terça-feira, 21 de maio de 2019

Mãe - MEMÓRIAS - O ENCONTRO COM O PAI

MÃE II PARTE 21 maio

Maria Manuela Aguiar 21 de maio de 2019 às 15:13
Para: Maria Manuela Aguiar


VILA MARIA MEMÓRIAS DA MÃE (2011)
O meu Pai era apologista de comparar caro - para durar
Por sinal, pagou caro pela propriedade onde construiu a casa, Foram lavradores ricos, seus amigos, que condescenderam em lha vender, mas não precisavam, não queriam e não facilitaram no preço. O lema de todos eles era "não vendemos, compramos" (o Zé do Paço, um Paciência e o Cosme Ribeiro). Iriam pertencer ao grupo que se reunia com o meu pai no jardim..
O negócio concretizou-se quando o Papá ainda estava no Brasil, foi o avô Joaquim, que era notário, quem tratou de tudo.
Na altura o Papá pensou em comprar a quinta que agora pertence aos frades Capuchinhos, uma bela casa antiga, do século XVI ou XVII, mas a mamã não quis. Achava o lugar solitário, muito longe do centro. Não ficava assim tão longe de quintã, mas, na altura era, de facto, isolada.
A Mamã não se arrependeu da escolha.. Tinha uma paixão pela sua casa nova, a dois passos do Souto, da Ala Nuno Álvares  e da Igreja. A Vila Maria, com o seu próprio nome posto pelo Papá

MÃE EM PARIS
Pequeno almoço delicioso no Flash Rouge - não melhores Croissants
La Sainte Chapelle. Louvre. Não subiu ao alto da Torre Eifel, mas subiu ao Arco do Triunfo. 8 de maio.  Passeios de bateau mouche,  Opera, Madeleine, Champs Elysées...Ficou na Cité Univ, no meu quarto, entre os meus simpáticos colegas (eu migrei para a Casa da Noruega). De noite, com o Padre Micael e o Padre Mário. 
MontmartreSacré Coeur. Paris iluminada.

MARIA MANUELA AGUIAR DISSE
EM AVINTES
Lecas doente. A Mãe recusava-se a comer. O Pai ameaçava que se absteria também, mas mas , mal ela voltava costas, subia as escadas para ir ver a menina, ele apressava-se a engolir tudo o que havia no prato. Uma imagem que me ficou.
Gostava de grão de bico, de melância, de amendoins. Também de lagosta e de todos os mariscos. De bons bifes. De vinho tinto e de whisky, mas só bebia socialmente, em festas. Então se tornava um homem alegre e despreocupada e a Mãe que o era, em qualquer caso, dizia: "este homem só fica normal quando bebe", Recordo uma noitada divertida em casa dos tios Reis, Para lá, o Pai foi devagarinho, queixava-se do mau estado da estrada, De volta, veio em boa velocidade e sem notar os buracos da rua!
Era uma ótimo condutor e nunca teve um acidente. Já a Mãe era um desastre! Conseguiu a carta à primeira tentaiva - graças, suponho, a uma cunha do irmão António - mas arrancava a sua predileta "Joaninha" (Renault), como se fosse um avião a levantar voo. A amiga Maria do Carmo era igualzinha., mas não consta que batesse em paredes. A Mãe, sim. Célebre ficou o acidente num subida íngreme, ali para os lados do Freixo. falhou a bateria, uns homens vieram ajudar, empurrando o carro. Em vão. A Lecas saiu, também, e juntou-se ao grupo, o que deixou a Mãe aflita, porque a menina era doente e não podia fazer esforços. Sem pensar duas vezes, também ela deixou o volante abriu a porta, saltou para fora---e o carro começou a deslizar, imparavelmente para trás até bater, em linha reta num portão de ferro, antes da curva da estrada...
A Mãe só gritava: Deixem ir! Fujam todos!
Não houve feridos, só um embate dramático, que o portão e o pequeno Renault aguentaram, para surpresa geral, O motor da Joaninha era nas traseiras, mas as amolgadelas foram relativamente ligeiras. (Já não se fazem automóveis assim..). Houve que chamar o João - que se preocupava sempre até com a mais pequena arranhadela na pintura...
Outro percalço que ficou para a história, aconteceu em Gondomar, numa festa de Natal, na entrada mal sucedida para os jardins da Vila Maria. O carro era minúsculo, branquinho, parecia de brincar, numa pista de feira.  E o portão era largo, largo, dava para um enorme StudebakerCadillac, ou até um camião. Mas a Mãe prudentemente não
 ousava tentar. Imprudentemente, o meu "ex" incitou-a. Entendiam-se muito bem, Tratavam-se pelo nome e por "tu": "Vai, Maria Antónia, tu consegues!". Quase conseguiu fazer um "pião" e sair sem desastre. Apontou ao portão, carregou no pedal (demais) e bateu com o farol direito na aresta da pedra que segurava o portão - à esquerda!
Mais uma preocupação e despesa para o João

Maria Manuela disse:

O CARNAVAL DE 1962
Grande festa nos dois andares do R/C da Rua Latino Coelho. A Mãe e a Maria do Carmo Razzini pediram aos vizinhos para fechar a porta da entrada e usar o átrio como pista de dança, a continuar a sala dos meus pais, Na sala dos Razzini era a ceia, com mesa cheia de doces, salgados e bebidas.. Todos fantasiados, O Dr Figueiredo fazia um chinês convincente, embora muito alto (Tb há chineses altos). O Pai com vestido, chapéu e sapatos da Maria do Carmo fez sucesso (ele calçava 42, ela 40, deve ter sofrido de aperto e,talvez, dado cabo dos sapatos - possivelmente velhos. Havia muita gente, o Domingos, muito engraçado, sempre a falar da "minha Berta". Os donos do Café Príncipe, a Ester e o Sr Rosas, ela com farda de magala e ele com um traje de vianesa, Simpático casal - gostaram tanto da festa, que, no ano seguinte, a organizaram na sua casa. Foi igualmente uma festa esplêndida. Moravam perto de nós, numa vivenda grande. A recordação mais viva que guardo é a da Madalena a cantar a Índia e outras das suas músicas preferidas, com um voz maviosa - a grande estrela da noite

 A AMÁLIA NO CAFÉ RIALTO
Tanto a mãe como a Tia lola adoravam a Amália, cantavam as suas músicas constantemente - não tão bem, porque isso é impossível, mas muito bem.
A primeira vez que a viu de perto foi no Café Rialto, lindíssima, vestida de preto
Outra celebridade que conheceu, mas em circunstâncias mais anómalos foi o ator Rogério Paulo. Num cinema do Porto, onde na companhia da Maria do Carmo chegou atrasada. Foram conduzidas até à fila, à luz da lanterna, depois, ficaram por conta própria no escuro, A mãe enganou-se na cadeira e sentou-se ao colo do ator (pediu as devidas desculpas e só viu quem era no abrir das luzes para o intervalo). Grande embaraço...
Melhor foi, muitos anos mais tarde, o convívio com Virgílio Teixeira, amigo maravilhoso que fiz nas lides da emigração. Em Espinho, durante o Congresso Mundial de Mulheres Migrantes. Virgílio era para ela, o homem mais belo do mundo, Em nova chegara a dormir com o seu retrato debaixo do travesseiro. Já depois de casada, apesar de recolhida numa gaveta a fotografia, tanto o gabava que o meu pai chegava a sentir ciúmes (antigamente tinham ciúmes por tudo e por nada . sempre considerei normal que o meu "ex" tivesse uma paixão estética por Catherine Deneuve, e ele que eu sentisse o mesmo por Gérard Philippe.
),
Sorte teve a Mãe que, de nós três, foi a única a conversar com o seu "idealtipo". Virgílio não era só bonito e talentoso, era uma pessoa maravilhosa. Um verdadeiro amigo, com uma mulher também encantadora, a Vanda. E com Amália, nos anos 80 a Mãe falou longamente pelo telefone, num dia em que eu estava com ela em Connecticut , na casa do primo Seabra da veiga - outro querido e saudoso amigo meu.

CONVERSA SOBRE O TIO ALEXANDRE (a 7 de fev de 2012)

A conversa sobre o Tio Alexandre começou com uma pergunta;"Já atravessaste os Pirinéus?"
Disse que sim. Continuou:"E paraste em alguma aldeia?"
"Que me lembre, não; talvez, não sei..."
Era para saber se eu tinha visto artefactos de lã dos Pirinéus. Depois, falou dos Xailes de  (dos Pirinéus, certamente), que o Tio Alexandre lhe comprou no Porto. Um era cor-de-rosa, comprado numa loja dos Clérigos, na Rua dos Lóios. Outro beije. A Tia Lola não quis nenhum. Não devia gostar...
Ambas as sobrinhas iam só com ele, talvez para evitar que a irmã, a Avó Maria, interferisse nas livres escolhas das meninas.
No verão lanchavam sempre na Brasileira. Mandava vir enormes pratos de bolos e insistia: "Comei os bolos todos!". Nas outras estações, às vezes, variava. Gostava de  um pequeno café, na esquina em frente à Brasileira, na rua que vai dar à Av dos Aliados.  
E de outro, junto à Igreja dos Congregados. Ótimo, até tinha música! Descia-se para a Rua por um pequeno degrau

UM ZEPPELIN EM GONDOMAR
(um relato recolhido no início de 2019)
Depois da guerra, quer dizer, em utilização pacífica, um enorme avião, diferente de tudo quanto se conhecia, atravessou os céus de Gondomar, semeando pasmo e emoção em toda a gente. Segundo a mãe, parecia um gigantesco melão voador. Foi busca-la ao quarto, para ver o fenómeno, uma criada que chamavam "Maria nariz de pau". Correu para a varanda que ficava à saída da cozinha, ainda a tempo de contemplar aquela coisa estranha, que avançava com a majestade e do  das suas dimensões e do seu peso, um prodígio que parecia impossível voar como um pequeno pássaro. Era meio dia. Para além da providencial Maria nariz de pau, não se recorda se a sua mãe ou alguns dos irmãos partilhou com ela a experiência. Talvez não.
Mostrei à Mãe as maravilhas da internet, Procurei em Zeppelin e logo apareceu a precisa imagem que ela viu naquela manhã dos anos 40.

