sábado, 31 de dezembro de 2011

FOTOS DO GATO Jão Jão 2010-2011




Hoje em dia fotografo muito menos e muito pior. Um gato tão bonito merecia imagens que dessem toda a medida da sua. beleza. Mas , de qualquer modo, acho que mostram "como" ele era, psicologicemente. O seu feitio. Manso, meigo. Nunca arranhou pessoa alguma, nunca disputou espaço com os outros gatos. Mimado, segura da gente sua amiga, naturalmente. Adorava dormir nas cadeiras, ou, de preferência, ao colo das pessoas (ou da pessoa preferida - eu...). E os sacos, todos os sacos, eram outro local de predilecção para se esconder, para brincar. para fazer a sesta.
Mas não era expansivo com estranhos - discreto, o mais possível. Impecável, bem comportado, exagerado só a comer peixe cru (insaciável!), mas até um "gentlecat" se pode permitir um pequeno excesso. Desde pequenino que eu lhe chamava "Jão Jão, o gato todo bom " e do irmão Gémeo dizia deco, o gato todo mau" (não é mau, não, mas perdia, relativamente, na nota de "comportamento").
Tão poucas fotos... Ainda bem que a Madalena, num dia de sol, em pleno mês de Outubro, foi com ele para o baloiço e eu me lembrei de ir buscar a máquina. e captar momentos de boa disposição. Das últimas, são as melhores!





































segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

domingo, 9 de outubro de 2011

LEMBRANDO O AVÔ MANUEL NO "NOSSO CAFÉ"

Passei hoje pelo lugar em que existiu "O nosso café". Café fechado há anos, edifício semi-demolido e agora derrubado inteiramente. Mas até este desaparecimento definitivo, ainda lá estava o lugar exacto onde me sentava com o Avô, junto à parede envidraçada, com vista para a linha do comboio, para tomarmos "o nosso café" e para conversarmos, interminavelmente, como bons companheiros, sobre isto e sobre aquilo, coisas do quotidiano, novidades, projectos...
Está tudo gravado na memória - bem viva a cor da mesa redonda, dos azulejos, da luz que enchia o salão e o tornava acolhedor, apesar de ser tão amplo... E a simpatia dos empregados... E o pequeno televisor, onde, entre tantos programas, que iam passando e, em geral, mal olhávamos, me lembro de ter assistido, atentamente, ao funeral de Salazar. O Avô muito comovido, porque era "salazarista", eu indiferente porque não era (salazarista - antes pelo contrário!). Salazar já estava morto muito antes de morrer - aquele ponto final nada acrescentava à história ou à situação.
O Avô era sempre fiel àquela mesma mesa, em frente à vidraça, a meio caminho entra as duas portas de entrada.
Foi com muita pena que vi o desfazer daquele recanto, por uma máquina gigantesca, que, em cada nova investida, "devorava" metros quadrados das ruínas que viveram de pé, sem esperança, durante vários anos.
Sempre a pensar, sobretudo, no Avô Manuel, no prazer enorme que nos dava a conversa e o cafézinho.
Um lugar de boa memória, indestrutível.

terça-feira, 30 de agosto de 2011

W197 - VERSINHOS PARA A JOANA

As tais simples quadras que eram para dizer na festa e ficaram esquecidas em Espinho, quando mudei de carteira...


Fim de curso e de começo
De vida, em tempo futuro,
Que traz do tempo passado
Sinais p'ra o bem que te auguro!

Da escolinha da Azenha
À FAC Abel Salazar
Foi sempre, sempre, estudar
Cumprir, vencer e brilhar.

Vitória que é só tua,
Mas vais querer partilhar,
Porque escolheste missão
Que tem por lema "salvar".

Salvas o mundo pela cura
- O mundo de cada pessoa ! -
Juntas ciência e bondade
Porque és médica e és boa.

Joaninha boa, boa
Joaninha voa, voa

Vai depressa, em altos voos,
Vai, em plena liberdade,
Viver o tempo futuro
Em gestos de humanidade!

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

DEPOIMENTO da Drª Idalina Sousa (Câmara de Espinho)

A mesa da reunião, tenha o formato que tiver, é sempre redonda.

As ideias correm soltas, ágeis, desabridas, até, mas sobretudo aladas, porque livres nos
voos precisos e solidários, sábios e clarividentes.

Nós, fascinados, sentimo-nos pequeninos e, exaustos, arriscamos:

_ Sra. Dra, dê-nos um pouco de tempo para…

_ Tempo? É por isso que este País não anda para a frente

Logo depois o olhar diz, imperioso:

_ Vá lá cresçam! Quero-vos a meu lado. Ombro a ombro.

Pára por uns segundos …sorri e conta uma das suas histórias com um sentido de
humor surpreendente, que confirma a sua inteligência superior e nos faz rir, rir…

E então à mesa, cada vez mais redonda, as ideias jorram, atropelam-se, depois
discutem-se, nascem mil projectos e multiplicam-se as demandas que não param
nunca.

A senhora, a grande senhora, como já se ouve nos corredores da cidade, calcorreou
os quatro cantos do mundo e sabe, como poucos, aceitar as diferenças e que este é
um dos mais nobre desígnios da acção cultural, um dos caminhos obrigatórios para a
verdadeira igualdade e desenvolvimento.

A senhora não pára. Não pára nunca. E como pode parar se, para tantas e tantos, o
mundo, às vezes, parece que gira ao contrário?

quinta-feira, 7 de julho de 2011

W196 - DO ZÉ SEVERO - só para nós...

Frenético. O vídeo, como tu ! O comentário ao video

(que, caso não tenhas visto, reproduzo:

"Conheci a Ilustre Secretária de Estado da Emigração, Dra. Manuela Aguiar, em 1980, quando veio ao Sul da Califórnia visitar as Comunidades Portuguesas e Luso-Americanas.
Ao recordá-la, jamais esquecerei o passo acelerado,a dinâmica contagiante,a presença amiga, o sorriso franco, a vontade de melhorar, o interesse em modernizar.
Os nossos imigrantes jamais esquecerão a Secretária de Estado Dra. Manuela Aguiar.
E eu jamais esquecerei a Dra. Manuela Aguiar. Que tinha Uma Consciência!
Que exsudava Uma Alma!
Que em representação do nosso País me ensinou que uma Nação sem Consciência é uma Nação sem Alma!
Edmundo Macedo )

retrata bem o teu lado solar.

A familia Barbosa é doida - e exuberantemente doida. Os Aguiar, pelas histórias que tu transportas (só mesmo em família me permito estes barroquismos, mas dizer "contas" parece-me pouco rigoroso), são, também, para poupar adjectivos, excêntricos. Admirável é a liberdade e verdade que, com tão extravagante genética, tu pões sempre naquilo que fazes.

saudades

JB

segunda-feira, 4 de julho de 2011

VIDEO DE HUMORÍSTICA HOMENAGEM - no dia da cidade 1911..


Assunto: Video de Homenagem no Dia da Cidade

Boa noite Dra Manuela Aguiar

Envio-lhe o link para o video que fiz para o Dia da Cidade em sua homenagem.

http://videos.sapo.pt/dynM4lEFcunTcLZtke4J

Se pretender pode colocar nos seus blogs ou divulgar aos seus
conhecidos. Caso pretenda enviar a notícia, está aqui no site da
ESPINHO.TV :
http://www.espinho.tv/index.php?option=com_content&view=article&id=2400:gran
des-homenagens-em-dia-da-cidade&catid=58:informacao-geral-&Itemid=137

segunda-feira, 2 de maio de 2011

W196 - ONDE ESTÁVAMOS NAQUELE 11 SETEMBRO...Mãe, Docas, eu...

Recordação da Mª Antónia:

"Entrei em casa, em Espinho, de regresso da avenida, e a televisão estava ligada. Olhei, vi um avião a chocar com um arranha-céus, no meio de fumo e chamas, e disse: mais um filme de terror!
Logo depois percebi que era real..."
(isto a propósito das notícias que os telejornais iam dando sobre a morte de Bin Laden, muito saudada por ela - mais rejubilante só mesmo o próprio Bush...).

O meu caso:

"Estava no meu gabinete da Assembleia a combinar pelo telefone com o Gonçalo Nuno, director dos Serviços das Comunidades Madeirenses, uma tomada de posição pública sobre o Conselho das Comunidades Portuguesas (CCP). Havia uma guerra, das muitas que houve com o SECP Lello e nós, ele, eu, queríamos uma intervenção enérgica do PSD, que poderia começar na Região, mas teria de ser seguida no plano nacional. Por isso, logo depois, fiz uma chamada para o secretário-geral do PSD e atendeu-me uma secretária, com voz de quem está muito perturbada. Nem me deixou continuar. Perguntou: Não sabe o que se está a passar? Não está a ver a tv?
E eu: Não! O que é que se está a passar?
Bom, segundo ela, as torres gémeas estavam a desmoronar-se, em directo, nos ecrãs.
Esquecendo as questões caseiras do CCP liguei a pequena tv do meu gabinete e assisti ao horror, a um pavorosa reportagem, que na ficção pareceria exgero..."

Docas:

"Ía do Porto para Lisboa com a Xana. Ouvi o incrível relato pelo rádio, que estava ligado.
Ficamos sideradas!"

domingo, 24 de abril de 2011

w195 - DOCAS última viagem a LUANDA

Relato da Docas:

15 depois desse desfile do 1º Maio, em meados do mês, resolvi ir para Luanda. Achei que era a última oportunidade de rever Angola, tal como era. Despedi-me do emprego numa empresa de construção civil (Engil, salvo erro, onde o meu chefe era o Deodato). Com o dinheiro que tinha comprei o bilhete e fiquei com uns trocos.
No aeroporto vazio de passageiros e cheio de militares, fui interrogada e revistada. Levantava suspeitas, desde logo porque tinha pouco dinheiro. Expliquei que ia ao encontro do meu Pai, não precisava de mais.
O Pai, o Nestó, a Zé e a MªJoão (com 2 ou 3 anos) foram-me esperar ao aeroporto. Vim no mini-jeep descapotável do meu pai, com a Mª João no meio, olhando, desconfiada, aquela tia desconhecida.
Arranjei emprego no aeroporto de Luanda, como assistente de terra de uma companhia de aviação sul-africana, que fazia escala à noite. Naquele horário tinha de levar um salvo-conduto e usava um pequeno carro do pai (um Austin mini). Era uma aventura! O apartamento do pai ficava perto de um muceque, várias vezes fiquei entre fogo cruzado. Era um susto!
O Pai veio de férias em janeiro de 75 e eu com ele. Claro que, depois, tudo se complicou e ele não pode voltar, como queria. eeixou lá tudo e pagou a renda durante dois anos, sempre com a esperança de regressar.
Era uma época péssima para arranjar emprego. Andei a vender enciclopédias. Sobretudo em empresas. Um dia fui à caixa de Doenças Profissionais, onde tinha trabalhado. Lá reencontrei o sr Pernão, director de serviços. Ofereceu-me logo o meu antigo posto!
(" O quê? A vender livros? Não pode ser. Na próxima semana venha falar comigo, que eu vou readmiti-la").

domingo, 3 de abril de 2011

W194 - NESTÓ no JN: Cidadão Reporter

Por Chanas do Leste de Angola
2011-02-2
Ernesto Fonseca

Em Outubro de 1968 fui destacado para o Esquadrão de Cavalaria 403 aquartelado no Luso (hoje Luena), província do Moxico, no Leste de Angola.
O quartel, construído com chapas de zinco, tinha servido aos mercenários de Tshombé, fugidos do Katanga e acolhidos pelo regime português. A partir do meio-dia o calor dentro destas instalações era infernal e assim se mantinha até de madrugada, quando arrefecia.
O esquadrão, comandado pelo capitão Rocha Pinto, era constituído por militares angolanos e portugueses. Éramos quatro alferes: eu (Ernesto Fonseca), o Moniz, o Ferreira e o ( ???).
Seis meses depois de chegar a este esquadrão, em Março de 1969, a minha comissão começada em Setembro de 1965, aproximava-se do fim. Sentia-me ansioso e supersticioso. Analisava situações do dia-a-dia, as mais simples, e dizia para comigo que me safava se acontecesse de certo modo ou me lixava se acontecesse ao contrário. Ao caminhar em pavimentos de mosaicos, não pisava as juntas para não dar azar... Nunca saía do quartel sem levar um pequeno cartão religioso de Feliz Natal, enviado pela minha irmã. Ainda o tenho, desbotado pelo tempo e pelas chuvadas que naquela altura o encharcaram.
Na secretaria do quartel já se encontrava a minha guia de marcha para regressar a Luanda e passar à disponibilidade. A tropa estava a chegar ao fim. Iam terminar as incursões ao triângulo do Lumege, iam chegar ao fim os percursos tensos através de picadas onde a guerrilha colocava as minas. Uma bomba, lançada pela nossa aviação, não rebentou, amortecida pelas copas das árvores, foi cuidadosamente armadilhada na picada e deflagrada à distância, por comando eléctrico. Para mim, tudo isto ia ficar para trás.Mas uma noite, pela hora do jantar, chegou a notícia de que a PIDE tinha capturado um guerrilheiro do MPLA e que era preciso sair imediatamente com dois pelotões para assaltar o acampamento de onde ele tinha vindo e que os pelotões a sair eram o meu e o pelotão do Moniz. Um arrepio de frio percorreu-me as costas e ficou-me embrulhado no estômago. Não me lembro se jantámos. Entrámos para os Unimogs e mergulhámos na noite, entontecidos pelos buracos da picada e pelo medo. Medo das minas, medo de uma emboscada e medo do que nos poderia acontecer durante o assalto. Com a minha guia de marcha na secretaria, para regressar a casa, eu já não devia estar ali a correr aqueles riscos. Ia ter azar...
Finalmente os carros pararam, de madrugada, já o céu clareava. Avançámos a pé, em fila indiana, com o guerrilheiro à frente a ensinar o caminho até que avistámos uma mata muito densa. O acampamento era ali.
Escolhi um pequeno grupo do meu pelotão e o Moniz fez o mesmo. Formámos uma linha paralela ao acampamento. Eu ia do lado esquerdo. Regulámos as espingardas G3 em modo rajada e, a um sinal, iniciámos a aproximação cautelosa. Uns metros mais à frente começámos a correr, com o olhar fixo naquela mancha escura de silvados e espinheiras, de onde podia vir a morte. Galhos de árvore batiam-nos na cara e o medo acelerava-nos a corrida. Alguns caíram por tropeçarem em pedras e buracos. Mas chegámos lá. O coração batia descompassadamente, as mãos estavam escalvinhadas na arma, desesperadas para começar a fazer fogo. Mas nada, nem um tiro. O acampamento tinha sido abandonado. Deixaram as cubatas vazias, mal cheirosas e cheias de pulgas. Tive sorte...
O guerrilheiro foi interrogado. Tinha de dizer para onde fugiram. E disse. Disse que havia outro acampamento. O Moniz tropeçara durante a corrida e estava com um pé inchado. Não havia alternativa, eu tinha de continuar com o meu pelotão. Cá estava de novo...o azar!
Eram seis da manhã. Tinhamos os cantis cheios de água, num bolso guardamos uma lata de conservas e no outro metade de uma sêmea. O resto da carga, suportada por cada um, era composta por munições.
Levávamos dilagramas (granadas disparadas pelas espingardas). Nada de morteiros, nem rádio para comunicar. Os rádios não tinham alcance, eram muito pesados e avariavam. Levei comigo um enfermeiro.
Começámos a caminhar ao longo da xana (planícies imensas do leste de Angola, sempre com água e capim). O guerrilheiro à frente. À uma da tarde, o sol estava a pique. O calor era sufocante, transpirava-se, os mosquitos rodopiavam à frente dos olhos, os gafanhotos e outros insectos não se calavam. Ao longo da tarde, os cantis foram-se esvaziando e cada um de nós foi sucumbindo à sede. Contrariando todas as recomendações, ajoelhávamonos,afastávamos o capim e bebíamos sofregamente. Que se lixasse tudo...
Pelas cinco da tarde, o prisioneiro avisou que estávamos a chegar. Calculei que este segundo acampamento também estaria abandonado, pois há muito que nos teriam avistado. E assim foi. Quando chegámos, no meio de uma pequena mata, lá estava o acampamento abandonado. Incendiámos as cubatas, montámos uma segurança e descansámos meia hora. O terreno estava seco. E agora? Agora era preciso voltar para trás até aos carros.
Mais doze horas de marcha.... Éamos um grupo de trinta jovens, exaustos, esfaimados, sem comunicações, no meio de nada, mas conscientes de que não estávamos na nossa terra e que à distância havia olhos a observarem, à espera que baixássemos a guarda, enfim, que nos fossemos abaixo. Sentia-se a hostilidade. Não se podia parar muito tempo para descansar.
Caminhámos até cerca da uma hora da manhã, sempre na xana alagada, até que começámos a subir um pequeno outeiro arborizado. Dei ordem para se montar uma segurança e fazer um alto de meia hora para descansar. Tirei as botas e as meias. A pele dos pés estava branca, encarquilhada e destacava-se com facilidade. O enfermeiro aplicou-me sulfamidas e curitas. Os pés voltaram a entrar nas botas mas à força. No fim do descanso levantei-me com dificuldade e, tal como os outros, recomecei a marcha. Arrastávamo-nos penosamente, conscientes que esta era a fase mais perigosa. O inimigo sabia que estávamos no limite das forças, a noite era pouco escura e a mata rarefeita. Estavam reunidas condições para sermos flagelados ou cair numa emboscada. Rejeitámos as orientações do guerrilheiro e começámos a fazer largos zigue-zagues para não denunciarmos o nosso rumo.
E, finalmente, chegámos junto dos carros, talvez pelas três ou quatro da manhã. Reiniciámos o regresso ao Luso. Sentei-me ao lado do condutor de um Unimog e adormeci instantaneamente. Estivera acordado durante quarenta e seis horas e tinha caminhado durante mais de vinte e cinco. Despertei com a entrada na cidade. Fiquei ofuscado pelo sol da manhã e pela brancura dos edifícios.
No dia seguinte, o capitão disse-me que para mim a guerra tinha acabado. Não voltaria a sair!... Afinal não tive azar...
De regresso a Luanda, no combóio entre o Luso e Munhango, um sargento que vinha de Mavinga contou-me que o alferes Ricardo Martins tinha sido abatido com uma bazucada, seguida de um tiro na cabeça. Uns meses antes, eu e o Ricardo tínhamos alugado um apartamento a meias em Nova Lisboa. O Ricardo teve azar...
Já em Luanda, logo que possível, fui até à praia. Enfiei os calções, caminhei pela areia molhada e mergulhei. Senti a água a percorrer-me o corpo e a distender-me os nervos. Abri os olhos e percebi que o azul daquelas águas cristalinas escondia o meu futuro. Ia ter direito ao meu futuro.
Fiquei em Luanda, onde casei e tive uma filha. Jurei que concluiria o quinto ano de Engenharia Civil quando ela fizesse cinco anos. Cumpri esse juramento. Já em Portugal, fundei a Efiefe, uma empresa de serviços de engenharia que, decorridos 24 anos, ainda funciona.Reformei-me. Agora vêm aí outras guerras. Eu talvez ainda dê uma ajuda mas, quem vai lutar é uma outra vaga de jovens que têm os genes daqueles que andaram meio perdidos a lutar pelas xanas e matas de África.

