninguèm mais o fazia e, nem era muito prático, suponho, pois veria, no ecrã, as imagens escurecidas... Mais difícil era a conciliação de gostos. Ele tendia para filmes de ação, de guerra, westerns", policiais. Ela adorava comédias, Cantinflas, Doris Day. Talvez o ponto de consenso um bom drama, com os grandes nomes de Hollywood. Havia tempo e ocasião para alternarem os géneros. Começavam a noite, antes do filme, sempre num café, onde ele bebia mesmo café e ela um "peppermint" e no café, de novo, terminavam o serão, antes do regresso a Gondomar (ou a Avintes, onde também passavam temporadas).. Depois, quando a Lecas e eu tínhamos 6, 7 anos, levava-nos, às vezes, a "matinés". E eu tive de suportar as comédias do Cantinflas, que já dessa tenra idade, considerava excessivamente "infantis" - habituada que estava a ir ao cinema com o Avô Manuel assistir a espetáculos sérios, incluindo westerns e operetas, tão do agrado desse querido avô, o mais cinéfilo de toda a família.... OLD FRIENDS Falava-se do ISCTE, do seu aniversário, e a Mãe relembrou os tempos em que o Pai ali estava a terminar o seu curso de sociologia, em que ela o acompanhava em frequentes idas a Lisboa. Aos voluntários do Porto os professores davam, também como "voluntários" (noutro sentido). aulas especiais nos fins-de-semana e enquanto o pai assistia às aulas, de vez em quando, a mãe combinava um encontro com o velho amigo Maestro Fernando Marques Ribeiro. Para falarem dos tempos da juventude e daquele romance interrompido para sempre. Se o pai ia diretamente do ISCTE para minha casa, o Maestro levava-a de carro à Av do Uruguai. Nunca contou nem a marido nem a filha. Que pena! Eu gostava tanto de o ter conhecido! Impossível no caso de Celina, desaparecida anos antes do casamento do seu viúvo com minha Mãe e tão fácil no caso do Maestro, que, então, vivia em Lisboa, como eu... Assim, tal como Celina, Marques Ribeiro é uma imagem guardada num retrato. Mais uns fragmentos de histórias que fui recolhendo.. 1940 aprox Marques Ribeiro pianista.jpg1950 aprox JFernado Marques Ribeiro.jpg 1935 Celina VIANA carnaval.jpg .Celina Viana, a primeira mulher de meu Pai, em época de Carnaval Carnaval QUERIA SER ATRIZ OU PIANISTA O seu sonho de ser pianista ou atriz, não se concretizou...Os únicos palcos que pisou foram os do Teatro Nuno Álvares de São Cosme.E, pelos anos fora, atraiu com as suas canções, as suas histórias e as suas benignas excentricidades, a família próxima, um grande número de sobrinhos netos e bisnetos. Curioso é que até o seu dentista, o Dr Morris, um dia, sem saber dessa ambição secreta. lhe disse: Devia ter sido atriz. Vê-se mesmo que tem jeito!" Até na cadeira do dentista representava bem a sua personagem. "tem a certeza de que isto está limpo? Não usou essa agulho nos dentes do anterior?" E o Dr Morris, simpático e bonito odontologista respondia: "Claro que sim, serve para todos e nunca é limpa!" A Maria Antónia gostava de médicos bonitos. E foi tendo vários, ao longo da vida, o anterior dentista, do Porto, o Dr Figueiredo, o Dr Guimarães, o cardiologista...Até no hospital de Gaia, um mês antes de morrer, o neurocirurgião era um rapaz alto, loiro, de expressivos olhos azuis. E o motorista do táxi que nos trouxe para casa, também. Ao Doutor tratou-o por tu, começando por perguntar "És meu sobrinho?" Quando ele veio falar comigo, para lhe dar alta, informando que o TAC estava perfeito, disse-me: "Está muito bem. Só achei um bocadinho confusa, porque me julgava um sobrinho! Esclareci que não era assim tanto anormal, pois era senhora de muitos sobrinhos, alguns médicos, (sendo certo que os médicos não me parece que tenham olhos azuis) . Mas confusão não era - talvez, sim, uma maneira de fazer conversa com um jovem interessante, que poderia ser, mas não era, da família. 1950 VILA MARIA O PIANO.jpg O piano da sala de visitas da Vila Maria, onde todas as meninas tiveram aulas de piano (conversa a 1 de agosto de 2012) O Colégio da Esperança, nunca foi para as manas Mariazinha e Lolita, um lugar de boa esperança - tudo o que queriam era fugir de lá. No 1º anos, passaram o tempo a arquitetar planos de fuga, nunca concretizados... De boa memória é, contudo, a sala de piano do colégio! A Profª Margarida Portela, que era uma extraordinária executante, considerava-a uma aluna especial, uma futura grande pianista, e ofereceu-lhe as valsas de Chopin, com uma dedicatória. A Mãe deu-as à única pianista da família na nova geração, a Sameiro, mas esqueceu-se de copiar a dedicatória,e tinha muita pena desse esquecimento. Nas festas, as pianistas eram sempre a Mãe e a Amélia Moreira, de Avintes - chegaram a tocar a quatro mãos, Amélia morreu jovem, vítima da tuberculose, como a Celina. Foi a costureira da terra, que conhecia a mãe da Amélia que quis e conseguiu que se encontrassem, A senhora pediu-lhe que tocasse no piano, que estava fechado desde a morte da Amélia. Parece que a c. Ah, um pormenor: a professora era muito bonita e tal como a Mãe, muito míope... Outras memórias do mesmo lugar: Aí lhe roubaram-lhe uns brincos muito bonitos, dados pela Tia Rozaura. E ela até viu, a rapariga a mexer nas suas gavetas, mas hesitou. Depois, a Miriam, que também era amiga da ladra, pediu-lhe que não a denunciasse. E, assim, nunca mais recuperou os brincos... Há outro relato de um roubo de brincos, com especial valor afetivo, porque tinham pertencido à Tia Glorinha. Não foram achados, mas a ladra foi chamada à diretora e expulsa. Esteve lá apenas no 3º ano do Liceu e, no dormitório ficava ao lado da Mãe, Do outro, estava uma grande amiga a Fernanda Malen (que viria a ser freira). Anos mais tarde, numa reunião de antigas alunas, a Mãe encontrou a ladra. Talvez tenha sido nessa ocasião , tantas décadas depois, que a Miriam lhe pediu que fizesse silêncio sobre o escândalo.antigo . faz mais sentido... Os dormitórios estavam separados pela sala de piano. O das mais pequenas completamente aberto, sem cortinas. O das maiores com a privacidade relativa de cortinas que podiam fechar-se . As irmãs ficavam sempre juntas e era aí que planeavam escapadelas e partidas, falando baixinho.. 1935 tia lola f14 mae colegio.jpg Em 1937, já quase a sair definitivamente da clausura, as duas irmãs, à frente. Eram conhecidas, entre as colegas, como "os galos doidos" Imagina-se porquê . FORMATURA DA MARIA DO SAMEIRO Deu-te Deus essa fé determinada Dos que sabem seus sonhos realizar Que nasce em ti, em cada madrugada, A Estrela que brilha em teu olhar Esse teu ar esbelto e elegante Esse andar airoso de gazela Teu olhar sereno e confiante Sejam eco da tua Boa Estrela Espinho, Março 1988 RESPOSTA A NITA verão 1978 E das arribas do mar agradeço a atenção Bem quis logo responder, mas não tinha a direção 23 - 8 - 79 O postalzinho da "praxe" cá chegou, muito obrigada Agora espero a visita Dessa minha "sobrinhada" (Para a Nita, Sameiro, Rosário, Lisa e Paulo) 1982 A saudade quando veio veio mesmo para ficar aqui no meio do peito, fazendo rir e chorar Saudade fica comigo, porque já me acostumei Não fujas de mim saudade - de uma vida que te dei --- Eu tinha umas tranças loiras E tão loiras eram elas passando em campo de espigas eu parecia uma delas. Saltando muros e leiras Na pressa com que corria Voaram as tranças loiras E só por isso me ria --- Perverso, inconstante mar revolto como o meu ser Vagas em fúria na procela tenebrosa Ao longe o meu olhar perdido na imensidão deste mar revolto Vem-me a lembrança daquele louco amor que agora é minha solidão Pediste ao mar para me falar de ti ou Ao longe, o meu olhar perdido na imensidão deste mar em fúria, revolto como eu. Vem-me à lembrança aquele louco amor que enche agora a minha solidão O 1º ENCONTRO DOS MEUS PAIS, CONTADOS PELA MÃE 13 de outubro. Um dia de chuva e frio para a missa nova do Padre Eduardo Pinheiro na capela do Monte da Virgem. Levava um casaco comprido cor de rosa (feito por uma modista de alta costura do Porto. Foram numa camionete de excursão, guiada pelo Sr Coelho, um homem simpático, cujas filhas estudavam no Porto, e que era sempre o escolhido nas peregrinações organizadas ao túmulo de Frei Bernardo pela Senhora Dona Maria Aguiar - e a quaisquer outras, Com a lotação esgotada, partiu a camionete do Sr Coelho para o Monte da Virgem A mãe suspeita que o seu 1º encontro com o jovem viúvo João Dias Moreira não foi inteiramente casual, Uma tia materna da Nucha e da Lucinda Aguiar, (sua madrinha, casada com Homero Figueiredo, que foi dono de farmácias no Porto e em Avintes e, depois, em países do sul da América, do Brasil ao Peru), Arminda de Sá era, em simultâneo, amiga de Olivia Capela, mãe do João, e de Maria Aguiar, a mãe da Mariazinha, que já trocavam correspondência e livros religiosos. Morava em Avintes, perto da amiga Olívia e da farmácia de Homero, (junto à Escola do Magarão), e visitava, muitas vezes a casa da Gandra do tio Augusto Aguiar e de sua irmã Leonor. .Estavam há pouco na capela, quando chegou o grupo de Avintes, com o viúvo e a mãe. A excursão de Gondomar ficou no fundo do templo, enquanto ele, o eventual viúvo e um amigo alto e moreno estavam junto ao altar.. Na verdade, um era loiro, o outro moreno e a Mãe não sabia qual era o João...No fim da missa, enquanto as senhoras mais velhas se dirigiam à sacristia para os cumprimentos, os jovens saíram para o adro. A Mariazinha distanciou-se, foi ver de perto um cruzeiro, subiu os degraus de pedra e para ler as inscrições gravadas na pedra e ouviu uma voz que lhe perguntava: "Boa tarde, dá-me licença? Olhou para trás - era ele, o jovem viúvo, o loiro... (tão atraente como o moreno!...). Pedia licença para lhe oferecer uns soquinhos- miniatura de couro, ligados por um fio de prata. Sorriu e aceitou. Ele tinha acabado de os comprar num lojinha que vendia, terços, imagens religiosas e artesanato. E assim começou a conversa, Contou-lhe que no dia seguinte ia para Lisboa com um primo, o António, visitar a Exposição do Mundo Português. A conversa, porém, teve os seus momentos críticos. Quando ele lhe perguntou a idade ele quis saber: "Que idade me dá?". Não se sabe porquê, talvez por a ver tão magra e pequenina, caiu na tentação de brincar, interrogando: "15 anos?". Mariazinha não achou graça nenhuma e quando ele lhe fez a mesma pergunta, sobre a idade que aparentava, disse-lhe: Não sei... Talvez uns 35..."". Ela tinha 20, ele 22... Logo depois, falaram de música, ela tocava piano, ele violino e o tom cordial foi recuperado... As apresentação formais das minhas (futuras) avós Maria e Olívia foram feitas pela amiga Arminda e a conversa até à hora de partir não foi longa, mas animada e teria continuação.... De Lisboa, João enviou um soneto à bonita menina de Gondomar e,.seguidamente, uma carta atrás de outra. A Avó Maria estava sempre atenta à chegada do correio. Era ela quem abria as cartas, Li-as e só depois as entregava às filhas. Nunca teve de censurar as dele, quase sempre acompanhadas por sonetos românticos, que agradavam a mãe e filha. Um rapaz exemplar, bem comportado, muito religioso, de família conhecida (e abastada), filho único.... Perfil perfeito para um genro! A jovem Mariazinha gostava dele, mas não lhe agradava namorar com um viúvo. Em conversa com a Tia Rozaura, desabafou: " Ó Titia, um viúvo...não quero!". E a tia, avisadamente respondeu-lhe:: "Não te importes. De facto, todos os homens são viúvos. Antes de casar connosco, andaram com outras mulheres. quer estejam vivas ou mortas". Passado pouco tempo, ele telefonou. Na altura, só a irmã Carolina tinha telefone privado. Chamou-a lá a casa e puderam falar, combinando um encontro, que aconteceu prontamente.. E ele passou a aparecer, com frequência. Às 3.00 da tarde, a hora do Terço, ia diretamente para a Igreja, e, depois, acompanhava as senhoras à Vila Maria e ficava a conversar com a Mariazinha no terraço. A mãe entrava e ficava lá dentro, não aparecia mais, mas mandava a Lolita atravessar, de vez em quando, a sala de jantar, que tinha portas largas e vitrais para o terraço... Ao fim da tarde, ele regressava como tinha vindo, a pé, pelos caminhos da Gandra e São Gemil, até Gramido, onde atravessava o Douro, de barco, para Avintes. Anos depois, contou à Mulher que se ela lhe tivesse dito "não" junto ao Cruzeiro do Monte da Virgem, tentaria uma de outras duas jovens presentes, a mana Leninha ou a Teresa "da Pinta" - uma de várias irmãs, todas bonitas, que viviam numa das grandes casas de lavoura de São Cosme. No verão de 1941, a agenda habitual de férias levava a família Aguiar para a Foz e as termas de Vizela, e a família Moreira para Espinho, onde tinham casa de praia na rua 7. Nesse ano, porém, a Leninha estava a recuperar de grave primo infeção e os médicos recomendaram uma longa estadia no campo. Passaram o verão em Branzelo. numa quinta de amigos (Novais da Cunha?), um casarão enorme, e convidaram os primos do João, Alda, Manuela e Maria Helena Capela. O João, também, aos fins de semana. Conviva constante era um Rangel, que morava numa quinta próxima, e que, apesar de ser um pouco mais velho, alinhava bem este grupo numeroso. Não faltava pessoal doméstico, os caseiros da quinta, e as filhas, eram muito prestáveis. Em fins de outubro, estiveram todos numa desfolhada de lavradores... O romance entre Mariazinha e João progredia, e ritmo mais intenso - ficaram noivos e casaram pelo civil a 1 de novembro (continuando nas casas paternas) , e a 15, "a valer", pelos critérios familiares muito católicos, pela Igreja. 1941 Pais Branzelo verão .jpg1941 Mãe T Lola amiga Branzelo agosto .jpg 1941 Pais em Branzelo verão.jpg1941 Pais passeio 14 julho (1).jpg 1941 Pai (restaurada).JPG1941 Mae out.jpg 1969 - A VISITA A PARIS - o diário 2ª feira Em frente à "Cité", à cidade universitária, fica o belo Parque Montsouris, onde fui com a Manela, atravessando o Boulevard Jourdan, De metro, seguimos para o "Quartier Latin", - jardins do Luxemburgo, Panthéon (onde está sepultado Voltaire, entre outros grandes vultos franceses). Almoçamos rapidamente num self service, Wimpy, , mesmo em frente ao Luxemburgo, e descemos Saint Michel, a ver montras, Atravessamos as lindas pontes do Sena, visitamos a catedral de Notre Dame, passámos pela Câmara de Paris, pela Conciergerie, a Tour de Saint Jacques. Tomámos o metro no Chatelet, com os seus longos corredores rolantes. Viemos para a Cité, às 4.00 a Manela fez um chá. Voltamos ao Parque Montsouris. Fiquei junto do lago dos cisnes, enquanto a Manela foi comprar pão, queijos e vinho - um bom jantar (como eu gosto).no quarto dela. Ela foi ao cinema com a Laura, eu preferi ficar no quarto a ler. 3ª feira Fui a Vincennes no carro da Eduarda. A Manela e ela têm trabalhos das 9.00 ao meio dia. Eu estou sentada no bar da Universidade à espera.que voltem. Acaba de se sentar na minha mesa um velhote, sem pedir licença, a tomar uma bebida qualquer. A Manela está a fazer um exame (especializou-se em Direito do Trabalho e eu no bar, em conversa com os "colegas" (chamavam-me colega), num francês horroroso, como o Mário Soares, metade francês, metade português, e até com certas palavras em inglês. Enfim, a Manela ficava furiosa, quando me ouvia falar assim. E, quando a Manela estava a fazer o tal exame, eu, já farta de de passear no jardim (a Universidade tem um jardim enorme), depois de ter estado no bar, encaminhei-me para aqueles grandes corredores e vi a Manela, numa sala, a falar com um homem. E eu, cá de fora, (vamos indo que não entrei) a apontar-lhe o relógio, a fazer-lhe ver que era tarde .vamos embora! Enfim , ela nessa altura não andava tão irritada como agora e, quando me disse que estava a fazer um exame, até nos fartamos de rir. Passámos pelo Bosque de Vincennes e almoçamos em casa. Saímos para o centro de Paris com a Eduarda, que foi ao médico, Estou sentada numa esplanada, junto à Ópera. A Manela e eu viemos, a pé, pelo Boulevard de la Madeleine. Uma das zonas chiques de Paris, Entrei na Igreja da Madeleine, onde a Manela me tirou fotografias, Mais fotografias, adiante, junto ao Maxim's, na Praça da Concórdia. Na viagem para a Cité, há partes em que o metro é aéreo, passei à vista da Torre Eiffel. Fiquei no quarto da Manela, na Casa de Portugal, e ela foi para a Casa britânica., onde havia um quarto vago. 4ª feira Fomos visitar a Torre Eifel, tomamos umas bebidas num bar agradável, no 1º andar, com uma vista lindíssima, sobre o Champs de Mars, que de cima parece uma passadeira gigante, o Palácio de Chaillot, os telhados da cidade e,ao longe, o Sacré Coeur. Daí fomos até à margem do Sena e demos um maravilhoso passeio de barco, de cerca de uma hora. Passámos pela ilha de São Luís, pelos bairros mais bonitos de Paris, onde mora a Brigitte Bardot, Saímos do barco e subimos os Campos Elísios. Havia grandes manifestações. Acho que que por causa da tomada de posse de Pompidou. Os polícias, aos magotes, todos engalanados, e uma bandeira enormíssima, no Arco