quinta-feira, 26 de março de 2009

De Toronto, mensagem para a Docas

Em Toronto ainda estamos no dia 25 .03. 09.
Tempo de mandar beijinhos no dia de anos!
Estou no "lounge" da British Airways, usando um computador da companhia pela primeira vez.
Consequência de aprendizagem recente do uso deste instrumento.
Lembrei muito esta prima talentosa, enquanto apreciava quadros de autoras femininas expostos no consulado de Portugal, ontem, por altura do encerramento das comemoracôes do Dia da Mulher.
Interessantes!
Entre elas, nomes consagrados, na nossa comunidade, a Docas brilharia. a grande altura, pela originalidade das suas temáticas, pelas luzes e sombras tão sugestivas das coisas que nos dá a ver, no seu traço firme, e pelas que nos deixa adivinhar.
Encontrou uma maneira de falar em outra linguagem, para além das suas frases inteligentes, mas sintéticas, quando nao elípticas.
Como diria Frei Eliseu da Bahia, ela e capaz de coisas extraordinarias, quando quer.
Todavia, tal como ele intuia, poucas vezes quer mesmo...
Ainda bem que lhe deu, recentemente, a coincidir com a reforma de um trabalho profissional sem interesse algum, um assomo de grande energia, desde então, espalhada em telas maravilhosas.
Contos das aventuras da Docas, em quatro continentes do mundo, tenho muitos para contar. Em chegando a casa, onde me espera uma activissima Mae e os meus 7 gatos - alguns dos quais, embora não todos, a Docas "apaparica" ainda mais do que eu - retomarei a escrita.
A Docas bem o merece. pois é a maior comentadora deste blogue.
Quem diria, antes de ver, ou ler, com os seus próprios olhos. Uma sexagenária cheia de surpresas para oferecer ao mundo!

Manela (a voar)

quarta-feira, 25 de março de 2009

W74 - MARIA EDUARDA AGUIAR DA FONSECA - "DOCAS"