Heroicamente...

Artigo Parcial
9 Comentários

fernando Machado
QUICABO,NAMBUANGONGO,ZALA,MATA DA SANGA ETC. .63 a 65.Tempos dificeis. Viaturas furadas,suores frios e mulhados. A pele avermelhada do po barrento das picadas. Nunca matei mas estive presente e sinto-me satisfeito pelo pouco que fiz. Contribui ... Rezei e acredito que evitei algum desastre com o meu sangrefrio. O "texas" poderia ter matado o Robalo que estava atrapalhado com uma grande cobra no meio da mata. Parabens aos que serviram pelo bem-estar de todos.

arlindo ferreira
25.03.2011/18:34
»Estes comentarios sao para o sr Mario Soares e Cia pelas suas bemfeitorias quer na politica quer em frança,com direito a todas de chefe de estado. E nos? Andamos a dar cabo do canastro durante 3 anos , (este e o meu caso em Moçambique) que pompas e que nos restam ? Apenas lembranças e miseria para muitos, porque os nossos politicos esquceram-se deles.Mas viva Portugal e castigo para os traidores,que penso que esse dia chegara

19.03.2011/20:17
France
»Tambem estive em Angola nao na guerra mas na altura a viver com os meus pais em Luanda .Partimos em 75 pouco antes da independencia porque os nossos politicos da altura o sr Mario Soares à frente de todos os outros venderam todos os portugueses que là estavam civis e militares . Por isso o meu muito obrigado a todos aqueles que là estiveram por Portugal. Penso que a historia se encarregarà de mostrar que eles (os politicos da altura sao na verdade uns traidores à patria e nao uns herois como se qurem fazer passar ) bem hajam todos vos

A.Martinho
17.03.2011/22:40
»Também estive na Guerra Colonial em Angola, precisamente no Leste(Gago Coutinho) em 69/71. Tinha como cristão alguma experiência política e sabia da injustiça para a juventude portuguesa. Morreram muitos jovens, outros sofreram acidentes das mais diversas ordens, e ainda hoje muitos sofrem com ela. No entanto com liberdade aceito as opiniões diferentes. Mas uma coisa é certa, a juventude do meu tempo não merecia por aquilo que passámos.

Ernesto Fonseca
21.03.2011/13:57
»Em 1957 um professor de Geografia, major Aires Martins, disse-nos, a propósito das independências então em curso no Norte de África, que elas iam estender-se até à África do Sul. Toda a gente sabia...Mas mantivemo-nos orgulhosamente sós. Em 1961, quando a luta armada começou, tínhamos obrigação de lá ir repôr a estabilidade, para depois permitir a negociação. E fomos.. e entregamos aos políticos todas as condições para o fazerem. Não o fizeram. Esbanjaram o esforço da juventude. Realmente não merecíamos isso, nem os nossos inimigos o mereciam. Todos perdemos.!! Em 1974, já pouco se podia fazer. Tinha sido por volta de 1965. Por aí sim..nessa altura era possível ter evitado tanta desgraça futura. Hoje ainda todos pagamos esse erro fatal.

Joao Carvalho
03.03.2011/19:35
»António Carvalho, revejo-me no seu comentário. Conheço o Leste de Angola por ar, terra e vias fluviais. Ali passei 5 anos na guerra ,tres deles já como voluntário. Não estou arrependido. De facto deveriam ter vergonha qaueles que por oportunismo político ou desconhecimento da história do nosso país nos tratam como criminosos e não como defensores de 500 anos de história que mereciam uma evolução de equlibrio para todos....Então e o que se seguiu? uma guerra fraticída durante 15 anos muito mais cruel que acombatida pelos portugueses... O tempo é um grande juiz..... e os nossos jovens já estão a sofrer a condenação da decisão final da descolonizão....É uma realidade que os políticos de hoje têm deficuldade em lidar....Viva Portugal

Nuno
06.03.2011/16:36
»Revejo-me no seu testemunho,só que estive em sitios diferentes StºAntonio do Zaire,Bona e Massabi (1963 a 1964).Embora tambem conheça essa zona muito bem,também fiquei em Angola, onde constitui familia.Na vida civil estava em Malanje,num departamento oficial.fizemos durante o periodo que lá estive até 1975 pelas populações o que não foi feito aqui em Portugal, desde a Educação, Saude e Agricultura.dei dos melhores anos da minha vida áquela gente sem receber nada em troca só amizade.A minha grande magoa é que os politicos Portugueses ao fazerem a descolonização não tivessem respeitado a memoria e o sangue derramado pela Pátria.Para mim esses responsáveis e hoje estão sentados á mesa do orçamento.não passam de traidores.

Ernesto Fonseca
04.03.2011/13:39
»Tem toda a razão ..E não temos de nos arrepender de nada, temos sim de nos orgulhar de ter pertencido àquela juventude que deu sobejas provas de merecer os 800 anos de Portugal. Um abraço João carvalho e ..Viva Portugal!!

António Carvalho
02.03.2011/17:43
»Chamo-me António Carvalho e aindei pelo Cuanza Norte de Angola, desde Outubro de 1972 a Dezembro de 1974. Os ex-combatentes, de forma não voluntária, prestaram um serviço à Sua Pátria,embora numa guerra que nunca deveria ter existido,porque as guerras não devem existir;Mas já que existiu que se faça uma análise desapaixonada e séria e se expliquem algumas virtudes que acabou por ter em muitos dos que nela participaram. Aqueles que os ignoram e por vezes desprezam, não mereciam ser chamados de portugueses.

sexta-feira, 18 de março de 2011

Notícias da ALEMANHA - SÃOZINHA

Já lavei o casaquinho de malha amarelo e o azul clarinho, feitos pela avó Maria (se bem me recordo a avó só utilizou uma agulha). Estão novos, de cores suaves e muito bonitos...Que satisfação e orgulho eu sinto pela avó Maria...
Quando for a Espinho com mais tempo terei o gosto de mostrar e mostrarei à tia Lena quando for a Gondomar.
O filho do meu filho Jorge, o Jorginho, vesti-los-á que apesar dos anos, estão na moda.
MIL beijinhos a todos, e à tia Mariazinha.

domingo, 13 de março de 2011

W193 - A MINHA INFÂNCIA (com imagens)


Tive uma infância muito feliz. Tudo corria bem. Gostava do meu mundo, que eram casas grandes, corredores compridos, quintais e jardins cheios de recantos convidativos para constantes correrias e diversões(nas casas da Avó Maria e da Tia Rozaura, em Gondomar e dos Avós paternos em Avintes). Havia árvores, cães, gatos, flores. E, sobretudo, o mundo estava de bem comigo, porque todos tinham paciência para me aturar, apesar de me manter sempre vertiginosamente em movimento, de fazer muitas asneiras, muitas perguntas e de contar histórias inverosímeis. Foi a minha época de ouro! Achavam-me precoce e engraçada e, por isso, assim eu me considerava. Tinha uma autoconfiança ilimitada e indestrutível, sentia-me o centro daquele mundo perfeito e divertido. O pior era a noite, porque me obrigavam a deitar cedo e, para mim, dormir era um desperdício. Imparável no ambiente doméstico, tornava-me um modelo de bom comportamento quando se tratava de passear, de carro, aos fins-de-semana. Os pais levavam-me com eles, prudentemente (para não causar dano, algures), nessas excursões familiares, com muitos tios e primos, numa fila de vários carros, quase sempre por terras do Minho, com paragens para almoços e jantares... Com a Avó Maria ia, muitas vezes, ao Porto, lanchar à Confeitaria Villares, depois de ela andar às compras em Santa Catarina e Sá da Bandeira, com o Avô Manuel, desde os 5 ou 6 anos de idade, aos teatros e aos cinemas do Porto (os filmes que ele e eu apreciávamos, nada de desenhos animados ou outras infantilidades...). Com o Pai, um pouco mais tarde, desde os 9 ou 10 anos, frequentava, como sócia do FCP, habitualmente, o Estádio das Antas (estive na inauguração, o resultado foi mau, mas vi jogar o Barrigana, o Virgílio, o Carvalho...). A escola foi uma outra experiência bem sucedida e esperada impacientemente. Nascida no mês de Junho, não me deixaram principiar a escolaridade com 6 anos, em Outubro de 1948. A regra era os 7 anos e a minha mãe - que acabava por mandar mais do que o resto da família... - achou que era melhor não tentar abrir excepções, deixar que a criança gozasse, por mais uma época, o "dolce far niente". Porém, a criança estava cheia de pressa de mudar de vida. Via a escola como uma etapa de crescimento, a transição para uma outra idade. E foi - ganhei juízo, acalmei os ímpetos infantis, tornei-me confiável, bani a mentira pela mentira, por desporto, passei ao extremo contrário, a dizer escrupulosamente a verdade, a cumprir os deveres, pelo menos os que considerava exigíveis. Assumi a promoção a um estatuto superior. Lembro-me exactamente de como pensava, então. Ir para as aulas, orgulhosa, de pasta nova, cheia de cadernos e de livros, para decifrar o mistério da escrita foi um verdadeiro prazer. Era excelente aluna, tinha, porém, uma feiíssima caligrafia... Comecei na Escola do Crasto, em Gondomar. Na 2º classe, uma passagem curta e tempestuosa pela escola da Rua 23 em Espinho (porque os pais decidiram prolongar a época de férias, na casa de praia). Desentendi-me com a professora, uma mulheraça imponente, gorda e implicativa. Fui salva pela transferência para a Escola do Magarão, em Avintes, voltei a ser aluna bem cotada e realizada. A partir da 3ª classe, e durante sete longos anos lectivos, eis-me aluna interna do Colégio do Sardão, em Gaia, onde cumpri uma espécie de serviço militar obrigatório. Num distinto "quartel" de Doroteias, que são, ou eram, o feminino dos Jesuítas. A minha irmã também lá andava e contentíssima... O problema não era do colégio, a muitos títulos admirável, sem dúvida. O problema era meu - sentia-me enclausurada.Apesar disso também lá se sucederam os momentos bons. Depressa me envolvi activamente na pequena comunidade de gente da minha idade. O Sardão era uma antiga quinta (de Almeida Garrett? – era o que constava…), com jardins, pequenos lagos, árvores, alamedas e caminhos, onde podíamos fazer quilómetros de marchas e corridas. Havia campos de jogos, courts de ténis, ringue de patinagem... Tirei o devido partido dessas amenidades. O desporto era aquilo de que mais gostava – “volei”, andebol, "basquete", até futebol (clandestino, visto ser considerado, definitivamente, modalidade imprópria para meninas - e só fui apanhada uma vez, mas sem castigo, porque a Mestra-Geral deu mostras de bom humor, dizendo-me: tu já que tens uma paixão tão grande pelo futebol estás autorizada a jogar, as outras não...).Não obstante esta preferência, era, creio eu, mais dotada para os estudos - tinha notas altas, excepto a “comportamento”. Por fim, estive perto de ser expulsa, por ter escrito uma crónica jocosa sobre o colégio, o “sistema” (mais o sistema do que as pessoas – muitas das religiosas, foram amigas e conselheiras, professoras excepcionais). Cheguei a ser suspensa, mas venceu a facção das Doroteias que me era favorável. Ao ser expulsa não estaria a abrir precedentes na família, porque dois irmãos da minha mãe, mais exactamente, um irmão e uma irmã já tinham tido essa sorte, ela também por "delito de opinião", ele porque fez explodir o laboratório de química).As melhores recordações são as de fora de portas – os jogos, os recreios, quilómetros de saltos e correrias. Dentro da casa, tudo era frio, enorme, desconfortável - pelo menos para mim. Detestava os dormitórios, o compridíssimo refeitório - onde me obrigavam a comer bacalhau, com frequência - o labirinto de corredores, onde marchávamos aos pares, com as mãos atrás das costas. Deprimente! A capela era mais acolhedora. Havia uma imagem do Menino Jesus de Praga, que fazia os meus encantos. E o confessionário, também. O meu director espiritual era o Padre Leão, um jovem Padre muito inteligente e muito culto, homem de poucas e brilhantes palavras (sucinto e lapidar!), que dizia a missa quotidiana em 20 minutos e a missa solene em pouco mais de meia hora. No confessionário, ouvia a enumeração dos meus pecados, que pouco variavam, e depois respondia às minhas perguntas e comentários sobre leituras. Teve muito mais influência na minha formação neste campo do que qualquer das minhas professoras... Ler foi sempre um dos meus passatempos preferidos. Gostava, porque gostava, mas a família também estimulava esse gosto. Ofereciam-me mais livros do que brinquedos. Com as "mesadas", eu própria comprava sobretudo livros e, desde que aprendi as primeiras letras, uma revista, "O Mosquito", que saía duas vezes por semana. Às escondidas, folheava, no sótão da casa de Avintes, uma Bíblia antiga, que tinha sido de um tio bisavô padre - uma edição preciosa, com muitas gravuras e iluminuras. Um dia desapareceu. Soube-se depois, que a Avó Olívia a deu ao pároco da terra - não sei se por me ter surpreendido em flagrante, a desvendar os segredos do Antigo Testamento... Tive de voltar aos contos de Anderson ou às aventuras da Condessa de Ségur...Mas rapidamente passei a George Elliot, às irmãs Bronte, a Charles Dickens, a Júlio Dinis, ao Eça de "A cidade e as Serras" e da "Ilustre Casa de Ramires".... Das edições de "Os livros do Brasil", incluindo a colecção de "Miniaturas" poucos me escaparam. Nessa fase, dos 12-13 anos, um dos livros que mais me impressionou foi "O velho e o mar", um dos que mais me divertiu foi "In illo tempore" de Trindade Coelho" (aí terá começado o projecto de me formar em Coimbra, se bem que numa era mais mortiça...). E também alguns dos humoristas que o Pai recomendava, como Jerome K Jerome ("Os 3 homens num bote") e Guareschi (a série de de Dom Camilo)... Depois, os policiais da "Vampiro" foram ganhando o seu lugar, com Agatha Christie e Erle Standley Gardner à cabeça. (muito desaconselhados pelo Padre Leão, que os achava um desperdício de tempo e uma perigosa, porque atractiva, concorrência à melhor literatura - mas no meu caso só muitíssimo mais tarde é que os "misteries", na língua original, ganhariam ascendente, nas viagens, nos aeroportos, nas pausas de reuniões, entre a consulta de dossiers e relatórios.Do colégio privado para o Liceu públicoEntretanto, aproximava-se a data da "libertação": terminado o 5º ano (agora 9º), saí, de vez, como queria, para o Liceu Rainha Santa Isabel, no Porto, onde fui muitíssimo afortunada - até recebi um prémio dos Rotários , mais o "prémio nacional" no fim do 7º ano. Com os premiados dos outros liceus do país, ganhei, como "extra", uma viagem em grupo ao norte de África, Ceuta, Tânger, Alcácer-Kibir, porque estávamos em 1960, ano de comemorações Henriquinas. Fiz o meu baptismo de voo, porque não tinha alternativa, a não ser recusar o convite. Lá em cima, achei o espectáculo deslumbrante, e toda a visita foi uma festa, mas não fiquei cliente da aviação por muitos anos ainda - até que voar se tornou parte do trabalho profissional. Imagine quem era o rapaz que representava o liceu de Ponta Delgada… Mota Amaral, muito novo, mas já com a pose que tem hoje.O tempo de adolescência, que tão longo me pareceu, é bem mais difícil de definir claramente, em termos de felicidade de alma, do que o anterior - foi feito de mais contrastes, de muito mais incertezas, muito mais descontentamento e rebeldia... O que se explica, em parte, por causas exteriores, a começar pelo internato no Sardão, mas também por estados de alma subjectivíssimos. Foi a altura de escrever versos tristes, de alinhavar um diário inspirado no incomparável livro de Anne Frank (uma fracassadíssima imitação, a minha!), de olhar com pessimismo o futuro, sobretudo o académico (o pavor que tinha dos exames, sempre convencida que se aproximava a hora do grande desaire, que nunca aconteceu). Fora dos círculos da família e amigos, onde mantinha intacta a antiga exuberância, era, então, uma adolescente mais ou menos tímida e desageitada. Estranha metamorfose, que não atingiu, porém, outros traços de temperamento que suponho inatos, como a combatividade (quando surge o desafio ou a crise), o gosto pelo movimento constante, físico e mental, o entusiasmo por certas ideais ou actividades – sobretudo pelo desporto! Recordo, por exemplo, o delírio vivido nas Antas, ao lado do meu pai, com o 1º campeonato ganho pelo FCP de yustrich (o 1º desde o meu nascimento...).Pela negativa, lembro o ano em que uma das Tias (a que foi expulsa do Colégio, a célebre Tia Lola, que tem, na realidade, o mais solene nome de Glória Doroteia…) mandou para o director da revista "Modas e Bordados" um dos meus sonetos, que foi publicado, com foto e tudo, em pleno verão (de 55?). Estava em Espinho. As amigas da mãe todas me vinham dar os parabéns e eu ficava envergonhadíssima, queria desaparecer dali para um deserto...Muita dessa tardia timidez, dessa falta de auto-confiança iriam lançar as suas sombras ao longo da juventude, dos 5 anos de Coimbra, na Faculdade de Direito.Falta de confiança mais notória em época de exames, em cada uma das escritas e das orais, que tive de fazer. Tanto "stress" para nada, a entravar o gosto genuíno pelas matérias... Acabou tudo, finalmente, bem, não valeu a pena o sofrimento. Nunca consegui mudar este quadro psicológico... Ficam dessa época, grandes amizades e o primeiro namoro, longo - cinco anos - que acabou em casamento (breve, outros cinco anos, o que para casamento é pouco). No conjunto, uma década, que não deixou mal-estar. Nem havia razão para tanto. Desajustamento de feitios e de modos de encarar a a vida…. Ficamos bons amigos, e ele, como amigo, não tem defeitos.Esse rapaz praticante de vela, desporto mais chique do que o meu voleibol, era colega de curso e uma fonte de preocupações suplementar, porque achava que ele também ia chumbar sistematicamente (não foi o caso, apenas dois ou três "chumbos", o que não foi mau de todo, atendendo ao pouco que estudava , devido às muitas actividades extra-curriculares, o CADC, o Clube de Cinema, as tertúlias de café, a vela… - o curso dele deu-me ainda mais trabalho do que o meu.Em fins de 64, quando entrava na última etapa do curso, aconteceu-me o que mudou definitivamente a forma como encarava e queria o futuro: a morte inesperada da minha única irmã, com apenas 20 anos. Estava doente, mas há tanto tempo, e tinha tanto ânimo, cantava, dançava, era uma imagem de alegria de viver, sem os meus medos e preságios... Nunca acreditei que ela estivesse em perigo. A partir daí, nada mais foi tão importante como dantes. A vontade de andar à frente, a extrema competitividade, que era imagem de marca, deixou de ter verdadeira correspondência na realidade. Pode até parecer que não, porque sou sempre muito "reactiva". Mas é coisa epidérmica, questão de hábito, de feitio. Ou de princípios... frequentemente reacção "feminista" num mundo onde as mulheres continuam a ser o "2º sexo". Este é um domínio onde estive e, se for preciso, estou pronta para a luta. Já em criança, com 5 ou 6 anos, quando me proibiam uma brincadeira, porque não era "própria para uma menina", eu desobedecia de imediato e mostrava que era tão capaz de a executar como qualquer rapaz. Quando necessário, desobedecia clandestinamente. Assim joguei futebol na rua com os miúdos de Gondomar (graças a um primo, que era "craque" e que garantia a minha resistência, vencendo preconceitos - foi obra, porque isto aconteceu há 60 anos...). Assim entrava e saía dos carros eléctricos, em andamento, a caminho da escola... Só me surpreende nunca ter sido denunciada à Avó Maria por algum pressuroso vizinho. Acho que não fui, porque se fosse não me deixariam continuar a fazer sozinha o curto trajecto para o Crasto. (ainda hoje gosto de saltar do "intercidades" em andamento, com a técnica aprendida aos 7 anos).