do triunfo. Qs Campos Elíseos são um encanto! À noite, fomos de carro, com o Padre Micael e o Engº Pires a Montparnasse, belos restaurantes, boites" e cafés, onde se reúne a boémia mais selecta. Lindas "boutiques" em Sèvres Babylone e o contraste dos talhos de Halles, que abastecem de carne a região parisiense. Demos a volta à Concorde, à noite tem mais encanto, assim com a Torre Eiffel iluminada e o Palácio de Chaillot, ou os Campos Elísios. Parámos no carro mesmo em baixo do Arco, com a sua gigantesca bandeira o facho a arder, e as enormes coroas de flores, azuis, brancas e vermelhas, em honra dos mortos de Guerra. Cenário especialmente solene, na altura da posse do Presidente Pompidou. Continuamos para Montmartre, Sacré Coeur, estivemos junto a várias "boites", a de Patachou e outras. Que ambiente, com grupos de músicos, artistas a pintar as suas telas nas ruas, muitos turistas, muita animação. Atravessámos Pigalle, "boites" mais duvidosas, o Moulin Rouge e o Lido. Chegámos à Cité depois da 1 hora 5ª feira Constipei-me, não pude sair à rua. 6ª feira De manhã, ainda fiquei em casa, almocei no quarto. Disse-me agora uma amiga da Manela, que ela andava no corredor às 9.00 da manhã, para não me acordar. À tarde, fomos às Galerias Lafayette, onde andámos horas,. Vimos o Maurice Chevalier, que estava a autografar um livro seu. As Galerias são um mundo gigantesco, com escadas rolantes, que subimos e descemos. Fizemos algumas compras. Fomos, depois, ao mesmo bar onde já tinha estado, perto da Ópera, quando a Manela foi ao famoso otorrino Tirou-me várias fotografias, Tomámos um autocarro já em andamento, o revisor, um preto enorme, segurou-me, mas rasguei a saia... sábado Saímos às 10.00 com a Laura e a Isabel, e tiramos muitas fotografias nos jardins da Cité. De metro, para o Luxemburgo, todas a ver as montras e a fazer compras nas boas lojas do Quartier. com uma pausa para almoço rápido num restaurante de Saint Germain, A pé para a Sainte Chapelle, com os seus vitrais lindíssimos, do teto até ao chão. Andámos num supermercado, como aqueles que se vêem nos filmes. à noite, a Manela foi revelar fotografias para um laboratório com o Padre Mário até à meia noite e eu estive no quarto a conversar com a Laura. Domingo Levantamo-nos cedo. A Manela continua a revelar as fotografias com o Padre Mário, Ás 11.00 a Laura, a Manela e eu fomos ver um filme erótico (na realidade pornográfico - só mulheres nuas e striptease, pretendia ser uma comédia). Saímos a meio. Almoço rápido num self perto do cinema e, depois, foi tempo de cultura. Longa visita ao Louvre, Mona Lisa, Vénus de Milo, Vitória de Samotrácia. pirâmides do Egipto, um túmulo autêntico de Faraó... Chegámos à noite à cité e fomos jantar as três e mais a Eduarda a Gentilly num restaurante, Passámos ao sítio onde existiu a casa da M.me Curie (já demolida) 2ª feira. Dormimos as duas no apartamento. Estivemos em arrumações,. Encontrámos uns escritos do Padre Mário, dentro de uma revista. Estivemos, de novo, em Gentilly, em frente à Casa de Portugal. Fomos a um café, onde a Manela respondeu a uma carta do Manel, que tinha recebido. Acabámos por almoçar num bar da Cité. A Eduarda levou-me de carro até à estação de Austerlitz. A Manela ficou e vai esperar pela Docas, que chega às 5.00 de comboio Na carruagem em que vou está o actor Jean Pierre Casset, mas no meu compartimento são 4 velhos, que já estão a dormir. Dois portugueses quiseram meter conversa, mas não estive para os aturar. Em Bordéus, entrou uma canadiana, muito simpática, conversámos (mal) em francês. Em Irun, atrelei-me ao 1º grupo de portugueses. Vim numa carruagem, que o carregador espanhol me arranjou. - despediu-se, estendendo-me a mão - com um dinamarquês (muito chique), com uma filha de 12 anos. Falámos francês, e à noite, fartamo-nos de rir, os três, porque avariamos uma das cadeiras para fazer cama. Na fronteira, não me abriram mala nenhuma e Vilar Formoso, nem à ida, nem na volta.. Os portugueses que entraram em Paris, foram mandados para a 2ª classe. Em Irun, tornaram a entrar na 1ª, com mais très, de botas grossas e linguagem ordinária, filho da p---, etc. O que vale é o dinamarquèss não entender 1969 MÃE Paris 17 junho.jpg 1969 Mãe em Paris.jpg 1969 MÃE em Paris N Dame.jpg LECAS Depois de nos faltar uma filha, nunca mais se esquece. Tenta-se viver como se pode, mas o coração está sangrando constantemente e nunca mais se é a mesma pessoa... Em noite longas de dor e sofrimento. meus olhos já cansados de chorar Eu peço a Deus que me dê alento E me deixe contigo conversar A minha adorada, minha confidente, Conversei contigo, solucei meu pranto, De saudade infinda, que no peito trago A noite inteira falei e tu falaste Compus outrora poemas desmembrados sem conseguir dizer o que queria mas agora, passados muitos anos. a sós contigo (já conseguiria?) (Para a Lecas) Minha adorada, luz da minha vida A noite inteira conversei contigo Num pranto de saudade infinda destruí minha alma Sonhos meus, audaciosos, inquietantes, insatisfeitos - como eu, uma insatisfeita - sonhos belos de um amor quase perfeito. Mais de uma vez desci o Crasto num voo pleno de graça e leveza. Senti mesmo os pés a levantarem-se do solo e voei acima daqueles queridos pinheirais, eucaliptos e mimosas, voava em direção a minha casa... Mas fiquei diferente, sim, depois que perdi a minha querida filha. Ela era a minha alegria e a minha vida, era minha e roubaram-ma. Fique perdida num deserto, fiquei sozinha, Que me perdoem todos os que ficaram comigo, ficaram muitos, ficámos todos , menos ela. Que me perdoem, mas eu fiquei sozinha. 1962 MADALENA foto para retrato de NORBERTO .jpg1960 LECAS .jpg 2020 Madalena - oleo de Norberto.jpg RETORNO AO PASSADO EM GONDOMAR Agora, recordo a chorar as pedrinhas da calçada que já não volto a pisar... Ainda tocam trindades na Igreja de São Cosme. Ouvi tocar a primeira carreira para a missa das 7, uma hora antes da missa. !/4 de hora antes, 2ª carreira e, depois, o toque para a missa. Fez-me muitas saudades, ouvir tocar para a Missa. Pareceu-me ouvir a voz da minha mãe a dizer: "Meninas, vamos embora, já tocou a segunda carreira". Tenho saudades de pedir a bênção à minha Mãe e minha Tia... VILA MARIA Apesar de sentirmos a falta do nosso Pai, eu e os meus irmãos éramos felizes e não sabíamos. A única falta nas nossas vidas (ainda tão jovens) era aquele lugar na mesa da grande sala de jantar, o do Papá (como a nossa Mãe dizia) ocupado, então, pelo meu irmão António. FÁTIMA 1990 MÃE Fátima lugar das aparições 29 abril.jpg Agradeço à Nossa Senhora A VIDA Fátima, 26-4-86 Agradecer, agradeço esta paz diferente, que sinto em Fátima, como se fosse, em cada ano, a primeira vez. E, neste constante turbilhão de sentimentos, que me invade, sinto-me, aqui em Fátima, mais benevolente e compassiva, são só três dias de "tratamento", mas já é bom para o meu espírito cansado e atormentado. Parece que renasci, aqui, hoje. Fátima, 27- 4 - 89 (A MANELA) Corria veloz. cheia de energia ceifando flores do belo jardim. Protestos e ralhos. Como elea se ria... São minhas as flores, são todas para mim... Manelinha, mas isso é maldade, dizia-lhe alguèm, decerto era eu. Intervinha a Avó, ar de cumplicidade, São dela, claro, foi Deus que lhas deu É muito inteligente, não precisas ralhar Um anjo a menina e só eu a entendo. Só a Avó a sábia levar... E aquele anjo, menina vestida de anjo, de asas partidas, cabelo em desalinho, laçarote perdido, ia para a procissão Eu peço a Deus para te acompanhar O tempo vai passando e a saudade fica connosco pela vida fora 1947 eu na procissao anjo amarelo.jpg1948 Avo Mae e eu.jpg NOS 50 ANOS DA MANELA Tempestade traz bonança o passado traz saudade, a vida é sempre esperança, busca da felicidade Passa um ano, entra a saudade mil beijos para ti, meu bem a maior felicidade te deseja sempre a mãe Espinho, 8-6-92 1992 Meus 50 M Carmo Mãe eu T Lola Sameiro.jpg SAUDADES Saudade, palavra amarga e doce. Saudades da minha linda terra, S Cosme de Gondomar, onde imperam os grandes artistas de filigrana de ouro. Saudades do meu Monte Crasto majestoso, donde em noites de luar (esse luar ímpar das noites de Natal, que eu guardo na minha memória e recordo comovida), se abrangia toda a minha terra, banhada de um manto de prata. Saudades daquela prenda do menino Jesus, que a minha querida Mãe, com tanto carinho, pòs debaixo do meu travesseiro: uma linda pulseira de prata, toda feita de margaridas, que ainda hoje guardo, com todo o meu amor. Saudades da minha mocidade, dos meus amores, das minhas ilusões, dos meus tempos de colégio, de minha casa, do meu jardim cheio de flores, do meu piano, meu confidente, o meu piano, que escutou tantas histórias de amor, Saudades da minha Terra, a minha casa, os meus Natais. 1930 Monte Crasto Avó Maria e filhas.jpg De todos os sentimentos humanos, nenhum mais natural do que o amor pela Terra, pelo vale, ou pelo bairro onde crescemos. A nossa Terra aviva-nos as recordações mais familiares (íntimas), mexe com as nossas emoções mais profundas. Tudo o que faz parte dela, pertence-nos, em alguma medida, e, decerto forma, nós fazemos parte dela também, tal como a folha pertence à árvore. Saudade, palavra amarga e doce. Saudades da minha linda terra, S Cosme de Gondomar, onde imperam os grandes artistas de filigrana de ouro. Saudades do meu Monte Crasto majestoso, donde em noites de luar (esse luar ímpar das noites de Natal, que eu guardo na minha memória e recordo comovida), se abrangia toda a minha terra, banhada de um manto de prata. Saudades daquela prenda do menino Jesus, que a minha querida Mãe, com tanto carinho, pòs debaixo do meu travesseiro: uma linda pulseira de prata, toda feita de margaridas, que ainda hoje guardo, com todo o meu amor. Saudades da minha mocidade, dos meus amores, das minhas ilusões, dos meus tempos de colégio, de minha casa, do meu jardim cheio de flores, do meu piano, meu confidente, o meu piano, que escutou tantas histórias de amor, Saudades da minha Terra, a minha casa, os meus Natais... 1931 MÃE na Vila Maria.jpg 1928 AVÓ MARIA e família Villa Maria (1).jpg Não posso olhar para a nossa casa, a casa da minha Mãe, sufoco de saudades, e as recordações são tantas! Festas de Natal, os risos das crianças, o cheiro das rabanadas, o cheiro da minha adorada casa. Tantas Páscoas = o compasso!), casamentos, E, de repente, pela minha cabeça passava a minha meninice, adolescência, as nossas gargalhadas - éramos sete - as reprimendas da nossa querida Mãe. "meninas (a minha irmã Lolita e eu passávamos a vida a rir):não riam tão alto, não é bonito". Além disso, Muito riso, pouco siso" Dentro daquelas paredes guarda-se a história das nossas vidas, meus irmãos, minha Mãe, quantas alegrias, quanto amor, e quantas tristezas também! Parece mentira que tanta história caiba dentro daquela adorada casa. Desci aquelas escadas para me casar na Igreja da minha Terra. Depois, e a história continua, ali nasceram as minhas filhas. Mais risos, mais gargalhadas. tudo se repete. é a nova geração! 1970 VILA MARIA gr natal .jpg Compasso na minha Terra Corações cantando almas em flor, flores em casa e no jardim também. Vem o compasso - é Deus , é amor. Pela aldeia fora campainhas a tocar. Flores desfolhadas e "verde" pelo chão, Aí vem o compasso, aí vem a Cruz a chegar. Pojeiras onde os criados da minha Mãe iam buscar verdes para pôr no chão - fora do portão, do portão até ao terraço e pelas escadas acima, o percurso que, no domingo de Páscoa fazia o cortejo do compasso. Alguns anos antes, íamos com a Nucha buscar fetos e verdes ao Barroco. Tão lindo! Era um vale entre a Gândra e Pevidal. MÊS DE MAIO Mês de maio, minha aldeia tão linda,tão florida. Ao entardecer, subíamos o Monte Crasto, para as novenas do "mês de Maria". Eu tocava o pequenino órgão do coro da capela de Santo Isidoro. no Crasto, a Lolita e outras raparigas, como nós, cantam coisas tão belas... Não sou bonita, nem feia, sou simpática, fui sempre muito simpática (isto não é narcisismo...). É verdade. E fui em tempos, há muitos anos, uma rapariga interessante, pequena, bastante pequena, mas cheia de saúde, estuante de vida, vida e alegria, que transbordava por todos os poros do meu corpo. Diziam até que eu tinha muita graça, aquela graça natural de uma rapariga que da vida só queria a vida e nada mais. E o fulcro da vida era o amor. De uma sensibilidade doentia, muito sincera, expansiva e nada egoísta. 1941 MÃE na Vila Maria.jpg 23-2 - 74 PORTO (um sábado) Primavera nos jardins, primavera nas casas e nas pessoas, sim, porque entrou também a primavera nos corações de cada um. Minha terra tão linda, estás perdida, mas eu encontro-te, minha rainha. Minha terra coroada de mimosas, A tua coroa é o Crasto. Sala de visitas das gentes de Gondomar e de tantas outras. Minha terra, berço de todos os meus... Não é a minha vida que vou passar ao papel, são várias vidas, porque terei de lembrar antepassados e contemporâneos... ESQUEMA de BIOGRAFIA 4 partes 1ª - nascimento e vida em família 2ª - internamento no colégio 3ª - regresso a casa aos 18 anos: namoros 4ª - casamento e peripécias seguintes 22 - 7 - -92 Um sonho Eu vinha de cima, a chegar a casa, e vi a entrar na minha porta a minha Tia, a minha Mãe e várias crianças. Cumprimentei a minha Tia, dei-lhe dois beijos, e ela abraçou-me. A minha Mãe estava mais adiante. Dentro não era a minha casa de Espinho, era aquela sala antiga, muito grande, com um quarto à esquerda, uma porta em frente à porta da rua, que dava para dois quartos interiores, à esquerda do corredor a cozinha e a sala de jantar, ao fundo, com porta e janela para o quintal. Cumprimentei também a minha Mãe, dei-lhe dois beijos, ela também me abraçou. Numa alcofa estava uma criança muito linda e elas disseram-me as duas: "é a Marta, a Martinha, vai ver que é bonita". Aproximei-me, uma dizia: "é parecida com o Avô" (o meu Pai) e eu chamei a Manela, peguei na menina e os olhos eram tão azuis, tão azuis (como eu nunca vi, ou antes, devia ter visto, deviam ter sido assim os olhos do meu irmão Manuel). A criança era lindíssima e era tal e qual este retrato do meu irmão (Manuel), que eu tenho aqui no quarto. Entretanto, a minha Mãe sentou-se numa cadeira e encostou-se a uma mesa, com a mão na cabeça. Eu perguntei : "O que tem a Mamã"? "Estou com azia", e eu virei-me para a Olívia e mandei-a fazer um cházinho" A minha Mãe e a minha Tia diziam: "Quem muito dorme, pouco aprende (ou seja. é estúpido) A CASINHA DA PEDREIRA Queria voltar a ver as camélias a florir, as laranjas a crescer. Queria voltar a ter na minha mão pintaínhos acabados de nascer Queria voltar a ver o jardim, a capoeira, a horta - querida Maria - que te enchia de canseira Limonete ao fim da escada Alecrim pro's ramos bentos toda uma festa, a ramada a casinha, tão modesta, com o nicho e a cantareira... Agora, recordo a chorar as pedrinhas da calçada que já não volto a pisar. 12-6-93 ESPINHO Ontem fui a Gondomar ao baptizado do António, filho da Ana e do Tozinho. Lindo baptizado, maravilhoso jantar em casa dos pais da Ana em S Cosme. Que saudades da minha linda Terra, que saudades da minha Mãe, da minha querida casa, dos meus irmãos todos (quando éramos jovens), do terço rezado à volta da mesa, depois do jantar - as criadas e o criado, à porta da cozinha, a rezar connosco), que saudades de mim, meu Deus! Tantas saudades de tudo, que nem me cabem no coração. E choro, choro, por tudo o que eu tive e perdi. Oh minha terra,(onde se vê o céu), meus verdes campos, meu lindo Monte Crasto. 18-5-93 ESPINHO Daqui do meu sofá, na minha sala virada para o jardim, a partir da porta larga - de parede a parede - vejo um retalho pequeníssimo do jardim da minha casa (pensando) no jardim da casa da minha Mãe, da nossa querida casa. O meu jardim, o meu roseiral, as minhas adoradas rosas, que parecem as nossas rosas, minha Mãe! A trepadeira vermelha que sobe pela parede, junto ao poço, (e tem ao lado uma japoneira) está coberta de flores e todas as outras mais parecem rir-se para mim. 1998 Mãe no seu jardim.jpg 19-8-93, quinta-feira UM DIA Levantei-me às 9/2. Está um dia de sol e calor. Vou tomar o meu chuveiro e vou ao café, Talvez encontre a Leninha, (que está cá, a passar uns dias no apartamento do pai). 