sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

P27 b - O TIO DAVID


MENSAGEM DA TIA LENA

"O MEU DAVID ERA UM HOMEM TRABALHADOR, INDEPENDENTE, DETERMINADO E DETESTAVA PERDER.
ESTIVEMOS CASADOS 48 ANOS E FOMOS MUITO FELIZES. SÓ A MORTE DELE NOS SEPAROU.
FIQUEI COM A SAUDADE E MUITAS RECORDAÇÕES. UMAS TRISTES, DEVIDO A DOENÇAS, OUTRAS ALEGRES, QUE AJUDAM A VIVER.
HOJE, DIA 30 DE JANEIRO DE 2009, FARIA 98 ANOS.



O TIO DAVID DE ALMEIDA RIBEIRO
VIVA O FCP!

Nasceu no Porto, em 30 de Janeiro de 1911.
A véspera de uma data bem adequada ao seu temperamento aguerrido de homem do Norte, o mais patriota e bairrista, que imaginar se possa, sempre pronto a defender as suas causas, na primeira linha, com convicção e tenacidade. Um portuense com raízes no Alto Douro. O pai era de São Cipriano, perto de Resende. Sindicalista, dos mais arrojados. O filho seguia-lhe as pisadas, embora noutro quadrante político. Era de direita, para além de ser um homem às direitas!Nesse aspecto, como se imagina, fazia coro com o Tio Serafim. Do outro lado, o meu Pai, os Tios Tónio e Zé, e, bastante à esquerda destes "democratas moderados", o radical Tio Manuel. Discutiam muito, mas davam-se todos bem - até os Tios Manuel e Serafim...
O Tio David entrou para a nossa família, pelo casamento com a Tia Lena. E tornou-se, de imediato, o mais popular e fascinante dos tios.Para mim e para a Lecas, sem dúvida!... Era o que mais convivia connosco, e o que mais gostava de brincar com crianças. No dia em que o conheci, encantou-me com os seus truque de magia, fazendo aparecer e desaparecer moedas e lenços.Tinha uma enorme habilidade e reflexos rápidos - ao volante, o melhor dos condutores. Na estrada, com o seu "Citroen" (daquele mítico modelo que, popularmente ficou conhecido como "arrastadeira", que, a meu ver, foi dos mais equilibrados que jamais se construíram, do ponto de vista estético e funcional), ultrapassava tudo e todos, passando tangentes a carros e a transeuntes, com a mais incrível das perícias. Eu delirava! Queria ir sempre no carro dele. O meu Pai era um condutor da escola oposta, lento e cauteloso demais...
O Porto, a nossa cidade, para ele não tinha igual! E o FCP era o maior, mesmo quando não o deixavam, por tramas e conluios lisboetas, ser o campeão... Portistas, como o tio David, há poucos! Habituei-me a ouvir e acompanhar os seus argumentos. Podia discordar dele em coisas "menores", como a política, mas nunca em matéria de futebol! Os mais "fanáticos" éramos ele e eu, muito embora, com a excepção do Tio Manuel (da Académica, claro...) todos fossemos do mesmo clube.Jogou futebol, nos juniores do FCP, e bem, com certeza, porque tinha estampa de atleta, muita garra e era dotado para tudo o que quisesse empreender. Muitas vezes nos contava histórias desse tempo - das resistências da família que tinha de contornar, das arbitragens malvadas, das jogadas propriamente ditas, dos arruaceiros da assistência... Era um óptimo contador de histórias, fosse destes casos engraçados dos estádios, fosse das velhas lutas do Pai, que admirava imenso, fosse da espantosa Avó, que viveu, esperta e lúcida, até aos 108 anos!
Outro desporto da sua predilecção era o bilhar. Imbatível nos torneios de café! Uma vez, organizaram um torneio internacional, no Café Embaixador. Ganhou, naturalmente. O prémio foi um taco, com o seu nome inscrito.
Continuou a praticar, diariamente, até adoecer, aos setenta e sete anos.