domingo, 6 de março de 2011

W192 - VOLTANDO À MINHA INFÂNCIA...

Também há memórias do que era menos bom, do que ensombrava um dia perfeito. Por exemplo, aqueles enormes laçarotes de seda, que me encaixavam com longos ganchos nos cabelo muito lisos. Detestáveis, todos! Ou os enormes chapéus de palha que me obrigavam a usar em dias de sol...Ou os vestidos cor-de-rosa, côr que ainda agora evito, instintivamente. Era o tempo em que, para além de tecidos estampados de florinhas, se usava para meninas, essencialmente, o rosa, o branco e o azul. Preferia o azul, mas esse estava sempre reservado para a minha irmã, que tinha uns bonitos olhos dessa cor e, para mim sobrava o rosa...
Decepcionantes, também, os presentes que recebi no dia da comunhão solene: uma grande quantidade de terços de prata, uma canete permanente verde e feia, uma máquina fotográfica daquelas tipo cubo - -em verdade, nada de que me recorde pela positiva...
E a crise que provoquei mesmo à hora de sair para a Igreja em Avintes. Não podia comungar! Acabava de me lembrar, subitamente, de um pecado grave, cometido na véspera. Felizmente, em casa da Avó Olívia, tal como em casa da Avó Maria, eram frequentes as visitas de Padres e, nesse dia de festa, estavam lá 2 ou 3. Um foi logo voluntário para me ouvir em confissão e para me absolver. Só ele soube o que acontecera na véspera... Regressava eu sozinha a casa, descendo a 5 de Outubro, quando uns rapazes me disseram qualquer coisa imprópia. Corri atrás deles, apanhei um e bati-lhe. Na altura achei natural a reacção. Mas já de longo vestido branco e véu a acompanhar, veio-me ao pensamento o episódio e fiquei cheia de problemas de consciência. Depois de perdoada, rezei as "Avé Marias" da penitência e lá segui em paz, e tudo o mais foi bonito de viver...
Também em outro momento de glória, tempos antes, tinha eu 4 ou 5 anos, outro incidente perturbou a beatitude exigida pelo traje: estava eu vestida de anjo - amarelo - com grandes asas para participar numa procissão em Gondomar (depois de um braço -de -ferro entre os meus pais, que eram contra, e a Avó Maria, que compreendia melhor a aspiração da neta...). E eis que vem a prima Inês, sabe-se lá porquê resolve dar-me um grande estalo na cara. Lá fui eu, asas de anjo a abanar, em perseguição da prima, até lhe retribuir a bofetada, em triplicado... A Avó ficou siderada com a impropriedade da conduta. Recuperei, depois , a pose, e as fotografias que há só mostram o anjo radioso e radiante...


quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

RECORDANDO A OLÍVIA...

A exposição da Docas em Oeiras! Tudo tão bem! Os quadros, a sala, as pessoas que se relacionavam perfeitamente, integrando os grupos de amigos com desconhecidos, que o anúncio do evento trouxera até ali, no mesmo prazer de apreciar e de comentar o que lhes era dado ver.
Mas de manhã, à saída para Lisboa, cruzara-me fugazmente, na soleira da porta, com a Olívia, que regressava com o Sr. Domingos do exame de rotina no hospital de Santo António. Fiquei preocupada. Ela estava com tanta falta de ar que mal conseguia falar normalmente. Ainda voltei atrás, falei com a Mãe sobre o estado dela e vim dizer-lhe para se deitar e descansar durante todo o dia. A mãe traria o almoço do restaurante.
À noite, telefonei à Mãe a saber se a Olívia estava melhor. Achava que sim. Mas não. Nessa noite a Olívia adormeceu e nunca mais acordou.