CINEMA NOS ANOS 40


Maria Manuela Aguiar

14:47 (há 3 horas)

para eu
O cinema fazia parte de um modo de viver. Ir ver um filme numa sala bonita, (São João, Batalha, Rivoli...) era um ritual que pontuava o dia, como lanchar naAteneia ou na Villares ou tomar um café no Guarani, na Brasileira, no Imperial, Estivessem em Gondomar ou em Avintes, o centro da animação era sempre a cidade do Porto. Era lá que tudo acontecia. De tarde, a sétima arte era só para as senhoras (os homens trabalhavam). A Tia Lina era uma companheira constante. Quando gostava do espetáculo repetia. No São João viram juntas a Madame Butterfly três vezes.  À noite, geralmente ao sábado o acompanhante era o pai. Era altura para luzir uns vestidos mais chiques, pois havia dois intervalos, ocasião propícia de olhar e comentar as indumentárias alheias. A Mãe punha os seus óculos escuros (muito graduados, a miopia era forte). Um toque de singularidade -  não se usava, na altura, nem era muito prático, suponho, pois veria no ecrã as imagens de outra cor. Para ela era um gesto de afirmação feminina.
Mais difícil era a conciliação de gostos. O Pai tendia para filmes de ação, de guerra, westerns", policiais.   A Mãe adorava comédias, Cantinflas, Doris Day. Talvez o ponto de consenso fosse musicais, e dramas com os grandes nomes de Hollywood. Havia tempo e ocasião para alternarem os géneros. Começavam a noite, antes do filme, sempre num café, onde o Pai bebia mesmo café e a Mãe um "peppermint" e acabavam, uma vez mais, num café, antes de rumarem a casa, a pouco quilómetros de distância.
Depois que a Lecas e eu chegámos aos 6, 7 anos, levava-nos frequentemente, com ela, às "matinés". E eu tive de suportar as comédias do Cantinflas, que já dessa tenra idade, considerava excessivamente "infantis" (habituada que estava a ir ao cinema com o Avô Manuel assistir a espetáculos sérios, incluindo westernse operetas, tão do agrado desse querido avô, o mais cinéfilo de toda a família).

OLD FRIENDS

Falava-se do ISCTE, do seu aniversário, e a Mãe relembrou os tempos em que o Pai ali estava a terminar o seu curso de sociologia, em que ela o acompanhava nas frequentes idas a Lisboa. Os voluntários do Porto beneficiavam de aulas especiais nos fins-de-semana e enquanto o pai assistia às aulas, de vez em quando, a mãe combinava um encontro com o velho amigo Maestro Fernando Marques Ribeiro. Para falarem dos tempos da juventude e daquele romance interrompido para sempre. Se o pai ia diretamente do ISCTE para minha casa, o Maestro levava-a de carro à Av do Uruguai. Nunca contou nem a marido nem a filha. Que pena! Eu gostava de o ter conhecido
Impossível no caso de Celina, desaparecida anos antes do casamento do seu viúvo com minha Mãe e tão fácil no caso do Maestro, que, então, vivia em Lisboa, como eu... Assim, tal como Celina, Marques Ribeiro é uma imagem guardada num retrato. Mais uns fragmentos de histórias que fui recolhendo...


FESTAS NA VILA MARIA

A Vila Maria foi um paraíso terreal para várias gerações da família Aguiar, embora a sua vida, por desleixo e descaso de quem manda no município, fosse relativamente curta, do início doa anos 20 ao fim do século, quando foi permitida a sua demolição (uma barbaridade, porque a casa com o terreno circundante teria tido fácil utilização para turismo, a mais evidente, ou para uma clínica ou um Museu, até para um centro comercial, ou condomínio de luxo, se soubessem aproveitar o enorme espaço que ladeia o edifício de época, em construções a que o ligassem harmoniosamente). Comprada por um pato bravo que faliu está hoje transformada em parque de estacionamento. Dizem. Nem a mãe nem eu o vimos com os nossos olhos, porque os fechávamos, firmemente, sempre que passávamos pelo local
A casa ficava dentro do jardim, distantes uns 30 metros da rua principal e separada de roseirais simétricos um metro mais altos e bordejados a granito, por um caminho largo, que permitia fazer à sua volta gincanas com os carros, como as que algumas vezes se organizaram. Ladeando o portão de ferro as japoneiras, de camélias cor-de-rosa. No extremo norte, à face da estrada, o mirante (que chamávamos o mirante da frente para o distinguir do mirante que ficava no outro extremo, dava, então, para um caminho de terra batida, onde agora é uma escola). Ao lado, espalhando os ramos sobre o mirante e o muro, um enorme diospireiro, A sul, também à face da estrada, o “chalet”, que fora destinado a cavalariça ou garagem, e, depois da morte do Avô, acabou arrendado a vizinhos tranquilos, gente respeitável da terra
A simetria dos canteiros, terminava nas espaços que ladeavam a casa - de lado do mirante, prolongava-se até a pequena "casa do forno e à área em que  o pomar confinava com as vinhas. Do lado do chalet, o início do pomar e, por trás, num retângulo fechado por muros de granito, a pocilga. Vista de fora, sem porcos à vista, dir-se.ia uma longa   casa térrea, discretamente avistada entre muitos troncos e ramos das árvores de frutos. Havia sempre dois porcos e, quando chegava o dia da matança, as meninas era fechadas na sala, tão longe quanto possível, para não ouvirem os grito do tenebroso ato sacrificial. Ouviam, mesmo longe ouviam e recordaram o horror do som, sem imagem. Quem vinha executar o ritual era o dono do talho, negociante próspero e homem simpático. pai da Felismina, que era amiga das meninas e aluna de piano da prima Nucha
Depois, era dia de comer rojões, esquecendo a sua origem trágica...
Não só a carne de porco era guardada numa arca, antes limpa com areia e, depois, cheia de quilos e quilos de sal. A Avó Maria não só conservava os pedaço de porco, como, por exemplo, as laranjas numa grande arca de castanho, em areia.ou os dióspiros em gavetões, embrulhados em papel...
Para além da Felismina, outra amiga do círculo das lições de piano era a Maria Amélia da Estrela (que não era apelido, mas alcunha. Seu pai tinha construído um palacete muito original, em  forma de estrela. Foram muito próximas, durante muito tempo - da Maria Amélia e de uma irmã, a Madalena, Faziam parte do grupo que ia , muitas vezes, lanchar à Ateneia. Há muitas fotografias do casamento da Maria Amélia, mas depois perderam contacto. ela foi viver para Viana. A irmã casou com um rapaz de Avintes que não tinha grande fama. Gostava dele, e não quis saber dos vaticínios. Casou com ele, e perderam-lhe o rasto, um armador de barcos.
A Felismina, rapariga bonita, alta e loira, foi a primeira a casar, com um Ramos, a quem chamavam o "Ramitos". Contou às colegas das lições de piano, pormenores pedagógicos sobre a noite de núpcias.  e um conselho: "Não vale a pena gastarem dinheiro na camisa de noite. Não vele mesmo a pena..."

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No colégio, roubaram-lhe uns brincos muito bonitos, dados pela Tia Rozaura. E ela até viu, a rapariga a mexer nas suas gavetas. Mas hesitou. Depois, a Miriam, que também era amiga da ladra, pediu-lhe que não a denunciasse. E, assim, nunca mais recuperou os brincos...
Há outros relato de um roubo de brincos, com especial valor afetivo, porque tinham pertencido à Tia Glorinha. Não foram achados, mas a ladra foi chamada à diretora e expulsa. Esteve lá apenas no 3º ano do Liceu e, no dormitório ficava ao lado da Mãe, Do outro, estava uma grande amiga a Fernanda Málem (que viria a ser freira)
Anos mais tarde, numa reunião de antigas alunas, a Mãe encontrou a ladra. Talvez tenha sido nessa ocasião , tantas décadas depois, que a Miriam lhe pediu que fizesse silêncio sobre esse escândalo.
Os dormitórios estavam separados pela sala de piano. O das mais pequenas completamente aberto, sem cortinas. O das maiores com a privacidade relativa de cortinas que podiam fechar-se 
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(conversa a 1 de agosto de 2012) - A sala de piano foi a que melhores recordações lhe deixou.. A Profª Margarida Portela, que era uma extraordinária executante, e que a considerava uma aluna especial, uma futura grande pianista, e ofereceu-lhe as valsas de Chopin, com uma dedicatória. A Mãe deu-as à única pianista da família na nova geração, a Sameiro, mas esqueceu-se de copiar a dedicatória,e tinha muita pena desse esquecimento. Nas festas, as painistas eram sempre a Mãe e a Amélia, que era de Avintes - chegaram a tocar a quatro mãos, Amélia morreu jovem, vítima da tuberculose, com a Celina. Foi a costureira da terra, que conhecia a Mãe da Amélia que quis e conseguiu que se conhecessem. Parece que a costureira era uma rapariga nova, muito engraçada.
A profª era muito bonira e tal comoa Mãe, muito míope,  
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O seu sonho de ser pianista ou atriz, não se concretizou...Os únicos palcos que pisou foram os do Teatro Nuno Álvares de São Cosme.E, pelos anos fora, atraiu com as suas canções, as suas histórias e as suas benignas excentricidades, a família próxima, um grande número de sobrinhos nets e bisnetos.
Curioso é que até o seu dentista, o Dr Morris, um dia, sem saber dessa ambição secreta. lhe disse: Devia ter sido atriz. Vê-se que tem jeito!"
Até na cadeira do dentista representava bem a sua personagem. "tem a certeza de que isto está limpo?  Não usou essa agulho nos dentes do anterior?"
Claro que sim, serve para todos e nunca é limpa - respondia ele a rir-se, Muito simpático e bonito. A Maria Antónia gostava de médicos bonitos. E foi tendo vários, ao longo da vida, o anterior dentista, do Porto, o Dr Figueiredo, o cardiologista...Até no hospital de Gaia, um mês antes de morrer, o neuro cirurgião era um rapaz de expressivos olhos
azuis. E o motorista do táxi que nos trouxe para casa também.
Ao Dr tratou-o por tu, começando por perguntar "És meu sobrinho?"
Quando ele veio falar comigo, para lhe dar alta, dizendo que o TAC estava perfeito, disse-me: "Está muito bem. Só achei um bocadinho confusa, porque me julgava um sobrinho!
Esclareci que não era assim tanto anormal, pois era senhora de muitos sobrinhos, alguns médicos, (sendo certo que os médicos não me parecem ter olhos dessa cor. Mas confusão não era - antes uma maneira de fazer conversa com um jovem interessante, que poderia ser, mas não era, da família.
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O Encontro com o Pai contado pela Mãe