Mesmo depois da doença, que o debilitou muito, tinha períodos de melhoria, e voltava a ser o centro dos debates familiares, com o seu gosto por marcar posições, sobretudo em matéria de política ou de futebol, e de combater por elas, com um espírito sempre jovem e aguerrido. No futebol estávamos invariavelmente de acordo (nos anos 70, fui a sua companhia para os jogos dos juniores, que eram pouco "stressantes" e gloriosos, porque o FCP ganhava tudo!). Em questões políticas, as divergências aconteciam, como regra... Nos últimos anos, defendia acerrimamente o Cavaco Silva, e, através da adesão ao cavaquismo, o próprio PSD. O que quer dizer que acabamos por ser do mesmo partido, embora não da mesma ala no partido - coisa excelente, porque, assim, podíamos continuar intermináveis polémicas, a animar as tardes, em casa do Mário.
O Tio David foi alguém que se fez, com os bons princípios da família, mas à sua custa. Impôs-se pelas qualidades de empreendimento, e de trabalho, e de honestidade, sem dúvida. E pela vivacidade, por essa combatividade, de que falei, servida pela inteligência e pelo seu feitio expansivo. Como já disse, mas não é demais repetir, o centro das atenções em qualquer reunião ou convívio. Sabia fazer amigos e conserva-los, tanto nos negócios, como no campo social.
Quando o conhecemos, era o dono de uma empresa de douragem de metais, de pequena dimensão, mas, graças a ele, ao seu senso de gestão, à sua rede de contactos e clientes fiéis, muito rentável.
Funcionava na parte inferior da casa onde vivia, na Rua Firmeza. Uma casa antiga e simpática, com um quintal atrás, onde havia uma enorme nogueira, e, sempre, muitos gatos visitantes, que ali encontravam abrigo, peixinho para comer e água para beber (quase uma sucursal da sociedade protectora dos animais).
A Tia Lena e o Tio David moraram aí, sempre, durante 48 anos.
Tiveram uma longa vida em comum, harmoniosa, feliz e próspera. Um casal exemplar, que toda a família admirava, e que estava no centro dinâmico da convivialidade, no "Circulo Aguiar". Cada um era carismático, de uma maneira muito própria, com feitiosdiferentes e complementares - a Tia Lena sereníssima, a contrastar com a exuberância do Tio David! Entendiam-se e apreciavam-se assim, exactamente como eram. E partilhavam, alegremente, o gosto pelas idas ao cinema, às corridas de automóveis, aos bons restaurantes, ás pistas de dança, à praia, aos recantos bonitos do Minho, de Trás-os-Montes, da Galiza ou do País Basco e de outras paisagens das Espanhas...E partilhavam, igualmente, desde os primeiros tempos de casados, a amizade dos sobrinhos - não só dos sobrinhos, mas dos cunhados também, e, com o correr dos anos, das novas e novíssimas gerações - e a paixão pelos animais. Os cães o Bobby, a Fusca, os gatinhos, o Pinóquio, o Bolinhas (várias gerações se seguiram, com os mesmos nomes), que habitavam a casa da Rua Firmeza, nº 115, e faziam as nossas delícias.
O Tio David foi, evidentemente adepto de carros bons e confortáveis. O famoso "Citroen ", cor de cinza, que privilegiou durante os anos da minha infância, e que, nas mãos dele, voava! Depois, houve vários outros. Um Taunus, um Ford Capri...
A viagem inaugural era a Fátima, e nós acompanhávamos, fazendo a festa pelo caminho! Estávamos juntos, os Tios, os meus Pais, a Lecas e eu, e, ás vezes, outros tios e primos, todos os fins de semanas. Quando passámos a morar perto, na Rua Latino Coelho, as visitas recíprocas eram ainda mais frequentes, com os Razzini incluídos. Para a Lecas, para mim, eram uns segundos pais.
Sobre este Tio inesquecível, não faltam histórias, e algumas bem invulgares, como a sua própria e fascinante personalidade. Vamos contá-las, a partir deste dia 30.