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

W191 - PAI - com muitos COMENTÁRIOS

Nasceu em Avintes, em 6 de Junho de 1918.
O primeiro filho de Olívia Fernandes Capela e de Manuel Dias Moreira - herdando o nome do Avô paterno, João Dias Moreira. Os outros Avós: Quitéria Francisca Pinto, e, do lado materno, Joaquina Fernandes e João Capela (abreviando apelidos, que, com exactidão desconheço).
Um menino precioso, disputado pelas várias famílias de onde provém !
Teve irmãos , que morreram em pequenos, e, assim, continuou "filho único", sempre à procura de maneiras de escapar à superprotecção de sua Mãe. E conseguiu, muitas vezes. O colégio dos Carvalhos, onde passou os 11 anos da escola e liceu, ajudou-o a levar uma vida mais independente, fora de uma casa sem crianças, entre rapazes da sua idade, e, por outro lado, sendo uma das melhores instituições de ensino do Porto e do País, a desenvolver tanto o talento para as letras como o gosto pelo desporto. Um atleta completo, bom no atletismo, em corrida - um "sprinter" nato - e nos jogos mais colectivos, como o futebol. O futebol seria, para sempre, mais tarde como mero espectador, uma das suas paixões. Portista, o mais possível!
Falava do colégio com nostalgia. Adaptou-se excelentemente ao que diziam ser uma Escola, que impunha a disciplina, tanto quanto cultivava a qualidade de ensino. O Pai - é curioso! - não se queixava de nenhum excesso de mestres e directores. Bem pelo contrário. Parece ter sido muito feliz, e muito popular, com colegas e professores, por igual.
As línguas e literaturas eram a sua matéria preferida. Incluindo o latim e os celebrados autores latinos...
Lia Ovídio e Virgílio, no original, "e por gosto", como me dizia muitas vezes, quando, nos últimos anos do Liceu, no Porto, no "Rainha Santa Isabel" eu andava de mal com as declinações e mais empecilhos gramaticais dessa língua antiga... Custava-me a compreender que isso fosse possível, embora aceitasse que fosse. Coisas que não estavam ao meu alcance, como variadíssimas outras - por exemplo, a arte da criação musical ou da invenção científica.
Ler em latim parecia-me um feito notável. "Por gosto", entrava no domínio iniciático do verdadeiro mistério.
Mas que é útil saber latim, como "conditio sine qua non" para bem escrever português, isso é!
O meu Pai corrigia-me artigos, discursos, manifestos de campanha eleitoral, enfim, tudo o que eu escrevia, para fins muito diversificados, colocava as vírgulas, onde elas deviam estar...
Era um perito a redigir em português...
E um Poeta, também . Repentista! Nos seus tempos de juventude, os amigos pediam-lhe, que versejasse umas estrofes bonitas, para dedicarem, como prova de inspiração amorosa, às suas namoradas. E o João estava sempre pronto - produzia as quadras na hora, à mesa do café. O amigo pagava-lhe, por gentileza, um simples cafezinho e partia, feito poeta.
O cafezinho e o cigarrinho (duas embalagens por dia...) foram dois vícios que nunca abandonou.
As suas namoradas, essas, recebiam sonetos genuinamente de autor, repassados de sentimento verdadeiro, sem descurar a métrica perfeita.
Havia muitos dedicados à Celina Viana, sua primeira mulher, que se perderam. E outros tantos recebidos pela segunda, a Mª Antónia Aguiar, minha Mãe, por ela conservados, religiosamente, e por mim editados, depois da sua morte ("Intimo", um título que já estava escolhido por ele - só que foi adiando a revisão dos textos, até ser tarde, e a publicação acabou por constituir a nossa pequena homenagem póstuma).
Em Avintes, convivia com os primos, o António, a Maria Angélica e o Chico. Também com os do ramo "Capela", Alda, Alberto, Maria Helena e Manuel, os filhos da Tia Clementina. As férias de verão traziam-no para Espinho - frequentemente, com alguns desses parentes.
E havia os amigos do colégio, como o Danilo, o Licínio, e o Henrique Estima, que era mesmo de Espinho.
Divertiam-se imenso! Lembro-me de ouvir contar que, muitas vezes, o Pai fazia de inglês, para beneficiarem do tratamento preferencial que os de cá gostam de dar aos "estrangeiros". Na altura, falava bem a língua e o aspecto não podia ser mais convincente, mais "british". O pior é que era dado a distracções, e a reacção dos interlocutores ao sentirem-se "gozados", nem sempre era a melhor. Pena não me recordar dos pormenores dessas histórias cómicas, tantas vezes ouvidas em menina. Falta de recolhas em vídeo, que ainda não existia. Só havia filmes - e o único que tinha máquina de filmar era o Chico, grande cinéfilo - fã de Charlot - e produtor amador. É possível que a prima Nini e a filha, a Esperancinha, ainda guardem algumas cópias. De qualquer modo, mais tardias, em relação ao período juvenil dos episódios do "falso" inglês...
O longo internato nos Carvalhos foi interrompido por um ano - a antigo 6º do liceu - em que o pai quis experimentar a liberdade maior do Liceu Rodrigues de Freitas no Porto. O ano foi muito animado, mas chumbou... Entre outras coisas porque, consta, terá namorado a namorada de um dos professores, que não perdoou. Mas, acho eu, sobretudo, porque estudou pouco e mal ... Andou na "boémia" estudantil!
Foi ele mesmo que pediu o regresso ao colégio, onde tudo voltou à normalidade.
Terminou o Liceu e preparava-se para realizar o sonho paterno de tirar o seu curso em Coimbra.
Não o curso de Direito, como o Avô Manuel preferiria, mas o de Letras.
Todavia, acabou por trocar a vida de estudante por um casamento precoce e muito romântico. Uma cerimónia faustosa, com a presença de meia Avintes! O Avô Manuel, eufórico, a fazer um discurso empolgado (relato do António, em Toronto, há poucos anos).
A noiva chamava-se Celina. Lindíssima. Personalidade forte. Mulher moderna, divertida, atraente. Tanto, tanto, que parece que os pretendentes abundavam. Entre eles o próprio António, que me deu , numa das últimas das nossas conversas em Toronto, um retrato bem diferente do que eu tinha de personagem mítica -o que aqui deixo, nestes poucos adjectivos.
A minha ideia anterior baseava-se, exclusivamente, no retrato guardado pelos meus Avós. Aí, ela aparecia-me mais como uma deslumbrante "star" de Hollywood. Serena e majestosa.
Nas palavras do António, era precisamente o contrário: uma menina alegre, simples e desportiva. Que gostava, naturalmente de vestir pelo último figurino.
A família tinha fortuna brasileira, e a mansão mais bonita da Rua 5 de Outubro, que é, digamos, salvaguardando as diferenças (ou, como diz o povo, "mal comparando"), uma espécie de "Campos Elísios" de Avintes.
As famílias favoreciam o projecto dos jovens. O meu Pai, ao tempo, era, também, filho de gente rica. E bonito rapaz! Tinha apenas 19 anos e ela 21.
O que apressou o casamento foi, insolitamente, a doença da Celina. Tuberculosa, em fase avançada... Insistia em casar com o João, nem que fosse por um dia !
Uma grande paixão, que eu considero comovente. Uma "Love Story" , que ainda não tinha sido filmada. Ficção e realidade podem andar próximas, como sabemos.
Ela morreu 7 ou 8 meses depois, deixando recordações e saudades em todos os que a conheceram. Ainda me lembro de ver o seu grande retrato, na sala de visitas dos meus Avós!
Foi retirado por pressão da minha mãe. Nunca percebi essa "competição" com uma noiva morta... Ainda por cima, também era uma mulher bonita, moderna e "carismática" - não havia razões para sofrer de qualquer complexo.
Retomando a cronologia da narrativa: o Pai, viúvo aos 20 anos, poderia, então, ter deixado o emprego (na Câmara de Gaia) e rumado à Universidade de Coimbra. Faltou-lhe o ânimo. Compreensível.
Conheceu a minha Mãe, dois anos depois, na capelinha do Monte da Virgem, onde a Avó Olívia o levou a uma cerimónia religiosa. Lá estava, também, a Avó Maria com as 3 filhas solteiras - Mariazinha, Lólita e Lena.
Foi à Mariazinha que o João veio oferecer, no largo da capela, uma miniatura de sapatinhos de couro, que se vendiam na feira, montada, festivamente, ali ao lado. Maneira do começar uma conversa, que ia durar, por muito tempo.
O namoro foi bem aceite pela Avó Maria. Um jovem culto e sociável, muito religioso, herdeiro único de uma fortuna razoável... O que desejar mais?
Tornou-se visita da casa. Passou férias de verão com a família Aguiar, em Brânzelo.
O pedido de casamento foi feito do verão de 1941, e o casamento realizou-se na Vila Maria, em 15 de Novembro desse ano.
Em 1942 nasci eu, em 1943, a Lecas.
Faltou um menino (e a Lecas e eu bem gostiarámos de ter tido um irmãozinho...). E eu digo isto, porque acho que o Pai era daqueles homens que sentia a falta de um rapaz! Não que fosse "machista", porque não era nada. E misógino também não. Assim, por exemplo, na minha geração, a Docas foi a sua preferida, entre sobrinhas e sobrinhos.
Mas, nas gerações seguintes "adoptou", como neto, o João Miguel (mais tarde, por "afinidade" o Hélder), e, como bisneto, o Tózinho.
Era eu ainda criança, quando o Pai mudou de emprego, para o Grémio dos Ourives do Norte, que funcionava, e funciona, num palacete enorme, perto da Biblioteca Nacional do Porto e do Jardim S. Lázaro. Nunca teve um alto vencimento, nem grandes benesses, mas foi um funcionário exemplar, seriíssimo e respeitadíssimo, e fez uma progressão que o levou, por mérito, ao topo de carreira - a secretário-geral, já depois de ter completado um bacharelato (em Administração de Empresas) e uma licenciatura (Sociologia) no ISCTE.
É verdade: foi, na família um precursor da mentalidade que permite terminar estudos universitários na meia idade! E só lhe fez bem. Rejuvenesceu, ganhou novos (em todos os sentidos) amigos, novos interesses. Exercitou as células cinzentas, aprendeu com óptimos professores - como Vasco Pulido Valente, que ele considerava, de todos, o mais brilhante.
A festa de fim de curso, foi um memorável banquete no restaurante " A Brasileira", que era propriedade de um colega de curso.
A Mãe alinhava em tudo, acompanhava-o para aulas (intensivas, dadas em fim-de-semana, em Lisboa, aos "voluntários nortenhos), para exames e para comemorações. Fez as mesmas amizades - só lhe faltou fazer também uma licenciatura...
Foi um bem para os dois - ainda e sempre muito marcados pela morte da Madalena, em 1964, precisamente quando o pai dava os primeiros passos nesse projecto.
No final dos anos 60, o pai foi convidado para administrador do "Diário do Norte", coisa que lhe agradou bastante, apesar da situação financeira do jornal não prognosticar um longo futuro no cargo. Estava em representação do "Grémio", que era um dos grandes accionistas, e, pela sua parte, fez o que pode.
Foi, profissionalmente, impecável. E, também, um verdadeiro "homem de família".
A minha Mãe e ele eram inseparáveis - praticamente, nem ao café ele ia sozinho. Essa situação só veio a modificar-se no Porto, nos anos 60, por influência "sulista" da Maria do Carmo Razzini. E apenas no que respeita à "autonomia " para ir tomar um café, ao fim da tarde, ou depois do jantar, quando a Mãe estava ocupada com qualquer tarefa doméstica, ou em convívio com a Maria do Carmo. Mas ele gostava de companhia, e, se eu estivesse por perto, convidava-me a ir com ele.
Já antes, desde os meus 10 anos, o acompanhava, regularmente, ao estádio das Antas.
Entendia-me muito bem com ele, e até mais na fase adulta do que em criança ou em jovem. Num primeiro tempo, a Mãe era mais acessível, mais próxima, mais animada. O Pai tendia a proibir mais, a dar menos margem de liberdade. Mas, quando tinha certezas, confiava. Foi ele o aliado que me permitiu ir passar dois meses de férias, sozinha, a Inglaterra, com apenas 16 anos - entregue, é claro, aos cuidados de uma freirinha, por recomendação da Madre King. Ao facto não seria totalmente alheio a sua anglofilia, acentuada desde os tempos da guerra.
O pior defeito do Pai era, talvez, o seu proverbial pessimismo. O ser também pouco afoito, pouco dado a aventuras, a gastos considerados excessivos, faceta que a Mãe, que era, precisamente, o seu contrário, no mais alto e imprudente grau, sempre verberou.
Vim a concluir, sem sombra de dúvida, que, no casal, era ele a pessoa mais razoável, mais estável, mais paciente. A Maria Antónia é um turbilhão, um excesso vivo entre a grande tempestade e a grande bonança. Um caso difícil de gerir - mais ainda para alguém, tão discreto, tão "convencional" - ao menos por contraste com a excentricidade assumida de muitos dos Aguiar.
Foi o casamento entre uma radical, uma extremista, e um moderado, um reformista.
Do ponto de vista de comportamento, de temperamento e até, por sinal, também, do ponto de vista político... Ela monárquica, marcelista, " reaccionária". Ele democrata, centro -direita, PPD-Mas partilhavam muitos gostos - por exemplo, pelo cinema, pela música, pelo teatro, pelas corridas de automóveis, pelas férias na praia, pelo convívio constante com a família, irmãos e cunhados, primos, amigos.
Muitos momentos bons, vividos nesse círculo!
Só tarde tiveram casa própria, ao fim de 16 anos de casamento. Moraram, primeiro, na Vila Maria, com a Avó, depois com a Tia Rosaura, em casas grandes demais para essas senhoras sós, viúvas. Solução confortável, porque aliviava a Maria Antónia de ocupações pouco do seu agrado - as chamadas tarefas domésticas, ainda que com o concurso de empregada ou mulher-a-dias - e era a mais económica, poupando rendas a pagar a um senhorio.
Foi por pressão da Lecas e minha - queríamos viver no Porto - que arrendaram o andar na Rua Latino Coelho, perto do Marquês de Pombal e do Colégio da Paz.
Anos depois, arrendaram um segundo apartamento, em Espinho, onde passávamos o verão e os fins-de-semana. O pai adorava Espinho, o mar o sol, as esplanadas, os cafés.
Conseguiu convencer a mãe a deixar o Porto. Fixaram-se, definitivamente, no andar bastante espaçoso da Rua 16, que tinha uma bela vista sobre o oceano. Trouxeram, naturalmente, a Tia Rosaura e a em pregada Olívia, que já moravam connosco em Latino Coelho.
Depois da morte da Avó Olívia, no início da década de 80, reconstruíram a velha casa da Rua 7.
Aqui o Pai viveu os anos da reforma, à beira-mar, nas tertúlias de café, com bons amigos, que envelheciam como ele, mas mais do que ele...
O Pai gostava muito do convívio com os mais novos!
Conservou, sempre, até ao último dia, um espírito muito jovem, e um grande interesse pela política, pelo futebol, por tudo o que acontecia no mundo, perto ou longe.
Não conheceu a decadência intelectual, nem, a bem dizer, física. Conservou a inteligência, a lucidez, o seu especial sentido de humor. A religiosidade. A fé.
Não tinha medo da morte. Morreu como queria - sem sofrimento, de repente. De um devastador ataque cardíaco. A meio de uma frase, sem que nada o fizesse prever. Estava bem disposto, a comentar um artigo de Marcelo Rebelo de Sousa, de quem era admirador.
Era um domingo de Páscoa. Tínhamos passado uma tarde muito agradável, em Gondomar, em casa do Mário. Falou-se de uma próxima ida a Fátima, em excursão ou peregrinação familiar, que o pai não perdia por nada deste mundo. Eu conduzi o carro. Viemos num instante, com a estrada quase deserta. O Pai foi arrumar o Peugeot na garagem e, depois, tomar um café. Desencontrámo-nos - eu andei à beira-mar. Chegámos à hora de jantar - um jantar logo interrompido...
Se fosse vivo, teria 91 anos. Como eu gostava de estar hoje a festejar esse aniversário...
Publicada por Maria Manuela Aguiar em 12:37 71 comentários:
Paulo disse...
Do tio João guardo uma recordação de uma pessoa serena, reservada, amável, de sorriso fácil e com um especial sentido de humor. Como gostava muito de café, mal chegava a nossa casa apressava-me a oferecer-lhe um, que ele aceitava sempre agradecido. Recordo-o de cigarro na mão, fosse no café em Espinho ou na nossa sala em Gondomar (depois no jardim, para não incomodar, quando passou a ser politicamente incorrecto fumar junto aos não fumadores). A minha mãe (não consigo deixar de falar dela)considerava-o muito e era retribuída com igual consideração, e todos nós lhe tínhamos grande amizade. Era muito nosso amigo e também eu tenho pena de não podermos festejar o seu 91.º aniversário.

Quarta-feira, 10 Junho, 2009
Rosa Maria Gayoso disse...
Lembro-me bem do Tio João tinha imensa paciência para nós crianças. Era a única pessoa que em miúda me conseguia levar ao mar Eu tinha uma confiança cega nele porque me agarrava pela mão e por maior que fosse a onda não me deixava cair
Lembro-me também que quando a noite eu ia com o Guilherme e os meus primos Mimi e Ferrer ter com ele ao Café Palácio ele ficava em pânico se o Guilherme se afastava um pouco Ia logo procura-lo Era um grande amigo e eu estimava-o muito.

Quarta-feira, 10 Junho, 2009
Lé disse...
Tão querido o meu Tio João, de quem tenho muitas saudades, um amigo inesquecível, estava sempre pronto para acompanhar as suas sobrinhas Lélé e Nónó. Quando pequeninas iamos ter com ele ao Grémio dos Ourives e de lá para Espinho passar uns dias, ele adorava a nossa companhia. Conversava o tempo todo e fazia-nos as vontades. Já mais velhinhas acompanhava-nos para todo o lado, adorava sair com as sobrinhas, uma de cada lado dos seus braços, e dizia: “ que bem acompanhado que eu estou “ . Com ele íamos à missa, ao cigarrinho e ao já célebre cafezinho. Estava sempre pronto para dois dedos de conversa e pronto para ouvir as nossas queixas, ultimamente no café “Ninho do Amor”.
Muitas saudades! Meu tio Jão

Quarta-feira, 10 Junho, 2009
Maria Manuela Aguiar disse...
Vou começar pelo meu "hobby" favorito, que é comentar os comentários, sobretudo quando são, como estes 3, tão verdadeiros e sentidos.
É que eles lembram-me imagens do passado, mais vivas e mais nítidas do que as as do dia de ontem ou de hoje. Sinal de velhice, é claro.
Era em casa da Meira e do Mário que habitualmente passávamos as tardes de sábado. Anos e anos a fio, enquanto o meu Pai estava entre nós. Sim, ele sentia a necessidade desse convívio, dessa amizade e não dispensava o passeio de Espinho a Gondomar. A Meira, sempre com o seu sorriso bonito e natural, o Mário, um conversador nato, brilhante e polivalente, que , apesar das suas absorventes tarefas como médico (na investigação, no ensino, na gestão de serviços hospitalares, nos transplantes, no "aconselhamento" de sucessivas equipas ministeriais) encontrava tempo para nós, naquelas tardes inteiras de descontraída conversa sobre coisas, situações e pessoa, as mais diversas - nomeadamente da nossa, então, mais animada cena política.
E, logo à chegada, lá estava o Paulo preparado para fazer um delicioso café, que ele próprio se encarregava de servir, com a máxima eficiência e requinte!
Eu, na altura, era, tal como o meu Pai, uma grande consumidora de café, e, por isso, sou testemunha da prontidão e da qualidade da sua prestação.
Era um facto, que eu registava, com infinita satisfação e apreço: o facto de numa família de quatro filhos, sendo 3 raparigas - aliás, todas, como a Meira, excepcionais donas de casa, e diligentíssimas - fosse o rapaz o que se antecipava a oferecer-nos o cafézinho.
Ele pode até ser conservador e contrário aos ideais "feministas", de um ponto de vista teórico, mas é dos homens mais naturalmente "praticantes da igualdade" que eu conheço, neste país e na sua geração!
Por isso a Marta é uma mulher com imensa sorte. E eu sei que a Meira se orgulhava, muito justamente, desta maneira de ser do seu filho!
É também por isso que eu adoro o Paulo, e que nos entendemos tão bem nos nossos constantes desentendimentos "políticos".
!

Segunda-feira, 22 Junho, 2009
Maria Manuela Aguiar disse...
Pois era mesmo assim, como recorda a Rosa Maria, a vida do meu Pai em Espinho: o mar, o café Palácio, os amigos.
Foi ele quem convenceu o resto da família a vir para Espinho, de vez.
O Café Palácio era uma espécie de segunda casa, onde nas férias, e depois de reformado, todos os dias, passava a maior parte do tempo, tomando cafés atrás de cafés.
Companheiros constantes, a D. Mimi e o senhor Ferrer, os primos e padrinhos de casamento da Rosa Maria. Um casal absolutamente fantástico.
Ela tão bonita, chique e inteligente, e tão divertida! Que trio formava com a D. Arlete e a minha Mãe (ainda no "velho" Palácio, quando o hotel, onde estava enquadrado, já há muito
tinha encerrado e estava condenado à demolição)!
O Sr. Ferrer, que tinha vivido na América, era o homem mais habilidoso e mais prestável à face da terra. Riquíssimo, mas o mais despretensioso possível. Tornou-se como um irmão do meu Pai!

Ah! Os banhos de mar da Rosinha!
Era assim, era... Tinha um enorme medo de ser arrastada até à costa brasileira, e só confiava mesmo no meu Pai, que, é claro, nunca foi pessoa de pregar partidas ou de se distrair com uma onda gigante inesperada. Curiosamente não sabia nadar - só "boiar" - mas mergulhava no mar de Espinho, por mais altas e impetuosas que fossem as vagas, como um verdadeiro especialista, que até era. Vinha passar o verão a Espinho, já para a casa da R. 7, desde que nasceu, conhecia o mar como um autêntico espinhense.
Contava que, em novo, uma vez, nas marés vivas, o banheiro proibiu o mergulho a toda a gente, excepto a dois ou três, que considerou aptos a enfrentar aquele furioso oceano - um dos quais, evidentemente, o meu Pai...

E, depois da pequena Rosa Maria, os cuidados e os afectos transferiram-se, como seria de esperar, para o pequeno e irrequieto Guilherme!