13 de outubro. Um dia de chuva e frio para a missa nova do Padre Eduardo Pinheiro na capela do Monte da Virgem. Levava um casaco comprido  cor de rosa (feito por uma modista de alta costura do Porto. Sua Mãe de preto, como de costume. Foram numa camionete de excursão, guiada pelo Sr Coelho..A mãe julga que o encontro não foi 

inteiramente casual, Uma tia da Nucha e da Lucinda. madrinha da Mariazinha, casada com um farmacêutico, Homero Figueiredo (teve farmácia no Porto e, depois, em Avintes). a Tia Arminda era, em simultâneo, amiga de Olívia Capela, Mãe do João, e de Maria Aguiar, a mãe da Mariazinha e já levara livros religiosos emprestados por uma à 
outra. No caso da Avó Maria brochuras sobre o Frei Bernardo, por exemplo, que deviam ser raridade. Morava em Avintes, perto da Avó Olívia e da farmácia, por trás da qual ficava a Escola do Magarão, onde eu fiz a 2ª classe. e já tinha vivido na casa do Tio João Aguiar. Mais tarde, emigraram para o Brasil, com os filhos, um deles também chamado Homero, como o filho mais velho da Nucha. O Tio João era o pai de Lucinda e Nucha.
A Avó Maria era  muito empreendedora, em tudo o que dizia respeito à sua paróquia e à pratica e devoção religiosas, Com facilidade organizava excursões ou peregrinações à sepultura de Frei Bernardo ou a Fátima, ou a uma missa nova... Chamava o Sr Coelho,(um homem muito simpático e delicado, cujas filhas estudavam no Porto), dizia-lhe o número de participantes e o destino da peregrinação, e ele tratava de tudo e era sempre o motorista de serviço. Foi assim na camionete do Sr Coelho, com a lotação esgotada, entre jovens e seniores, que rumaram nesse domingo ao Monte da Virgem . Estavam a entrar na capela, quando chegaram o viúvo e a mãe. A Mariazinha, não tinha a certeza que fossem, mas achava provável, pois naquele par havia uma diferença de idades, pertenciam obviamente a diferentes gerações.
A excursão de Gondomar ficou no fundo do templo, enquanto ele, o eventual viúvo e um amigo alto e moreno  estavam junto ao altar.. No final da missa, enquanto  as "velhas" se dirigiam à sacristia para os cumprimentos, os jovens saíram para o adro. A Mariazinha distanciou-se, quis ver um cruzeiro, subiu os degraus de pedra e foi ler os dizeres  gravados na cruz e ouviu uma voz que lhe perguntava: "Boa tarde, dá-me licença?
Olhou para trás - era ele, o jovem viúvo loiro e bonito! Pedia licença para lhe oferecer uns soquinhos- miniatura de couro, ligados por um fio de prata. Aceitou. Ele tinha acabado de os comprar num lojinha que vendia, terços, imagens religiosas e artesanato. E assim começou a conversa, Contou que no dia seguinte ia para Lisboa com um primo, o António, visitar a Exposição do Mundo Português.
As apresentação formais das minhas (futuras) Avós Maria e Olívia foram feitas pela Tia Arminda e a conversa decorreu animadamente até à hora de partir. De Lisboa, João enviaria um soneto à bonita menina de Gondomar e.seguidamente muitas outras cartas. A Avó Maria estava sempre atenta à chegada do correio. Era ela que abria as cartas, Li-as e so depois as entregava às filhas. 
Nunca teve nada a opôr às dele. Um católico de missa e comunhão quase diária era tudo o que queria para genro. Tudo, não , mas era " condição "sine qua non"
A Mariazinha gostava dele, mas não queria um viúvo. Em conversa com a Tia Rozaura, desabafava: " Ó Titia, um viúvo...não quero!"
E a sábia Tia disse-lhe: "Não te importes. De facto todos os homens são viúvos. Antes de casar connosco, andaram com outras mulheres. quer estejam vivas ou mortas.
Passados poucos dias ele telefonou. Na altura, só a irmã Carolina tinha telefone privado. Chamou-a a casa e falaram, combinando um encontro, que aconteceu logo.
Passou a ir lá com frequência. Às 3.00 da tarde. Ia diretamente para a igreja, era a hora do Terço.. Acompanhava-as a casa e ficava a conversar com a Mariazinha no terraço. 
A Avó não aparecia, ficava no quarto ou na sala, mas mandava a Lolita atravessar a sala de jantar, que dava para o terraço - como se fosse à cozinha... Ao fim da tarde ele regressava como tinha vindo, a pé pela Gândara e São Gemil, até Gramido, onde atravessava o Douro, de barco, para Avintes.
Anos depois, contou à Mulher que se ela lhe tivesse dito "não"  junto ao Cruzeiro do Monte da Virgem, tentaria uma de outras duas de quem gostava - a irmã Lena e  a Teresa "da Pinta" - uma de várias irmãs, todas bonitas, que viviam numa daquelas grandes e famosas casas de lavoura de São Cosme).
No verão, se seguissem a agenda habitual de férias familiares, estariam mais longe um do outro, ela nas termas de Vizela e na Foz, ele em Espinho, na casa da rua 7. Nesse ano, porém, a Lena estava a recuperar de uma primo.infeção e os médicos receitaram  uma longa estadia no campo. Passaram o verão em Branzelo. numa quinta de amigos (Novais da Cunha?). A casa era enorme, os convidados foram muitos, incluindo os primos do João, a Alda, a Maria Helena e o  Manuel. O joão, também , aos fins de semana. E um Rangel, que morava numa quinta próxima, e era mais velho do que o grupo das meninas Aguiar.
Não faltava pessoal doméstico - os caseiros da quinta, e as filhas, muito prestáveis. Em fins de outubro, estiveram todos numa desfolhada de lavra
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1069 - A VISITA A PARIS
O "Diário" da Mãe
 2ª feira
Em frente à "Cité", à cidade universitária, fica o belo Parque Montsouris, onde fui com a Manela, atravessando o Boulevard Jourdan, De  metro, seguimos para o "Quartier Latin",  - jardins do Luxemburgo, Panthéon (onde está sepultado Voltaire, entre outros grandes vultos franceses). Almoçamos rapidamente numself service, Wimpy, , mesmo em frente ao Luxemburgo, e descemos Saint Michel, a ver montras, Atravessamos as lindas pontes do Sena, visitámos a catedral de Notre Dame, passámos pela Câmara de Paris, pela Conciergerie, a Totte de Sait Jacques. Tomámos o metro no Chatelet, com os seus longos corredores rolantes. Viemos para a Cité, às 4.00 a Manela fez um chá. Voltámos ao Parque Montsouris. Fiquei junto do lago dos cisnes, enquanto a Manela foi comprar pão, queijos e vinho  -  um bom jantar (como eu gosto).no quarto dela. Ela foi ao cinema com a Laura, eu preferi ficar no quarto a ler.
3ª feira
Levantámo-nos cedo (a Manela dormiu mal, não quis ficar nos 3 grandes cochins do sofá da sala, como tínhamos combinado. Fui a Vincennes no carro da Eduarda. A Manela e ela têm trabalhos das 9.00 ao meio dia. Eu estou sentada no bar da Universidade à espera.que voltem. Acaba de se sentar na minha mesa um velhote, sem pedir licença, a tomar uma bebida qualquer,
A minha estadia em Vincennes (cont)
A Manela está a fazer um exame (especializou-se em Direito do Trabalho e eu no bar, em conversa com os "colegas" (chamavam-me colega), num francês horroroso, como o Mário DSoares, metade francês, metade português, e até com certas palavras em inglês. Enfim, a Manela ficava furiosa, quando me ouvia falar assim.
E, quando a Manela estava a fazer o tal exame, eu, já farta de de passear no jardim (a Universidade tem um jardim enorme), depois de ter estado no bar, encaminhei-me para aqueles grandes corredores e vi a Manela, numa sala, a falar com um homem. E eu, cá de fora, (vamos indo que não entrei)a apontar-lhe o relógio, a fazer-lhe ver que era tarde  .vamos embora! Enfim , ela nessa altura não andava tão irritada como agora e, quando me disse que estava a fazer um exame, até nos fartámos de riri.

Passámos pelo Bosque de Vincennes e almoçámos em casa. Saímos para o centro de Paris com a Eduarda, que foi ao médico, Estou sentada numa esplanada, junto à Opera. A Manela e eu viemos, a pé, pelo Boulevard de la Madeleine. Uma das zonas chiques de Paris, Entrei na Igreja da Madeleine, onde a Manela me tirou fotografias, Mais fotografias, adiante, junto ao Maxim's, na Praça da Concórdia. Na viagem para a Cité, h+a partes em que o metro é aéreo, passei à vista da Torre Eifel. Fiquei no quarto da Manela, na Casa de Portugal, e ela foi para a Casa Luso-britânica., onde havia um quarto vago.