27 Set 94 TITA Hoje tenho-me lembrado todo o dia da Tita, minha querida cadelinha, que morreu há mais de um ano. Mas hoje vejo-a sentadinha no sofá, tão pequenina (era uma yorkshire terrier). Não gostava que ninguém se sentasse perto, queria o sofá todo para ela. Sabia quando eu estreava uns sapatos, farejava-me os pés. 1960 M CARMO RAZZINI E TITÃ .jpg1983 Titã à janela em espinho.jpg 29 - 3- 95 LENA E DAVID Gosto de encontrar a Lena e o David (ao domingo), em casa do Mário. Já vamos tendo tão pouco tempo para nos encontrarmos, minha querida irmã. temos de aproveitar as ocasiões que se proporcionam para nos vermos. Está a aproximar-se a Páscoa. Que saudades das nossas Páscoas, na nossa casa, que saudades do compasso (com a nossa Mãe, claro), nós, todos os irmãos reunidos, as minhas adoradas filhas, os meus sobrinhos, os namorados deles, as criadas na cozinha, o cheiro dos cozinhados, o saudoso cheiro bom da nossa casa, que cheirava sempre a flores, o nosso jardim, aquele paraíso, como a minha mãe dizia 1986 Mãe Tios Lena e David em Chaves agosto.jpg LECAS Minha Lecas, minha filha, a coisa mais linda que eu fiz e criei, na minha vida. Nem as rosas, as flores do meu jardim. Minha querida filha, valeu a pena viver e sofrer, só para te ter, a ti. Tristes prenda que te dou, minha adorada filha, padre nosso e flores. Tu que gostavas tanto de vestidos, de sapatos, de pequenos chocolates. 1963 Mãe e Lecas no Porto.jpg O CARNAVAL DE 1962 Grande festa nos dois andares do R/C da Rua Latino Coelho. A Mãe e a Maria do Carmo Razzini pediram aos vizinhos para fechar a porta da entrada e usar o átrio como pista de dança, a continuar a sala dos meus pais, Na sala dos Razzini era a ceia, com mesa de doces, salgados e bebidas.. Todos fantasiados, O Dr Figueiredo fazia um chinês convincente, embora muito alto (Tb há chineses altos). O Pai com vestido, chapéu e sapatos da Maria do Carmo fez sucesso (ele calçava 42, ela 40, deve ter sofrido de aperto e,talvez, dado cabo dos sapatos - possivelmente velhos. Havia muita gente, o Domingos, muito engraçado, sempre a falar da "minha Berta". Os donos do Café Príncipe, a Ester e o Sr Rosas, ela com farda de magala e ele com um traje de vianesa, Simpático casal - gostaram tanto da festa, que, no ano seguinte, a organizaram na sua casa. Foi igualmente uma festa esplêndida. Moravam perto de nós, numa vivenda grande. A recordação mais viva que guardo é a da Madalena a cantar "Índia" e outras das suas músicas preferidas, com uma voz incomparável - a grande estrela da noite 31-8-94 A Manela foi ontem para Lisboa de carro, (Peugeot), sozinha, e hoje, de manhã cedo partia para a Turquia, a esta hora ainda vai a voar, São 4 horas. da tarde. Esteve aqui em Espinho 3 semanas e por acaso com um tempo ótimo de praia. Esteve também cá, no andar da Manela, a Terezinha, Helder e Tozinho - que está um encanto - uns 15 dias. Foram ontem à tarde embora, para Gondomar, ficámos sozinhos, e com muitas saudades. Estou muito triste, também, porque a Lélé foi fazer e tem de ser operada ao útero. Deus a proteja. 23-9-94 A Maria do Carmo esteve cá 4 dias. Vinha para passar 15 e sentiu-se mal da bronquite, de que já sofre há muitos anos e de uma hérnia no estómago, que também já tem há muito tempo. . A Maria do Carmo vinha cá 2 ou 3 vezes por ano, mas a viagem é muito longa, faz um grande sacrifício, coitada. É uma grande amiga Assim, eu vou ficando mais pobre (não de dinheiro, mas de dinheiro também, porque os juros vão descendo e eu vivo dos juros), mas de amizades verdadeiras, que tanta falta me fazem. Sinto-me muito abalada e desanimada. 28-4-93 Viagem para Fátima no nosso carro, eu e o João Matos cheios de verdura, os pinheiros com as suas "crescências" e um mar de juventude. Campo enfeitados de ( .?) irradia, alegria e jardins cobertos de flores variadas, parecem cascatas ali...para receber a primavera. Há ainda as maias a quebrar o verde das matas, essas flores tão lindas, que alegram os olhos e aquecem o coração. As flores amarelas encantam-me. O céu está carregado de nuvens brancas, o sol espreita, de vez em quando e vai adoçando a viagem. Chove, de longe a lomge. Não gosto de viagens com chuva. Com todas as viagens (aliás, como na nossa vida), não há conversa -2 ou 3 palavras de Espinho a Fátima e estamos agora a parar num bar da Mealhada.para tomar um cafézinho. O João enganou-se, passou o bar e teve de levar o carro em marcha atrás, mais adiante.E parou um carro da polícia mesmo ao nosso lado.. Foi manobra perigosa, esteve prestes a pagar multa, mas lá nos deixaram em paz (o João alegou que tinha tomado um diurético...), Ameaçaram-no de ficar sem carta na próxima transgressão. Agora continuamos a nossa viagem, atravessamos a serra (de Lousã?). Continua o céu cinzento, com abertas de azul, de vez em quando. Há uma cordilheira à nossa frente e do lado esquerdo, a bordar o horizonte. A auto-estrada permite-nos ir a 120, o que para o João é uma grande aventura.. Os matos dos dois lados da estrada continuam cobertos de maias. Que lindo! É para alegrar o cinzento do céu .Estamos a 20 km de Leiria, portanto já perto de Fátima. A paisagem é bonita, mas quanto mais lindos eram aos caminhos por onde eu vinha há 30, há 50 anos? A 1ª vez que vim a Fátima com a minha Mãe e a Mª Ernestina, irmã do Eduardo, tinha 17 anos. Uma grande chuvada e estamos a 16 km de Fátima, avista-se ao longe uma povoação, deve ser Vila Nova de Ourém. Já se vêem as características desta região, os muros de pedrinhas - como há em Fátima. Aqui e ali um campito verde, verde tão verde e fresco, parece um tapete de entrada em Fátima Estamos em Fátima. A chuva parou, deu lugar ao sol, lá fora e no meu coração. Espinho, 24 de Abril de 1996 Vai fazer no próximo domingo 3 semanas que o meu querido João foi para o céu. Meu amigo, meu companheiro de 55 anos. Foi no dia de Páscoa, às 8 e meia da noite no dia 7 de Abril de 1996, Está em Gondomar, ao pé da nossa Lecas. Mas como tem sido difícil para mim sofrer sozinha tão grande desgosto, não tenho com quem desabafar e isto é uma tortura enorme. Tento resistir, mas preferia ir para perto dele e da nossa Filha. 12 de Maio João e Lecas quero ir para perto de vós, vinde buscar-me, não tenho nada que fazer aqui. A Manela tem a vida dela e eu vivo sozinha, (esta criada que vive aqui em casa não é ninguém) Não posso sofrer assim , quero ir embora, descansar perto de vós. Pedi a Deus por mim. João, meu companheiro, meu amigo, tu tinhas tantos cuidados comigo, e agora deixaste-me sozinha. Eu desabafava contigo e agora não tenho com quem falar. Sofro atrozmente de saudades e solidão. Que mal nós aproveitamos ou vivemos o nosso tempo juntos, João.. Tudo o que eu fazia era para ti, João. Queria um piano para que tu me ouvisses tocar. Agora já não quero. Fiz o meu jardim para tu veres. Vestia-me bem para tu olhares para mim. Lembras-te como antes de estriar uma roupa te perguntava se me ficava bem? E tu sabias como ninguém aconselhar-me, eu acreditava, piamente, no que dizias. Agora já nada me interessa, acabou tudo para mim.Eu não posso, não sei viver sem ti. Triste primavera, triste sol e até as flores do meus jardim são tristes. 3 de Junho de 1996 Cada pessoa tem a sua casa exatamente para poder sofrer e chorar sozinha.Meu querido João eu ando perdida e perdida por esta casa sem te ver e pergunto. para onde foste sem mim? Tu que não ias a parte nenhuma sem me dizer, para onde foste sem me dizer? E deixaste-me aqui, assim, desesperada, Eu morro de saudades tuas. 5 de Junho de 1998 Meu João, meu amor, grande partida me fizeste, naquele dia de Páscoa, 7 de Abril, ao jantar. Tínhamos chegado de Gondomar às 7, tu foste ao Café Vieira tomar o teu cafezinho e chegaste atrasado para o jantar. Eu e a Manela já estávamos à mesa e tu chegaste, sentaste-te em frente a mim, comeste a sopa e ias continuar, quando eu, conversando contigo, te disse que tinha a cara muito vermelha e inchada do calor dos aquecimentos em casa do Mário (eu costumo ficar assim com o calor). Tu, querido, olhaste para mim e ias dizer qualquer coisa. Já não disseste. A cabeça caiu lentamente para a frente e tu, meu amigo e companheiro de 56 anos, partiste e deixaste-me sozinha. Quem me dera ter ido contigo. As minhas lágrimas são de saudade e desespero, eu não sei viver sem ti!. Agora, só agora sei que tudo o que eu fazia era para ti, João. Todos os vestidos que eu comprava, quando eu cantava nas festas da família, as flores do nosso jardim, os móveis para a nossa casa, tudo era para ti, meu querido João. Eu queria que tu gostasses do que eu gostava.. Amanhã, dia 6, fazias 78 anos.e, no dia 7, faz dois meses que me deixaste! Oh, João, como é possivel eu não falar mais contigo e tinha tantas coisas para te dizer, como disse quando era mais nova (éramos mais novos). Mas que eu queria agora, ainda, dizer-te outra vez. João, leva-me para o pé de ti e da nossa Lecas, meu amor, chama por mim, este mundo não tem interesse nenhum para mim. Nem estes dias esplendorosos de sol, nem o meu jardim cheio de flores, nada, já não há nada que me faça ficar aqui. Sinto-me sozinha e abandonada num mundo desconhecido, João, vem-me buscar! 9 de Junho de 1996 Dia dos anos, 54 anos, da Manela. Está na Venezuela, em Caracas, eu estou aqui, com as minhas recordações. Meu querido João, os dias estão cheios de sol, mas tão tristes para mim! Acabou tudo desde que me deixaste, mas que amargura de vida! 11 de Junho de 1998 Meu João, eu morro cheia de saudades tuas, não posso viver assim, porque me deixaste? Eu não posso nem quero viver sem ti. Preciso de ir para perto de ti e da nossa Lecas. 15 de Junho Pode-se morrer de saudade e eu acho que vou morrer Já há mais de dois meses, meu amor, que te foste embora. E eu sentada no meu maple sinto que tu estás ao meu lado, sentado no teu, e eu viro a cabeça e vou falar contigo. João, como posso viver assim? Durante o dia, de vez em quando,estou a pensar: logo quando o João chegar eu pergunto-lhe isto ou aquilo. Ouço os teus passos a subir a escada, ouço o meter a chave, ouço-te a tossir. e morro, aos poucos, de saudades. Como ficou tudo vazio á minha volta 20 Junho Esta noite sonhei contigo, Em casa da minha Mãe, em Gondomar., no nosso quarto de inverno, (onde nasceu a nossa Lecas), o quarto azul. Tu estavas a chegar a casa (do emprego, cansado), agarraste-me atrás da porta e deste-me muitos beijos e disseste-me que já tinhas muitas saudades minhas. Tínhamos em casa da minha Mãe outro quarto, de verão, no andar de cima (chamávamos-lhe "o quarto de hóspedes", foi onde nasceu a Manela. 21 de Junho Meu querido João, eu dizia até agora "feliz de quem fica cá", mas já não penso assim. Agora sei verdadeiramente que quem é verdadeiramente que feliz é quem parte. Por isso peço-te para me chamares, eu quero partir. 22 de Junho João passo os dias a chorar, nem sei como tenho tantas lágrimas nos meus olhos. Estamos no verão, eu continuo sozinha, a Manela veio, mas já foi outra vez, ficou só uma noite. Está um sol a brilhar e um céu azul, e é tudo tão triste, Como o mundo ficou diferente, meu companheiro, eu até acho, meu companheiro, que estou a viver noutro mundo. João vem buscar-me. 14 de Julho João meu amor, que saudades da tua voz, dos teus passos, de te ouvir subir as escadas, meter a chave à porta e dizer :"Sou eu". Que saudades, joão, de te ouvir chamar por mim. Quem me chama és tu, ou o meu irmão Zé, que está aí no céu contigo, desde o dia de Natal 24 - 12- 95, pobre e querido Zé, tão meu amigo também. Meu querido João, tenho saudades de te ouvir tossir, andar à noite no corredor, até de fumar o cigarro (que tão mal te fazia),, Até tenho saudades das nossa zangas, das nossa "guerras"! 11-12 96 João, meu amor, vem aí o Natal, só quero dizer-te: o meu mundo desabou em cima de mim. Mas que deserto é este? 27 anexos — Transferir todos os anexos Ver todas as imagens 1941 Pais passeio 14 julho (1).jpg 23K Ver Transferência 2020 MADALENA oleo de Norberto.jpg 511K Ver Transferência 1941 Pais Branzelo verão .jpg 219K Ver Transferência 1970 VILA MARIA gr natal .jpg 63K Ver Transferência 1969 MÃE Paris 17 junho.jpg 50K Ver Transferência 1947 eu na procissao anjo amarelo.jpg 66K Ver Transferência 1930 Monte Crasto Avó Maria e filhas.jpg 68K Ver Transferência 1990 MÃE Fátima lugar das aparições 29 abril.jpg 160K Ver Transferência 1935 tia lola f14 mae colegio.jpg 48K Ver Transferência 1941 Pais em Branzelo verão.jpg 14K Ver Transferência 1969 Mãe em Paris.jpg 242K Ver Transferência 1960 LECAS .jpg 2849K Ver Transferência 1963 Mãe e Lecas no Porto.jpg 58K Ver Transferência 1992 Meus 50 M Carmo Mãe eu T Lola Sameiro.jpg 175K Ver Transferência 1941 MÃE na Vila Maria.jpg 33K Ver Transferência 1941 Mae out.jpg 176K Ver Transferência 1941 Mãe T Lola amiga Branzelo agosto .jpg 25K Ver Transferência 1969 MÃE em Paris N Dame.jpg 66K Ver Transferência 1960 M CARMO RAZZINI E TITÃ .jpg 231K Ver Transferência 1983 Titã à janela em espinho.jpg 72K Ver Transferência 1948 Avo Mae e eu.jpg 42K Ver Transferência 1941 Pai (restaurada).JPG 139K Ver Transferência 1928 AVÓ MARIA e família Villa Maria (1).jpg 601K Ver Transferência 1998 Mãe no seu jardim.jpg 251K Ver Transferência 1962 MADALENA foto para retrato de NORBERTO .jpg 36K Ver Transferência 1931 MÃE na Vila Maria.jpg 127K Ver Transferência 1986 Mãe Tios Lena e David em Chaves agosto.jpg 97K Ver Transferência 27 anexos — Transferir todos os anexos Ver todas as imagens 1960 M CARMO RAZZINI E TITÃ .jpg 231K Ver Transferência 1941 Pais Branzelo verão .jpg 219K Ver Transferência 1931 MÃE na Vila Maria.jpg 127K Ver Transferência 1992 Meus 50 M Carmo Mãe eu T Lola Sameiro.jpg 175K Ver Transferência 1969 MÃE em Paris N Dame.jpg 66K Ver Transferência 1928 AVÓ MARIA e família Villa Maria (1).jpg 601K Ver Transferência 1986 Mãe Tios Lena e David em Chaves agosto.jpg 97K Ver Transferência 1941 Pais passeio 14 julho (1).jpg 23K Ver Transferência 1969 MÃE Paris 17 junho.jpg 50K Ver Transferência 1970 VILA MARIA gr natal .jpg 63K Ver Transferência 2020 MADALENA oleo de Norberto.jpg 511K Ver Transferência 1930 Monte Crasto Avó Maria e filhas.jpg 68K Ver Transferência 1983 Titã à janela em espinho.jpg 72K Ver Transferência 1963 Mãe e Lecas no Porto.jpg 58K Ver Transferência 1962 MADALENA foto para retrato de NORBERTO .jpg 36K Ver Transferência 1941 Mãe T Lola amiga Branzelo agosto .jpg 25K Ver Transferência 1960 LECAS .jpg 2849K Ver Transferência 1941 Pai (restaurada).JPG 139K Ver Transferência 1998 Mãe no seu jardim.jpg 251K Ver Transferência 1990 MÃE Fátima lugar das aparições 29 abril.jpg 160K Ver Transferência 1947 eu na procissao anjo amarelo.jpg 66K Ver Transferência 1948 Avo Mae e eu.jpg 42K Ver Transferência 1941 MÃE na Vila Maria.jpg 33K Ver Transferência 1935 tia lola f14 mae colegio.jpg 48K Ver Transferência 1969 Mãe em Paris.jpg 242K Ver Transferência 1941 Pais em Branzelo verão.jpg 14K Ver Transferência 1941 Mae out.jpg 176

MÃE - DITOS E ESCRITOS I

MÃE DITOS E ESCRITOS UMA MENINA DE GONDOMAR
1925 VILA MARIA Avós e meninos na varanda.jpg 1922 Avó Maria e filhos.jpg1922 mae t lina carnaval .jpg A pequena Maria Antónia, excelente aluna a História e a Geografia, sempre muito dada a recolhas de natureza cripto-etnográfica, (no que terá sido influenciada pelo exemplo da Tia Rosaura de quem também se conhecem apontamentos soltos sobre mezinhas e rezas das mulheres do antiquíssimo Gondomar, anotou os lugares, que faziam os seus encantos - o Barroco, a represa de Cascaneira, entre a Gandra e Ramalde, Bouça Cova, Azenha, Ermentão, Rio Carreiro, Fontela, Ponte Real, São Miguel, Pevidal, Santo André... E, também, expressões, nomes e alcunhas, que lhe despertavam a curiosidade, como Pojeiras,Restivos, Cabaças, Jeque-Jeque,Tarré Fome Negra, Caga Troços, Carriças, Pilha Galinhas,Patacas, Pirabeca, Arregalados, Folhetas, Estabões, Bagulho,Parraxila, Chasco, Varetas, Melros, Pisco, Choco, Pimpão, Pinguinhas, Pombalinos, Toca- certo (um músico, evidentemente)...... Menos invulgar o nome de Isidro Izidoro, que, todavia, fez história, quando deixou dito que, nas exéquias, queria levar um cravo vermelho na lapela. Era ela uma criança, mas conseguiu que a levassem a vê-lo. A Maria Póvoas, fez-lhe a vontade, às escondidas da família... OS SEUS VERSOS PARA GONDOMAR 1930 aprox postal de GONDOMAR.jpg OH, MEU GONDOMAR Oh, meu Gondomar, minha linda terra Tu que embalaste o meu 1º amor Porque não levar-te presa nos meus braços Oh, meu Gondomar, para onde eu for? Encantamento que nunca esqueci Roseiral em flor desse meu jardim Tanta rosa murcha pelo chão caída. Mas tanto botão a abrir para mim... Gondomar, meu berço, capital do mundo És a minha casa, és o meu jardim Foste tu que viste os meus primeiros passos E irás guardar-me, ao chegar ao fim. 1933 MÃE.jpg Procuro-me e não me encontro E fico parada assim A chorar, meu Deus, porquê? Por ter saudades de mim! À CONVERSA SOBRE O TIO ALEXANDRE (conversa comigo, a 7 de fev de 2012) "Já atravessaste os Pirinéus?" Disse que sim. Continuou:"E paraste em alguma aldeia?" "Que me lembre, não; talvez, não sei..." Era para saber se eu tinha visto artefactos de lã dos Pirinéus. Depois, falou dos Xailes de lã (dos Pirinéus, certamente), que o Tio Alexandre lhe ofereceu, durante um passeio pelo Porto. Um era cor-de-rosa, comprado numa loja dos Clérigos, na Rua dos Lóios. Outro beije. A Tia Lola não quis nenhum e ela aproveitou o que devia ser para a mana. Ambas iam com ele, muitas vezes, à baixa da cidade. No verão, lanchavam sempre na Brasileira. Mandava vir enormes pratos de bolos e insistia: "Comei os bolos todos!". Nas outras estações, às vezes, gostava de ir a um pequeno café, na esquina em frente à Brasileira, na rua que vai dar à Av dos Aliados, ou a um outro, junto à Igreja dos Congregados. Ótimo, até tinha música! Descia-se para a rua por um pequeno degrau. O Tio era um homem encantador, nessa altura, já de meia idade. Em novo, dizia a sobrinha, "era muito bonito, parecia o Gregory Peck" UM ZEPPELIN EM GONDOMAR ( relato recolhido no início de 2019) Já a guerra tinha terminado, quando, em pacífico voo turístico, um enorme avião, diferente de tudo quanto se conhecia, atravessou os céus de São Cosme, sobre o Monte Crasto. A aparição foi olhada com pasmo e emoção. Segundo a Mãe, testemunha visual, parecia um gigantesco melão voador! Estava no quarto e a criada foi buscá-la, aos gritos - uma a quem chamavam "Maria nariz de pau". Correu para a varanda que ficava à saída da cozinha, ainda a tempo de se extasiar com o espetáculo - aquela "coisa" estranha, que avançava, lenta e majestosamente, como as suas dimensões e peso permitiam, Um prodígio, como gorga baleia que voava feita pássaro. Era meio dia. Para além da providencial Maria nariz de pau, não se recorda se a mãe e alguns dos irmãos partilharam com ela a singular experiência. Talvez não. Mostrei à Mãe as maravilhas da internet, Procurei em Zeppelin e logo apareceu a precisa imagem do que ela vira numa manhã dos anos quarenta. Lá estava, tal qual ela o descrevera... Não tinha uma máquina à mão para fotografar o momento... . COM AMÁLIA NO CAFÉ RIALTO e VIRGÍLIO TEIXEIRA NO PRAIA GOLFE A Mãe e a Tia lola adoravam a Amália, cantavam as suas músicas constantemente - não tão bem, porque isso é impossível, mas muito bem. A primeira vez que a viu, de perto, foi no Café Rialto, lindíssima, vestida de preto... Muitos anos mais tarde, falou com ele, várias vezes ao telefone, quando ela estava em casa do primo e nosso amigo Dr Seabra da Veiga, cônsul de Portugal em Connecticut - um home engraçadíssimo, muito parecido com o tio Zé, em feitio e até fisicamente, com uma diferença: vestia-se sempre muito bem, muito chique... Virgílio Teixeira, o famoso ator, um dos homens mais belos que jamais vieram ao mundo, e um amigo maravilhoso que fiz nas lides da emigração estava em Espinho Espinho, em março de 1995, no Congresso Mundial de Mulheres Migrantes. Em nova, achava-o tão bonito que andava com uma retrato dele (colecionava postais de atores dessa época) na carteira, quando não o deixava debaixo do travesseiro, Depois de casada, apesar de guardar numa gaveta a fotografia, tanto o gabava que marido chegava a sentir ciúmes (antigamente tinham ciúmes por tudo e por nada.. na minha geração já não era assim, sempre considerei normal que o meu "ex" tivesse uma paixão cinéfila por Catherine Deneuve, e ele que eu sentisse o mesmo por Gérard Philippe ou Paul Newman).... Virgílio estava com a sua simpática mulher Vanda, a Mãe também com o marido e conversaram e riram, animadamente... 1995 Espinho Pais V Teixeira e eu.jpg UM CASAL DE CINÉFILOS O cinema, nos anos, 40, 50, 60, fazia parte da vida. Ir ver um filme numa sala bonita, (São João, Batalha, Rivoli...) era um ritual que pontuava a semana, como lanchar na Ateneia ou na Villares, tomar um café no Guarani, no Imperial, Estivessem em Gondomar ou em Avintes, o centro da animação era sempre a cidade do Porto. Era lá que tudo acontecia. De tarde, a sétima arte era só para as senhoras (os homens trabalhavam...). A Tia Lina era uma companheira constante. Quando gostava do espetáculo repetia. No São João viram juntas a Madame Butterfly três vezes! À noite, geralmente ao sábado, o acompanhante era o marido. Ambos muito chiques, como então se usava, visto que havia dois intervalos, ocasião propícia de olhar e comentar "toilettes". A Mãe punha os seus óculos escuros (muito graduados), mais uma extravagância, pois na altura. ninguèm mais o fazia e, nem era muito prático, suponho, pois veria, no ecrã, as imagens escurecidas... Mais difícil era a conciliação de gostos. Ele tendia para filmes de ação, de guerra, westerns", policiais. Ela adorava comédias, Cantinflas, Doris Day. Talvez o ponto de consenso um bom drama, com os grandes nomes de Hollywood. Havia tempo e ocasião para alternarem os géneros. Começavam a noite, antes do filme, sempre num café, onde ele bebia mesmo café e ela um "peppermint" e no café, de novo, terminavam o serão, antes do regresso a Gondomar (ou a Avintes, onde também passavam temporadas).. Depois, quando a Lecas e eu tínhamos 6, 7 anos, levava-nos, às vezes, a "matinés". E eu tive de suportar as comédias do Cantinflas, que já dessa tenra idade, considerava excessivamente "infantis" - habituada que estava a ir ao cinema com o Avô Manuel assistir a espetáculos sérios, incluindo westerns e operetas, tão do agrado desse querido avô, o mais cinéfilo de toda a família.... OLD FRIENDS Falava-se do ISCTE, do seu aniversário, e a Mãe relembrou os tempos em que o Pai ali estava a terminar o seu curso de sociologia, em que ela o acompanhava em frequentes idas a Lisboa. Aos voluntários do Porto os professores davam, também como "voluntários" (noutro sentido). aulas especiais nos fins-de-semana e enquanto o pai assistia às aulas, de vez em quando, a mãe encontrava-se com o velho amigo Fernando Marques Ribeiro. Para falarem dos tempos da juventude e daquele romance interrompido para sempre. Se o pai ia diretamente do ISCTE para minha casa, o Maestro levava-a de carro à Av do Uruguai. Nunca contou nem a marido nem a filha. Que pena! Eu gostava de o ter conhecido - o seu mítico namorado, o pianista, compositor e maestro, o "Chopin português"! Zangou-se com ela, quando soube que tinha vários outros namorados, em simultâneo... mas achava-a um talentosa pianista e até a convidou a dar um concerto com ele, no Porto. Ao que a Avó Maria disse. "Nem pensar!"... E ficaram amigos para sempre. 1940 aprox Marques Ribeiro pianista.jpg1950 aprox JFernado Marques Ribeiro.jpg QUERIA SER ATRIZ OU PIANISTA O seu sonho de ser pianista ou atriz, não se concretizou...Os únicos palcos que pisou foram os do Teatro Nuno Álvares de São Cosme.E, pelos anos fora, atraiu com as suas canções, as suas histórias e as suas benignas excentricidades, a família próxima, um grande número de sobrinhos netos e bisnetos. Curioso é que até o seu dentista, o Dr Morris, um dia, sem saber dessa ambição secreta. lhe disse: Devia ter sido atriz. Vê-se mesmo que tem jeito!" Até na cadeira do dentista representava bem a sua personagem. "tem a certeza de que isto está limpo? Não usou essa agulho nos dentes do anterior?" E o Dr Morris, simpático e bonito odontologista respondia: "Claro que sim, serve para todos e nunca é limpa!" A Maria Antónia gostava de médicos bonitos. E foi tendo vários, ao longo da vida, o anterior dentista, do Porto, o Dr Figueiredo, o Dr Guimarães, o cardiologista...Até no hospital de Gaia, um mês antes de morrer, o neurocirurgião era um rapaz alto, loiro, de expressivos olhos azuis. E o motorista do táxi que nos trouxe para casa, também. Ao Doutor tratou-o por tu, começando por perguntar "És meu sobrinho?" Quando ele veio falar comigo, para lhe dar alta, informando que o TAC estava perfeito, disse-me: "Está muito bem. Só achei um bocadinho confusa, porque me julgava um sobrinho! Esclareci que não era assim tão anormal, pois era senhora de muitos sobrinhos, alguns médicos, (sendo certo que os médicos não me parece que tenham olhos azuis) . Mas confusão não era - talvez, sim, uma maneira de fazer conversa com um jovem interessante, que poderia ser, mas não era, da família. 1950 VILA MARIA O PIANO.jpg O piano da sala de visitas da Vila Maria, onde todas as meninas tiveram aulas de piano (à convers, a 1 de agosto de 2012) O Colégio da Esperança, nunca foi para as manas Mariazinha e Lolita, um lugar de boa esperança - tudo o que queriam era fugir de lá. No 1º anos, passaram o tempo a arquitetar planos de fuga, nunca concretizados... De boa memória é, contudo, a sala de piano do colégio! A Profª Margarida Portela, que era uma extraordinária executante, considerava-a uma aluna especial, uma futura grande pianista, e ofereceu-lhe as valsas de Chopin, com uma dedicatória. A Mãe deu-as à única pianista da família na nova geração, a Sameiro, mas esqueceu-se de copiar a dedicatória,e tinha muita pena desse esquecimento. Nas festas, as pianistas eram sempre a Mãe e a Amélia Moreira, de Avintes - chegaram a tocar a quatro mãos, Amélia morreu jovem, vítima da tuberculose, como a Celina. Foi a costureira da terra, que conhecia a mãe da Amélia que quis e conseguiu que se encontrassem, A senhora pediu-lhe que tocasse no piano, que estava fechado desde a morte da Amélia. Parece que a c. Ah, um pormenor: a professora era muito bonita e tal como a Mãe, muito míope... Outras memórias do mesmo lugar... Aí lhe roubaram-lhe uns brincos muito bonitos, dados pela Tia Rozaura. E ela até viu, a rapariga a mexer nas suas gavetas, mas hesitou. Depois, a Miriam, que também era amiga da ladra, pediu-lhe que não a denunciasse. E, assim, nunca mais recuperou os brincos... Há outro relato de um roubo de brincos, com especial valor afetivo, porque tinham pertencido à Tia Glorinha. Não foram achados, mas a ladra foi chamada à diretora e expulsa. Esteve lá apenas no 3º ano do Liceu e, no dormitório ficava ao lado da Mãe, Do outro, estava uma grande amiga a Fernanda Malen (que viria a ser freira) Anos mais tarde, numa reunião de antigas alunas, a Mãe encontrou a ladra. Talvez tenha sido nessa ocasião , tantas décadas depois, que a Miriam lhe pediu que fizesse silêncio sobre o escândalo.antigo . faz mais sentido... Os dormitórios estavam separados pela sala de piano. O das mais pequenas completamente aberto, sem cortinas. O das maiores com a privacidade relativa de cortinas que podiam fechar-se . As irmãs ficavam sempre juntas e era aí que planeavam escapadelas e partidas, falando baixinho.. 1935 tia lola f14 mae colegio.jpg1935 Mãe Tia lola colégio.jpg Em 1937, já quase a sair definitivamente da clausura, as duas irmãs, à frente. Eram conhecidas, entre as colegas, como "os galos doidos". Imagina-se porquê . SAUDADES Saudade, palavra amarga e doce. Saudades da minha linda terra, S Cosme de Gondomar, onde imperam os grandes artistas de filigrana de ouro. Saudades do meu Monte Crasto majestoso, donde em noites de luar (esse luar ímpar das noites de Natal, que eu guardo na minha memória e recordo comovida), se abrangia toda a minha terra, banhada de um manto de prata. Saudades daquela prenda do menino Jesus, que a minha querida Mãe, com tanto carinho, pòs debaixo do meu travesseiro: uma linda pulseira de prata, toda feita de margaridas, que ainda hoje guardo, com todo o meu amor. Saudades da minha mocidade, dos meus amores, das minhas ilusões, dos meus tempos de colégio, de minha casa, do meu jardim cheio de flores, do meu piano, meu confidente, o meu piano, que escutou tantas histórias de amor, Saudades da minha Terra, a minha casa, os meus Natais. 1930 Avó MARIA e filhas em vizela.jpg1932 comunhao mae T Lola com T Lena.jpg 1931 MÃE na Vila Maria.jpg1929 MÃE NA FOZ.jpg1930 Monte Crasto Avó Maria e filhas.jpg De todos os sentimentos humanos, nenhum mais natural do que o amor pela Terra, pelo vale, ou pelo bairro onde crescemos. A nossa Terra aviva-nos as recordações mais familiares (íntimas), mexe com as nossas emoções mais profundas. Tudo o que faz parte dela, pertence-nos, em alguma medida, e, decerto forma, nós fazemos parte dela também, tal como a folha pertence à árvore. Saudade, palavra amarga e doce. Saudades da minha linda terra, S Cosme de Gondomar, onde imperam os grandes artistas de filigrana de ouro. Saudades do meu Monte Crasto majestoso, donde em noites de luar (esse luar ímpar das noites de Natal, que eu guardo na minha memória e recordo comovida), se abrangia toda a minha terra, banhada de um manto de prata. Saudades daquela prenda do menino Jesus, que a minha querida Mãe, com tanto carinho, pòs debaixo do meu travesseiro: uma linda pulseira de prata, toda feita de margaridas, que ainda hoje guardo, com todo o meu amor. Saudades da minha mocidade, dos meus amores, das minhas ilusões, dos meus tempos de colégio, de minha casa, do meu jardim cheio de flores, do meu piano, meu confidente, o meu piano, que escutou tantas histórias de amor, Saudades da minha Terra, a minha casa, os meus Natais... 1928 AVÓ MARIA e família Villa Maria (1).jpg1931 Avó filhos netos Clara Serafim V Maria.jpg1931 avo m foto fam anos 30.jpg 1934 Mãe T Lola e M Laura Barboza.jpg1937 avo Maria carro de flores.jpg1938 Avó Maria e família na Vila Maria (1).jpg1938 Mariazinha Lola e amiga no Lusitania REST .jpg Não posso olhar para a nossa casa, a casa da minha Mãe, sufoco de saudades, e as recordações são tantas! Festas de Natal, os risos das crianças, o cheiro das rabanadas, o cheiro da minha adorada casa. Tantas Páscoas = o compasso!), casamentos... E, de repente, pela minha cabeça passava a minha meninice, adolescência, as nossas gargalhadas - éramos sete - as reprimendas da nossa querida Mãe. "meninas (a minha irmã Lolita e eu passávamos a vida a rir):não riam tão alto, não é bonito". Além disso, Muito riso, pouco siso". Dentro daquelas paredes guarda-se a história das nossas vidas, meus irmãos, minha Mãe, quantas alegrias, quanto amor, e quantas tristezas também! Parece mentira que tanta história caiba dentro daquela adorada casa. Desci aquelas escadas para me casar na Igreja da minha Terra. Depois, e a história continua, ali nasceram as minhas filhas. Mais risos, mais gargalhadas. tudo se repete. é a nova geração! 1942 pais eu nero.jpg1942 Vila Maria família Aguiar natal.jpg 1945 Vila Maria Mãe Avó gr.jpg1948 Tia Lena Avó Mãe e crianças na Vila M.jpg COMPASSO NA MINHA TERRA Corações cantando almas em flor, flores em casa e no jardim também. Vem o compasso - é Deus , é amor. Pela aldeia fora campainhas a tocar. Flores desfolhadas e "verde" pelo chão, Aí vem o compasso, aí vem a Cruz a chegar. Pojeiras onde os criados da minha Mãe iam buscar verdes para pôr no chão - fora do portão, do portão até ao terraço e pelas escadas acima, o percurso que, no domingo de Páscoa fazia o cortejo do compasso. Alguns anos antes, íamos com a Nucha buscar fetos e verdes ao Barroco. Tão lindo! Era um vale entre a Gândra e Pevidal. 1938 Avó Maria e família na Vila Maria (1).jpg1970 PÁSCOA NA VILA M Avó Pais gr.jpg 1977 Vila Maria Avó gr natal.jpg1974 VILA MARIA gr pascoa.jpg MÊS DE MAIO Mês de maio, minha aldeia tão linda,tão florida. Ao entardecer, subíamos o Monte Crasto, para as novenas do "mês de Maria". Eu tocava o pequenino órgão do coro da capela de Santo Isidoro. no Crasto, a Lolita e outras raparigas, como nós, cantam coisas tão belas... EU... Não sou bonita, nem feia, sou simpática, fui sempre muito simpática (isto não é narcisismo...). É verdade. E fui em tempos, há muitos anos, uma rapariga interessante, pequena, bastante pequena, mas cheia de saúde, estuante de vida, vida e alegria, que transbordava por todos os poros do meu corpo. Diziam até que eu tinha muita graça, aquela graça natural de uma rapariga que da vida só queria a vida e nada mais. E o fulcro da vida era o amor. De uma sensibilidade doentia, muito sincera, expansiva e nada egoísta. 