Segunda-feira, 22 Junho, 2009
Maria Manuela Aguiar disse...
Nó e Lé eram visitas assíduas, nas nossas férias espinhenses, às quais traziam grande animação.
O meu Pai encantava-se com as meninas. Possivelmente revivia os tempos idos em que a Lecas e eu eramos daquelas idades!
Umas autênticas netas!
Ele tinha uma bela voz e gostava muito de música. Elas eram um festival de música permanente. Sabiam sempre as canções da Eurovisão, de cor e salteadas. Para além de todas as canções tradicionais. Umas artistas!
Foram crescendo, as habilidades já eram outras, a relação e a conversação evoluiu, mas manteve a mesma força e afectividade.
Não sei se tinha a ver com o signo (Gémeos), ou com a sua muito própria idiossincrasia, mas o meu Pai sempre se sentiu particularmente bem entre os mais jovens e sempre foi extremamente popular entre os jovens.
E não porque fosse exuberante ou excêntrico - não era - mas porque "a corrente passava".
Tornou-se mais "moderno", mais atento à actualidade, à medida que os anos corriam. E, como diz a Lé, adorava conversar!
Lia muito, era um "viciado" em televisão. Nunca se deixou envelhecer. Só fisicamente, porque para isso, não há remédio. Mas andava bem, e muito.
De espírito, eu diria que rejuvenesceu, sem esforço. Tornou-se mais igual a si próprio.

Acho que mereceu partir sem ter conhecido o declínio. e a dependência. Não teria gostado de dar trabalho a ninguém.

Segunda-feira, 22 Junho, 2009
Maria Manuela Aguiar disse...
Grande conversador - todos os que o conheceram estarão de acordo sobre isto.
Não obstante ser um pouco gago.
Ouvi contar que não era, inicialmente. Mas alguém, numa estúpida brincadeira o terá deixado só num barco à deriva, no rio Douro, e o susto foi tal, que o menino ficou a gaguejar.
Não sei se foi mesmo assim que as coisas se passaram. Certo é que não havia precedentes na família.
O problema acentuava-se quando estava mais nervoso. Era bem pior no tempo em que eu era criança e jovem. Depois, atenuou-se, a ponto de quase desaparecer na velhice.
Na altura em que éramos adolescentes, a Lecas e eu,não sei quem o convenceu de que a melhor terapia era ler em voz alta, em público. Desgraçadamente, o público alvo éramos nós!
Uma chatice!
O primeiro livro escolhido era um dos seus favorito, "Dom Camilo e o seu pequeno mundo". Eu também achava as histórias hilariantes, mas preferia lê-las directamente, sem a simpática mediação de um Pai gago...

Terça-feira, 23 Junho, 2009
Maria Manuela Aguiar disse...
Os seus gostos literários eram muito variados - dos clássicos latinos aos inevitáveis Eça, Herculano ou Garret, aos brasileiros (Erico Veríssimo, Jorge Amado...), que a Mãe coleccionava, passando pelos humoristas como Guarescci e o seu Dom Camilo ou o Jerome K. Jerome, dos "três homens num bote (sem falar no cão)". Um livro que eu lia e relia, sempre rindo até às lágrimas.
Mas também se entretinha com os meus policiais...

Terça-feira, 23 Junho, 2009
Maria Manuela Aguiar disse...
Já não tinha paciência para ler os policiais no original em inglês, essa língua que falava bem, quando jovem, e não podia aproveitar as muitas centenas de livros que eu trago, em quantidades industriais, das minhas viagens pelo mundo anglófono.
As traduções da "Vampiro" deixam, quase sempre, muito a desejar, mas eu descobri outras bem melhores da Gradiva e outras. Eram presentes que ele apreciava imenso. Era um leitor compulsivo.
Um dia atrevi-me a oferecer-lhe uma dessas belas traduções da minha escritora favorita - depois de Agatha Christie, que, por acaso o Pai não apreciava especialmente... - Sara Paretsky, convencida de que ele a acharia demasiado ousada~
Mas não! Disse-me: "Ela não é só uma grande escritora policial. É uma grande escritora".
Também acho.

Terça-feira, 23 Junho, 2009
Maria Manuela Aguiar disse...
Outros escritores policiais, que ambos lemos, abundantemente: Ellery Queen e os infindáveis casos de "Perry Mason".

Terça-feira, 23 Junho, 2009
Maria Manuela Aguiar disse...
Música, também gostava muito de música, tinha "bom ouvido" e cantava, com uma belíssima voz.
Não sei porquê - até porque cantava muitas vezes e com reportório variado, EM FESTAS, QUANDO ESTAVA PARTICULARMENTE BEM DISPOSTO, COMO ERA COSTUME ESTAR EM FESTAS - mas lembro-me sempre da sua interpretação de uma modinha brasileira que dizia, mais ou menos isto:

Quando eu morrer
Não quero choro nem vela
Quero uma fita amarela
Gravada com o nome dela
Oh, abram alas,
Que eu quero passar
bla, bla, (quer dizer que me esqueci da estrofe...
Eu quero farrear!
Não sei se tinha a ver com o facto de a Mãe ser uma adepta declarada do amarelo.
Uma coisa que aprendi nesse tempo foi que os gagos não gaguejam a cantar!

À Mãe associo, os fados da Amália ("Confesso que te amei, confesso" e os outros todos), à Tia Lola a versão espanhola das canções da Amália ( Los Piconeros, Carmencita, Maria Dolores...), à Tia Lina "O luar do sertâo".
As três podiam ter feito carreira artística!
A Tia Lena não cantava, mas tocava piano. A Mãe também - com preferência por Chopin.
O Pai era o homem do violino - não no telhado, todavia. Não tão prendado como a mulher e as cunhadas, mas gostava do seu violino. Emprestou-o, um dia a um amigo do Tio Serafim, de Gondomar, e nunca mais o viu. Em compensação falava muito dele.
Para matar saudades, resolveu , num serão em casa da Meira, experimentar o violoncelo da Lisa, recém chegado de Londres. Partiu-lhe, de imediato, uma corda. Nunca o vi tão atrapalhado, apesar da Meira logo minimizar o desaire...

Quinta-feira, 25 Junho, 2009
Maria Manuela Aguiar disse...
O Pai era, de facto, muito mais divertido em festas de família do que no cinzento quotidiano, nos dias em que, por dever de ofício, tinha de aturar, sei lá o quê e quem, no Grémio dos Ourives. Possivelmente, tudo corria "nos conformes", o Pai era competente e rigoroso - e a sua "second-in-command", a D. Corina senhora excepcional - mas dava para perceber que o Grémio não era uma festa...
Havia sempre problemas e complicações, que uma certa tendência do Pai para o pessimismo ampliava. Se neste particular tivesse saído a ele, a política teria sido, para mim, uma sucessão de ordálias germânicas, em vez de uma espécie de arraial minhoto, tão ao meu gosto.
O Pai, no dia a dia, se permitia, em abundância, café, imenso café, acompanhado de muitos cigarros, e alguns copos de água. Nada de vinho!
Porém em ambiente de animação e convívio social, gostava do seu whisky, do seu copo de bom tinto, do seu "champagne", e logo via os problemas todos sumirem no horizonte. Tornava-se o espírito e a alma da reunião!
A Mãe costumava dizer que só com um copo de vinho ele ficava "uma pessoa normal". Uma pessoa tipo Aguiar!

Quinta-feira, 25 Junho, 2009
Maria Manuela Aguiar disse...
Normal, era a palavra, porque, na realidade, nunca exagerou.
Mas é verdade que todos os seus receios, cautelas excessivas e hesitações, desapareciam como por encanto ou magia.
Temia as velocidades, mas haviam de vê-lo, no trajecto de ida, vagarosamente, a queixar-se do mau estado da estrada, dos traiçoeiros buracos, um perigo para a barra da direcção ou as jantes, e, depois, no regresso, rápido e destro, driblando os buracos a 100km/hora!
Um ás!

Quinta-feira, 25 Junho, 2009
Maria Manuela Aguiar disse...
Em 50 ou mais anos de condução nunca teve desastres a conduzir. Sinistrado só quando eram os outros os pilotos...
o mais espectacular aconteceu com o Tio Serafim, a caminho do estádio da Constituição. Ninguém mais se magoou, no despiste, contra um muro de Valbom. Só o Pai que encostou um braço estendido contra a porta, na eminência do choque, claro, partiu o braço. Foi para o hospital, onde lhe puseram um bizarro aparelho, sobre o qual estendia o braço, envolvido em ligaduras. Coisa volumosíssima!
O António Reis, que, por acaso o viu passar, quando estava na praça da Batalha foi informar, depois, os meus Avós, em Avintes: Vi o João passar num carro. Levava um grande ramo de flores brancas.

Quinta-feira, 25 Junho, 2009
Maria Manuela Aguiar disse...
Não havia dúvida que no hospital público o tinham tratado com a máxima incompetência. Cheio de dores o Pai resolveu recorrer`"à privada" - e lembrou-se de um amigo do colégio dos Carvalhos que era um dos mais famosos ortopedistas do país. O Dr. Abel Portal.
Hesitou um pouco, porque, no colégio se tinham zangado, ou o Abel se tinha zangado com ele e outros porque lhe tinham "assaltado" umas reservas de queijos que trazia de casa e guardava numa dispensa.
Quando o amigo o recebeu com um
grande abraço, percebeu que os seus receios eram infundados. As "partidas" de rapazes, à distância de anos, eram, afinal, um traço de união e uma divertida memória dos bons velhos tempos.
E o Dr. Portal foi, de facto, "the right man in the right place", in the right moment.
O braço estava uma desgraça. Teve de lho partir de novo, e de reconstruir o enfiamento dos ossos.
Dessa vez, o paciente chegou a casa engessado, como era devido, e sem dores.
Curou-se, no prazo normal, e ficou perfeito!
Conservo bem viva a recordação desses episódios, sobretudo da sua primeira chegada à casa da Pedreira, de braço estendido, sobre o volumoso suporte, a que as ligaduras davam a cor branca.
Aterradora imagem!
Com os meus 7 anos e o susto, chorei e rezei a todos os santos... E a Lecas, idem.

Segunda-feira, 06 Julho, 2009
Maria Manuela Aguiar disse...
Não sei em que circunstâncias, muitos anos mais tarde, tinha eu vinte e poucos anos, partiu um pulso. Dessa vez rumou, de imediato, a S. João da Madeira, à "endireita de Cesar", que o tratou de uma forma impecável. Pouco tempo antes, uma mulher, que vinha a rolar subterraneamente no mar das marés vivas de Espinho, quando eu saltava, como deve ser, a uma onda alterosa, partira-me um dedo do pé.
Fui, primeiro, vítima de inépcia no hospital da terra, e recorri, depois, como toda a gente sensata, à tal senhora. Salvou-me!
O Pai, de início, muito contra essa saída dos roteiros "oficiais", converteu-se, e ele próprio a procurou para o tratar, nesse acidente. Em boa hora.

Segunda-feira, 06 Julho, 2009
Maria Manuela Aguiar disse...
Terceira fractura muito tempo depois, já com 74 ou 75 anos. Dessa vez, a rótula. Em Gondomar, quando me dava instruções para arrumar o carro, perto de casa do Mário.TROPEÇOU NUMA PEDRINHA E CAÍU MAL.
Dizia o Tio David, como a minha Mãe lembra, agora, muitas vezes que os velhos tropeçam até numa folha de papel.
Foi mais ou menos isso que aconteceu naquela tarde.
Valeram-lhe o Mário e o Paulo, que o levaram logo para o Hospital de Santo António, onde foi muitíssimo bem tratado.
Apesar da idade, recuperou bem e rapidamente.
Ainda andou de canadianas,e, de seguida, de bengala, porque não dispensava as idas ao café...
E o gesso tornou-se popularíssimo entre a criançada. O Tózinho fartou-se de desenhar naquele atractivo material branco, com o Pai achar muita graça, como achava a tudo o que o menino fazia.

Segunda-feira, 06 Julho, 2009
Anónimo disse...
Maria Antónia Aguiar disse:

O que eu me ri,quando o joão partiu o pulso - isto é, antes de saber que ele tinha partido o pulso!
Tudo começou com uma grande guerra entre as cadelas, Mora e Endora, que já era habitual. Nós corríamos logo a separa-las e, na confusão, muitas vezes éramos mordidos, por engano. Costumava ser eu, a ir atrás delas. Nesse dia, o João antecipou-se, a persegui-las pelo comprido corredor fora. Mas não tinha já a minha agilidade e, lá no fundo, escorregou e bateu, em cheio, numa porta. Parecia um filme cómico.
O pior é que ele começou a gritar: parti o pulso!
Eu não acreditei, mas de facto, a
mão pendia. Bem insisti para que ele se esforçasse por levantar a mão, mas ele tinha razão. Lá fomos para S. João da Madeira, para a "endireita", que lhe pôs os ossos no sítio. Curou-se depressa e bem.
Morávamos, ainda, na rua 16.

Terça-feira, 07 Julho, 2009
Maria Manuela Aguiar disse...
O Pai foi, fundamentalmente, um homem saudável, com algumas excepções. E refiro-me às 3 fracturas, a duas operações, afinal, reduzidas a uma, e a um internamento nos cuidados intensivos, depois de uma crise cardíaca- esta grave, e, à distância de meia dúzia de anos, mesmo fatal...
O episódio mais feliz é o da cirurgia que não aconteceu. A uma fístula. É coisa dolorosa, e o Pai hesitou, adiou, adiou, mas, finalmente, aceitou submeter-se ao bisturi.
Foi internado e, antes de ir para a sala de operações, o médico foi fazer-lhe um último exame e... não via fístula nenhuma!
Fístula procura-se!
Mais exames confirmam o sumiço, na hora certa. Valeu a pena hesitar e retardar. Um "wait and see", providencial.

Terça-feira, 07 Julho, 2009
Maria Manuela Aguiar disse...
A operação inevitável e inevitada foi, já acima dos 70, à próstata, no, então, simpático e pequeno hospital de Espinho. Correu muito bem, com algum inevitável e inevitado sofrimento, e foi, sobretudo, um grande acontecimento social! Deste ponto de vista, um momento positivamente memorável.
Era director do Hospital o nosso amigo Dr. Fael, e médico cardiologista, o amigo de infância, Dr. Henrique Estima. Apareciam lá, conversavam. Vinham imensos amigos comuns, de Espinho, família e mais família. Não havia um momento de ócio, durante o dia. Á noite, via televisão, num pequeno aparelho emprestado, muito adequado, pelo Senhor Vitó.
Nem foi preciso compra-lo, na Casa Vitó - o que eu me aprontava para fazer, naturalmente. São alturas em que os Pais apreciam um presentinho.
O quarto particular era simples, mas acolhedor - "cozy".
O Pai esquecia-se de ter dores, a maior parte do tempo.
Aliás, não era homem para se queixar. Um pouco pessimista noutros campos, mas não em questões de saúde.

Terça-feira, 07 Julho, 2009
Maria Manuela Aguiar disse...
Eu não sou somente a única do quarteto familiar que não sabe cantar - como já disse, Mãe e Pai tinham vozes lindas, afinadíssimas e a Lecas, nem se fale. Era um espanto, podia ter pisado tido sucesso em qualquer palco...Eu cheguei a fazer parte de unm coro do colégio, com a intervenção amiga de uma freirinha, com a condição de "fazer de conta" que cantava, mas sem soltar som algum...
O mesmo se diga, no dominio da moda: todos, menos eu, faziam questão de vestir bem e só coisas boas. A Lecas e a Mãe, muito visível ou ostensivamente - o Pai na versão discreta, mas nem por isso menos exigente.
Sapatos do (amigo) Danilo, de Santa Catarina, ou da Gonçalves, em Santo António. Fatos feitos por medida no Arménio, que, nos últimos tempos, já só trabalhava para meia dúzia de antigos clientes. Gravatas de seda italiana. Bons perfumes, embora sem fixação num determinado, Isqueiro Ronson, de ouro - oferta minha - que, porém, não podia usar no dia a dia, tal como as canetas de ouro, porque era muito distraído, e perdia tudo, de guarda-chuvas a canetas ou isqueiros.
Uma vez até me perdeu, na praia, o Sr, Pickwick, na versão portuguesa.

Terça-feira, 07 Julho, 2009
Maria Manuela Aguiar disse...
Quero dizer, o Sr. Pickwick de Charles Dickens. Fiquei furiosa, e fui comprar o original inglês.
Mas, aí, não sou assim tão diferente do Pai - também perco canetas, etc. etc. e nunca sei onde tenho nada, nem sequer os meus papéis. Em sítio certo, só mesmo o IRS.