4ª feira
Fomos visitar a Torre Eifel, tomámos umas bebidas num  bar agradável, no 1º andar, com uma vista lindíssima, sobre o Champs de Mars, que de cima parece uma passadeira gigante, o Palácio de Chaillot, os telhados da cidade e,ao longe, o Sacré Coeur. Daí fomos até à margem do Sena e demos um maravilhoso passeio de barco, de cerca de uma hora. Passámos pela ilha de São Luís, pelos bairros mais bonitos de Paris, onde mora a Brigitte Bardot,  Saímos do barco e subimos os Campos Elísios. Havia grandes manifestações. Acho que que por causa da tomada de posse de Pompidou. Os polícias, aos magotes, todos engalanados, e uma bandeira enormíssima, no Arco do triunfo. Qs Campos Elísios são um encanto!
À noite, fomos de carro, com o Padre Micael e o Engº Pires a Montparnasse, belos restaurantes, boites" e cafés, onde se reune a boémia mais selecta. Lindas "boutiques" em Sèvres Babylone e o contraste dos talhos de Halles, que abastecem de carne a região parisiense. Demos a volta à Concorde, à noite tem mais encanto, assim com a Torre Eifel iluminada e o Palácio de Chailot, ou os Campos Elísios. Parámos no carro mesmo em baixo do Arco, com a sua gigantesca bandeiram o facho a arder, e as enormes coroas de flores, azuis, branas e vermelhas, em honra dos mortos de Guerra.
Cenário especialmente solene, na altura da posse do Presidente Pompidou. Continuámos para Montmartre, Sacré Couer, estivemos junto a varias "boites", a de Patchou e outras. Que ambiente, com grupos de músicos, artistas a pintar as suas telas nas ruas, muitos turistas, muita animação.
Atravessámos Pigalle, "boites" mais duvidosas, vimos o Moulin Rouge e o Lido.
Chegámos à Cité depois da 1 hora

5ª feira
Constipei-me, não pude sair à rua.

6ª feira
De manhá, ainda fiquei em casa, almocei no quarto. Disse-me agora uma amiga da Manela, que ela andava no corredor às 9.00 da manhã, para não me acordar.
À tarde, fomos às Galerias Lafayette, onde andámos horas, Vimos o Maurice Chevalier, que estava a autografar um livro seu. As Galerias são um mundo gigantesco, com escadas rolantes que subimos e descemos. Fizemos algumas compras. Fomos, depois, ao mesmo bar onde já tinha estado, perto da Opera, quando a Manela foi ao famoso otorrino  A Manela tirou-me várias fotografias, Tomámos um autocarro já em andamento, o revisor, um preto enorme, segurou-me, mas rasguei a saia...

sábado
Saímos às 10.00 com a Laura e a Isabel, e tiramos muitas fotografias nos jardins da Cité. De metro, para o Luxemburgo, todas a ver as montras e a fazer compras nas boas lojas do Quartier. com uma pausa para almoço rápido num restaurante de Sait Germain, A pé para a Sainte Chapelle, com os seus vitrais lindíssimos, do teto até ao chão. Andámos num super mercado, como aqueles que se vêem nos fimes. à noite, a Manela foi revelar fotografias para um laboratório com o Padre Mário até à meia noite e eu estive no quarto a conversara com a Laura.

Maria Manuela Aguiar <mariamanuelaaguiar@gmail.com>

12:48 (há 3 minutos)
para eu
Jantámos na Cité. A Manela voltou ao apartamento da Casa de Portugal e dormiu nas almofadas.

Domingo
Levantámo-nos cedo. A Manela continua a recvelar as fotografias com o Padre Mário,
Ás 11.00 a Laura, a Manela e eu fomos ver um filme erótico (na realidade pornográfico - só mulheres nuas e striptease, pretendia ser uma comedia). Saímos a meio. Almoço rápido num self +erto do cinema e, depois, foi tempo de cultura. Longa visita ao Louvre, Mona Lisa, Vénus de Milo, Votória de Samotrácia. pirâmides do Egipto, um túmulo autêntico de Faraó...
Chegámos à noite à cité e fomos jantar as três e mais a Eduarda a Gentillym num restaurante, Passámos ao sítio onde existiu a casa da M.me Curie (já demolida)

"2ª feira.
Dormimos as duas no apartamento. Estivemos em arrumações,. Encontrámos uns escritos do PadreMário, dentro de uma revista. Estivemos, de novo, em Gentilly, em frente à Casa de Portugal. Fomos a um café, onde a Manela respondeu a uma carta do Manel, que tinha recebido. Acabámos por almoçar num bar da Cité.
A Eduarda levou-me de carro até à estação de Austerlitz. A Manela ficou e vai esperar pela Docas, que chega às 5.00 de comboio
Na carruagem em que vou está o actor Jean Pierre Casset, mas no meu compartimento são 4 velhos, que já estão a dormir.
Dois parolos portugueses quiseram meter conversa, mas não estou para os aturar.
Em Bordéus, entrou uma canadiana, muito simpática, conversámos (mal) em francês. Em Irun, atrelei-me ao 1º grupo de portugueses. Vim numa carruagem, que o carregador espanhos me arranjou. - despediu-se, estendendo-me a mão - com um dinamarquês (muito chique), com uma filha de 12 anos. Falámos francês, e à noite, fartámo-nos de rir, os três, porque avariámos uma cadeira para fazer cama.
Na fronteira, não me abriram mala nenhuma e Villar Formoso, nem à ida, nem na volta.. Os portugueses que entraram em Paris, foram mandados da 1ª para a 2ª classe. Em Irun, tornaram a entrar na 1ª, com mais 3 de botas grossas e linguagem ordinária . car----, filho da p---. O que vale é o dinamarquèss não entender...
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LECAS
Depois de nos faltar uma filha, nunca mais se esquece. Tenta-se viver como se pode, mas o coração está sangrando constantemente e nunca mais se é a mesma pessoa

VERSOS PARA A MEI MEI

FORMATURA DA MARIA DO SAMEIRO

Deu-te Deus essa fé determinada
Dos que sabem seus sonhos realizar
Que nasce em ti, em cada madrugada
A Estrela que brilha em teu olhar

Esse teu ar esbelto e elegante
Esse andar airoso de gazela
Teu olhar sereno e confiante
Sejam eco da tua Boa Estrela


Espinho, Março 1988
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Resposta à Nita
  verão 1978

E das arribas do mar
agradeço a atenção
Bem quis logo responder, 
mas não tinha a direção

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23 - 8 - 79
O postalzinho da "praxe" 
cá chegou, muito obrigada
Agora espero a visita 
Dessa minha "sobrinhada"

Para a Nita, Sameiro, Rosário, Lisa e Paulo
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1982
A saudade quando veio
veio mesmo para ficar
aqui no meio do peito, 
fazendo rir e chorar

Saudade fica comigo,
porque já me acostumei
Não fujas de mim saudade
 - de uma vida que te dei
--------------------------------------------

Eu tinha umas tranças loiras
E tão loiras eram elas
passando em campo de espigas
eu parecia uma delas.

Saltando muros e leiras
Na pressa com que corria
Voaram as tranças loiras 
E só por isso me ria

-----------------------------------------------------------------------
Perverso, inconstante mar
revolto do meu ser
Vagas em fúria
na porcela tenebrosa

Ao longe o meu olhar perdido 
na imensidão deste mar revolto
Vem-me a lembrança daquele louco amor
que agora é minha solidão
Pediste ao mar para me falar de ti 

 ou
Ao longe, o meuolhar perdido na imensidão
deste mar em fúria, revolto como eu.
Vem-me à lembrança aquele louco amor
que enche agora a minha solidão

Pediste ao mar para me falar de ti

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(Para o João)

Há tantos anos que não te vejo, que já nem me lembro bem da tua cara. Apesar dos retratos que tenho espalhados por toda a casa.
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(Para a Lecas)
Minha adorada, luz da minha vida
A noite inteira conversei contigo
Num pranto de saudade infinda
destruí minha alma

LECAS
Depois de nos faltar uma filha, nunca mais se esquece. Tenta-se viver como se pode, mas o coração está sangrando constantemente e nunca mais se é a mesma pessoa
,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,
 Turbilhão de amores que me deixou presa
Insatisfeito amor minha alma perturbando
Sempre na procura de um amor melhor

---------------------------------------------------------------------------------
Em noite longas de dor e sofrimento. 
meus olhos já cansados de chorar
Eu peço a Deus que me dê alento
E me deixe contigo conversar

A minha adorada, minha confidente, 
Conversei contigo, solucei meu pranto,
De saudade infinda, que no peito trago
A noite inteira falei e tu falaste

Compus outrora poemas desmembrados
sem conseguir dizer o que queria
mas agora, passados muitos anos.
 a sós contigo  (já conseguiria?)
------------------------------------------------------------------------------------------

Agora, recordo a chorar
as pedrinhas da calçada
que já não volto a pisar. 
--------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------
Ainda tocam trindades na Igreja de São Cosme. Ouvi tocar a primeira carreira para a missa das 7, uma hora antes da missa. !/4 de hora antes,  2ª carreira e, depois, picou para a missa.
Fez-me muitas saudades, ouvir tocar para a Missa. Pareceu-me ouvir a voz da minha mãe a dizer: "Meninas, vamos embora, já tocou a segunda carreira".
---------------------------------------------------------
Tenho saudades de pedir a benção à minha Mãe e minha Tia
---------------------------------------------------------------------------------------------------------------
Vila Maria
Apesar de sentir a falta do nosso Pai, eu e os meus irmãos éramos felizes e não sabíamos. A única falta nas nossas vidas (ainda tão jovens) era aquele lugar na mesa da grande sala de jantar, o do Papá (como a nossa Mãe dizia)ocupado pelo meu irmão António agora


-------------------------------------------------------------
Agradeço à Nossa Senhora
A VIDA
Fátima, 26-4-86
-------------------------------------------------------------------------------------- 
Agradecer, agradeço esta paz diferente, que sinto em Fátima, como se fosse, em cada ano, a primeira vez. E, neste constante turbilhão de sentimentos, que me invade, sinto-me, aqui em Fátima, mais benevolente e compassiva são só três dias de "tratamento", mas já é bom para o meu espírito cansado e atormentado.
Parece que renasci, aqui, hoje.
Fátima, 27- 4 - 89
--------------------------------------
Compus outrora uns poemas desmembrados
sem conseguir dizer o que queria
e hoje, volvidos tantos anos, 
não sei se era verdade ou se mentia...
quando dizia , amor, quanto te amava,
que era capaz de morrer por ti
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 (A Manela)

Corria veloz. cheia de energia
ceifando flores do belo jardim.
Protestos e ralhos. Como elea se ria...
São minhas as flores, são todas para mim...