1941 MÃE na Vila Maria.jpg1951 MÃE na praia de Espinho.jpg 1944 MÃE Gondomar.jpg1943 Mãe de fato preto e branco.jpg1950 MÃE nos anos 50.jpg 1951 Mãe (1).jpg1950 mae.jpg1950 aprox Mãe foto preferida.jpg 1985 MÃE junto a buganvília 1 set.jpg1972 MÃE foto de estúdio que detestava.jpg1990 A Mãe nos 70 anos foto favorita.jpg 2001 Mãe 28 agosto anos.jpg2005 MÃE em dia dos 85 anos .jpg 2004 Mãe na expo J Tavares 2 maio.jpg2007 MÃE café Palácio.jpg 2012 Mão na Pastelaria Latina.JPG2016 Mãe.jpg 2013 Mãe verao.jpg2017 Mae Natal (1).jpg FORMATURA DA MARIA DO SAMEIRO Deu-te Deus essa fé determinada Dos que sabem seus sonhos realizar Que nasce em ti, em cada madrugada, A Estrela que brilha em teu olhar Esse teu ar esbelto e elegante Esse andar airoso de gazela Teu olhar sereno e confiante Sejam eco da tua Boa Estrela Espinho, Março 1988 RESPOSTA À NITA verão 1978 E das arribas do mar agradeço a atenção Bem quis logo responder, mas não tinha a direção 23 - 8 - 79 O postalzinho da "praxe" cá chegou, muito obrigada Agora espero a visita Dessa minha "sobrinhada" (Para a Nita, Sameiro, Rosário, Lisa e Paulo) 1982 "A saudade quando veio veio mesmo para ficar aqui no meio do peito, fazendo rir e chorar Saudade fica comigo, porque já me acostumei Não fujas de mim saudade - de uma vida que te dei" "Eu tinha umas tranças loiras E tão loiras eram elas passando em campo de espigas eu parecia uma delas. Saltando muros e leiras Na pressa com que corria Voaram as tranças loiras E só por isso me ria" "Perverso, inconstante mar revolto como o meu ser Vagas em fúria na procela tenebrosa Ao longe o meu olhar perdido na imensidão deste mar revolto Vem-me a lembrança daquele louco amor que agora é minha solidão Pediste ao mar para me falar de ti ou Ao longe, o meu olhar perdido na imensidão deste mar em fúria, revolto como eu. Vem-me à lembrança aquele louco amor que enche agora a minha solidão O 1º ENCONTRO DOS MEUS PAIS, CONTADOS PELA MÃE 13 de outubro. Um dia de chuva e frio para a missa nova do Padre Eduardo Pinheiro na capela do Monte da Virgem. Levava um casaco comprido cor de rosa (feito por uma modista de alta costura do Porto. Foram numa camionete de excursão, guiada pelo Sr Coelho, um homem simpático, cujas filhas estudavam no Porto, e que era sempre o escolhido nas peregrinações organizadas ao túmulo de Frei Bernardo pela Senhora Dona Maria Aguiar - e a quaisquer outras, Com a lotação esgotada, partiu a camionete do Sr Coelho para o Monte da Virgem A mãe suspeita que o seu 1º encontro com o jovem viúvo João Dias Moreira não foi inteiramente casual, Uma tia materna da Nucha e da Lucinda Aguiar, (sua madrinha, casada com Homero Figueiredo, que foi dono de farmácias no Porto e em Avintes e, depois, em países do sul da América, do Brasil ao Peru), Arminda de Sá era, em simultâneo, amiga de Olivia Capela, mãe do João, e de Maria Aguiar, a mãe da Mariazinha, que já trocavam correspondência e livros religiosos. Morava em Avintes, perto da amiga Olívia e da farmácia de Homero, (junto à Escola do Magarão), e visitava, muitas vezes a casa da Gandra do tio Augusto Aguiar e de sua irmã Leonor. Estavam há pouco na capela, quando chegou o grupo de Avintes, com o viúvo e a mãe. A excursão de Gondomar ficou no fundo do templo, enquanto ele, o eventual viúvo e um amigo alto e moreno estavam junto ao altar.. Na verdade, um era loiro, o outro moreno e a Mãe não sabia qual era o João...No fim da missa, enquanto as senhoras mais velhas se dirigiam à sacristia para os cumprimentos, os jovens saíram para o adro. A Mariazinha distanciou-se, foi ver de perto um cruzeiro, subiu os degraus de pedra e para ler as inscrições gravadas na pedra e ouviu uma voz que lhe perguntava: "Boa tarde, dá-me licença? Olhou para trás - era ele, o jovem viúvo, o loiro... (tão atraente como o moreno!...). Pedia licença para lhe oferecer uns soquinhos- miniatura de couro, ligados por um fio de prata. Sorriu e aceitou. Ele tinha acabado de os comprar num lojinha que vendia, terços, imagens religiosas e artesanato. E assim começou a conversa, Contou-lhe que no dia seguinte ia para Lisboa com um primo, o António, visitar a Exposição do Mundo Português. A conversa, porém, teve os seus momentos críticos. Quando ele lhe perguntou a idade ele quis saber: "Que idade me dá?". Não se sabe porquê, talvez por a ver tão magra e pequenina, caiu na tentação de brincar, interrogando: "15 anos?". Mariazinha não achou graça nenhuma e quando ele lhe fez a mesma pergunta, sobre a idade que aparentava, disse-lhe: Não sei... Talvez uns 35..."". Ela tinha 20, ele 22... Logo depois, falaram de música, ela tocava piano, ele violino e o tom cordial foi recuperado... As apresentação formais das minhas (futuras) avós Maria e Olívia foram feitas pela amiga Arminda e a conversa até à hora de partir não foi longa, mas animada e teria continuação.... De Lisboa, João enviou um soneto à bonita menina de Gondomar e,.seguidamente, uma carta atrás de outra. A Avó Maria estava sempre atenta à chegada do correio. Era ela quem abria as cartas, Li-as e só depois as entregava às filhas. Nunca teve de censurar as dele, quase sempre acompanhadas por sonetos românticos, que agradavam a mãe e filha. Um rapaz exemplar, bem comportado, muito religioso, de família conhecida (e abastada), filho único.... Perfil perfeito para um genro! A jovem Mariazinha gostava dele, mas não lhe agradava namorar com um viúvo. Em conversa com a Tia Rozaura, desabafou: " Ó Titia, um viúvo...não quero!". E a tia, avisadamente respondeu-lhe:: "Não te importes. De facto, todos os homens são viúvos. Antes de casar connosco, andaram com outras mulheres. quer estejam vivas ou mortas". Passado pouco tempo, ele telefonou. Na altura, só a irmã Carolina tinha telefone privado. Chamou-a lá a casa e puderam falar, combinando um encontro, que aconteceu prontamente.. E ele passou a aparecer, com frequência. Às 3.00 da tarde, a hora do Terço, ia diretamente para a Igreja, e, depois, acompanhava as senhoras à Vila Maria e ficava a conversar com a Mariazinha no terraço. A mãe entrava e ficava lá dentro, não aparecia mais, mas mandava a Lolita atravessar, de vez em quando, a sala de jantar, que tinha portas largas e vitrais para o terraço... Ao fim da tarde, ele regressava como tinha vindo, a pé, pelos caminhos da Gandra e São Gemil, até Gramido, onde atravessava o Douro, de barco, para Avintes. Anos depois, contou à Mulher que se ela lhe tivesse dito "não" junto ao Cruzeiro do Monte da Virgem, tentaria uma de outras duas jovens presentes, a mana Leninha ou a Teresa "da Pinta" - uma de várias irmãs, todas bonitas, que viviam numa das grandes casas de lavoura de São Cosme. No verão de 1941, a agenda habitual de férias levava a família Aguiar para a Foz e as termas de Vizela, e a família Moreira para Espinho, onde tinham casa de praia na rua 7. Nesse ano, porém, a Leninha estava a recuperar de grave primo infeção e os médicos recomendaram uma longa estadia no campo. Passaram o verão em Branzelo. numa quinta de amigos (Novais da Cunha?), um casarão enorme, e convidaram os primos do João, Alda, Manuela e Maria Helena Capela. O João, também, aos fins de semana. Conviva constante era um Rangel, que morava numa quinta próxima, e que, apesar de ser um pouco mais velho, alinhava bem este grupo numeroso. Não faltava pessoal doméstico, os caseiros da quinta, e as filhas, eram muito prestáveis. Em fins de outubro, estiveram todos numa desfolhada de lavradores... O romance entre Mariazinha e João progredia, e ritmo mais intenso - ficaram noivos e casaram pelo civil a 1 de novembro (continuando nas casas paternas) , e a 15, "a valer", pelos critérios familiares muito católicos, pela Igreja. 1941 Pais Branzelo verão .jpg1941 Pais passeio 14 julho (1).jpg1941 MÃE out.jpg 1941 mae e pai Branzelo.jpg1941 Pais cas Nov (1).jpg1941 Pai (restaurada).JPG 47 anexos — Transferir todos os anexos Ver todas as imagens 1935 Mãe Tia lola colégio.jpg 52K Ver Transferência 1941 MÃE out.jpg 26K Ver Transferência 1941 mae e pai Branzelo.jpg 67K Ver Transferência 1941 Pais cas Nov (1).jpg 52K Ver Transferência 1941 Pai (restaurada).JPG 139K Ver Transferência 1941 Pais passeio 14 julho (1).jpg 23K Ver Transferência 1935 tia lola f14 mae colegio.jpg 48K Ver Transferência 1941 Pais Branzelo verão .jpg 219K Ver Transferência 1931 avo m foto fam anos 30.jpg 267K Ver Transferência 1931 Avó filhos netos Clara Serafim V Maria.jpg 84K Ver Transferência 1930 Avó MARIA e filhas em vizela.jpg 160K Ver Transferência 1934 Mãe T Lola e M Laura Barboza.jpg 98K Ver Transferência 1938 Avó Maria e família na Vila Maria (1).jpg 124K Ver Transferência 1937 avo Maria carro de flores.jpg 40K Ver Transferência 1929 MÃE NA FOZ.jpg 53K Ver Transferência 1932 comunhao mae T Lola com T Lena.jpg 101K Ver Transferência 1942 pais eu nero.jpg 116K Ver Transferência 1942 Vila Maria família Aguiar natal.jpg 379K Ver Transferência 1945 Vila Maria Mãe Avó gr.jpg 413K Ver Transferência 1948 Tia Lena Avó Mãe e crianças na Vila M.jpg 654K Ver Transferência 1938 Mariazinha Lola e amiga no Lusitania REST .jpg 126K Ver Transferência 1970 PÁSCOA NA VILA M Avó Pais gr.jpg 130K Ver Transferência 1938 Avó Maria e família na Vila Maria (1).jpg 124K Ver Transferência 1974 VILA MARIA gr pascoa.jpg 148K Ver Transferência 1977 Vila Maria Avó gr natal.jpg 1313K Ver Transferência 1951 Mãe (1).jpg 81K Ver Transferência 1951 MÃE na praia de Espinho.jpg 119K Ver Transferência 1943 Mãe de fato preto e branco.jpg 67K Ver Transferência 1950 MÃE nos anos 50.jpg 51K Ver Transferência 1944 MÃE Gondomar.jpg 51K Ver Transferência 1950 aprox Mãe foto preferida.jpg 208K Ver Transferência 1950 mae.jpg 74K Ver Transferência 1972 MÃE foto de estúdio que detestava.jpg 47K Ver Transferência 1985 MÃE junto a buganvília 1 set.jpg 77K Ver Transferência 1990 A Mãe nos 70 anos foto favorita.jpg 28K Ver Transferência 2001 Mãe 28 agosto anos.jpg 129K Ver Transferência 2004 Mãe na expo J Tavares 2 maio.jpg 62K Ver Transferência 2005 MÃE em dia dos 85 anos .jpg 97K Ver Transferência 2007 MÃE café Palácio.jpg 117K Ver Transferência 2012 Mão na Pastelaria Latina.JPG 3837K Ver Transferência 1928 AVÓ MARIA e família Villa Maria (1).jpg 601K Ver Transferência 1931 MÃE na Vila Maria.jpg 127K Ver Transferência 1930 Monte Crasto Avó Maria e filhas.jpg 68K Ver Transferência 1941 MÃE na Vila Maria.jpg 33K Ver Transferência 2013 Mãe verao.jpg 147K Ver Transferência 2016 Mãe.jpg 1626K Ver Transferência
DITOS E ESCRITOS DA MARIA ANTÓNIA AGUIAR RECORDANDO, A 28 DE AGOSTO DE 2020 UMA MENINA DE GONDOMAR 1925 VILA MARIA Avós e meninos na varanda.jpg A pequena Maria Antónia, excelente aluna a História e a Geografia, sempre muito dada a recolhas de natureza cripto-etnográfica, (no que terá sido influenciada pelo exemplo da Tia Rosaura de quem também se conhecem apontamentos soltos sobre mezinhas e rezas das mulheres do antiquíssimo Gondomar, anotou os lugares, que faziam os seus encantos - o Barroco, a represa de Cascaneira, entre a Gandra e Ramalde, Bouça Cova, Azenha, Ermentão, Rio Carreiro, Fontela, Ponte Real, São Miguel, Pevidal, Santo André... E, também, expressões, nomes e alcunhas, que lhe despertavam a curiosidade, como Pojeiras,Restivos, Cabaças, Jeque-Jeque,Tarré Fome Negra, Caga Troços, , Carriças, Pilha Galinhas,Patacas, Pirabeca, Arregalados, Folhetas, Estabões, Bagulho,Parraxila, Chasco, Varetas, Melros, Pisco, Choco, Pimpão, Pinguinhas, Pombalinos, Toca- certo (um músico, evidentemente)...... Menos invulgar o nome de Isidro Izidoro, que, todavia, fez história, quando deixou dito que, nas exéquias, queria levar um cravo vermelho na lapela. Era ela uma criança, mas conseguiu que a levassem a vê-lo. A Maria Póvoas, fez-lhe a vontade, às escondidas da família... OS SEUS VERSOS PARA GONDOMAR 1930 aprox postal de GONDOMAR.jpg OH, MEU GONDOMAR Oh, meu Gondomar, minha linda terra Tu que embalaste o meu 1º amor Porque não levar-te presa nos meus braços Oh, meu Gondomar, para onde eu for? Encantamento que nunca esqueci Roseiral em flor desse meu jardim Tanta rosa murcha pelo chão caída. Mas tanto botão a abrir para mim... Gondomar, meu berço, capital do mundo És a minha casa, és o meu jardim Foste tu que viste os meus primeiros passos E irás guardar-me, ao chegar ao fim. 1933 MÃE.jpg Procuro-me e não me encontro E fico parada assim A chorar, meu Deus, porquê? Por ter saudades de mim! À CONVERSA SOBRE O TIO ALEXANDRE (conversa comigo, a 7 de fev de 2012) "Já atravessaste os Pirinéus?" Disse que sim. Continuou:"E paraste em alguma aldeia?" "Que me lembre, não; talvez, não sei..." Era para saber se eu tinha visto artefactos de lã dos Pirinéus. Depois, falou dos Xailes de lã (dos Pirinéus, certamente), que o Tio Alexandre lhe ofereceu, durante um passeio pelo Porto. Um era cor-de-rosa, comprado numa loja dos Clérigos, na Rua dos Lóios. Outro beije. A Tia Lola não quis nenhum e ela aproveitou o que devia ser para a mana Ambas iam com ele, muitas vezes, à baixa da cidade. No verão lanchavam sempre na Brasileira. Mandava vir enormes pratos de bolos e insistia: "Comei os bolos todos!". Nas outras estações, às vezes, gostava de ir a um pequeno café, na esquina em frente à Brasileira, na rua que vai dar à Av dos Aliados, ou a um outro, junto à Igreja dos Congregados. Ótimo, até tinha música! Descia-se para a rua por um pequeno degrau. O Tio era um homem encantador, nessa altura, já de meia idade. Em novo, dizia a sobrinha, "era muito bonito, parecia o Gregory Peck" UM ZEPPELIN EM GONDOMAR ( relato recolhido no início de 2019) Já a guerra tinha terminado, quando, em pacífico voo turístico, um enorme avião, diferente de tudo quanto se conhecia, atravessou os céus de São Cosme, sobre o Monte Crasto. A aparição foi olhada com pasmo e emoção. Segundo a Mãe, testemunha visual, parecia um gigantesco melão voador! Estava no quarto e a criada foi buscá-la, aos gritos - uma a quem chamavam "Maria nariz de pau". Correu para a varanda que ficava à saída da cozinha, ainda a tempo de se extasiar com o espetáculo - aquela "coisa" estranha, que avançava, lenta e majestosamente, como as suas dimensões e peso permitiam, Um prodígio, como gorga baleia que voava feita pássaro. Era meio dia. Para além da providencial Maria nariz de pau, não se recorda se a mãe e alguns dos irmãos partilharam com ela a singular experiência. Talvez não. Mostrei à Mãe as maravilhas da internet, Procurei em Zeppelin e logo apareceu a precisa imagem do que ela vira numa manhã dos anos quarenta. Lá estava, tal qual ela o descrevera... Não tinha uma máquina à mão para fotografar o momento... . COM AMÁLIA NO CAFÉ RIALTO e VIRGÍLIO TEIXEIRA NO PRAIA GOLFE A Mãe e a Tia lola adoravam a Amália, cantavam as suas músicas constantemente - não tão bem, porque isso é impossível, mas muito bem. A primeira vez que a viu, de perto, foi no Café Rialto, lindíssima, vestida de preto... Muitos anos mais tarde, falou com ele, várias vezes ao telefone, quando ela estava em casa do primo e nosso amigo Dr Seabra da Veiga, cônsul de Portugal em Connecticut - um home engraçadíssimo, muito parecido com o tio Zé, em feitio e até fisicamente, com uma diferença: vestia-se sempre muito bem, muito chique... Virgílio Teixeira, o famoso ator, um dos homens mais belos que jamais vieram ao mundo, e um amigo maravilhoso que fiz nas lides da emigração estava em Espinho Espinho, em março de 1995, no Congresso Mundial de Mulheres Migrantes. Em nova, achava-o tão bonito que andava com uma retrato dele (colecionava postais de atores dessa época) na carteira, quando não o deixava debaixo do travesseiro, Depois de casada, apesar de guardar numa gaveta a fotografia, tanto o gabava que marido chegava a sentir ciúmes (antigamente tinham ciúmes por tudo e por nada.. na minha geração já não era assim, sempre considerei normal que o meu "ex" tivesse uma paixão cinéfila por Catherine Deneuve, e ele que eu sentisse o mesmo por Gérard Philippe ou Paul Newman).... Virgílio estava com a sua simpática mulher Vanda, a Mãe também com o marido e conversaram e riram, animadamente... 1995 Espinho Pais V Teixeira e eu.jpg UM CASAL DE CINÉFILOS O cinema, nos anos, 40, 50, 60, fazia parte da vida. Ir ver um filme numa sala bonita, (São João, Batalha, Rivoli...) era um ritual que pontuava a semana, como lanchar na Ateneia ou na Villares, tomar um café no Guarani, no Imperial, Estivessem em Gondomar ou em Avintes, o centro da animação era sempre a cidade do Porto. Era lá que tudo acontecia. De tarde, a sétima arte era só para as senhoras (os homens trabalhavam...). A Tia Lina era uma companheira constante. Quando gostava do espetáculo repetia. No São João viram juntas a Madame Butterfly três vezes! À noite, geralmente ao sábado, o acompanhante era o marido. Ambos muito chiques, como então se usava, visto que havia dois intervalos, ocasião propícia de olhar e comentar "toilettes". A Mãe punha os seus óculos escuros (muito graduados), mais uma extravagância, pois na altura. ninguèm mais o fazia e, nem era muito prático, suponho, pois veria, no ecrã, as imagens escurecidas... Mais difícil era a conciliação de gostos. Ele tendia para filmes de ação, de guerra, westerns", policiais. Ela adorava comédias, Cantinflas, Doris Day. Talvez o ponto de consenso um bom drama, com os grandes nomes de Hollywood. Havia tempo e ocasião para alternarem os géneros. Começavam a noite, antes do filme, sempre num café, onde ele bebia mesmo café e ela um "peppermint" e no café, de novo, terminavam o serão, antes do regresso a Gondomar (ou a Avintes, onde também passavam temporadas).. Depois, quando a Lecas e eu tínhamos 6, 7 anos, levava-nos, às vezes, a "matinés". E eu tive de suportar as comédias do Cantinflas, que já dessa tenra idade, considerava excessivamente "infantis" - habituada que estava a ir ao cinema com o Avô Manuel assistir a espetáculos sérios, incluindo westerns e operetas, tão do agrado desse querido avô, o mais cinéfilo de toda a família.... OLD FRIENDS Falava-se do ISCTE, do seu aniversário, e a Mãe relembrou os tempos em que o Pai ali estava a terminar o seu curso de sociologia, em que ela o acompanhava em frequentes idas a Lisboa. Aos voluntários do Porto os professores davam, também como "voluntários" (noutro sentido). aulas especiais nos fins-de-semana e enquanto o pai assistia às aulas, de vez em quando, a mãe combinava um encontro com o velho amigo Maestro Fernando Marques Ribeiro. Para falarem dos tempos da juventude e daquele romance interrompido para sempre. Se o pai ia diretamente do ISCTE para minha casa, o Maestro levava-a de carro à Av do Uruguai. Nunca contou nem a marido nem a filha. Que pena! Eu gostava tanto de o ter conhecido! Impossível no caso de Celina, desaparecida anos antes do casamento do seu viúvo com minha Mãe e tão fácil no caso do Maestro, que, então, vivia em Lisboa, como eu... Assim, tal como Celina, Marques Ribeiro é uma imagem guardada num retrato. Mais uns fragmentos de histórias que fui recolhendo.. 