Terça-feira, 07 Julho, 2009
Maria Manuela Aguiar disse...
Quando chego, ainda hoje, à estação de Espinho, sinto-me, especialmente, orfã. É que o Pai estava sempre, sempre, à minha espera, no cais. Mesmo quando o comboio vinha atrasado e ainda não havia telemóvel, para prevenir. Chego cá e continuo a vê-lo, sorridente, numa plataforma.
Um espinhense, em Espinho, aguardando a viajante compulsiva.
Pronto a comentar os últimos desenvolvimentos da vida política. Mais bem informado do que eu.

Terça-feira, 07 Julho, 2009
Maria Manuela Aguiar disse...
Voltemos aos tempos do João Moreira menino e moço - o que não é possível na vida, mas fácil no vai-vem da memória.
Sei que nasceu numa casa do Outeiro, onde os Avós, então, moravam. Não sei qual, ou sequer se ainda existe. Nunca tivemos a curiosidade de querer conhece-la. Uma pena!...
Creio que era arrendada, e os Avós compraram, pouco depois, a casa da Rua 5 de Outubro, uma das primeiras que encontra, numa subida íngreme, quem vem do Porto. ou de Oliveira do Douro, pela estrada antiga.
Ao lado, numa quinta, com frente para a primeira transversal da 5 de Outubro, à direita, vivia uma família, que se tornou família, para o Pai. O Coronel Novais e Silva, mulher e dois filhos, Maria Beatriz e António Júlio. Ela um pouco mais velha, ele um pouco mais novo do que o Joãozinho. Companheiros constantes de brincadeira, quase irmãos! Uma sorte para aquele filho único...
O terreno dos Avós, com muro alto para a rua, e perfeitamente rectangular e plano, estava separado da quinta por um declive de 6 ou 7 metros, em quase toda a extensão do rectângulo, salvo os últimos metros, em que a divisória era um outro muro alto. Porém, facilmente transposto por escadas de madeira, encostadas de ambas as bandas, em simetria.
Mesmo depois de terem ido para o Porto, muitos anos mais tarde, e de terem vendido a quinta a um casal do Minho, nunca as escadinhas foram retiradas. Contudo, eu não conheci esses outros vizinhos, também bons amigos dos Avós. Ele, o vizinho, morreu e a viúva foi viver com uns sobrinhos. Sempre conheci o casarão vazio. Ìamos lá quando queríamos - era uma extensão de jardim para as nossas aventuras, com os seus caminhos que desciam e subiam abruptamente. Bonito! Não sei porque razão os Avós não a quiseram comprar. Era o que eu teria feito. De qualquer modo, tomavam conta dela - e, em retribuição, podiam naturalmente utilizá-la em festas, quando quisessem. Foi lá que se fizeram as festas da comunhão da Lecas, e a minha.
No dia a dia, porém, a casa não nos interessava nada. O mirante, e o grande tanque de água puríssima, sim!
Imagino que o Pai e os amigos correriam, como nós, pela mesmas escadas e veredas. Em muitas décadas, nada, ali, mudou.

As pessoas felizes não têm história.
E, como a relação entre os meninos, nesses anos 20 e 30, era perfeita, não há grandes episódios, que tenham ficado para recordar.
Mas já há histórias divertidas, passadas com o Coronel, que era severo, e tratava o meu Pai, tal como se fosse um dos dele, pondo-o na ordem (mais ou menos militarizada...) - e, às vezes, muito nervoso.
Vou conta-las amanha, porque hoje já é tarde.
Perdi demasiado tempo com a "contextualização"...

Quarta-feira, 08 Julho, 2009
Maria Manuela Aguiar disse...
O Pai contava as histórias com muita graça e inúmeros pormenores.
Eu só recordo que essas narrativas nos divertiam, e que as ouvi várias vezes, em benefício de diferentes audiências, mas detalhes não é comigo...
Ainda por cima, estou a lembrar-me apenas deduas, ambas ocorridas numa fase mais tardia, quando o Coronel já morava no Porto, e o Pai ía de visita, almoçar ou jantar.
Um dia, logo à entrada, confundiu os presentes e começou por cumprimentar a criada, com um aperto de mão. Hoje, suponho, isso nem chocariam, mas, na altura era uma suprema "gaffe"...
Uma outra, ainda agora é - e sempre será... - uma terrível infelicidade, um acidente arrepiante. Quando espetou, energicamente, o garfo numa azeitona, ela voou para o centro da mesa.
Acrescento uma terceira, que se passou com o António (Reis), o primo direito super distraído, e tinha uma ínfima possibilidade de acontecer com o Pai. Não fazia o seu género.
Foi um telefonema do António para o Coronel.Falou disto e daquilo, perguntou pela saúde de todos os Novais e Silva, e preparava-se para continuar, já um pouco à procura de assunto, quando o coronel lhe perguntou, também, pela família.
"Estão todos muito bem, todos óptimos!", respondia o António.
E o Coronel, habituado a ir direito aos assuntos, perguntou-lhe a razão do telefonema. Ao que o António, enfim, "focalizado", como agora se diz, informou:
"Venho dizer ao Senhor Coronel que morreu a minha Avó".

Domingo, 12 Julho, 2009
Maria Manuela Aguiar disse...
Com o António Júlio, que também atigiu, cedo, o posto de coronel - e que foi, antes do 25 de Abril,. Governador Militar de Lisboa - o Pai manteve contacto e grande amizade até ao fim da vida.
A última vez que se encontraram, terá sido em Espinho, na Páscoa de 2008. Foi, pelo menos, a última em que estive presente, e até lhes tirei umas belas fotografias, na esplanada do café Palácio. ao Pai, António Júlio e Mulher, Gladys - uma "inglesa" (ou portuguesa de ascendência inglesa, daqueles ingleses vindos para cultivar e exportar o nosso "port wine" - muito simpática, por sinal)com quem casou, já não muito novo, mas a tempo de terem 3 ou 4 filhos.
Eu fui mantendo correspondência com o Coronel, ao menos pelo Natal. Gostava dele, e o passado, a ligação "fraterna" com o Pai, fazia dele uma espécie de Tio. A ausência de resposta, desde há alguns anos, leva-me a pensar que já não estará por cá. Nem ouso perguntar...

Domingo, 12 Julho, 2009
Maria Manuela Aguiar disse...
Os amigos do Pai, aqueles com quem ele mantinha contacto, eram todos muito simpáticos. Dava-me esplendidamente com eles, e eles comigo. Mesmo quando eram de outros quadrantes ideológicos - e muitos eram, em regra, mais à direita - passavam o tempo a discutir política comigo, mesmo antes de eu ter sido aliciada para uma vida de confusão e agitação em governos e coisas aparentadas. Em boa verdade, eu até achava a política mais interessante de fora, do que de dentro... Alguns deles eram treinadores de bancada, neste particular domínio. Caso do meu Pai, sempre mais actualizado do que eu, sempre interessadíssimo na evolução dos acontecimentos, quando ela era vertiginosa, depois do 25 de Abril, e quando o ritmo abrandou.Mas outros tinham feito política no ancien régime - um deputado da ANP, o responsável da UN em Gaia. Ambos "gente boa"! Há gente boa à direita, como à esquerda.
Muitas vezes estive horas a conversar numa mesa de café, em que era a única mulher.
O Pai era um "habitué" de cafés, como espaço-tertúlia, mas também como bebida.
Pois é - cafézinhos fortes e cigarros, fortes também, eram os seus únicos vícios. Exagerava! Mais valia dosear por outros pecadilhos ...

Segunda-feira, 13 Julho, 2009
Maria Manuela Aguiar disse...
O antigo deputado, o advogado Dr.Homem Ferreira era muito sereno e tinha sentido de humor. Contava sempre histórias da política com graça e um certo distanciamento. Era tudo menos um fanático.
O antigo dirigente da UN, o Dr. Ramos Pereira, era outro político, e, depois, ex-político, que convivia bem em debate de ideias, por diferentes que fossem. Também não era muito prosélito. Podia até achar que o interlocutor estava errado, ou era pouco esclarecido, para não dizer pior, mas não ía dizer.lho na cara, e "comprar uma briga", Era dem educado e civilizadao - e, igualmente, muito trocista. Às vezes, até me fazia lembrar o Tio Manuel, em versão muito mais branda.
Por acaso, ele e o Tio( um verdadeiro esquerdista, comparativamente) eram amigos.
Fomos, muitas vezes, a casa do dr Ramos Pereira nos Carvalhos. A mulher, a Misinha, era uma simpatia. Discutia política mais energicamente do que o marido, sobretudo depois do 25 de Abril. Nessa altura, o tema era "incontornável", fazia parte da nossa vida quotidiana. Agora, já não...
Outro amigo encantador era o Dr António Mendes, médico e um "histórico" do PPD. Creio que foi o 1º ou dos 1ºs presidentes do partido em Espinho. Com esse,a s gargalhadas eram obrigatórias, irresistível e constantemente.
Anos mais tarde, a morte de dois dos nove filhos, tirou~lhe essa alegria tão espontânea.
Muito, muito divertido, outro médico (também colega do Colégio dos Carvalhos): o Dr. Angelo Vieira Araújo. Poeta, compositor e cantor de alguns dos mais belo fados de Coimbra de todos os tempos. Um perfeito coimbrão!

Segunda-feira, 13 Julho, 2009
Maria Manuela Aguiar disse...
O Dr Homem Ferreira e o Dr Vieira Araújo eram veraneantes em Espinho, com segundas casas aqui, ou aqui perto.
O Dr Mendes, o Dr Estima, o Sr. Ferrer, o mais jovem Sá Couto (cuja opinião o Pai tinha em alta conta!) eram residentes na cidade, faziam parte da tertúlia que reunia quotidianamente.
O Dr. Ramos Pereira era assíduo. No verão, tinha casa na Rua 8, mas, ao longo do ano, estava perto e ía aparecendo, com regularidade. Não faltava aos fins-de-semana!
O grupo dos fins-de-semana incluía, também o Dr. Fael (com a mulher, Maria Fael, que, tal como a Misinha, era muito divertida e se dava, optimamente, com a Mãe).
Se falo nestes amigos, nesta convivência, é porque marcaram a vida do Pai - ou dos Pais - foram parte do encanto ou da magia de Espinho, justificaram a escolha que tinham feito por esta terra de encontros, de cafés, de esplanadas, de ar livre e maresia.
Claro, à maneira tradicional portuguesa, era frequente os homens ocuparem uma mesa de café ao lado daquela em que as senhoras falavam de outras coisas - e, às vezes, até não, porque, no "verão quente" de 1975, por exemplo, eu fazia os meus vaticínio, sucessivamente, em cada uma das mesas.
Mas convém não exagerara a imagem lusa de apartheid de sexo. Estávamos no norte de Portugal, não num emirato do Golfo... Todos se davam bem, e, em certas alturas constituíam grupos mistos, sobretudo se eram só 2 ou 3 casais.
Em grande número, a tendência era para o "alinhamento de género"...
A Mãe com a Dona Mimi Ferrer, a Dona Suzete Estima, a Misinha, a Maria Fael e a irmã. Anos antes, nas décadas 50 e 60, também com a Dona Arlete Gayoso, a Dona Fernanda Guedes, mãe da Graça, a Milé e a avó, a Maria José Lencastre...
Gente que, a mim, me faz muita falta. Sem eles, sem elas, Espinho perdeu grande parte do seu encanto (nostálgico).
Agora, quase não vou aos cafés. Excepto, de passagem, quando as primas e os primos se reunem na "Latina", depois que "O nosso Café" fechou as portas.
Falei do círculo de amigos - dos principais, embora houvesse outros, pois a lista não é completa - mas a família estava, também, muito presente, para felicidade dos meus pais e sua filha.
Aos fins-de-semana, o normal seria estar com os amigos de manhã e receber os parentes à tarde.
O Mário, a Meira, o Tónio, a Xaninha, com os meninos. A Tia Lena e o Tio David, o Tio Serafim. O Tio Tónio, que acabou por se converter a Espinho, e comprou uma casa, mesmo à beira-mar.Tia Lola. Tio Zé, quando vinha de visita, das Américas, Amélia e António, idem, do Canadá. Tia Francisca Reis e Mª Angélica, também fãs de Espinho, no verão.
A Tia Lena e Tio David vinham de férias, em Agosto, anos a fio. A Meira e o Mário, também.
Quando comprei um andar na Rua 7, eram meus convidados.
Os meninos do Tónio sempre vieram passar, pelo menos, alguns dias.
Oh! Bons tempos. Boa companhia!

Terça-feira, 14 Julho, 2009
Maria Manuela Aguiar disse...
Nos últimos anos de vida do Pai, os meus convidados de Agosto eram a Nónó, o Helder, e, desde 1992, o Tózinho.
Um mês em cheio, para o Pai!
Para além do mais - a grande amizade, nomeadamente - O Pai adorava conversar com o Hélder, horas e horas. Era uma daquelas pessoas, com as quais se dava "como Deus com os anjos".

Terça-feira, 14 Julho, 2009
Maria Manuela Aguiar disse...
Memoráveis, durante um largo período, por essa altura em que por cá passavam um mês de férias, para além de umas tardes de sábado, os lanches, com "joaquinzinhos" fritos e "champagne" - exótica combinação, inventada pela mãe e muito apreciada pelos meus primos (ou sobrinhos dela).
Mais tarde, o convívio das tardes de sábado, que deliciava o pai, transitou, geograficamente, para Gondomar, com os mesmos protagonistas. Sem "joaquinzinhos", mas com coisas, certamente, melhores - a Meira podia dar aulas de culinária, em grande estilo (e, em casa, "fez escola"!).

Terça-feira, 14 Julho, 2009
Maria Manuela Aguiar disse...
Já falei da peregrinação a Fátima, com a Meira e família - dezenas de alegres peregrinos, pois se trata, como os Aguiares, de família enorme e muito unida, para além de ser muito divertida - dias muito felizes para os Pais.
Nesta 3ª idade, a única outra excursão em que se envolviam era a ida a Chaves, com o Tio David e com a Tia Lena. Para as termas. Isto é, os Tios faziam tratamento de águas e os Pais "faziam companhia". Divertiam-se imenso, excursionavam por Espanha, frequentavam os óptimos restaurantes, gostavam do hotel, aproveitavam para ir a compras no comércio local...

Terça-feira, 14 Julho, 2009
Anónimo disse...
Maria Antónia disse:
Foram viagens inesquecíveis, essas de Fátima, com a Meira e o Mário. Todos os anos!
Eramos muitos, e havia tempo para tudo, para as missas e orações, com o Padre Carlos,para os passeios , para as tais compras - como os lenços de seda dos padres italianos - para os espectáculos de teatro, encenados pela Nita, para conversarmos e para descansarmos.

Domingo, 09 Agosto, 2009
Anónimo disse...
Manuela disse:
Naquele dia de Páscoa, em que morreu, ao jantar, tínhamos estado a tarde toda em casa do Mário, em Gondomar.
A peregrinação a Fátima era uns dias depois. Lembro-me de que o Pai estava preocupado. Já não se sentia muito à vontade para conduzir, e receava desencontrar-se com o resto do grupo. A maioria, para simplificar, seguia num autocarro alugado pela família, mas o Pai gostava de levar o carro. Passei o tempo a tranquilizá-lo. Acho que pensava lá ir e trazer, eu, o carro de volta. E, na ida, o Paulo esperava-o não sei em que estação de serviço...
Estava tudo pronto para a viagem que não faria.

Domingo, 09 Agosto, 2009
Anónimo disse...
Docas disse: O tio João fez os versos que recitei na minha primeira comunhão, na igreja da Freixeida na minha primeira comunhão. Todas as tardes, a minha Mãe chamava-me, para durante algum tempo eu ensaiar e decorar os versos ditos sem gaguejar e segundo a opinião dos tios, declamados com muito sentimento:

I - Nossa Senhora, vestida
de branco, no nosso altar.
Aos vossos pés, brancas flores
Vimos hoje desfolhar.
II - Brancas como as nossas almas.
Que vos vamos ofertar
Tão puras que vão, Senhora,
Vosso Filho comungar.
III - Cobri-as com vosso manto
feito de Sol e Luar
Dos caminhos da Virtude
Não as deixeis transviar
IV - E a esta Terra que é vossa
E também o nosso lar
Abençoai-os, Senhora,
Sem nunca as desamparar
V - Por vosso Filho, Jesus,
Que morreu por nos amar
Brancas flores - as nossas almas -
Não deixeis de as cuidar.
VI - Olhai por elas, oh Mãe!
Não venha ninguém roubar
O Tesouro da brancura
Onde Jesus vai morar.