Manelinha, mas isso é maldade,
dizia-lhe alguèm, decerto era eu.
Intervinha a Avó, ar de cumplicidade, 
São dela, claro, foi Deus que lhas deu

É muito inteligente, não trecisas ralhar
Um anjo a menina e só eu a entendo. 
Só a Avó  a sabia levar

E aquele anjo, menina vestida de anjo, de asas partidas, cabelo em desalinho, laçarote perdido, ia para a procissão
Eu peço a Deus para te acompanhar
O tempo vai passando e a saudade fica connosco pela vida fora
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Nos 50 anos da Manela

Tempestade traz bonança
o passado traz saudade,
 a vida é sempre esperança,
 busca da felicidade

Passa um ano, entra a saudade
mil beijos para ti, meu bem
a maior felicidade 
te deseja sempre a mãe

Espinho, 8-6-92

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De todos os sentimentos humanos, nenhum mais natural do que o amor pela Terra, pelo vale, ou pelo bairro onde crescemos. A nossa Terra aviva-nos as recordações mais familiares (íntimas), mexe com as nossas emoções mais profundas. Tudo o que faz parte dela, pertece-nos, em alguma medida, e, decerto forma, nós fazemos parte dela também, tal como a folha pertence à árvore.
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Saudade, palavra amarga e doce. Saudades da minha linda terra, S Cosme de Gondomar, onde imperam os grandes artistas de filigrana de ouro. Saudades do meu Monte Crasto majestoso, donde em noites de luar (esse luar ímpar das noites de Natal, que eu guardo na minha memória e recordo comovida), se abrangia toda a minha terra, banhada de um manto de prata. Saudades daquela prenda do menino Jesus, que a minha querida Mãe, com tanto amor e carinho, pòs debaixo do meu travesseiro: uma linda pulseira de prata, toda feita de margaridas, que ainda hoje guardo, com todo o meu amor. Saudades da minha mocidade, dos meus amores, das minhas ilusões, dos meus tempos de colégio, de minha casa, do meu jardim cheio de flores, do meu piano, meu confidente, o meu piano, que escutou tantas histórias de amor,
Saudades da minha Terra, a minha casa, os meus Natais...
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Não posso olhar para a nossa casa, a casa da minha Mãe, sufoco de saudades, e as recordações são tantas! Festas de Natal, os risos das crianças, o cheiro das rabanadas, o cheiro da minha adorada casa. Tantas Páscoas = o compasso!), casamentos,  E, de repente, pela minha cabeça passava a minha meninice, adolescência, as nossas gargalhadas - eramos sete - as repimendas da nossa querida Mãe. "meninas (a minha irm-a Lolita e eu passávamos a vida a rir):não se riam tão alto, não é bonito". Além disso, Muito riso, pouco siso"
Dentro daquelas paredes guarda-se a história das nossas vidas, meus irmãos, minha Mãe, quantas alegrias, quanto amor, e quantas tristezas também!
Parece mentira que tanta história caiba dentro daquela adorada casa, Desci aquelas escadas para me casar na Igreja da minha Terra. Deois, e a história continua, ali nasceram as minhas filhas. Mais risos, mais gargalhadas. tudo se repete. é a nova geração!
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Compasso na minha Terra
Corações cantando almas em flor, flores em casa e no jardim também. Vem o compasso - é Deus , é amor. Pela aldeia fora campaínhas a tocar. Flores desfolhadas e "verde" pelo chão, Aí vem o compasso, aí vem a Cruz a chegar.
Pojeiras onde os criados da minha Mãe iam buscar verdes para pôr no chão - fora do portão, do portão até ao terraço e pelas escadas acima, o percurso que, no domingo de Páscoa fazia o cortejo do compasso.
Alguns anos antes, íamos com a Nucha buscar fetos e verdes ao Barroco. Tão lindo! Era um vale entre a Gândra e Pevidal

Mês de maio

Mês de maio, minha aldeia tão linda,tão florida. Ao entardecer subíamos o Monte Crasto, para as novenas do "mês de Maria". Eu toco o pequenino órgão do coro da capela de Santo Izidoro. no Crasto, a Lolita e outras raparigas, como nós, cantam coisas tão belas!

23-2 - 74   PORTO (um sábado)
Primavera nos jardins, primavera nas casas e nas pessoas, sim, porque entrou também a primavera nos corações de cada um. Minha terra tão linda, estás perdida, mas eu encontro-te, minha raínha. Minha terra  coroada de mimosas, A tua coroa é o Crasto. Sala de visitas das gentes de Gondomar e de tantas outras. Minha terra, berço de todos os meus... Não é a minha vida que vou passar ao papel, -são várias vidas, porque terei de lembrar antepassados e contemporâneos
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Oh, meu Gondomar, minha linda terra
Tu que embalaste o meu 1º amor
Porque não levar-te presa nos meus braços
oh, meu Gondomat, para onde eu for?

Encantamento que nunca esqueci
roseiral em flor desse meu jardim
tanta rosa murcha pelo chão caída.
mas tanto botão a abrir para mim...

Gondomar, meu berço, capital do mundo
És a minha casa, és o meu jardim
Foste tu que viste os meus primeiros passos
E irás guardar-me, ao chegar ao fim. 
-----------------------------------------------------------------
Procuro-me e não me encontro
E fico parada assim
A chorar, meu Deus, porquê?
Por ter saudades de mim!
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E o tempo passava
O tempo corria
Eu já não chorava
Apenas sofria

Andava à procura de um sonho vivido
Num lindo castelo entre árvores e flores
Perdida, encontrei-me num mundo perdido
Meus ais, meus queixumes, meus loucos amores.
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Gondomar, ponto final
do mundo tão grande assim
Mas para mim e, afinal, 
a terra maior
deste nosso Portugal

Meu Crasto bendito
Mimosas em flor, Minha Terra
Novenas de Maio
quando era menina
Festas de S Izidoro
Música no coreto do Monteiro...
----------------------------------------------
Sonhos meus, audaciosos, inquietantes, insatisfeitos - como eu, uma insatisfeita - sonhos belso de um amor quase perfeito. Mais de uma vez desci o Crasto num voo pleno de graça e leveza. Senti mesmo os pés a levantarem-se do solo e voei acima daqueles queridos pinheirais, eucaliptos e mimosas, voava em direção a minha casa...
Mas fiquei diferente, sim, depois que perdia minha querida filha. Ela era a minha alegria e a minha vida, era minha e roubaram-ma. Fique perdida num deserto, fiquei sozinha, Que me perdoem todos os que ficaram comigo, ficaram muitos, ficámos todos , menos ela. Que me perdoem, mas eu fiquei sozinha.
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Não sou bonita, nem feia, sou simpática, fui sempre muito simpática (isto não é narcisismo...). É verdade. E fui em tempos, há muitos anos, uma rapariga 
interessante, pequena, bastante pequena, mas cheia de saúde, extuante de vida, vida e alegria, que transbordava por todos os poros do meu corpo. Diziam até que eu tinha muita graça, aquela graça natural de uma rapariga que da vida só queria a vida e nada mais. E o fulcro da vida era o amor. De uma sensibilidade doentia, muito sincera, expansiva e nada egoísta. 
LECAS
Depois de nos faltar uma filha, nunca mais se esquece. Tenta-se viver como se pode, mas o coração está sangrando constantemente e nunca mais se é a mesma pessoa

A minha Mãe e a minha Tia diziam: "Quem muito dorme, pouco aprende (ou seja. é estúpido)
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A minha Mãe recitava:
Minha terra tem coqueiros
onde canta o sabiá
As aves que cá gorgeiam
não gorgeiam com
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12-6-93 ESPINHO
Pmtem fui a Gondomar ao baptizado do António, filho da Ana e do Tozinho. Lindo baptizado, maravilhoso jantar em casa dos pais da Ana em S Cosme.
Qie saudades da minha linda Terra, que saudades da minha Mãe, da minha querida casa, dos meus irmãos todos (quando éramos jovens), do terço rezado à volta da mesa, depois do jantar - as criadas e o criado, à porta da cozinha, a rezar connosco), que saudades de mim, meu Deus! Tantas saudades de tudo, que nem me cabem no coração. E chor, choro, por tudo o que eu tive e perdi. Oh minha terra,(onde se vê o céu), meus verdes campos, meu lindo Monte Crasto.
18-5-93 ESPINHO
Daqui do meu sofá, na minha sala virada para o jardim, a partir da porta larga - de parede a parede - vejo um retalho pequeníssimo do jardim da minha casa (pensando) no jardim da casa da minha Mãe, da nossa querida casa.
O meu jardim, o meu roseiral,, as minhas adoradas rosas, que parecem as nossas rosas, minha Mãe!A trepadeira vermelha que sobe pela parede, junto ao poço, (e tem ao lado uma japoneira) está coberta de flores e todas as outras mais parecem rir-se para mim.