Maria Eduarda nasceu a 25 de Março de 1945, em Paços de Ferreira.
Foi uma menina graciosa, alegre, brincalhona, feliz.
Assim comecou , bem, o que a Lélé - no video que lhe dedicou, a 25 de Março de 2008 - chama UMA BELA VIDA! Não sei se ela concorda, inteiramente, com o titulo. Estas apreciacões genéricas, são muito subjectivas, como é evidente. Mas é assim que nós vemos o seu itinerário original - e ainda mais agora, depois que recomeçou a vida, aos 60, com novas e fascinantes actividades.
Voltando ao principio: Em criancinha, era muito morena, redondinha e meiga, olhos enormes e sorridentes, cabelo muito preto e liso, enfeitado, permanentemente, com enormes laços coloridos, que a ela lhe serviam, em primeira linha, para manusear a seda sedosa, com a mão esquerda, enquanto chupava (à falta de chupeta...) em dois dedos da mão direita - um tique de nascença, que quase a deixava com esses dois dedos mais magros do que os outros...
Uma imagem engraçada, castiça, diferente ... Uma beleza infantil, inegavelmente. E já uma pequena pessoa , com personalidade, brandamente, embora... Cheia de fãs. Os meus pais adoravam a Doquinhas, que parecia uma boneca. Nós também. Communis opinio...
Aos 6 ou 7 anos, tornou-se magrinha e ágil, com uma capacidade de arrancar, nas corridas, à frente de todos, incluindo o Nestó - e de os bater, aos mais velhos, sobre a linha da meta. Grande nadadora, também, discípula do pai, o Tio Eduardo, que, nas águas do rio Tua, como nas do Atlântico, parecia um "ser marinho", tal a cumplicidade com que mergulhava ou rompia as vagas altas do oceano, nas marés vivas de Agosto, em Espinho.
Já adolescente, em Setúbal, destacou-se no volei, e acho que até ganhou campeonatos escolares. Como veremos, alterna, assim, desde sempre, periodos de pura contemplação, nome elegante de preguiça, com outros de feérica actividade...
As irmãs Maria Antónia e Glória Doroteia (ou Mariazinha e Lola) eram inseparáveis, como se de gémeas se tratasse, e continuaram especialmente próximas depois de casadas, e isso muito permitiu estreitar os laços de relacionamento entre os seus 5 filhos. Para nós, a Lecas e eu, os três "Aguiar da Fonseca" foram sempre a quinta essência da amizade... e um passaporte para viagens ao interior de Portugal, em férias de sonho. A Docas e os manos tiveram, de facto, a sorte de conhecer o Portugal profundo, de norte a sul, porque o Pai, engenheiro de minas, aceitou empregos variados, em terras diferentes - minas de ouro, em Trás-os-Montes, ou de urânio, nas Beiras, ou de outra coisa qualquer, no Alentejo... O trio cresceu a vontade, em aldeias bonitas, em contacto com a natureza e com pessoas simples, sem nunca se sentirem superiores ou especiais. São gente boa!
E com uns Pais fantásticos, sempre prontos a apoia-los, nas suas passeatas pelos montes, a pé, a cavalo, de burro, ou de jeep... Bons alunos, bem dispostos, saudáveis - uma bela vida, desde essa era "pré-histórica". Para mim e para a Lecas, eles eram mais irmãos do que primos. As férias passadas com eles foram momentos únicos da nossa infância. Gostariamos de ter uns pais assim... Quem não gostaria?
A Docas tinha, desde pequenina, uma qualidade raríssima nessa idade : sentido de humor. Sinal seguro de inteligência cintilante, demonstrada a espaços...
Ninguém estúpido sabe, sequer, o que e ter espírito... No caso dela, discreto, porque era, e é, discreta e descontraída por natureza. De uma simplicidade franciscana , a vestir, e não só. Não quer nada de supérfluo - um exemplo nesta louca sociedade de consumo, em que estamos mergulhados, sem sabermos a extensão e grau dos nossos vícios... Afilhada do mítico Tio Zé da América, pode ser assim por efeito por influência padrinho (as "bençãos", diz o povo). Ou por influência do Pai, que também se bastava com pouco, muito pragmaticamente!
Por exemplo: a Docas recusa ter mais do que um anel, ou um relógio, ou uma carteira, ou um par de sapatos de verão e outro de inverno (exagero, mas não muito...). Se a deixassem, andava sempre com as mesmas calças velhas, e uma ou duas camisolas.
Uma vez, foi passar um mês a Genebra, quando eu lá frequentava um curso da OIT. Imaginem o meu espanto, quando vou espera-la ao aeroporto, ela sai, sem mala de cabine e , quando a quero dirigir ao "carroussel" das bagagens para a ajudar ao transporte (bons tempos, em que podíamos circular no interior dos aeroportos...) segue em frente: "Vamos embora. Eu não trago mais nada comigo". Isto é, trazia os documentos, a pasta de dentes, e pouco mais, num pequeno saco , multiusos, levada a tiracolo! Para mim, que não sou propriamente uma adepta da moda e do excesso, foi um choque!
Poteriormente, com a vida social intensa, que fazíamos naquele curso, ela teve de ir comprar umas coisas, nas lojas da cidade, então não tão caras como hoje... Comprou o mínimo, mas andou sempre chiquérrima e fez furor! Os meus colegas no "Study Course" eram todos homens ... Mulheres, só mesmo nós as duas - e já na parte final, umas "esposas", que não se misturavam com o grupo! A Docas, sem ser participante directa, foi positivamente adoptada. Estão a ver o assédio constante, embora amável, de que foi alvo e de qual se livrou sempre, com toda a diplomacia...