Freixeida, 1954

Lembro-me que o tio João, achava muita graça, quando eu dizia: "oh Mãe!". Era exactamente o mesmo tom com que chamava a minha Mãe, no dia-a-dia, segundo o comentário do tio João. Provavelmente, também, porque eu era uma das suas sobrinhas predilectas...
A comunhão solene (minha, do Nestó e de todas as crianças da aldeia, foi uma grande festa - a primeira e única que se realizou na Freixeda. Um grande acontecimento!
Toda a família e amigos mais próximos se deslocaram à Freixeda nessa dia. O tio João, tia Mariazinha, Manuela e Lecas, ainda ficaram mais alguns dias em nossa casa, de férias. Uma grande alegria! Demos grandes passeios no jipe da mina, pelos arredores. Tomávamos banho no rio Tua, em Frechas. Era Verão - andávamos à vontade pelos montes, com grande preocupação da tia Mariazinha, não fosse cairmos nalgum poço. Sempre que saíamos de casa, ela gritava: levem um casaco que pode fazer frio.
O tio João ficava sempre muito preocupado, quando o meu Pai se perdia naqueles caminhos e depois ia à sorte: Meninos, viramos à esquerda, ou à direita? E nós, contentes, respondíamos também à sorte! Esta descontracção não fazia, propriamente, o género do tio João...

Segunda-feira, 10 Agosto, 2009
Anónimo disse...
Docas disse: Quando vinha a Espinho, de férias, ia muitas vezes ao café com o tio João. Gostava muito de tomar vários cafés, durante o dia.
Sempre muito gentil, com um sorriso amável e, aparentemente, muito calmo.
Quando estavamos dentro de casa, a tia não deixava ninguém fumar na sala. E nós, os dois, lá iamos para o jardim fumar o nosso cigarrito, quer fizesse frio ou calor, chuva ou sol...
A tia protestava muito com ele, mas o tio João achava-lhe graça - sempre o vi encolher os ombros e sorrir, perante os "desatinos" da tia. A tia Mariazinha, também devia saber que o tio João, encarava os seus disparates com ternura e o tio João percebia que a maior parte das vezes não era para a levar a sério... Um casal que se entendia bem, apesar de todos os altos e baixos da vida!

Segunda-feira, 10 Agosto, 2009
Maria Manuela Aguiar disse...
Foram férias absolutamente maravilhosas, essas da Freixêda-54.
Uma das excursões mais repetidas era para a nossa "praia" privativa no rio Tua. Um lugar lindo, pouco frequentado, excepto por nós, e muito seguro para desportos - natação e pesca.
Aí aprendi a nadar!
O meu Pai e a Lecas, não!
Eram iguais: sabiam boiar, mas, ao menor movimento de pés ou braços, afundavam...
Pescar, não consegui, nem com muito isco. O Nestó lançava a cana, mesmo sem nada, para atrair os peixinhos e trazia logo um pequeno ou grande, dependurado...
Há uma bela fotografia do meu Pai, junto aos palheiros, que ficavam perto da casa dos Tios, mas não no rio. Aí o fotógrafo era sempre ele.

Segunda-feira, 10 Agosto, 2009
Maria Manuela Aguiar disse...
Tudo é bom para lembrar o Pai, nestes dias ou noites do ano a que damos um significado especial.
Hoje foi a propósito das batatas que acompanham o inevitável bacalhau. Batatas cozidas em demasia, "à la Olívia Pecegueiro"...
Eu até gosto, mas o Pai detestava.
Considerava esse deslize culinário como uma espécie de "ofensa pessoal", no dizer da Mãe. Em quase tudo o resto era bem mais transigente!

Quinta-feira, 31 Dezembro, 2009
Maria Manuela Aguiar disse...
Foi numa festa, mas talvez não num revéillon ( e daí não sei - talvez sim...) que se passou aquele episódio que o Pai contava com muita graça.
Não esperem que eu me lembre dos pormenores!
Indo aos "finalmente":
Era uma festa em Oliveira do Douro, nos tempos em que o Pai ainda era estudante no Colégio dos Carvalhos e tinha por ali bastantes amigos. Convidaram-no a acompanhá-los, e o João Moreira não recusou. Quando chega à entrada do salão depara com este aviso afixado da forma mais visível

PEDE-SE ÀS EXCELENTÍSSIMAS DAMAS PARA VIREM CALÇADAS

Quinta-feira, 31 Dezembro, 2009
Maria Manuela Aguiar disse...
Recordo-me de outra festa, mas esta de alto nível, ainda que com poucas damas ( elegantemente calçadas, claro, sem precisão de incitamento).
A festa do centenário do FCP, celebrada no pavilhão das Antas. Na qualidade não tanto de portista - que essa não dá direito a estes convires... - mas de Vice - Presidente da Assembleia da República, ou coisa semelhante, estive presente e até me coube a honra de partir o bolo.
Presidia à comemoração O PR General Ramalho Eanes. À despedida apresentei-lhe o Pai, que não era propriamente "Eanista", mas que, como é natural, cumprimentava de bom grado um PR.
Diz-lhe o General:
Aprecio muito a sua filha. É das poucas pessoas que está na política para trabalhar!

Desde essa hora o Pai converteu-se ao "Eanismo". Eu já estava convertida, se não ao Eanismo a Eanas, como pessoa. Mas fiquei ainda mais!

Quinta-feira, 31 Dezembro, 2009
Maria Manuela Aguiar disse...
Outro encontro com uma personalidade política relevante, que encantou o Pai, aconteceu num comício do PSD no Pavilhão do Académico do Porto. A personalidade era o Doutor Mota Pinto.
Esse disse-lhe, simplesmente, com um grande sorriso:
Então é o Pai da nossa Manelinha?

O Pai ficou rendido!
E o que tem mais graça é que o Doutor Mota Pinto nunca me chamava "Manelinha", mas Manuela, como toda a gente. Foi uma maneira simpática e significativa de expressar a proximidade.
Do que o Doutor Mota Pinto era muito capaz e a maioria dos políticos definitivamente não é - porque são postiços, oportunistas e pouco se preocupam com as pessoas. A amizade genuína raras vezes entra no terreno da política.
MP foi, de resto, de todos os que conheci, a maior excepção a essa regra.
Alguém, um dia, avançou com um slogan sobre ele, nestes termos:
Mota Pinto, o homem que é bom conhecer de perto.
Concordo!
A última vez que o vi, talvez 2 semanas antes da sua morte, foi no casino de Espinho. Jantámos , em pequeno grupo, com ele e a Maria Fernanda (os pais e eu, a Mª Luisa e não sei quem mais).
Foi divertidíssimo!
A Mãe disse aquelas frases radicais que costuma dizer, e o Doutor Mota Pinto comentou:
"Agora já sei a quem sai a Manelinha!".
De novo "Manelinha" - diminutivo reservada só para a conversa com os meus pais...
Mais tarde, a Mãe, que o adorou e ficou chocadíssima com a sua morte súbita, confessou que, para evitar esse desgosto, até preferia não o ter encontrado naquele convívio inesquecível. E último...

Quinta-feira, 31 Dezembro, 2009
Maria Manuela Aguiar disse...
Por falar em catedráticos de Coimbra:
O sonho do meu Pai era que eu me doutorasse. E mal ele sabia que quem mais me encorajou nessa senda foi precisamente o Doutor Mota Pinto, nos tempos em que eu era assistente da Faculdade de Direito.
"Não custa nada. É só tirar um bocadinho, todos os dias ao convívio com os amigos",
No caso dele assim foi, mas ele era um génio, e eu não.
E não cumpri o sonho do Pai...

Quinta-feira, 31 Dezembro, 2009
Maria Manuela Aguiar disse...
Grande desilusão constituiu para o pai a apresentação a Cavaco, à saída de um almoço do PSD naquele restaurante à beira-mar onde foi a festa de casamento do Carlos e da Bela (anos mais tarde!).
O Prof. limitou-se a um aperto de mão e um seco "muito gosto"...

Quinta-feira, 31 Dezembro, 2009
Maria Manuela Aguiar disse...
Os Pais também conhecera, no jantar de gala da inauguração do Hotel Solverde, o PR Mário Soares. Sei que gostaram dele, mas não recordo a conversa. Acho que nem fui eu que fiz as apresentações.
Noite memorávavel!
Com muitos episódios delirantes -
o mais engraçado de todos foi a Mãe e a Dona Suzete terem visto e chamado a nossa atenção para os dois amigos de infância estarem sentados num sofá, de perna cruzada, a mostrar meias e sapetos, com os quais havia coisa errada. O Pai exibia sapatos castanhos, em vez de pretos, como convinha, a condizer com o fato. E o Doutor Estima tinha um enorme buraco nas finíssimas peúgas de seda negra! Parece que os estou a ver, completamente absorvidos em animada conversa e alheados da nossa presença e das nossas gargalhadas.

Quinta-feira, 31 Dezembro, 2009
Maria Manuela Aguiar disse...
O Pai reencontrou, assim, em Espinho o seu mais antigo amigo de infância. Muitas tardes divertidas passamos na sua bela mansão da Rua 28.
Espinho, para onde o pai vinha, no verão, desde que nasceu.
Passava horas sem fim na areia, ao sol, na esperança de ficar moreno.
Mas não!
A cara tornava-se cada vez mais britanicamente vermelha, assim como o peito - mas as pernas permaneciam de um branco imaculado!
Do início ao fim da época de praia.

Quinta-feira, 31 Dezembro, 2009
Maria Manuela Aguiar disse...
O pai faz-me muita falta, e dele me lembro constantemente.
Era, também, um bom companheiro.
Agora não tenho que me emende a pontuação nos textos...
Uma vez, até escrevemos um artigo a meias, sobre as maravilhas da ourivesaria, sobre a filigrana de Gondomar, para uma revista sobre o Portugal turístico e cultural.
Vou procurar esse nosso escrito...

Quinta-feira, 31 Dezembro, 2009
Maria Manuela Aguiar disse...
E os versos que o Pai fez para a campanha do Freitas do Amaral?
Belo slogan!
Vou procura-los, também.

Quinta-feira, 31 Dezembro, 2009
Maria Manuela Aguiar disse...
O Pai e eu chegamos a ser "colegas de curso" no Instituto de Estudos Sociais.
Começava ele, aos 46 anos, a série de graus académicos que conseguiu e estava eu no 4º ano de direito, em Coimbra. Decidi fazer sociologia "a latere", como voluntária, em Lisboa. Tinha equivalências nas cadeiras jurídicas e ainda concluí, com sucesso, dois ou três cadeiras. Mas desisti, porque o 4º ano era demasiado absorvente e dei-lhe toda a prioridade. O Pai continuou, vitoriosamente!
Quando, depois de acabado Direito, me ofereceram emprego em Lisboa (por sinal, através do Secretário- Geral do Instituto, isto é, através do pai, indirectamente), ele presseguia os estudos. Depois do bacharelato em administração de empresas, a licenciatura em sociologia...
Muitos dos meus colegas do Centro de Estudos ou amigos foram seus professores. Um deles era o marido da Branca, o doutor Pinto Coelho do Amaral. Especialista de Fiscal, muito inteligente e com um sentido de humor mordaz. Quando, a certa altura, me encontrou no átrio do "Instituto", à procura de indicação sobre as notas de um exame do Pai, saíu-se com esta tirada:
Então agora está convertida em "encarregada de educação" do seu Pai?

Sexta-feira, 01 Janeiro, 2010
Maria Manuela Aguiar disse...
Um dos maiores insucessos foi provocado por um mau conselho que o Manel e eu lhe demos.
O Manel, para aguentar a época de exames, depois de um anos de boémia coimbrã tomava doses e doses de anfetaminas. Coisa muito vulgar, entre estudantes desse tempo. Comprava-se nas farmácias, nuns pequenos tubos verdes. Era, de qualquer modo, uma espécie de "doping"... O Manel resistiu a altas dosagens, ano após ano.
Até eu experimentei tomar meio comprimido - mínimo dos mínimos! - antes do exame de Finanças, com o Teixeira Ribeiro e fiquei uma super aluna, com a memória potenciada não sei quantas vezes. Até visualizava páginas inteiras da sebenta.
Um milagre prodigioso, incrível!
O pior é que, depois,andei 2 ou 3 dias com imensas dores de cabeça. Não fiquei cliente. Usei só em mais 1 ou 2 exames, daqueles em que me sentia particularmente inferiorizada - já não me lembro quais. Não aguentava, enquanto o Manel e muitos outros, sim, consumiam tubos e tubos das minúsculas mas mortíferas pílulas, que só não resolviam o problema das matérias que os cábulas não tinham mesmo estudado, de todo.
Entusiasmado com os relatos de tais performances, resolve o pai experimentar e remédio. O Manel providencia, ele engole uma única pílula e lá vai para a sala de aula.
Um desastre!
Não conseguia sequer ler as perguntas. Vía as linhas todas a fugir, e em duplicado. Tentava fechar um olho e olhar só com o outro. Continuava a ver linhas a dobrar. Desistiu, ao fim de algum tempo e nunca mais repetiu a dose!
Nunca tínhamos tido notícia de semelhante reacção entre a população estudantil de Coimbra. Seria uma questão de idade, que era o dobro da nossa?

Sexta-feira, 01 Janeiro, 2010
Maria Manuela Aguiar disse...
O Pai ía muitas vezes a aulas intensivas de fim de semana, destinadas aos alunos voluntários do Porto, que eram dezenas. Por vezes de carro. Noutras, enchiam uma camionete e vinham em excursão com as mulheres, caso da Mãe e outras. Davam-se todos muito bem, entre eles, quase todos trintões ou quarentões, e com os jovens de Lisboa. Foram tempos felizes, embora muito trabalhosos, porque o cs cursos eram "puxados", nomeadamente o último, no ISCTE.
Teve excelentes e exigentes mestres. O seu preferido era o Vasco Pulido Valente. Dava aulas brilhantíssimas, segundo ele. Fascinante! Imagino - ainda agora gosto de o ouvir, ou ler.
O Pai foi um precursor - agora o Tó, o Carlos e o João Miguel, também já na casa dos 40, seguem o exemplo, com a suas licenciaturas tiradas com a mesma tenacidade.

Sexta-feira, 01 Janeiro, 2010
Maria Manuela Aguiar disse...
Logo depois do 25 de Abril de 74, uma vez, o Pai foi de carro, sozinho e regressou comigo. Fomos prevenidos de que havia tumultos em Leiria e que a estrada estava cortada.
Muni-me de um mapa, a estudar alternativas. Por exemplo, por Tomar, pelo interior. Era um desvio incómodo...
De comum acordo, resolvemos prosseguir, até vermos a estrada efectivamente bloqueada. Nessa altura, esperavamos poder dar meia volta e procurar, pelo litoral ou interior, a alternativa "B" ou "C", porque ainda não havia auto-estradas, das quais não a saída quase nunca é fácil.
Fomos andando, andando, em perfeita normalidade. Assim chegámos a Leiria, atravessamos a cidade, calma e tranquila, rumámos a norte e até Espinho viemos sem o menor problema de trânsito, ou outro. Nada de especial!
Mistério...
Soubemos, depois, pela tv, que os graves incidentes tiveram fim imediato logo que a sede do PCP, que estava situada, com a cidade inteira em pé de guerra, foi incendiada.
Atingido o objectivo, foram todos para casa - incluindo os foragidos comunistas, suponho. Não houve mortos nem feridos, mas a sede do PC leiriense desapareceu do mapa.
Não foi um caso isolado, mas foi paradigmático...
Que viagem, à aventura, sem nada de aventuroso acontecer!

Sexta-feira, 01 Janeiro, 2010
Maria Manuela Aguiar disse...
Quando o Pai começou a perder muito cabelo, decidiu cortá-lo rente, o que lhe dava um ar definitivamente militar.
Quando o Manel estava na tropa, como miliciano, e o Pai entrava no quartel, para o ir buscar, ou quando ía com ele para meter gasolina no carro, faziam-lhe sempre a continência!
Por acaso, ele nunca fez sequer o serviço militar, mas que tinha ar de coronel, como o seu amigo de infância António Júlio (que chegou a essa patente e foi governador militar de Lisboa), lá isso tinha!
Dava um belo militar de alta patente - num filme ou telenovela...