19-8-93, quinta-feira  
UM DIA
Levantei-me às 9/2. Está um dia de sol e calor. O João passou por mim nas escadas e disse: "bom dia" (mais para dentro do que para fora). A Plívia foi às compras de "cara" amarrada, aliás, como anda sempre.
Vou tomar o meu chuveiro e vou ao café, Talvez encontre a Leninha, (que está cá, a passar uns dias no apartamento do pai). Porque aqui em casa, não há conversa. Não há agora, nem houve nunca, só discussões. Sofro muito, mas só Deus sabe porque sofro, nem eu   
27 Set 94
TITA
Hoje tenho-me lembrado todo o dia da Tita, minha querida cadelinha, que morreu há mais de um ano.
Mas hoje vejo-a sentadinha no sofá, tão pequenina (era uma yorshire terrier). Não gostava que ninguém se sentasse perto, queria o sofá todo para ela.
Sabia quando eu estreava uns sapatos, farejava-me os pés.
29 - 3- 95
LENA E DAVID
Gosto de encontrara a Lena e o David (ao domingo), em casa do Mário. Já vamos tendo tão pouco tempo para nos encontrarmos, munha querida irmã. temos de aproveitar as ocasiões que se proporcionam para nos vermos. Está a aproximar-se a Páscoa. Que saudades das nossas Páscoas, na nossa casa, que saudades do compasso (com a nossa Mãe, claro), nós, todos or irmãos reunidos, as minhas adoradas filhas, os meus sobrinhos,, os namorados deles, as 
criadas na cozinha, o cheiro dos cozinhados,o saudoso cheiro bom da nossa casa, que cheirava sempre a flores, o nosso jardim, aquele paraíso, como a minha mãe dizia

LECAS
Minha Lecas, minha filha, a coisa mais linda que eu fiz e criei, na minha vida. Nem as rosas, as flores do meu jardim. Minha querida filha, valeu a pena viver e sofrer, só para te ter, a ti.
Tristes prenda sque te dou, minha adorada filha, padre nosso e flores. Tu que gostavas tanto de vestidos, de sa+patos, de pequenos chocolates.

ESQUEMA de BIOGRAFIA 4 partes
1ª - nascimento e vida em família
2ª internamento no colégio
3ª regresso a casa aos 18 anos: namoros
4ª  - casamento e peripécias seguintes

(quem não se enfeita, por si se enjeita)

FORMATURA DA MARIA DO SAMEIRO

Deu-te Deus essa fé determinada
Dos que sabem seus sonhos realizar
Que nasce em ti, em cada madrugada
A Estrela que brilha em teu olhar

Esse teu ar esbelto e elegante
Esse andar airoso de gazela
Teu olhar sereno e confiante
Sejam eco da tua Boa Estrela


Espinho, Março 1988
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Resposta à Nita
  verão 1978

E das arribas do mar
agradeço a atenção
Bem quis logo responder, 
mas não tinha a direção

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23 - 8 - 79
O postalzinho da "praxe" 
cá chegou, muito obrigada
Agora espero a visita 
Dessa minha "sobrinhada"

Para a Nita, Sameiro, Rosário, Lisa e Paulo
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1982
A saudade quando veio
veio mesmo para ficar
aqui no meio do peito, 
fazendo rir e chorar

Saudade fica comigo,
porque já me acostumei
Não fujas de mim saudade
 - de uma vida que te dei
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Eu tinha umas tranças loiras
E tão loiras eram elas
passando em campo de espigas
eu parecia uma delas.

Saltando muros e leiras
Na pressa com que corria
Voaram as tranças loiras 
E só por isso me ria

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Perverso, inconstante mar
revolto do meu ser
Vagas em fúria
na porcela tenebrosa

Ao longe o meu olhar perdido 
na imensidão deste mar revolto
Vem-me a lembrança daquele louco amor
que agora é minha solidão
Pediste ao mar para me falar de ti 

 ou
Ao longe, o meuolhar perdido na imensidão
deste mar em fúria, revolto como eu.
Vem-me à lembrança aquele louco amor
que enche agora a minha solidão

Pediste ao mar para me falar de ti

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(Para o João)

Há tantos anos que não te vejo, que já nem me lembro bem da tua cara. Apesar dos retratos que tenho espalhados por toda a casa.
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(Para a Lecas)
Minha adorada, luz da minha vida
A noite inteira conversei contigo
Num pranto de saudade infinda
destruí minha alma

LECAS
Depois de nos faltar uma filha, nunca mais se esquece. Tenta-se viver como se pode, mas o coração está sangrando constantemente e nunca mais se é a mesma pessoa
,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,
 Turbilhão de amores que me deixou presa
Insatisfeito amor minha alma perturbando
Sempre na procura de um amor melhor

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Em noite longas de dor e sofrimento. 
meus olhos já cansados de chorar
Eu peço a Deus que me dê alento
E me deixe contigo conversar

A minha adorada, minha confidente, 
Conversei contigo, solucei meu pranto,
De saudade infinda, que no peito trago
A noite inteira falei e tu falaste

Compus outrora poemas desmembrados
sem conseguir dizer o que queria
mas agora, passados muitos anos.
 a sós contigo  (já conseguiria?)
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A CASINHA DA PEDREIRA
Queria voltar a ver
as camélias a florir,
as laranjas a crescer.

Queria voltar a ter 
na minha mão pintaínhos 
acabados de nascer

Queria voltar a ver
o jardim, a capoeira,
a horta - querida Maria - 
que te enchia de canseira

Limonete ao fim da escada
Alecrim pro's ramos bentos
toda uma festa, a ramada
a casinha, tão modesta,
com o nicho e a cantareira...

Agora, recordo a chorar
as pedrinhas da calçada
que já não volto a pisar. 
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Ainda tocam trindades na Igreja de São Cosme. Ouvi tocar a primeira carreira para a missa das 7, uma hora antes da missa. !/4 de hora antes,  2ª carreira e, depois, picou para a missa.
Fez-me muitas saudades, ouvir tocar para a Missa. Pareceu-me ouvir a voz da minha mãe a dizer: "Meninas, vamos embora, já tocou a segunda carreira".
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Tenho saudades de pedir a benção à minha Mãe e minha Tia. 
A minha Mãe dizia: a água lava tudo, só não lava as más acções.
Quando não se lembrava do nome das pessoas, chamava Francisca e Francisco - a toda a gente...
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Vila Maria
Apesar de sentir a falta do nosso Pai, eu e os meus irmãos éramos felizes e não sabíamos. A única falta nas nossas vidas (ainda tão jovens) era aquele lugar na mesa da grande sala de jantar, o do Papá (como a nossa Mãe dizia)ocupado pelo meu irmão António agora


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Agradeço à Nossa Senhora
A VIDA
Fátima, 26-4-86
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Agradecer, agradeço esta paz diferente, que sinto em Fátima, como se fosse, em cada ano, a primeira vez. E, neste constante turbilhão de sentimentos, que me invade, sinto-me, aqui em Fátima, mais benevolente e compassiva são só três dias de "tratamento", mas já é bom para o meu espírito cansado e atormentado.
Parece que renasci, aqui, hoje.
Fátima, 27- 4 - 89
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Compus outrora uns poemas desmembrados
sem conseguir dizer o que queria
e hoje, volvidos tantos anos, 
não sei se era verdade ou se mentia...
quando dizia , amor, quanto te amava,
que era capaz de morrer por ti
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 (A Manela)

Corria veloz. cheia de energia
ceifando flores do belo jardim.
Protestos e ralhos. Como elea se ria...
São minhas as flores, são todas para mim...

Manelinha, mas isso é maldade,
dizia-lhe alguèm, decerto era eu.
Intervinha a Avó, ar de cumplicidade, 
São dela, claro, foi Deus que lhas deu

É muito inteligente, não trecisas ralhar
Um anjo a menina e só eu a entendo. 
Só a Avó  a sabia levar

E aquele anjo, menina vestida de anjo, de asas partidas, cabelo em desalinho, laçarote perdido, ia para a procissão
Eu peço a Deus para te acompanhar
O tempo vai passando e a saudade fica connosco pela vida fora
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Nos 50 anos da Manela

Tempestade traz bonança
o passado traz saudade,
 a vida é sempre esperança,
 busca da felicidade

Passa um ano, entra a saudade
mil beijos para ti, meu bem
a maior felicidade 
te deseja sempre a mãe

Espinho, 8-6-92

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De todos os sentimentos humanos, nenhum mais natural do que o amor pela Terra, pelo vale, ou pelo bairro onde crescemos. A nossa Terra aviva-nos as recordações mais familiares (íntimas), mexe com as nossas emoções mais profundas. Tudo o que faz parte dela, pertece-nos, em alguma medida, e, decerto forma, nós fazemos parte dela também, tal como a folha pertence à árvore.
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Saudade, palavra amarga e doce. Saudades da minha linda terra, S Cosme de Gondomar, onde imperam os grandes artistas de filigrana de ouro. Saudades do meu Monte Crasto majestoso, donde em noites de luar (esse luar ímpar das noites de Natal, que eu guardo na minha memória e recordo comovida), se abrangia toda a minha terra, banhada de um manto de prata. Saudades daquela prenda do menino Jesus, que a minha querida Mãe, com tanto amor e carinho, pòs debaixo do meu travesseiro: uma linda pulseira de prata, toda feita de margaridas, que ainda hoje guardo, com todo o meu amor. Saudades da minha mocidade, dos meus amores, das minhas ilusões, dos meus tempos de colégio, de minha casa, do meu jardim cheio de flores, do meu piano, meu confidente, o meu piano, que escutou tantas histórias de amor,
Saudades da minha Terra, a minha casa, os meus Natais...~