1940 aprox Marques Ribeiro pianista.jpg1950 aprox JFernado Marques Ribeiro.jpg 1935 Celina VIANA carnaval.jpg .Celina Viana, a primeira mulher de meu Pai, em época de Carnaval Carnaval QUERIA SER ATRIZ OU PIANISTA O seu sonho de ser pianista ou atriz, não se concretizou...Os únicos palcos que pisou foram os do Teatro Nuno Álvares de São Cosme.E, pelos anos fora, atraiu com as suas canções, as suas histórias e as suas benignas excentricidades, a família próxima, um grande número de sobrinhos netos e bisnetos. Curioso é que até o seu dentista, o Dr Morris, um dia, sem saber dessa ambição secreta. lhe disse: Devia ter sido atriz. Vê-se mesmo que tem jeito!" Até na cadeira do dentista representava bem a sua personagem. "tem a certeza de que isto está limpo? Não usou essa agulho nos dentes do anterior?" E o Dr Morris, simpático e bonito odontologista respondia: "Claro que sim, serve para todos e nunca é limpa!" A Maria Antónia gostava de médicos bonitos. E foi tendo vários, ao longo da vida, o anterior dentista, do Porto, o Dr Figueiredo, o Dr Guimarães, o cardiologista...Até no hospital de Gaia, um mês antes de morrer, o neurocirurgião era um rapaz alto, loiro, de expressivos olhos azuis. E o motorista do táxi que nos trouxe para casa, também. Ao Doutor tratou-o por tu, começando por perguntar "És meu sobrinho?" Quando ele veio falar comigo, para lhe dar alta, informando que o TAC estava perfeito, disse-me: "Está muito bem. Só achei um bocadinho confusa, porque me julgava um sobrinho! Esclareci que não era assim tanto anormal, pois era senhora de muitos sobrinhos, alguns médicos, (sendo certo que os médicos não me parece que tenham olhos azuis) . Mas confusão não era - talvez, sim, uma maneira de fazer conversa com um jovem interessante, que poderia ser, mas não era, da família. 1950 VILA MARIA O PIANO.jpg O piano da sala de visitas da Vila Maria, onde todas as meninas tiveram aulas de piano (à conversa em (conversa a 1 de agosto de 2012) O Colégio da Esperança, nunca foi para as manas Mariazinha e Lolita, um lugar de boa esperança - tudo o que queriam era fugir de lá. No 1º anos, passaram o tempo a arquitetar planos de fuga, nunca concretizados... De boa memória é, contudo, a sala de piano do colégio! A Profª Margarida Portela, que era uma extraordinária executante, considerava-a uma aluna especial, uma futura grande pianista, e ofereceu-lhe as valsas de Chopin, com uma dedicatória. A Mãe deu-as à única pianista da família na nova geração, a Sameiro, mas esqueceu-se de copiar a dedicatória,e tinha muita pena desse esquecimento. Nas festas, as pianistas eram sempre a Mãe e a Amélia Moreira, de Avintes - chegaram a tocar a quatro mãos, Amélia morreu jovem, vítima da tuberculose, como a Celina. Foi a costureira da terra, que conhecia a mãe da Amélia que quis e conseguiu que se encontrassem, A senhora pediu-lhe que tocasse no piano, que estava fechado desde a morte da Amélia. Parece que a c. Ah, um pormenor: a professora era muito bonita e tal como a Mãe, muito míope... Outras memórias do mesmo lugar... Aí lhe roubaram-lhe uns brincos muito bonitos, dados pela Tia Rozaura. E ela até viu, a rapariga a mexer nas suas gavetas, mas hesitou. Depois, a Miriam, que também era amiga da ladra, pediu-lhe que não a denunciasse. E, assim, nunca mais recuperou os brincos... Há outro relato de um roubo de brincos, com especial valor afetivo, porque tinham pertencido à Tia Glorinha. Não foram achados, mas a ladra foi chamada à diretora e expulsa. Esteve lá apenas no 3º ano do Liceu e, no dormitório ficava ao lado da Mãe, Do outro, estava uma grande amiga a Fernanda Malen (que viria a ser freira) Anos mais tarde, numa reunião de antigas alunas, a Mãe encontrou a ladra. Talvez tenha sido nessa ocasião , tantas décadas depois, que a Miriam lhe pediu que fizesse silêncio sobre o escândalo.antigo . faz mais sentido... Os dormitórios estavam separados pela sala de piano. O das mais pequenas completamente aberto, sem cortinas. O das maiores com a privacidade relativa de cortinas que podiam fechar-se . As irmãs ficavam sempre juntas e era aí que planeavam escapadelas e partidas, falando baixinho.. 1935 tia lola f14 mae colegio.jpg Em 1937, já quase a sair definitivamente da clausura, as duas irmãs, à frente. Eram conhecidas, entre as colegas, como "os galos doidos" Imagina-se porquê . FORMATURA DA MARIA DO SAMEIRO Deu-te Deus essa fé determinada Dos que sabem seus sonhos realizar Que nasce em ti, em cada madrugada, A Estrela que brilha em teu olhar Esse teu ar esbelto e elegante Esse andar airoso de gazela Teu olhar sereno e confiante Sejam eco da tua Boa Estrela Espinho, Março 1988 --------------------------------------------------------------------------------------------- Resposta à Nita verão 1978 E das arribas do mar agradeço a atenção Bem quis logo responder, mas não tinha a direção ----------------------------------------------------------------------- 23 - 8 - 79 O postalzinho da "praxe" cá chegou, muito obrigada Agora espero a visita Dessa minha "sobrinhada" Para a Nita, Sameiro, Rosário, Lisa e Paulo ------------------------------------------------------------ 1982 A saudade quando veio veio mesmo para ficar aqui no meio do peito, fazendo rir e chorar Saudade fica comigo, porque já me acostumei Não fujas de mim saudade - de uma vida que te dei -------------------------------------------- Eu tinha umas tranças loiras E tão loiras eram elas passando em campo de espigas eu parecia uma delas. Saltando muros e leiras Na pressa com que corria Voaram as tranças loiras E só por isso me ria ----------------------------------------------------------------------- Perverso, inconstante mar revolto como o meu ser Vagas em fúria na procela tenebrosa Ao longe o meu olhar perdido na imensidão deste mar revolto Vem-me a lembrança daquele louco amor que agora é minha solidão Pediste ao mar para me falar de ti ou Ao longe, o meu olhar perdido na imensidão deste mar em fúria, revolto como eu. Vem-me à lembrança aquele louco amor que enche agora a minha solidão O 1º ENCONTRO DOS MEUS PAIS, CONTADOS PELA MÃE 13 de outubro. Um dia de chuva e frio para a missa nova do Padre Eduardo Pinheiro na capela do Monte da Virgem. Levava um casaco comprido cor de rosa (feito por uma modista de alta costura do Porto. Foram numa camionete de excursão, guiada pelo Sr Coelho, um homem simpático, cujas filhas estudavam no Porto, e que era sempre o escolhido nas peregrinações organizadas ao túmulo de Frei Bernardo pela Senhora Dona Maria Aguiar - e a quaisquer outras, Com a lotação esgotada, partiu a camionete do Sr Coelho para o Monte da Virgem A mãe suspeita que o seu 1º encontro com o jovem viúvo João Dias Moreira não foi inteiramente casual, Uma tia materna da Nucha e da Lucinda Aguiar, (sua madrinha, casada com Homero Figueiredo, que foi dono de farmácias no Porto e em Avintes e, depois, em países do sul da América, do Brasil ao Peru), Arminda de Sá era, em simultâneo, amiga de Olivia Capela, mãe do João, e de Maria Aguiar, a mãe da Mariazinha, que já trocavam correspondência e livros religiosos. Morava em Avintes, perto da amiga Olívia e da farmácia de Homero, (junto à Escola do Magarão), e visitava, muitas vezes a casa da Gandra do tio Augusto Aguiar e de sua irmã Leonor. .Estavam há pouco na capela, quando chegou o grupo de Avintes, com o viúvo e a mãe. A excursão de Gondomar ficou no fundo do templo, enquanto ele, o eventual viúvo e um amigo alto e moreno estavam junto ao altar.. Na verdade, um era loiro, o outro moreno e a Mãe não sabia qual era o João...No fim da missa, enquanto as senhoras mais velhas se dirigiam à sacristia para os cumprimentos, os jovens saíram para o adro. A Mariazinha distanciou-se, foi ver de perto um cruzeiro, subiu os degraus de pedra e para ler as inscrições gravadas na pedra e ouviu uma voz que lhe perguntava: "Boa tarde, dá-me licença? Olhou para trás - era ele, o jovem viúvo, o loiro... (tão atraente como o moreno!...). Pedia licença para lhe oferecer uns soquinhos- miniatura de couro, ligados por um fio de prata. Sorriu e aceitou. Ele tinha acabado de os comprar num lojinha que vendia, terços, imagens religiosas e artesanato. E assim começou a conversa, Contou-lhe que no dia seguinte ia para Lisboa com um primo, o António, visitar a Exposição do Mundo Português. A conversa, porém, teve os seus momentos críticos. Quando ele lhe perguntou a idade ele quis saber: "Que idade me dá?". Não se sabe porquê, talvez por a ver tão magra e pequenina, caiu na tentação de brincar, interrogando: "15 anos?". Mariazinha não achou graça nenhuma e quando ele lhe fez a mesma pergunta, sobre a idade que aparentava, disse-lhe: Não sei... Talvez uns 35..."". Ela tinha 20, ele 22... Logo depois, falaram de música, ela tocava piano, ele violino e o tom cordial foi recuperado... As apresentação formais das minhas (futuras) avós Maria e Olívia foram feitas pela amiga Arminda e a conversa até à hora de partir não foi longa, mas animada e teria continuação.... De Lisboa, João enviou um soneto à bonita menina de Gondomar e,.seguidamente, uma carta atrás de outra. A Avó Maria estava sempre atenta à chegada do correio. Era ela quem abria as cartas, Li-as e só depois as entregava às filhas. Nunca teve de censurar as dele, quase sempre acompanhadas por sonetos românticos, que agradavam a mãe e filha. Um rapaz exemplar, bem comportado, muito religioso, de família conhecida (e abastada), filho único.... Perfil perfeito para um genro! A jovem Mariazinha gostava dele, mas não lhe agradava namorar com um viúvo. Em conversa com a Tia Rozaura, desabafou: " Ó Titia, um viúvo...não quero!". E a tia, avisadamente respondeu-lhe:: "Não te importes. De facto, todos os homens são viúvos. Antes de casar connosco, andaram com outras mulheres. quer estejam vivas ou mortas". Passado pouco tempo, ele telefonou. Na altura, só a irmã Carolina tinha telefone privado. Chamou-a lá a casa e puderam falar, combinando um encontro, que aconteceu prontamente.. E ele passou a aparecer, com frequência. Às 3.00 da tarde, a hora do Terço, ia diretamente para a Igreja, e, depois, acompanhava as senhoras à Vila Maria e ficava a conversar com a Mariazinha no terraço. A mãe entrava e ficava lá dentro, não aparecia mais, mas mandava a Lolita atravessar, de vez em quando, a sala de jantar, que tinha portas largas e vitrais para o terraço... Ao fim da tarde, ele regressava como tinha vindo, a pé, pelos caminhos da Gandra e São Gemil, até Gramido, onde atravessava o Douro, de barco, para Avintes. Anos depois, contou à Mulher que se ela lhe tivesse dito "não" junto ao Cruzeiro do Monte da Virgem, tentaria uma de outras duas jovens presentes, a mana Leninha ou a Teresa "da Pinta" - uma de várias irmãs, todas bonitas, que viviam numa das grandes casas de lavoura de São Cosme. No verão de 1941, a agenda habitual de férias levava a família Aguiar para a Foz e as termas de Vizela, e a família Moreira para Espinho, onde tinham casa de praia na rua 7. Nesse ano, porém, a Leninha estava a recuperar de grave primo infeção e os médicos recomendaram uma longa estadia no campo. Passaram o verão em Branzelo. numa quinta de amigos (Novais da Cunha?), um casarão enorme, e convidaram os primos do João, Alda, Manuela e Maria Helena Capela. O João, também, aos fins de semana. Conviva constante era um Rangel, que morava numa quinta próxima, e que, apesar de ser um pouco mais velho, alinhava bem este grupo numeroso. Não faltava pessoal doméstico, os caseiros da quinta, e as filhas, eram muito prestáveis. Em fins de outubro, estiveram todos numa desfolhada de lavradores... O romance entre Mariazinha e João progredia, e ritmo mais intenso - ficaram noivos e casaram pelo civil a 1 de novembro (continuando nas casas paternas) , e a 15, "a valer", pelos critérios familiares muito católicos, pela Igreja. 1941 Pais Branzelo verão .jpg1941 Mãe T Lola amiga Branzelo agosto .jpg 1941 Pais em Branzelo verão.jpg1941 Pais passeio 14 julho (1).jpg 1941 Pai (restaurada).JPG1941 Mae out.jpg 1969 - A VISITA A PARIS O "Diário" da Mãe 2ª feira Em frente à "Cité", à cidade universitária, fica o belo Parque Montsouris, onde fui com a Manela, atravessando o Boulevard Jourdan, De metro, seguimos para o "Quartier Latin", - jardins do Luxemburgo, Panthéon (onde está sepultado Voltaire, entre outros grandes vultos franceses). Almoçamos rapidamente num self service, Wimpy, , mesmo em frente ao Luxemburgo, e descemos Saint Michel, a ver montras, Atravessamos as lindas pontes do Sena, visitamos a catedral de Notre Dame, passámos pela Câmara de Paris, pela Conciergerie, a Tour de Saint Jacques. Tomámos o metro no Chatelet, com os seus longos corredores rolantes. Viemos para a Cité, às 4.00 a Manela fez um chá. Voltamos ao Parque Montsouris. Fiquei junto do lago dos cisnes, enquanto a Manela foi comprar pão, queijos e vinho - um bom jantar (como eu gosto).no quarto dela. Ela foi ao cinema com a Laura, eu preferi ficar no quarto a ler. 3ª feira Fui a Vincennes no carro da Eduarda. A Manela e ela têm trabalhos das 9.00 ao meio dia. Eu estou sentada no bar da Universidade à espera.que voltem. Acaba de se sentar na minha mesa um velhote, sem pedir licença, a tomar uma bebida qualquer, A minha estadia em Vincennes (cont) A Manela está a fazer um exame (especializou-se em Direito do Trabalho e eu no bar, em conversa com os "colegas" (chamavam-me colega), num francês horroroso, como o Mário Soares, metade francês, metade português, e até com certas palavras em inglês. Enfim, a Manela ficava furiosa, quando me ouvia falar assim. E, quando a Manela estava a fazer o tal exame, eu, já farta de de passear no jardim (a Universidade tem um jardim enorme), depois de ter estado no bar, encaminhei-me para aqueles grandes corredores e vi a Manela, numa sala, a falar com um homem. E eu, cá de fora, (vamos indo que não entrei) a apontar-lhe o relógio, a fazer-lhe ver que era tarde .vamos embora! Enfim , ela nessa altura não andava tão irritada como agora e, quando me disse que estava a fazer um exame, até nos fartamos de rir. Passámos pelo Bosque de Vincennes e almoçamos em casa. Saímos para o centro de Paris com a Eduarda, que foi ao médico, Estou sentada numa esplanada, junto à Ópera. A Manela e eu viemos, a pé, pelo Boulevard de la Madeleine. Uma das zonas chiques de Paris, Entrei na Igreja da Madeleine, onde a Manela me tirou fotografias, Mais fotografias, adiante, junto ao Maxim's, na Praça da Concórdia. Na viagem para a Cité, há partes em que o metro é aéreo, passei à vista da Torre Eiffel. Fiquei no quarto da Manela, na Casa de Portugal, e ela foi para a Casa britânica., onde havia um quarto vago. 4ª feira Fomos visitar a Torre Eifel, tomamos umas bebidas num bar agradável, no 1º andar, com uma vista lindíssima, sobre o Champs de Mars, que de cima parece uma passadeira gigante, o Palácio de Chaillot, os telhados da cidade e,ao longe, o Sacré Coeur. Daí fomos até à margem do Sena e demos um maravilhoso passeio de barco, de cerca de uma hora. Passámos pela ilha de São Luís, pelos bairros mais bonitos de Paris, onde mora a Brigitte Bardot, Saímos do barco e subimos os Campos Elísios. Havia grandes manifestações. Acho que que por causa da tomada de posse de Pompidou. Os polícias, aos magotes, todos engalanados, e uma bandeira enormíssima, no Arco do triunfo. Qs Campos Elíseos são um encanto! À noite, fomos de carro, com o Padre Micael e o Engº Pires a Montparnasse, belos restaurantes, boites" e cafés, onde se reúne a boémia mais selecta. Lindas "boutiques" em Sèvres Babylone e o contraste dos talhos de Halles, que abastecem de carne a região parisiense. Demos a volta à Concorde, à noite tem mais encanto, assim com a Torre Eiffel iluminada e o Palácio de Chaillot, ou os Campos Elísios. Parámos no carro mesmo em baixo do Arco, com a sua gigantesca bandeira o facho a arder, e as enormes coroas de flores, azuis, brancas e vermelhas, em honra dos mortos de Guerra. Cenário especialmente solene, na altura da posse do Presidente Pompidou. Continuamos para Montmartre, Sacré Coeur, estivemos junto a várias "boites", a de Patachou e outras. Que ambiente, com grupos de músicos, artistas a pintar as suas telas nas ruas, muitos turistas, muita animação. Atravessámos Pigalle, "boites" mais duvidosas, o Moulin Rouge e o Lido. Chegámos à Cité depois da 1 hora 5ª feira Constipei-me, não pude sair à rua. 6ª feira De manhã, ainda fiquei em casa, almocei no quarto. Disse-me agora uma amiga da Manela, que ela andava no corredor às 9.00 da manhã, para não me