Sexta-feira, 01 Janeiro, 2010
Maria Manuela Aguiar disse...
Em boa verdade, entendia-me muito melhor com o Pai na idade adulta do que na adolescência.
Ele era, nesses tempos mais recuados, dado a temores e a falta de suficiente confiança das filhas - ou super protector, ou o que queiram... Nós achavamos que ele não tinha motivos para isso!
Um dos momentos em que ficou furioso comigo, foi quando eu, nas férias em Espinho, em 58, interpelei uma colega que considerava responsável pela perseguição que uma facção das freiras me moveu. Intrigas, ditos, informações "pidescas" passavam por ela - a única a quem eu tinha contado, mais ou menos de propósito, determinados factos, testando os canais de circulação de informação interna... Isso mesmo lhe disse, em forma silogística, terminando por lhe dar uma bofetada, que saíu com força excessiva e lhe causou um hematoma... Queixou-se ao pai, que veio pedir satisfações ao meu pai.
Felizmente, com a conivência da mãe, já eu estava "refugiada" em casa dos Pachecos em Miramar e assim escapei às reprimendas.
Por essa altura, o Pai encontrou no Porto o Padre Leão e contou-lhe o sucedido, com o seu ar compungido.
O Padre Leão, que ainda não estava a par da notícia, mas que sabia bem demais como as coisas funcionavam com os tais "clãs" pouco respeitáveis de respeitáveis Doroteias, para surpresa do meu pai, com uma grande gargalhada e disse-lhe:

"Fez ela muito bem! Em vez de uma bofetada devia ter dado duas!"

Depois desta conversa o Pai nem se atreveu a falar-me do caso.
Ou seja, nunca chegou a abordá-lo comigo...

Sexta-feira, 01 Janeiro, 2010
Maria Manuela Aguiar disse...
Sempre considerei o Padre Leão um Homem extraordinário - culto, discreto, compreensivo, pouco complacente com os excessos e irrealismos de algumas freiras ( a quem não dava confiança e impunha respeito...), rápido e interessante nas homilias e nas missas, mesmo nas missas solenes, que duravam metade do tempo habitual.
Um fora de série!
Foi muito nosso amigo - conselheiro tanto nos aspectos religiosos e morais, como em questões de administração de bens.
A missa de 7º dia que celebrou na capelinha de Espinho foi a única realmente dedicada ao Pai, no sentido de lhe render homenagem, de pôr em destaque a sua personalidade.
Fez-lhe o elogio em dois minutos e disse o essencial: falou, por exemplo, de um homem com grandes qualidades de caracter e de inteligência, que nunca quis sobressair e que, por isso, ficou àquem do que estaria ao seu alcance...

Sexta-feira, 01 Janeiro, 2010
Maria Manuela Aguiar disse...
Curioso que o Pai quisesse tão pouco para si próprio, mas sonhasse grandes feitos para mim.
Hélas! De alguma forma, saí mais ao lado dele do que ao dos competitivos Aguiares. Parece-me que sim...
Acompanhou, com entusiasmo, a minha incipiente incursão na política, que nunca foi longe, como ele gostaria que tivesse ido.
Achava que deveria ser mais prudente e cautelosa, mais hábil a tomar partido e a expressar opiniões contra-corrente. Era, porém, o preço de uma carreira política que eu não quis pagar, de todo...
Bem, o Pai seguia, a par e passo, os acontecimentos. Pelo visto, eu era tema frequente de conversa com os seus amigos do café (muito menos, certamente do que teria sido com Avô Manuel, fosse ele vivo nessa década de ouro de 80...).
Um dia, no Palácio, um dos amigos dizia-lhe que tinha lido o meu discurso feito na véspera em S.Paulo.
O Pai respondia que eu não estava fora, que estava em casa.
O amigo insistia: Não! Está em S Paulo. Vem no jornal.
E o Pai:
Que idéia! Estive há minutos com ela em casa!
E assim continuaram... O amigo acreditava mais no jornal do que no seu testemunho presencial.
A fonte do equívoco é fácil de explicar: eu enviei uma mensagem, para a inauguração de um busto de Sá Carneiro, que foi, a meu convite, descerrada por Cavaco Silva. Ele, sim, presente! Alguém foi mandatado para ler as minhas palavras, e os jornais reproduziram-nas, como se eu lá estivesse também...
O meu Pai contava a história com muita piada.

Sexta-feira, 01 Janeiro, 2010
Maria Manuela Aguiar disse...
Antes da política foi o futebol que mais nos uniu.
Com ele fui sócia do FCP desde 1952. Estive na inauguração do Estádio das Antas e ía quinzenalmente aos jogos - na bancada central. Recordo como um dia fantástico aquele em que o Porto de Yustrich venceu o 1º campeonato nacional da minha vida.
Foi dramático. O FCP necessitava de ganhar e a Académica fez-nos "a vida negra" - a táctica do autocarro em frente da baliza...
Os ânimos estavam exaltados, nervos à flor da pele. O Pai, coisa rara, "pegou-se" com o vizinho do lado. Quase chegaram a "vias de facto".
Depois, finalmente, um penalty claro sobre o Hernani. Fechei os olhos, sem coragem de ver o lance decisivo. Abri-os para contemplar o estádio em delírio e o Pai abraçado ao referido vizinho do lado, tão portista quanto ele.
Vencemos por 3-0, se a memória me não atraiçoa.

Sexta-feira, 01 Janeiro, 2010
Maria Manuela Aguiar disse...
Estive hoje em casa do Mário, na festa dos 14 anos da Francisca.
Foi muito divertido, sobretudo o filme da TV NABO, realizado pela Lisa, com uma espectacular participação da novíssima geração.
Francisca, nascida em 1996, o último ano do pai. Ainda a conheceu, foi ao baptizado, esteve com ela ao colo naquele seu último dia de vida - um dia de Páscoa.
Mas não há imagens, apenas de fugida, a manga do casaco e a voz.
A derradeira foto acabou por ser a que tirei de véspera, no "Nosso Café".
Como ele, a Meira, o Mário teriam adorado a festa deste 1º de Janeiro!

Sexta-feira, 01 Janeiro, 2010
Maria Manuela Aguiar disse...
Nesse sábado de Aleluia, de tarde, esteve de visita a Nónó com o Tózinho. A Tété nasceria uma semana depois.
Veio a conduzir, só com o menino e obviamente "muito grávida". À despedida, ele estava preocupadíssimo, com receio que acontecesse algum incidente, e ela sozinha num JEEP enorme...

Sexta-feira, 01 Janeiro, 2010
Maria Manuela Aguiar disse...
Lembro-me que nas vésperas ele andava a ler um dos policiais que eu lhe tinha oferecido - numa tradução brasileira. De princípio estranhou um pouco, mas garantiu-me que já estava habituado...
Íamos a caminho do café e o pai mostrou-me um pequeno buraco que, aparentemente, cinza de cigarro tinha aberto na sua bela gabardina.
Não faz mal- -respondi - é num sítio que não se vê...

Sexta-feira, 01 Janeiro, 2010
Maria Manuela Aguiar disse...
Amendoins, melancia ou grão de bico.
Eis o que sempre nos recorda o Pai.
Coisas de que gostava muito.

Sexta-feira, 01 Janeiro, 2010
Maria Manuela Aguiar disse...
O pai começou a sua vida profissional na Câmara de Gaia, nos serviços municipalizados de água - suponho!
Depois foi trabalhar num negócio do Avô Manuel, que era o sócio capitalista de uma empresa de venda de tecidos, onde um sócio gerente o iria vigarizar, alta e irremediavelmente. Situada na Praça Carlos Alberto, no Porto. Nada a dizer quanto à situação geográfica.
O pai era uma espécie de co-gerente, mas jovem e sem experiência...
Não percebeu as jogadas que o outro ia fazendo. Acabou em falência essa traumatizante aventura. Nem pai nem filho tornaram a envolver-se em negócios...
Depois de um hiato no desemprego, ou em empregos precários, o pai arranjou lugar razoavelmente promissor no Grémio dos Ourives, através do presidente, que era amigo do Tio Manuel: o Sr. Gabriel Ferreira Marques. Deve ser a esta situação que se refere o Tio Tónio, numa carta escrita em Castro Daire, em 3 de Novembro de 1951:
"Estimamos saber que o João já está colocado e oxalá seja para melhorar de vencimento e condições".
Foi pelo menos um emprego estável. onde foi sempre apreciado e onde, por isso, chegou ao topo. A secretário-geral, quando se reformou o ocupante do cargo, de quem já era adjunto - o Dr. Lobo).

Quinta-feira, 15 Abril, 2010
Maria Manuela Aguiar disse...
Da revista do Clube de Avintes, pediram-me, há uns anos, um artigo para a revista "Caminho Novo" - sobre o meu pai e o seu livro póstuma de poemas.
E eu fiz este pequeno apontamento.
"João Moreira "Íntimo"
O autor e o livro".
Passo a reproduzir nos comentários seguintes.

Terça-feira, 27 Abril, 2010
Maria Manuela Aguiar disse...
Na imagem que de si deu, quase até aos 80 anos, meu Pai era um homem extremamente discreto, mas muito cordial - um grande conversador em reuniões de família ou nas tertúlias de café, bem informado, bem humorado, sempre sóbrio nas palavras, nos gestos, nos seus fatos escuros de "tweed".
Ninguém diria que esse avintense tranquilo fora um poeta romântico, que transmutava em sonetos os sonhos, as alegrias, as mágoas da juventude...
A veia poética era, com certeza, herança do lado paterno, que é o originário desta nossa terra, numa cadeia de gerações a perder de vista.
A Avó Francisca ganhara aura de personagem lendária como contadora de histórias antigas e na arte de "cantar ao desafio", em que era mestra. O Pai, Manuel Dias Moreira, tocava d ouvido qualquer música clássica ou popular, e foi actor amador do "Grupo Mérito Avintense".
Ao filho, para seguir em rigor essa tradição, faltava-lhe a atracção pelo palco, que nunca sentiu. Mas versejador repentista foi-o, desde a adolescência. Os colegas do Colégio dos Carvalhos, ou do Liceu Rodrigues de Freitas, que lhe sobrevivem, ainda lembrarão os sonetos que compunha, de um ápice, a pedido, à mesa do café. Ou quadras jocosas que, do mesmo jeito, completava num minuto!
Porém, como aconteceu com os da Avó Francisca, quase todos os seus versos se perderam.
Restam os que dedicou a minha Mãe, quando se enamoraram,no início da década de 40.

Terça-feira, 27 Abril, 2010
Maria Manuela Aguiar disse...
E foi com base nesse pequeno acervo, que, depois da sua morte,organizámos uma publicação, com o título de um dos seus poemas: "Íntimo".
É uma recordação para amigos e, por isso, sendo Avintes a sua terra querida, a partilhamos no "Caminho Novo".
Para percorrer algumas páginas do livro, seleccionei estrofes de sonetos, todos eles escritos em Avintes, na velha casa da Rua 5 de Outubro.

Terça-feira, 27 Abril, 2010
Maria Manuela Aguiar disse...
Vou imaginá-lo no seu quarto, no primeiro andar, de onde se lhe oferecia, emoldurado na janela de guilhotina,um quadro raro: sobre a cascata de telhados vermelhos, em fundo, as colinas do vale do Douro e as águas do rio, deslizando em curvas largas para o Porto, para o mar já próximo.
E escolho, sobretudo, as estrofes em que os encantos desse cenário - a todas as horas e em todas as estações - terá sido parte da obra de criação, como se o "espaço da natureza" nela se convertesse em "espaço de alma", de pressentimentos e desejos.
Assim:

"Quantas vezes, longamente,o olhar perdido
Em longínquas visões iluminadas, Eu pergunto às formas apagadas
Das sombras, pela noite, o seu sentido.

Quantas vezes me quedei de mãos tombadas,
Olhando o mar sereno e incompreendido,
Ou dando ao vento a prece de um gemido
Que o vento me levava p'las quebradas."

Ou, no soneto intitulado "Saudade":

"Um dia, ao fim da tarde, quando o luar
Vier morar nas sombras do meu peito,
Hei-de tomar-te as mãos, com muito geito,
E levar-te comigo, a ver o mar..."

A mesma sintonia entre os seres e o seu mundo se adivinha no instante auspicioso e mágico em que se cruzam os olhares dos namorados:

"Os teus olhos nos meus, o meu olhar
No teu olhar que, doce, se insinua,
Como um clarão brevíssimo de lua
No escuro de uma noite sem luar."

É que na sua poesia os olhos são sempre "o espelho da alma", onde o amor se reconhece e firma, onde os pactos de uma futura unção se celebram, já, onde o diálogo prescinde da palavra, onde se reflecte uma harmonia cósmica e divina:

"Até que Deus - o seu Amor - Maria
Me mostrou em teus olhos, certo dia,
Os olhos que eu, de sempre, andei buscando

E eu fui levar a Deus a minha prece,
P'ra que os fizesse meus, p'ra que mos desse...
- Um dia, eu sei lá onde, eu sei lá quando..."

(De "Onde? Quando?")

"Põe teu olhar no meu. Queda-te presa
De meus olhos que vivem para te amar!
A mágoa quer passar. Deixa-a passar,
E a dor também, o mal, a incerteza..."

(De "Anseio")

Terça-feira, 27 Abril, 2010
Maria Manuela Aguiar disse...
"Tudo entristece, as dormidas
Estrelas nos véus sedosos,
A esfera negra dos céus,

Só porque, de mãos unidas
- Olhos nos olhos, saudosos -
Nós nos dissemos Adeus!"

De "O Adeus")

"Então no meu olhar há-de nascer
De novo a luz, para melhor te ver
- Minha linda Senhora das Saudades!

(De "Anseio")

"Consente que te fite, assim, em prece,
Na adoração d'uma alma que te quer,
Que enquanto os olhos meus te estão a ver
A minha dor, no peito, se adormece."

(De "Prece")

"Ontem pus nos teus olhos, longamente,
Os meus olhos cansados. Que infinitas
Transformações - que não sei que diferente
Achei o doce olhar com que me fitas...

("Infinitas Transformações")

Terça-feira, 27 Abril, 2010
Maria Manuela Aguiar disse...
Os seus versos parecem, assim, seguir, simplesmente, o curso de um olhar ou prender, fazer seus, por um momento, os ritmos e as formas contrastantes da natureza, em que, espontâneamente, se revê ou define:

"Reza, meu bem! E eu quedo-me a cismar
Na tua prece, serena como um lago,
No meu amor, revolto como o mar!"

(De "A prece")

"Vida, clarão que passa, sombra errante,
Que sempre se procura e, num instante,
Nos passa, pela mão, despercebida

Caminho que se segue e não se sabe
Onde conduz - sonho que, às vezes, cabe
Num sopro de ilusão da própria vida."

E, para terminar esta leitura selectiva, e tão subjectiva, de uma simples história de amor, contada em verso, darei a palavra ao seu Autor, quando confidencia:

"Porém, se não há frase, por melhor,
Capaz de definir-te o meu amor
É que ele é grande, é que não cabe nela!"


Dezembro 1999

Maria Manuela Aguiar

Terça-feira, 27 Abril, 2010
Maria Manuela Aguiar disse...
Um problema técnico: Os versos mais longos, não cabem numa só linha - confundindo um pouco o leitor...

Terça-feira, 27 Abril, 2010
Maria Manuela Aguiar disse...
Possivelmente hoje faria outra escolha - e outros comentários.
Tarefa de que poderei encarregar-me quando deixar este cargo e encargo super absorvente do pelouro numa Câmara Municipal.

Terça-feira, 27 Abril, 2010
Maria Manuela Aguiar disse...
Ultimamente tem sido a correspondência dos anos 40, que me tem ocupado o tempo livre, um serão por outro. A que a Mãe conservou dos irmãos.
Depois, tenho de procurar a do Pai!
Dos tempos de namoro, não encontrei nada - para além
dos versos.
Creio que há, na fase seguinte de recém casados, alguns bilhetinhos, mandados a meio do dia - pelo pai à mãe!
Há que os procurar!

Terça-feira, 27 Abril, 2010
Maria Manuela Aguiar disse...
Quando eu estava em Coimbra, em Lisboa, em Paris - isto é, longe de casa - recebia, em abundância, postais e cartas. E, na esteira da mãe, guardei muitas delas. Estão, agora, numa pequena arca de madeira, num corredor, nesta minha casa de Espinho.
São precisas horas, só para separar o material por autores!!!