22 - 7 - -92
Um sonho
Eu vinha de cima, a chegar a casa, e vi a entrar na minha porta a minha Tia, a minha Mãe e várias crianças. Cumprimentei a minha Tia, dei-lhe dois beijos, e ela abraçou-me. A minha Mãe estava mais adiante. Dentro não era a minha casa de Espinho, era aquela sala antiga, muito grande, com um quarto à esquerda, uma porta em frente à porta da rua, que dava para dois quartos interiores, à esquerda do corredor a cozinha e a sala de jantar, ao fundo, com porta e janela para o quintal. Cumprimentei também a minha Mãe, dei-lhe dois beijos, ela também me abraçou. Numa alcofa estava uma criança muito linda e elas disseram-me as duas: "é a Marta, a Martinha, vai ver que é bonita". Aproximei-me, uma dizia: "é parecida com o Avô" (o meu Pai) e eu chamei a Manela, peguei na menina e os olhos eram tão azuis, tão azuis (como eu nunca vi, ou antes, devia ter visto, deviam ter sido assim os olhos do meu irmão Manuel). A criança era lindíssima e era tal e qual este retrato do meu irmão (Manuel), que eu tenho aqui no quarto. Entretanto, a minha Mãe sentou-se numa cadeira e encostou-se a uma mesa, com a mão na cabeça. Eu perguntei : "O que tem a Mamã"? "Estou com azia",  e eu virei-me para a Olívia e mandei-a fazer um cházinho
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Não posso olhar para a nossa casa, a casa da minha Mãe, sufoco de saudades, e as recordações são tantas! Festas de Natal, os risos das crianças, o cheiro das rabanadas, o cheiro da minha adorada casa. Tantas Páscoas = o compasso!), casamentos,  E, de repente, pela minha cabeça passava a minha meninice, adolescência, as nossas gargalhadas - eramos sete - as repimendas da nossa querida Mãe. "meninas (a minha irm-a Lolita e eu passávamos a vida a rir):não se riam tão alto, não é bonito". Além disso, Muito riso, pouco siso"
Dentro daquelas paredes guarda-se a história das nossas vidas, meus irmãos, minha Mãe, quantas alegrias, quanto amor, e quantas tristezas também!
Parece mentira que tanta história caiba dentro daquela adorada casa, Desci aquelas escadas para me casar na Igreja da minha Terra. Deois, e a história continua, ali nasceram as minhas filhas. Mais risos, mais gargalhadas. tudo se repete. é a nova geração!
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Compasso na minha Terra
Corações cantando almas em flor, flores em casa e no jardim também. Vem o compasso - é Deus , é amor. Pela aldeia fora campaínhas a tocar. Flores desfolhadas e "verde" pelo chão, Aí vem o compasso, aí vem a Cruz a chegar.
Pojeiras onde os criados da minha Mãe iam buscar verdes para pôr no chão - fora do portão, do portão até ao terraço e pelas escadas acima, o percurso que, no domingo de Páscoa fazia o cortejo do compasso.
Alguns anos antes, íamos com a Nucha buscar fetos e verdes ao Barroco. Tão lindo! Era um vale entre a Gândra e Pevidal

Mês de maio

Mês de maio, minha aldeia tão linda,tão florida. Ao entardecer subíamos o Monte Crasto, para as novenas do "mês de Maria". Eu toco o pequenino órgão do coro da capela de Santo Izidoro. no Crasto, a Lolita e outras raparigas, como nós, cantam coisas tão belas!

23-2 - 74   PORTO (um sábado)
Primavera nos jardins, primavera nas casas e nas pessoas, sim, porque entrou também a primavera nos corações de cada um. Minha terra tão linda, estás perdida, mas eu encontro-te, minha raínha. Minha terra  coroada de mimosas, A tua coroa é o Crasto. Sala de visitas das gentes de Gondomar e de tantas outras. Minha terra, berço de todos os meus... Não é a minha vida que vou passar ao papel, -são várias vidas, porque terei de lembrar antepassados e contemporâneos
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Oh, meu Gondomar, minha linda terra
Tu que embalaste o meu 1º amor
Porque não levar-te presa nos meus braços
oh, meu Gondomat, para onde eu for?

Encantamento que nunca esqueci
roseiral em flor desse meu jardim
tanta rosa murcha pelo chão caída.
mas tanto botão a abrir para mim...

Gondomar, meu berço, capital do mundo
És a minha casa, és o meu jardim
Foste tu que viste os meus primeiros passos
E irás guardar-me, ao chegar ao fim. 
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Procuro-me e não me encontro
E fico parada assim
A chorar, meu Deus, porquê?
Por ter saudades de mim!
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E o tempo passava
O tempo corria
Eu já não chorava
Apenas sofria

Andava à procura de um sonho vivido
Num lindo castelo entre árvores e flores
Perdida, encontrei-me num mundo perdido
Meus ais, meus queixumes, meus loucos amores.
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Gondomar, ponto final
do mundo tão grande assim
Mas para mim e, afinal, 
a terra maior
deste nosso Portugal

Meu Crasto bendito
Mimosas em flor, Minha Terra
Novenas de Maio
quando era menina
Festas de S Izidoro
Música no coreto do Monteiro...
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Sonhos meus, audaciosos, inquietantes, insatisfeitos - como eu, uma insatisfeita - sonhos belso de um amor quase perfeito. Mais de uma vez desci o Crasto num voo pleno de graça e leveza. Senti mesmo os pés a levantarem-se do solo e voei acima daqueles queridos pinheirais, eucaliptos e mimosas, voava em direção a minha casa...
Mas fiquei diferente, sim, depois que perdia minha querida filha. Ela era a minha alegria e a minha vida, era minha e roubaram-ma. Fique perdida num deserto, fiquei sozinha, Que me perdoem todos os que ficaram comigo, ficaram muitos, ficámos todos , menos ela. Que me perdoem, mas eu fiquei sozinha.
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Não sou bonita, nem feia, sou simpática, fui sempre muito simpática (isto não é narcisismo...). É verdade. E fui em tempos, há muitos anos, uma rapariga 
interessante, pequena, bastante pequena, mas cheia de saúde, extuante de vida, vida e alegria, que transbordava por todos os poros do meu corpo. Diziam até que eu tinha muita graça, aquela graça natural de uma rapariga que da vida só queria a vida e nada mais. E o fulcro da vida era o amor. De uma sensibilidade doentia, muito sincera, expansiva e nada egoísta. 
LECAS
Depois de nos faltar uma filha, nunca mais se esquece. Tenta-se viver como se pode, mas o coração está sangrando constantemente e nunca mais se é a mesma pessoa

A minha Mãe e a minha Tia diziam: "Quem muito dorme, pouco aprende (ou seja. é estúpido)
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A minha Mãe recitava:
Minha terra tem coqueiros
onde canta o sabiá
As aves que cá gorgeiam
não gorgeiam com
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12-6-93 ESPINHO
Ontem fui a Gondomar ao baptizado do António, filho da Ana e do Tozinho. Lindo baptizado, maravilhoso jantar em casa dos pais da Ana em S Cosme.
Que saudades da minha linda Terra, que saudades da minha Mãe, da minha querida casa, dos meus irmãos todos (quando éramos jovens), do terço rezado à volta da mesa, depois do jantar - as criadas e o criado, à porta da cozinha, a rezar connosco), que saudades de mim, meu Deus! Tantas saudades de tudo, que nem me cabem no coração. E chor, choro, por tudo o que eu tive e perdi. Oh minha terra,(onde se vê o céu), meus verdes campos, meu lindo Monte Crasto.
18-5-93 ESPINHO
Daqui do meu sofá, na minha sala virada para o jardim, a partir da porta larga - de parede a parede - vejo um retalho pequeníssimo do jardim da minha casa (pensando) no jardim da casa da minha Mãe, da nossa querida casa.
O meu jardim, o meu roseiral,, as minhas adoradas rosas, que parecem as nossas rosas, minha Mãe!A trepadeira vermelha que sobe pela parede, junto ao poço, (e tem ao lado uma japoneira) está coberta de flores e todas as outras mais parecem rir-se para mim.

19-8-93, quinta-feira  
UM DIA
Levantei-me às 9/2. Está um dia de sol e calor. O João passou por mim nas escadas e disse: "bom dia" (mais para dentro do que para fora). A Plívia foi às compras de "cara" amarrada, aliás, como anda sempre.
Vou tomar o meu chuveiro e vou ao café, Talvez encontre a Leninha, (que está cá, a passar uns dias no apartamento do pai). Porque aqui em casa, não há conversa. Não há agora, nem houve nunca, só discussões. Sofro muito, mas só Deus sabe porque sofro, nem eu   
27 Set 94
TITA
Hoje tenho-me lembrado todo o dia da Tita, minha querida cadelinha, que morreu há mais de um ano.
Mas hoje vejo-a sentadinha no sofá, tão pequenina (era uma yorshire terrier). Não gostava que ninguém se sentasse perto, queria o sofá todo para ela.
Sabia quando eu estreava uns sapatos, farejava-me os pés.
29 - 3- 95
LENA E DAVID
Gosto de encontrara a Lena e o David (ao domingo), em casa do Mário. Já vamos tendo tão pouco tempo para nos encontrarmos, munha querida irmã. temos de aproveitar as ocasiões que se proporcionam para nos vermos. Está a aproximar-se a Páscoa. Que saudades das nossas Páscoas, na nossa casa, que saudades do compasso (com a nossa Mãe, claro), nós, todos or irmãos reunidos, as minhas adoradas filhas, os meus sobrinhos,, os namorados deles, as 
criadas na cozinha, o cheiro dos cozinhados,o saudoso cheiro bom da nossa casa, que cheirava sempre a flores, o nosso jardim, aquele paraíso, como a minha mãe dizia

LECAS
Minha Lecas, minha filha, a coisa mais linda que eu fiz e criei, na minha vida. Nem as rosas, as flores do meu jardim. Minha querida filha, valeu a pena viver e sofrer, só para te ter, a ti.
Tristes prenda sque te dou, minha adorada filha, padre nosso e flores. Tu que gostavas tanto de vestidos, de sa+patos, de pequenos chocolates.

ESQUEMA de BIOGRAFIA 4 partes
1ª - nascimento e vida em família
2ª internamento no colégio
3ª regresso a casa aos 18 anos: namoros
4ª  - casamento e peripécias seguintes

(quem não se enfeita, por si se enjeita)

31-8-94
A Manela foi ontem para Lisboa de carro, (Peugeot), sozinha,  e hoje, de manhã cedo partia para a Turquia, a esta hoara ainda vai a voar, São 4 horas. da tarde. Esteve aqui em Espinho 3 semanas e por acaso com um tempo ótimo de praia. Esteve também cá, no andar da Manela,  a Terezinha, Helder e Tozinho - que está um encanto - uns 15 dias. Foram ontem à tarde embora, para Gondomar, ficámos sozinhos, e com muitas saudades.Estou muito trista, também, porque a Lélé foi fazer e tem de ser operada ao útero. Deus a proteja. 