acordar. À tarde, fomos às Galerias Lafayette, onde andámos horas,. Vimos o Maurice Chevalier, que estava a autografar um livro seu. As Galerias são um mundo gigantesco, com escadas rolantes, que subimos e descemos. Fizemos algumas compras. Fomos, depois, ao mesmo bar onde já tinha estado, perto da Ópera, quando a Manela foi ao famoso otorrino Tirou-me várias fotografias, Tomámos um autocarro já em andamento, o revisor, um preto enorme, segurou-me, mas rasguei a saia... sábado Saímos às 10.00 com a Laura e a Isabel, e tiramos muitas fotografias nos jardins da Cité. De metro, para o Luxemburgo, todas a ver as montras e a fazer compras nas boas lojas do Quartier. com uma pausa para almoço rápido num restaurante de Saint Germain, A pé para a Sainte Chapelle, com os seus vitrais lindíssimos, do teto até ao chão. Andámos num supermercado, como aqueles que se vêem nos filmes. à noite, a Manela foi revelar fotografias para um laboratório com o Padre Mário até à meia noite e eu estive no quarto a conversar com a Laura. Domingo Levantamo-nos cedo. A Manela continua a revelar as fotografias com o Padre Mário, Ás 11.00 a Laura, a Manela e eu fomos ver um filme erótico (na realidade pornográfico - só mulheres nuas e striptease, pretendia ser uma comédia). Saímos a meio. Almoço rápido num self perto do cinema e, depois, foi tempo de cultura. Longa visita ao Louvre, Mona Lisa, Vénus de Milo, Vitória de Samotrácia. pirâmides do Egipto, um túmulo autêntico de Faraó... Chegámos à noite à cité e fomos jantar as três e mais a Eduarda a Gentilly num restaurante, Passámos ao sítio onde existiu a casa da M.me Curie (já demolida) "2ª feira. Dormimos as duas no apartamento. Estivemos em arrumações,. Encontrámos uns escritos do Padre Mário, dentro de uma revista. Estivemos, de novo, em Gentilly, em frente à Casa de Portugal. Fomos a um café, onde a Manela respondeu a uma carta do Manel, que tinha recebido. Acabámos por almoçar num bar da Cité. A Eduarda levou-me de carro até à estação de Austerlitz. A Manela ficou e vai esperar pela Docas, que chega às 5.00 de comboio Na carruagem em que vou está o actor Jean Pierre Casset, mas no meu compartimento são 4 velhos, que já estão a dormir. Dois portugueses quiseram meter conversa, mas não estive para os aturar. Em Bordéus, entrou uma canadiana, muito simpática, conversámos (mal) em francês. Em Irun, atrelei-me ao 1º grupo de portugueses. Vim numa carruagem, que o carregador espanhol me arranjou. - despediu-se, estendendo-me a mão - com um dinamarquês (muito chique), com uma filha de 12 anos. Falámos francês, e à noite, fartamo-nos de rir, os três, porque avariamos uma das cadeiras para fazer cama. Na fronteira, não me abriram mala nenhuma e Vilar Formoso, nem à ida, nem na volta.. Os portugueses que entraram em Paris, foram mandados para a 2ª classe. Em Irun, tornaram a entrar na 1ª, com mais très, de botas grossas e linguagem ordinária, filho da p---, etc. O que vale é o dinamarquèss não entender 1969 MÃE Paris 17 junho.jpg 1969 Mãe em Paris.jpg 1969 MÃE em Paris N Dame.jpg LECAS Depois de nos faltar uma filha, nunca mais se esquece. Tenta-se viver como se pode, mas o coração está sangrando constantemente e nunca mais se é a mesma pessoa... Em noite longas de dor e sofrimento. meus olhos já cansados de chorar Eu peço a Deus que me dê alento E me deixe contigo conversar A minha adorada, minha confidente, Conversei contigo, solucei meu pranto, De saudade infinda, que no peito trago A noite inteira falei e tu falaste Compus outrora poemas desmembrados sem conseguir dizer o que queria mas agora, passados muitos anos. a sós contigo (já conseguiria?) (Para a Lecas) Minha adorada, luz da minha vida A noite inteira conversei contigo Num pranto de saudade infinda destruí minha alma Sonhos meus, audaciosos, inquietantes, insatisfeitos - como eu, uma insatisfeita - sonhos belos de um amor quase perfeito. Mais de uma vez desci o Crasto num voo pleno de graça e leveza. Senti mesmo os pés a levantarem-se do solo e voei acima daqueles queridos pinheirais, eucaliptos e mimosas, voava em direção a minha casa... Mas fiquei diferente, sim, depois que perdi a minha querida filha. Ela era a minha alegria e a minha vida, era minha e roubaram-ma. Fique perdida num deserto, fiquei sozinha, Que me perdoem todos os que ficaram comigo, ficaram muitos, ficámos todos , menos ela. Que me perdoem, mas eu fiquei sozinha. 1962 MADALENA foto para retrato de NORBERTO .jpg1960 LECAS .jpg 2020 MADALENA oleo de Norberto.jpg RETORNO AO PASSADO EM GONDOMAR Agora, recordo a chorar as pedrinhas da calçada que já não volto a pisar... Ainda tocam trindades na Igreja de São Cosme. Ouvi tocar a primeira carreira para a missa das 7, uma hora antes da missa. !/4 de hora antes, 2ª carreira e, depois, o toque para a missa. Fez-me muitas saudades, ouvir tocar para a Missa. Pareceu-me ouvir a voz da minha mãe a dizer: "Meninas, vamos embora, já tocou a segunda carreira". Tenho saudades de pedir a bênção à minha Mãe e minha Tia... VILA MARIA Apesar de sentirmos a falta do nosso Pai, eu e os meus irmãos éramos felizes e não sabíamos. A única falta nas nossas vidas (ainda tão jovens) era aquele lugar na mesa da grande sala de jantar, o do Papá (como a nossa Mãe dizia) ocupado, então, pelo meu irmão António. FÁTIMA 1990 MÃE Fátima lugar das aparições 29 abril.jpg Agradeço à Nossa Senhora A VIDA Fátima, 26-4-86 Agradecer, agradeço esta paz diferente, que sinto em Fátima, como se fosse, em cada ano, a primeira vez. E, neste constante turbilhão de sentimentos, que me invade, sinto-me, aqui em Fátima, mais benevolente e compassiva, são só três dias de "tratamento", mas já é bom para o meu espírito cansado e atormentado. Parece que renasci, aqui, hoje. Fátima, 27- 4 - 89 (A MANELA) Corria veloz. cheia de energia ceifando flores do belo jardim. Protestos e ralhos. Como elea se ria... São minhas as flores, são todas para mim... Manelinha, mas isso é maldade, dizia-lhe alguèm, decerto era eu. Intervinha a Avó, ar de cumplicidade, São dela, claro, foi Deus que lhas deu É muito inteligente, não precisas ralhar Um anjo a menina e só eu a entendo. Só a Avó a sábia levar... E aquele anjo, menina vestida de anjo, de asas partidas, cabelo em desalinho, laçarote perdido, ia para a procissão Eu peço a Deus para te acompanhar O tempo vai passando e a saudade fica connosco pela vida fora 1947 eu na procissao anjo amarelo.jpg1948 Avo Mae e eu.jpg NOS 50 ANOS DA MANELA Tempestade traz bonança o passado traz saudade, a vida é sempre esperança, busca da felicidade Passa um ano, entra a saudade mil beijos para ti, meu bem a maior felicidade te deseja sempre a mãe Espinho, 8-6-92 1992 Meus 50 M Carmo Mãe eu T Lola Sameiro.jpg SAUDADES Saudade, palavra amarga e doce. Saudades da minha linda terra, S Cosme de Gondomar, onde imperam os grandes artistas de filigrana de ouro. Saudades do meu Monte Crasto majestoso, donde em noites de luar (esse luar ímpar das noites de Natal, que eu guardo na minha memória e recordo comovida), se abrangia toda a minha terra, banhada de um manto de prata. Saudades daquela prenda do menino Jesus, que a minha querida Mãe, com tanto carinho, pòs debaixo do meu travesseiro: uma linda pulseira de prata, toda feita de margaridas, que ainda hoje guardo, com todo o meu amor. Saudades da minha mocidade, dos meus amores, das minhas ilusões, dos meus tempos de colégio, de minha casa, do meu jardim cheio de flores, do meu piano, meu confidente, o meu piano, que escutou tantas histórias de amor, Saudades da minha Terra, a minha casa, os meus Natais. 1930 Monte Crasto Avó Maria e filhas.jpg De todos os sentimentos humanos, nenhum mais natural do que o amor pela Terra, pelo vale, ou pelo bairro onde crescemos. A nossa Terra aviva-nos as recordações mais familiares (íntimas), mexe com as nossas emoções mais profundas. Tudo o que faz parte dela, pertence-nos, em alguma medida, e, decerto forma, nós fazemos parte dela também, tal como a folha pertence à árvore. Saudade, palavra amarga e doce. Saudades da minha linda terra, S Cosme de Gondomar, onde imperam os grandes artistas de filigrana de ouro. Saudades do meu Monte Crasto majestoso, donde em noites de luar (esse luar ímpar das noites de Natal, que eu guardo na minha memória e recordo comovida), se abrangia toda a minha terra, banhada de um manto de prata. Saudades daquela prenda do menino Jesus, que a minha querida Mãe, com tanto carinho, pòs debaixo do meu travesseiro: uma linda pulseira de prata, toda feita de margaridas, que ainda hoje guardo, com todo o meu amor. Saudades da minha mocidade, dos meus amores, das minhas ilusões, dos meus tempos de colégio, de minha casa, do meu jardim cheio de flores, do meu piano, meu confidente, o meu piano, que escutou tantas histórias de amor, Saudades da minha Terra, a minha casa, os meus Natais... 1931 MÃE na Vila Maria.jpg 1928 AVÓ MARIA e família Villa Maria (1).jpg -------------- Não posso olhar para a nossa casa, a casa da minha Mãe, sufoco de saudades, e as recordações são tantas! Festas de Natal, os risos das crianças, o cheiro das rabanadas, o cheiro da minha adorada casa. Tantas Páscoas = o compasso!), casamentos, E, de repente, pela minha cabeça passava a minha meninice, adolescência, as nossas gargalhadas - éramos sete - as reprimendas da nossa querida Mãe. "meninas (a minha irmã Lolita e eu passávamos a vida a rir):não riam tão alto, não é bonito". Além disso, Muito riso, pouco siso" Dentro daquelas paredes guarda-se a história das nossas vidas, meus irmãos, minha Mãe, quantas alegrias, quanto amor, e quantas tristezas também! Parece mentira que tanta história caiba dentro daquela adorada casa. Desci aquelas escadas para me casar na Igreja da minha Terra. Depois, e a história continua, ali nasceram as minhas filhas. Mais risos, mais gargalhadas. tudo se repete. é a nova geração! 1970 VILA MARIA gr natal .jpg ---------- Compasso na minha Terra Corações cantando almas em flor, flores em casa e no jardim também. Vem o compasso - é Deus , é amor. Pela aldeia fora campainhas a tocar. Flores desfolhadas e "verde" pelo chão, Aí vem o compasso, aí vem a Cruz a chegar. Pojeiras onde os criados da minha Mãe iam buscar verdes para pôr no chão - fora do portão, do portão até ao terraço e pelas escadas acima, o percurso que, no domingo de Páscoa fazia o cortejo do compasso. Alguns anos antes, íamos com a Nucha buscar fetos e verdes ao Barroco. Tão lindo! Era um vale entre a Gândra e Pevidal. Mês de maio Mês de maio, minha aldeia tão linda,tão florida. Ao entardecer, subíamos o Monte Crasto, para as novenas do "mês de Maria". Eu tocava o pequenino órgão do coro da capela de Santo Isidoro. no Crasto, a Lolita e outras raparigas, como nós, cantam coisas tão belas... Não sou bonita, nem feia, sou simpática, fui sempre muito simpática (isto não é narcisismo...). É verdade. E fui em tempos, há muitos anos, uma rapariga interessante, pequena, bastante pequena, mas cheia de saúde, estuante de vida, vida e alegria, que transbordava por todos os poros do meu corpo. Diziam até que eu tinha muita graça, aquela graça natural de uma rapariga que da vida só queria a vida e nada mais. E o fulcro da vida era o amor. De uma sensibilidade doentia, muito sincera, expansiva e nada egoísta. 1941 MÃE na Vila Maria.jpg 23-2 - 74 PORTO (um sábado) Primavera nos jardins, primavera nas casas e nas pessoas, sim, porque entrou também a primavera nos corações de cada um. Minha terra tão linda, estás perdida, mas eu encontro-te, minha rainha. Minha terra coroada de mimosas, A tua coroa é o Crasto. Sala de visitas das gentes de Gondomar e de tantas outras. Minha terra, berço de todos os meus... Não é a minha vida que vou passar ao papel, são várias vidas, porque terei de lembrar antepassados e contemporâneos... ESQUEMA de BIOGRAFIA 4 partes 1ª - nascimento e vida em família 2ª - internamento no colégio 3ª - regresso a casa aos 18 anos: namoros 4ª - casamento e peripécias seguintes 22 - 7 - -92 Um sonho Eu vinha de cima, a chegar a casa, e vi a entrar na minha porta a minha Tia, a minha Mãe e várias crianças. Cumprimentei a minha Tia, dei-lhe dois beijos, e ela abraçou-me. A minha Mãe estava mais adiante. Dentro não era a minha casa de Espinho, era aquela sala antiga, muito grande, com um quarto à esquerda, uma porta em frente à porta da rua, que dava para dois quartos interiores, à esquerda do corredor a cozinha e a sala de jantar, ao fundo, com porta e janela para o quintal. Cumprimentei também a minha Mãe, dei-lhe dois beijos, ela também me abraçou. Numa alcofa estava uma criança muito linda e elas disseram-me as duas: "é a Marta, a Martinha, vai ver que é bonita". Aproximei-me, uma dizia: "é parecida com o Avô" (o meu Pai) e eu chamei a Manela, peguei na menina e os olhos eram tão azuis, tão azuis (como eu nunca vi, ou antes, devia ter visto, deviam ter sido assim os olhos do meu irmão Manuel). A criança era lindíssima e era tal e qual este retrato do meu irmão (Manuel), que eu tenho aqui no quarto. Entretanto, a minha Mãe sentou-se numa cadeira e encostou-se a uma mesa, com a mão na cabeça. Eu perguntei : "O que tem a Mamã"? "Estou com azia", e eu virei-me para a Olívia e mandei-a fazer um cházinho" A minha Mãe e a minha Tia diziam: "Quem muito dorme, pouco aprende (ou seja. é estúpido) A CASINHA DA PEDREIRA Queria voltar a ver as camélias a florir, as laranjas a crescer. Queria voltar a ter na minha mão pintaínhos acabados de nascer Queria voltar a ver o jardim, a capoeira, a horta - querida Maria - que te enchia de canseira Limonete ao fim da escada Alecrim pro's ramos bentos toda uma festa, a ramada a casinha, tão modesta, com o nicho e a cantareira... Agora, recordo a chorar as pedrinhas da calçada que já não volto a pisar. ---------------------------- 12-6-93 ESPINHO Ontem fui a Gondomar ao baptizado do António, filho da Ana e do Tozinho. Lindo baptizado, maravilhoso jantar em casa dos pais da Ana em S Cosme. Que saudades da minha linda Terra, que saudades da minha Mãe, da minha querida casa, dos meus irmãos todos (quando éramos jovens), do terço rezado à volta da mesa, depois do jantar - as criadas e o criado, à porta da cozinha, a rezar connosco), que saudades de mim, meu Deus! Tantas saudades de tudo, que nem me cabem no coração. E choro, choro, por tudo o que eu tive e perdi. Oh minha terra,(onde se vê o céu), meus verdes campos, meu lindo Monte Crasto. 18-5-93 ESPINHO Daqui do meu sofá, na minha sala virada para o jardim, a partir da porta larga - de parede a parede - vejo um retalho pequeníssimo do jardim da minha casa (pensando) no jardim da casa da minha Mãe, da nossa querida casa. O meu jardim, o meu roseiral, as minhas adoradas rosas, que parecem as nossas rosas, minha Mãe! A trepadeira vermelha que sobe pela parede, junto ao poço, (e tem ao lado uma japoneira) está coberta de flores e todas as outras mais parecem rir-se para mim. 1998 Mãe no seu jardim.jpg 19-8-93, quinta-feira UM DIA Levantei-me às 9/2. Está um dia de sol e calor. Vou tomar o meu chuveiro e vou ao café, Talvez encontre a Leninha, (que está cá, a passar uns dias no apartamento do pai). 27 Set 94 TITA Hoje tenho-me lembrado todo o dia da Tita, minha querida cadelinha, que morreu há mais de um ano. Mas hoje vejo-a sentadinha no sofá, tão pequenina (era uma yorkshire terrier). Não gostava que ninguém se sentasse perto, queria o sofá todo para ela. Sabia quando eu estreava uns sapatos, farejava-me os pés. 1960 M CARMO RAZZINI E TITÃ .jpg1983 Titã à janela em espinho.jpg 29 - 3- 95 LENA E DAVID Gosto de encontrar a Lena e o David (ao domingo), em casa do Mário. Já vamos tendo tão pouco tempo para nos encontrarmos, minha querida irmã. temos de aproveitar as ocasiões que se proporcionam para nos vermos. Está a aproximar-se a Páscoa. Que saudades das nossas Páscoas, na nossa casa, que saudades do compasso (com a nossa Mãe, claro), nós, todos os irmãos reunidos, as minhas adoradas filhas, os meus sobrinhos, os namorados deles, as criadas na cozinha, o cheiro dos cozinhados, o saudoso cheiro bom da nossa casa, que cheirava sempre a flores, o nosso jardim, aquele paraíso, como a minha mãe dizia 1986 Mãe Tios Lena e David em Chaves agosto.jpg LECAS Minha Lecas, minha filha, a coisa mais linda que eu fiz e criei, na minha vida. Nem as rosas, as flores do meu jardim. Minha querida filha, valeu a pena viver e sofrer, só para te ter, a ti. Tristes prenda que te dou, minha adorada filha, padre nosso e flores. Tu que gostavas tanto de vestidos, de sapatos, de pequenos chocolates. 