Outro momento social alto, muitos anos antes, na Freixêda, foi a sua comunhão solene, quando, apesar de não ser dada "ao palco", se saiu muito bem, dizendo uns versinhos, compostos pelo meu Pai, seu particular admirador. Muito bonita, com um vestido comprido, de organdi branco, sem tropeçar.
O Nestó também discursou e a Xana foi "fardada" de anjinho gordo, com asas . Ao lado, a Manica era o anjinho magro.
Em breve, a Docas teria de trocar os arejados montes pela cidade. Acabada a primária, estudou no Porto, depois em Setúbal. Fez o antigo 5º ano da Escola Comercial, por decisão, um pouco bizarra dos pais. Não se percebe a razão de não ter seguido o liceu: tinha de viver longe das minas, qualquer que fosse a opção...
Morou, depois, em Lisboa, Luanda, Genebra, Paris (para além de todas as vilas e lugares de "charme", de que já falei). Viajou pelo Sul de Africa, pelas Américas, Brasil, EUA, pelo Hawai, e por muitos países da Europa, naturalmente. Algumas dessa excursões, na minha companhia. Genebra, em 1968, era, para ela, a terceira estada no estrangeiro. Em 63, tínhamos excursionado durante um mês na região de Reno, parte do tempo em casa da minha "pen-pal" Gesinne Fast. Em 1967-68 viveu em Londres, como "au pair".
Outras saídas para fora se foram sucedendo, incluindo no período em que ela integrou - vejam só!... - e muito competentemente, como era de esperar, o meu gabinete, no Palácio das Necessidades (nesse caso, com a designação de "missões", é claro e com o dever de fazer um esforço suplementar no que respeita a indumentária. Organizou exposições, pelo mundo fora, partilhando responsabilidades com a Margarida de Castro Serra e Moura e com o muito célebre Jorginho (depois diremos porquê "célebre"...), desenhou uma artística e sóbria medalha de bronze, colaborou em publicações de diapositivos, em parceria com o Fernando Calado Correia (que deve ser mencionado, depois, numa outra veste, mais importante) e foi autora de muitos outros feitos fora do comum. Fez amigos no coração da nossa diplomacia... Estava requisitada à monotonia da Caixa de Previdência das Doenças Profissionais, atravésda qual tinha vínculo à função pública. Creio que a pausa na rotina valeu a pena.
Daí, acabou, quando aquele governo acabou, por ir para Genebra, juntamente com a colega Sarolta. Ambas para os servicos consulares. Se tivesse continuado estaria agora com uma reforma milionária. Mas as saudades do Fernando troxeram-na de volta a Lisboa e à Caixa de Previdência... Faltou-lhe a vocação para emigrante.
A Suiça não é a África... e do que a Docas tinha gostado mesmo era de Angola, de Luanda e das minas perdidas no mato, onde o Tio Eduardo passou uns anos -e ela o visitava, de vez em quando, mantendo residência na capital. Em Luanda, conheceu o "homem da sua vida": o Fernando Calado Correia, cirurgião, professor da Universidade, um encanto de pessoa, e um talentoso fotógrafo. Com, pelo menos, um belo livro publicado, em que a Docas colaborou. E as fotos em que a retratou dariam outro livro de arte.
Nos anos 80, quando a Docas, no MNE ou fora do MNE, aparecia com novo fato, que lhe ficava muito bem, eu dizia: "Foi o Fernando que escolheu!" . Acertava, invariavelmente...
Durante uns anos, morou comigo e com a Maria (e a Endora), na andar da Av. do Uruguai, onde ainda hoje o quarto onde ficava é "o quarto da Docas".
Até que decidiu ir viver com o Fernando - sem oficializar o casamento. A primeira da nossa geração a demonstrar esta mentalidade moderna. Para a época, uma ousadia! Agora, coisa banal... Ainda hoje a relação destes dois "solteiros" no registo civil permanece, indestrutível, enquanto à volta vão ruindo os casamentos tradicionais. E, nova originalidade, cada qual mora na sua casa: ela na Ajuda, ele no Restelo, ali bem perto.
O Fernando, é, tal como eu, um grande entusiasta e apoiante moral da nova vocação artística da Docas. Compra-lhe paletas, telas e tintas, e dá valiosas opiniões sobre as obras em feitura, algumas inspiradas em fotografias suas. E arremata, antes de virem a mercado, os mais espectaculares quadros da pintora. A nova exposição promete, mas mais de metade dos quadros ja serão de colecções particulares, quando o público tiver acesso ao acervo ...
Por esta pequena amostra, digam lá: a Docas teve e tem, ou não, uma "bela vida"?
Tal como como a Lélé, eu respondo afirmativamente E o que mais desejo é que assim continue, por muitos, muitos anos!



































Parabéns à nossa mais recente revelação do Circulo Aguiar

sábado, 21 de março de 2009

OLÍVIA -já passaram dois anos

Dois anos sem Olívia. Como sentimos a falta dela!
E os seus bem-amados gatinhos também. Agora é o Mandarim que adptou o quarto dela - que, salvo dois novos quadros na parede, está na mesma...

segunda-feira, 16 de março de 2009