23-9-94
A Maria do Carmo esteve cá 4 dias. Vinha para passar 15 e sentiu-se mal da bronquite, de que já sofre há muitos anos e de uma hérnia no estómago, que também já tem há muito tempo. Estou muito triste por isso e porque a Terezinha também vinha para aqui com o menino, para casa da manela,  e agora a manela resolveu alugar o andar e eu fico sem a companhia deles.
A Maria do Carmo vinha cá 2 ou 3 vezes por ano, mas a viagem é muito longa, faz um grande sacrifício, coitada. É uma grande amiga Assim, eu vou ficando mais pobre (não de dinheiro, mas de dinheiro também, porque os juros vão descendo e eu vivo dos juros) mas de amizades verdadeiras, que tanta falta me fazem. Sinto-me muito abalada e desanimada.

28-4-93
Viagem para Fátima no nosso carro, eu e o João
Matos cheios de verdura, os pinheiros com as suas "crescências" e um mar de juventude. Campo enfeitados de ( /...?) irradia, alegria e jardins cobertos  de flores variadas, parecem cascatas ali...para receber a primavera. Há ainda as maias a quebrar o verde das matas, essas flores tão lindas , que alegram os olhos e aquecem o coração. As flores amarelas encantam-me. O céu está carregado de nuvens brancas, o sol espreita, de vez em quando e vai adoçando a viagem. Chove, de longe a lomge. Não gosto de viagens com chuva. Com todas as viagens (aliás, como na nossa vida), não há conversa -2 ou 3 palavras de Espinho a Fátima e estamos agora a parar num bar da Mealhada.para tomar um cafézinho. O João enganou-se, passou o bar e teve de dr meter o carro em marcha atrás, mais adiante.E parou um carro da polícia mesmo ao nosso lado.. Foi manobra perigosa, esteve prestes a pagar multa, mas lá nos deixaram em paz (o João alegou que tinha tomado um diurético...), Ameaçaram-no de ficar sem carta na próxima transgressão. Agora continuamos a nossa viagem, atravessamos a serra (de Lousã?). Continua o céu cinzento, com abertas de azul, de vez em quando. Há uma cordilheira à nossa frente e do lado esquerdo, a bordar o horizonte.A auto-estrada permite-nos ir a 120, o que para o João é uma grande aventura.. Os matos dos dois lados da estrada continuam cobertos de maias. Que lindo! É para alegrar o cinzento do céu .Estamos a 20 km de Leiria, portanto já perto de Fátima. A paisagem é bonita, mas quanto mais lindas eram aos caminhos por onde eu vinha há 30 , há 50 anos?
A 1ª vez que vim a Fátima com a minha Mãe e a Mª Ernestina, irmã do Eduardo, tinha 17 anos.
Uma grande chuvada e estamos a 16 km de Fátima, avista-se ao longe uma povoação, deve ser Vila Nova de Ourém. Já se Vêem as características desta região, os muros de pedrinhas  - como há em Fátima. Aqui e ali um campito verde, verde tão verde e fresco,parece um tapete de entrada em Fátima
Estamos em Fátima. A chuva parou, deu lugar ao sol, lá fora e no meu coração.


Espinho, 24 de Abril de 1996 
Vai fazer no próximo domingo 3 semanas que o meu querido João foi para o céu. Meu amigo, meu companheiro de 55 anos. Foi no dia de Páscoa, às 8 e meia da noite no dia 7 de Abril de 1996,
Está em  Gondomar, ao pé da nossa Lecas. Mas como tem sido difícil para mim sofrer sozinha tão grande desgosto, não tenho com quem desabafar e isto é uma tortura enorme. Tento resistir, mas preferia ir para perto dele e da nossa Filha.

12 de Maio
João e Lecas quero ir para perto de vós, vinde buscar-me, não tenho nada que fazer aqui. A Manela tem a vida dela e eu vivo sozinha, (esta criada que vive aqui em casa não é ninguém)
Não posso sofrer asim , quero ir embora, descansar perto de vós. Pedi a Deus por mim. João, meu companheiro, meu amigo, tu tinhas tantos cuidados comigo, e agora deixaste-me sozinha. Eu dasabafava contigo e agora não tenho com quem falar. Sofro atrozmente de saudades e solidão. Que mal nós aproveitámos ou vivemos  o nosso tempo juntos, João.. Tudo o que eu fazia era para ti, João. Queria um piano para que tu me ouvisses tocar. Agora já não quero. Fiz o meu jardim para tu veres. Vestia-me bem para tu olhares para mim. Lembras-te como antes de estriar uma roupa te perguntava se me ficava bem? E tu sabias como ninguém aconselhar-me, eu acreditava, piamente, no que dizias. Agora já nada me interessa, acabou tudo para mim.Eu não posso, não sei viver sem ti. Triste primavera, triste sol e até as flores do meus jardim são tristes. 



Espinho, 1 de Junho de 1995
Já quase  de manhã o meu João esteve sentado na cama , em frente à minha. Eu estava para me deitar (sonho ou realidade?) e ele abraçou-me, sentou-me ao colo dele e falava não sei de quê, duma gaveta que precisava de ser levada, mas falava e ia-me puxando para o colo dele e eu abracei-o também. E acordei, ou ele foi embora?

3 de Junho de 1996
Cada pessoa tem a sua casa exatamente para poder sofrer e chorar sozinha.Meu querido João eu ando perdida e perdida por esta casa sem te ver e pergunto. para onde foste sem mim? Tu que não ias a parte nenhuma sem me dizer, para onde foste  sem me dizer? E deixaste-me aqui, assim, desesperada, Eu morro de saudades tuas.

5 de Junho de 1998
Meu João, meu amor, grande partida me fizeste, naquele dia de Páscoa, 7 de Abril, ao jantar. Tínhamos chegado de Gondomat às 7, tu foste ao Café Vieira tomar o teu cafezinho e chegaste atrasado para o jantar. Eu e a Manela já estávamos à mesa e tu chegaste, sentaste-te em frente a mim, comeste a sopa e ias continuar, quando eu, conversando contigo, te disse que tinha a cara muito vermelha e inchada do calor dos aquecimentos em casa do Mário (eu costumo ficar
 assim com o calor). Tu, querido, olhaste para mim e ias dizer qualquer coisa. Já não disseste. A cabeça caiu lentamente para a frente e tu, meu amigo e companheiro de 56 anos,  partiste e deixaste-me sozinha. Quem me dera ter ido contigo. As minhas lágrimas são de saudade e desepero, eu não sei viver sem ti!. Agora, só agora sei que tudo o que eu fazia era para ti, João. Todos os vestidos que eu comprava, quando eu cantava nas festas da família, as flores do nosso jardim, os móveis para a nossa casa, tudo era para ti, meu querido João. Eu queria que tu gostasses do que eu gostava.. Amanhã, dia 6, fazias 78 anos.e, no dia 7, faz dois meses que me deixaste!
Oh, João, como é possivel eu não falar mais contigo e tinha tantas coisas para te dizer, como disse quando era mais nova (éramos mais novos). Mas que eu queria agora, ainda, dizer-te outra vez.
João, leva-me para o pé de ti e da nossa Lecas, meu amor, chama por mim,  este mundo não tem interesse nenhum para mim. Nem estes dias esplendorosos de sol, nem o meu jardim cheio de flores, nada, já não há nada que me faça ficar aqui. Sinto-me sozinha e abandonada num mundo desconhecido, João, vem-me buscar!

9 de Junho de 1996
Dia dos anos, 54 anos, da Manela. Está na Venezuela, em Caracas, eu estou aqui, com as minhas recordações. Meu querido João, os dias estão cheios de sol, mas tão tristes para mim! Acabou tudo desde que me deixaste, mas que amargura de vida!

11 de Junho de 1998
Meu João, eu morro cheia de saudades tuas, não posso viver assim, porque me deixaste? Eu não posso nem quero viver sem ti. Preciso de ir para perto de ti e da  nossa Lecas.

15 de Junho
Pode-se morrer de saudade e eu acho que vou morrer Já há mais de dois meses, meu amor, que te foste embora. E eu sentada no meu maplesinto que tu estás ao meu lado, sentado no teu maple, e eu  viro a cabeça e vou falar contigo. João, como posso viver assim? Durante o dia, de vez em quando,estou a pensar: logo quando o João chegar eu pergunto-lhe isto ou aquilo.
Ouço os teus passos a subir a escada, ouço o meter a chave, ouço-te a tossir. e morro, aos poucos, de saudades. Como ficou tudo vazio á minha volta

20 Junho
Esta noite sonhei contigo, Em casa da minha Mãe, em Gondomar., no nosso quarto de inverno, (onde nasceu a nossa Lecas), o quarto azul. Tu estavas a chegar a casa (do emprego, cansado), agarraste-me atrás da porta e deste-me muitos beijos e dosseste-me que já tinhas muitas saudades minhas.
Tínhamos em casa da minha Mãe outro quarto, de verão, no andar de cima (chamávamos-lhe "o quarto de hóspedes", foi onde nasceu a Manela.

21 de Junho
Meu querido João, eu dizia até agora "feliz de quem fica cá", mas já não penso assim. Agora sei verdadeiramente que quem é verdadeiramente que feliz é quem parte. Por isso peço-te para me chamares, eu quero partir.

22 de Junho
João passo os dias a chorar, nem sei como tenho tantas lágrimas nos meus olhos. Estamos no verão, eu continuo sozinha, a Manela veio, mas já foi outra vez, ficou só uma noite. Está um sol a brilhar e um céu azul, e é tudo tão triste, Como o mundo ficou diferente, meu companheiro, eu até  acho, meu companheiro, que estou a viver noutro mundo. João anda.me buscar.

14 de Julho
João meu amor, que saudades da tua voz, dos teus passos, de te ouvir subir as escadas, meter a chave à porta e dizer :"Sou eu". Que saudades, joão,  de te ouvir chamar por mim. Quem me chama és tu, ou o meu irmão Zé, que está aí no céu contigo, desde o dia de Natal 24  - 12- 95, pobre e querido Zé, tão meu amigo também. Meu querido João, tenho saudades de te  ouvir tossir, andar à noite no corredor,  até de fumar o cigarro (que tão mal te fazia),, Até tenho saudades das nossa zangas, das nossa "guerras"!

11-12 96
João, meu amor, vem aí o Natal, só quero dizer-te: o meu mundo desabou em cima de mim. Mas que deserto é este?