1963 Mãe e Lecas no Porto.jpg O CARNAVAL DE 1962 Grande festa nos dois andares do R/C da Rua Latino Coelho. A Mãe e a Maria do Carmo Razzini pediram aos vizinhos para fechar a porta da entrada e usar o átrio como pista de dança, a continuar a sala dos meus pais, Na sala dos Razzini era a ceia, com mesa de doces, salgados e bebidas.. Todos fantasiados, O Dr Figueiredo fazia um chinês convincente, embora muito alto (Tb há chineses altos). O Pai com vestido, chapéu e sapatos da Maria do Carmo fez sucesso (ele calçava 42, ela 40, deve ter sofrido de aperto e,talvez, dado cabo dos sapatos - possivelmente velhos. Havia muita gente, o Domingos, muito engraçado, sempre a falar da "minha Berta". Os donos do Café Príncipe, a Ester e o Sr Rosas, ela com farda de magala e ele com um traje de vianesa, Simpático casal - gostaram tanto da festa, que, no ano seguinte, a organizaram na sua casa. Foi igualmente uma festa esplêndida. Moravam perto de nós, numa vivenda grande. A recordação mais viva que guardo é a da Madalena a cantar "Índia" e outras das suas músicas preferidas, com uma voz incomparável - a grande estrela da noite querido e saudoso amigo meu. 31-8-94 A Manela foi ontem para Lisboa de carro, (Peugeot), sozinha, e hoje, de manhã cedo partia para a Turquia, a esta hora ainda vai a voar, São 4 horas. da tarde. Esteve aqui em Espinho 3 semanas e por acaso com um tempo ótimo de praia. Esteve também cá, no andar da Manela, a Terezinha, Helder e Tozinho - que está um encanto - uns 15 dias. Foram ontem à tarde embora, para Gondomar, ficámos sozinhos, e com muitas saudades. Estou muito triste, também, porque a Lélé foi fazer e tem de ser operada ao útero. Deus a proteja. 23-9-94 A Maria do Carmo esteve cá 4 dias. Vinha para passar 15 e sentiu-se mal da bronquite, de que já sofre há muitos anos e de uma hérnia no estómago, que também já tem há muito tempo. . A Maria do Carmo vinha cá 2 ou 3 vezes por ano, mas a viagem é muito longa, faz um grande sacrifício, coitada. É uma grande amiga Assim, eu vou ficando mais pobre (não de dinheiro, mas de dinheiro também, porque os juros vão descendo e eu vivo dos juros), mas de amizades verdadeiras, que tanta falta me fazem. Sinto-me muito abalada e desanimada. 28-4-93 Viagem para Fátima no nosso carro, eu e o João Matos cheios de verdura, os pinheiros com as suas "crescências" e um mar de juventude. Campo enfeitados de ( .?) irradia, alegria e jardins cobertos de flores variadas, parecem cascatas ali...para receber a primavera. Há ainda as maias a quebrar o verde das matas, essas flores tão lindas, que alegram os olhos e aquecem o coração. As flores amarelas encantam-me. O céu está carregado de nuvens brancas, o sol espreita, de vez em quando e vai adoçando a viagem. Chove, de longe a lomge. Não gosto de viagens com chuva. Com todas as viagens (aliás, como na nossa vida), não há conversa -2 ou 3 palavras de Espinho a Fátima e estamos agora a parar num bar da Mealhada.para tomar um cafézinho. O João enganou-se, passou o bar e teve de levar o carro em marcha atrás, mais adiante.E parou um carro da polícia mesmo ao nosso lado.. Foi manobra perigosa, esteve prestes a pagar multa, mas lá nos deixaram em paz (o João alegou que tinha tomado um diurético...), Ameaçaram-no de ficar sem carta na próxima transgressão. Agora continuamos a nossa viagem, atravessamos a serra (de Lousã?). Continua o céu cinzento, com abertas de azul, de vez em quando. Há uma cordilheira à nossa frente e do lado esquerdo, a bordar o horizonte. A auto-estrada permite-nos ir a 120, o que para o João é uma grande aventura.. Os matos dos dois lados da estrada continuam cobertos de maias. Que lindo! É para alegrar o cinzento do céu .Estamos a 20 km de Leiria, portanto já perto de Fátima. A paisagem é bonita, mas quanto mais lindos eram aos caminhos por onde eu vinha há 30, há 50 anos? A 1ª vez que vim a Fátima com a minha Mãe e a Mª Ernestina, irmã do Eduardo, tinha 17 anos. Uma grande chuvada e estamos a 16 km de Fátima, avista-se ao longe uma povoação, deve ser Vila Nova de Ourém. Já se vêem as características desta região, os muros de pedrinhas - como há em Fátima. Aqui e ali um campito verde, verde tão verde e fresco, parece um tapete de entrada em Fátima Estamos em Fátima. A chuva parou, deu lugar ao sol, lá fora e no meu coração. Espinho, 24 de Abril de 1996 Vai fazer no próximo domingo 3 semanas que o meu querido João foi para o céu. Meu amigo, meu companheiro de 55 anos. Foi no dia de Páscoa, às 8 e meia da noite no dia 7 de Abril de 1996, Está em Gondomar, ao pé da nossa Lecas. Mas como tem sido difícil para mim sofrer sozinha tão grande desgosto, não tenho com quem desabafar e isto é uma tortura enorme. Tento resistir, mas preferia ir para perto dele e da nossa Filha. 12 de Maio João e Lecas quero ir para perto de vós, vinde buscar-me, não tenho nada que fazer aqui. A Manela tem a vida dela e eu vivo sozinha, (esta criada que vive aqui em casa não é ninguém) Não posso sofrer assim , quero ir embora, descansar perto de vós. Pedi a Deus por mim. João, meu companheiro, meu amigo, tu tinhas tantos cuidados comigo, e agora deixaste-me sozinha. Eu desabafava contigo e agora não tenho com quem falar. Sofro atrozmente de saudades e solidão. Que mal nós aproveitamos ou vivemos o nosso tempo juntos, João.. Tudo o que eu fazia era para ti, João. Queria um piano para que tu me ouvisses tocar. Agora já não quero. Fiz o meu jardim para tu veres. Vestia-me bem para tu olhares para mim. Lembras-te como antes de estriar uma roupa te perguntava se me ficava bem? E tu sabias como ninguém aconselhar-me, eu acreditava, piamente, no que dizias. Agora já nada me interessa, acabou tudo para mim.Eu não posso, não sei viver sem ti. Triste primavera, triste sol e até as flores do meus jardim são tristes. 3 de Junho de 1996 Cada pessoa tem a sua casa exatamente para poder sofrer e chorar sozinha.Meu querido João eu ando perdida e perdida por esta casa sem te ver e pergunto. para onde foste sem mim? Tu que não ias a parte nenhuma sem me dizer, para onde foste sem me dizer? E deixaste-me aqui, assim, desesperada, Eu morro de saudades tuas. 5 de Junho de 1998 Meu João, meu amor, grande partida me fizeste, naquele dia de Páscoa, 7 de Abril, ao jantar. Tínhamos chegado de Gondomar às 7, tu foste ao Café Vieira tomar o teu cafezinho e chegaste atrasado para o jantar. Eu e a Manela já estávamos à mesa e tu chegaste, sentaste-te em frente a mim, comeste a sopa e ias continuar, quando eu, conversando contigo, te disse que tinha a cara muito vermelha e inchada do calor dos aquecimentos em casa do Mário (eu costumo ficar assim com o calor). Tu, querido, olhaste para mim e ias dizer qualquer coisa. Já não disseste. A cabeça caiu lentamente para a frente e tu, meu amigo e companheiro de 56 anos, partiste e deixaste-me sozinha. Quem me dera ter ido contigo. As minhas lágrimas são de saudade e desespero, eu não sei viver sem ti!. Agora, só agora sei que tudo o que eu fazia era para ti, João. Todos os vestidos que eu comprava, quando eu cantava nas festas da família, as flores do nosso jardim, os móveis para a nossa casa, tudo era para ti, meu querido João. Eu queria que tu gostasses do que eu gostava.. Amanhã, dia 6, fazias 78 anos.e, no dia 7, faz dois meses que me deixaste! Oh, João, como é possivel eu não falar mais contigo e tinha tantas coisas para te dizer, como disse quando era mais nova (éramos mais novos). Mas que eu queria agora, ainda, dizer-te outra vez. João, leva-me para o pé de ti e da nossa Lecas, meu amor, chama por mim, este mundo não tem interesse nenhum para mim. Nem estes dias esplendorosos de sol, nem o meu jardim cheio de flores, nada, já não há nada que me faça ficar aqui. Sinto-me sozinha e abandonada num mundo desconhecido, João, vem-me buscar! oão, leva-me para o pé de ti e da nossa Lecas, meu amor, chama por mim, este mundo não tem interesse nenhum para mim. Nem estes dias esplendorosos de sol, nem o meu jardim cheio de flores, nada, já não há nada que me faça ficar aqui. Sinto-me sozinha e abandonada num mundo desconhecido, João, vem-me buscar! 1943 Pais retrato de estúdio.jpg1945 Pais penha.jpg 1954 Pais no casamento primo António Reis.jpg1956 pais.jpg 1956 pais casam. m ang. 56.jpg1969 Pais 28 8 Espinho Praia Azul.jpg 1971 Pais LX na varanda do andar da Av Uruguai.jpg1972 pais biarritz 2.jpg 1975 Pais Pascoa junto ao Nosso Café.jpg1979 PAIS E Mora 28 8 .jpg 1983 pais natal 83 2 (1).jpg1984 Pais Espinho esplanada.jpg 1987 mae e pai esplanada café palácio.jpg1988 Pais 1 jan.jpg 1989 Mãe e Pai em casa da Lé .jpg1990 Pais nna Esplanada.jpg 1991 PAIS À BEIRA MAR 1 1 (1).jpg1991 pais 15 11 bodas o.jpg 1990 Pais em 15 nov anis casamento.jpg1992 PAIS em Fatima.jpg 1992 PAIS no espelho1 1.jpg1993 Pais casamento Carlos.jpg 1992 pais 6 6.jpg1994 Pais verão.jpg 9 de Junho de 1996 Dia dos anos, 54 anos, da Manela. Está na Venezuela, em Caracas, eu estou aqui, com as minhas recordações. Meu querido João, os dias estão cheios de sol, mas tão tristes para mim! Acabou tudo desde que me deixaste, mas que amargura de vida! 11 de Junho de 1998 Meu João, eu morro cheia de saudades tuas, não posso viver assim, porque me deixaste? Eu não posso nem quero viver sem ti. Preciso de ir para perto de ti e da nossa Lecas. 15 de Junho Pode-se morrer de saudade e eu acho que vou morrer Já há mais de dois meses, meu amor, que te foste embora. E eu sentada no meu maple sinto que tu estás ao meu lado, sentado no teu, e eu viro a cabeça e vou falar contigo. João, como posso viver assim? Durante o dia, de vez em quando,estou a pensar: logo quando o João chegar eu pergunto-lhe isto ou aquilo. Ouço os teus passos a subir a escada, ouço o meter a chave, ouço-te a tossir. e morro, aos poucos, de saudades. Como ficou tudo vazio á minha volta 20 Junho Esta noite sonhei contigo, Em casa da minha Mãe, em Gondomar., no nosso quarto de inverno, (onde nasceu a nossa Lecas), o quarto azul. Tu estavas a chegar a casa (do emprego, cansado), agarraste-me atrás da porta e deste-me muitos beijos e disseste-me que já tinhas muitas saudades minhas. Tínhamos em casa da minha Mãe outro quarto, de verão, no andar de cima (chamávamos-lhe "o quarto de hóspedes", foi onde nasceu a Manela).. 21 de Junho Meu querido João, eu dizia até agora "feliz de quem fica cá", mas já não penso assim. Agora sei verdadeiramente que quem é verdadeiramente que feliz é quem parte. Por isso peço-te para me chamares, eu quero partir. 22 de Junho João passo os dias a chorar, nem sei como tenho tantas lágrimas nos meus olhos. Estamos no verão, eu continuo sozinha, a Manela veio, mas já foi outra vez, ficou só uma noite. Está um sol a brilhar e um céu azul, e é tudo tão triste, Como o mundo ficou diferente, meu companheiro, eu até acho, meu companheiro, que estou a viver noutro mundo. João vem buscar-me. 14 de Julho João meu amor, que saudades da tua voz, dos teus passos, de te ouvir subir as escadas, meter a chave à porta e dizer :"Sou eu". Que saudades, joão, de te ouvir chamar por mim. Quem me chama és tu, ou o meu irmão Zé, que está aí no céu contigo, desde o dia de Natal 24 - 12- 95, pobre e querido Zé, tão meu amigo também. Meu querido João, tenho saudades de te ouvir tossir, andar à noite no corredor, até de fumar o cigarro (que tão mal te fazia),, Até tenho saudades das nossa zangas, das nossa "guerras"! 11-12 96 João, meu amor, vem aí o Natal, só quero dizer-te: o meu mundo desabou em cima de mim. Mas que deserto é este? ÉRAMOS FELIZES E NÃO SABÍAMOS 9 de Junho de 1996 Dia dos anos, 54 anos, da Manela. Está na Venezuela, em Caracas, eu estou aqui, com as minhas recordações. Meu querido João, os dias estão cheios de sol, mas tão tristes para mim! Acabou tudo desde que me deixaste, mas que amargura de vida! 11 de Junho de 1998 Meu João, eu morro cheia de saudades tuas, não posso viver assim, porque me deixaste? Eu não posso nem quero viver sem ti. Preciso de ir para perto de ti e da nossa Lecas. 15 de Junho Pode-se morrer de saudade e eu acho que vou morrer Já há mais de dois meses, meu amor, que te foste embora. E eu sentada no meu maple sinto que tu estás ao meu lado, sentado no teu, e eu viro a cabeça e vou falar contigo. João, como posso viver assim? Durante o dia, de vez em quando,estou a pensar: logo quando o João chegar eu pergunto-lhe isto ou aquilo. Ouço os teus passos a subir a escada, ouço o meter a chave, ouço-te a tossir. e morro, aos poucos, de saudades. Como ficou tudo vazio á minha volta 20 Junho Esta noite sonhei contigo, Em casa da minha Mãe, em Gondomar., no nosso quarto de inverno, (onde nasceu a nossa Lecas), o quarto azul. Tu estavas a chegar a casa (do emprego, cansado), agarraste-me atrás da porta e deste-me muitos beijos e disseste-me que já tinhas muitas saudades minhas. Tínhamos em casa da minha Mãe outro quarto, de verão, no andar de cima (chamávamos-lhe "o quarto de hóspedes", foi onde nasceu a Manela. 21 de Junho Meu querido João, eu dizia até agora "feliz de quem fica cá", mas já não penso assim. Agora sei verdadeiramente que quem é verdadeiramente que feliz é quem parte. Por isso peço-te para me chamares, eu quero partir. 22 de Junho João passo os dias a chorar, nem sei como tenho tantas lágrimas nos meus olhos. Estamos no verão, eu continuo sozinha, a Manela veio, mas já foi outra vez, ficou só uma noite. Está um sol a brilhar e um céu azul, e é tudo tão triste, Como o mundo ficou diferente, meu companheiro, eu até acho, meu companheiro, que estou a viver noutro mundo. João vem buscar-me. 14 de Julho João meu amor, que saudades da tua voz, dos teus passos, de te ouvir subir as escadas, meter a chave à porta e dizer :"Sou eu". Que saudades, joão, de te ouvir chamar por mim. Quem me chama és tu, ou o meu irmão Zé, que está aí no céu contigo, desde o dia de Natal 24 - 12- 95, pobre e querido Zé, tão meu amigo também. Meu querido João, tenho saudades de te ouvir tossir, andar à noite no corredor, até de fumar o cigarro (que tão mal te fazia),, Até tenho saudades das nossa zangas, das nossa "guerras"! 11-12 96 João, meu amor, vem aí o Natal, só quero dizer-te: o meu mundo desabou em cima de mim. Mas que deserto é este? --------------------------------------- 27 anexos — Transferir todos os anexos Ver todas as imagens 1941 Pais passeio 14 julho (1).jpg 23K Ver Transferência 2020 MADALENA oleo de Norberto.jpg 511K Ver Transferência 1941 Pais Branzelo verão .jpg 219K Ver Transferência 1970 VILA MARIA gr natal .jpg 63K Ver Transferência 1969 MÃE Paris 17 junho.jpg 50K Ver Transferência 1947 eu na procissao anjo amarelo.jpg 66K Ver Transferência 1930 Monte Crasto Avó Maria e filhas.jpg 68K Ver Transferência 1990 MÃE Fátima lugar das aparições 29 abril.jpg 160K Ver Transferência 1935 tia lola f14 mae colegio.jpg 48K Ver Transferência 1941 Pais em Branzelo verão.jpg 14K Ver Transferência 1969 Mãe em Paris.jpg 242K Ver Transferência 1960 LECAS .jpg 2849K Ver Transferência 1963 Mãe e Lecas no Porto.jpg 58K Ver Transferência 1992 Meus 50 M Carmo Mãe eu T Lola Sameiro.jpg 175K Ver Transferência 1941 MÃE na Vila Maria.jpg 33K Ver Transferência 1941 Mae out.jpg 176K Ver Transferência 1941 Mãe T Lola amiga Branzelo agosto .jpg 25K Ver Transferência 1969 MÃE em Paris N Dame.jpg 66K Ver Transferência 1960 M CARMO RAZZINI E TITÃ .jpg 231K Ver Transferência 1983 Titã à janela em espinho.jpg 72K Ver Transferência 1948 Avo Mae e eu.jpg 42K Ver Transferência 1941 Pai (restaurada).JPG 139K Ver Transferência 1928 AVÓ MARIA e família Villa Maria (1).jpg 601K Ver Transferência 1998 Mãe no seu jardim.jpg 251K Ver Transferência 1962 MADALENA foto para retrato de NORBERTO .jpg 36K Ver Transferência 1931 MÃE na Vila Maria.jpg 127K Ver Transferência 1986 Mãe Tios Lena e David em Chaves agosto.jpg 97K Ver Transferência 27 anexos — Transferir todos os anexos Ver todas as imagens 1960 M CARMO RAZZINI E TITÃ .jpg 231K Ver Transferência 1941 Pais Branzelo verão .jpg 219K Ver Transferência 1931 MÃE na Vila Maria.jpg 127K Ver Transferência 1992 Meus 50 M Carmo Mãe eu T Lola Sameiro.jpg 175K Ver Transferência 1969 MÃE em Paris N Dame.jpg 66K Ver Transferência 1928 AVÓ MARIA e família Villa Maria (1).jpg 601K Ver Transferência 1986 Mãe Tios Lena e David em Chaves agosto.jpg 97K Ver Transferência 1941 Pais passeio 14 julho (1).jpg 23K Ver Transferência 1969 MÃE Paris 17 junho.jpg 50K Ver Transferência 1970 VILA MARIA gr natal .jpg 63K Ver Transferência 2020 MADALENA oleo de Norberto.jpg 511K Ver Transferência 1930 Monte Crasto Avó Maria e filhas.jpg 68K Ver Transferência 1983 Titã à janela em espinho.jpg 72K Ver Transferência 1963 Mãe e Lecas no Porto.jpg 58K Ver Transferência 1962 MADALENA foto para retrato de NORBERTO .jpg 36K Ver Transferência 1941 Mãe T Lola amiga Branzelo agosto .jpg 25K Ver Transferência 1960 LECAS .jpg 2849K Ver Transferência 1941 Pai (restaurada).JPG 139K Ver Transferência 1998 Mãe no seu jardim.jpg 251K Ver Transferência 1990 MÃE Fátima lugar das aparições 29 abril.jpg 160K Ver Transferência 1947 eu na procissao anjo amarelo.jpg 66K Ver Transferência 1948 Avo Mae e eu.jpg 42K Ver Transferência 1941 MÃE na Vila Maria.jpg 33K Ver Transferência 1935 tia lola f14 mae colegio.jpg 48K Ver Transferência 1969 Mãe em Paris.jpg 242K Ver Transferência 1941 Pais em Branzelo verão.jpg 14K Ver Transferência 1941 Mae out.jpg 176K Ver Transferência