Manela

Comentários:
Maria Manuela Aguiar disse...
Estive, há pouco, a conversar com a Tia Lena, e tenho a matéria bem lembrada. Vou contar como os Tios se conheceram:
Em Gondomar, por altura das festas da Nª Sª do Rosário. Não no fim de semana de grande ajuntamento popular, mas na 5ª feira seguinte, nesses tempos, a ocasião reservada ao baile da Cruz Branca - uma organização de solidariedade, da qual eram dirigentes o Tio Serafim, o Tio Manuel, os primos Lobão (um deles, recorda a Tia Lena, levava a coisa tão a sério, que até mandou fazer uma farda vistosa!). A Cruz Branca tinha uma única ambulância - pela forma como a Tia fala, um velho calhambeque... - e a principal fonte de financiamento era essa festa beneficente...
Em princípio, a Tia Lena não deveria ter ido. A Avó não deixava as filhas frequentar "frívolas"reuniões sociais... Mas a Delfina, vizinha de uma vivenda próxima, convidou-a a assistir, com ela e com os pais. A Avó disse "não". A mãe da Fina, que falava sem papas na língua, foi ter com a Senhora D. Maria Aguiar e protestou, por ela não lhe confiar a filha, para uma simples participação no respeitável convívio. E a Avó, embaraçada, não ousou dizer "não", de novo.
O Tio David também não seria alguém ali presente, em circunstâncias normais. Nunca lá tinha ido, nem pensava ir. Era um portuense, sem relações especiais com Gondomar. Foi desafiado a acompanhar um amigo, que se chamava Ivo Araújo (um dos donos da empresa de camionagem Freitas e Araújo), que, ocasionalmente, namorava uma menina de S. Cosme. O amigo David era um grande dançarino e, por isso, não foi difícil convencê-lo a ir a um baile.
Aí aconteceu o encontro que estava destinado a durar toda a vida!

David olhou para aquela menina tão linda, com o seu ar reservado, sentada perto da amiga e do casal e perguntou à namorada do Ivo se a conhecia. Conhecia. Quem é que não a conhecia em S. Cosme, Gondomar? Conhecia e aceitou o seu pedido para o apresentar, como se usava, na época. Dançaram, dançaram, até ao fim da festa!...

O namoro durou 7 meses, mas, durante esse tempo, não se viram mais de 5 ou 6 vezes!
Parece impossível, mas é verdade - os tempos, os usos e costumes eram radicalmente diferentes dos de agora. Para as mulheres, as limitações eram semelhantes às da Idade Média. Seguramente mais próximas do quadro desses recuados séculos do que do século que haveria de seguir-se.
Só depois do 25 de Abril se deu o salto em frente, se desenhou - a ver na tv telenovelas brasileiras e outrs coisas inéditas, de outos mundos - a mudança de mentalidades e de atitudes. E não foi logo, logo, mas foi rápida. Quando começou, tornou-se imparável...
No tempo da juventude da Tia Lena, o Tio David vinha de eléctrico, saía na paragem que ficava mesmo em frente da Vila Maria, e da casa da Tia Hermínia, mas, na maioria dessas visitas a Gondomar, nem conseguia vê-la, de longe! Andava para cima e para baixo, à espera, poucas vezes recompensada. A única forma de manterem contacto era por correspondência. Diária! O Tio David tinha um mensageiro, que era o sobrinho Aires, então com 14 anos. Tomava o eléctrico, deixava a carta do Tio David, levava a da Tia Lena e seguia no mesmo transporte (que dali ia ao Souto, parava uns minutos e retomava viagem para o Porto (Bolhão).
A Tia Lena tinha 20 anos. A Avó não aceitava o namoro.
Era assim mesmo: quando gostava dos noivos - se eram muito religiosos, de famílias conhecidas, caso do Tio Serafim e do meu Pai - até incentivava. Se não, era "não"! Opôs -se ao casamento da Tia Lola com o Tio Eduardo, apesar dele ser de ilustres famílias gondomarenses - devia, porém, ser pouco pio, pelos padrões da Avó...
O Tio David não era da terra e não era grande frequentador de igrejas e sacristias, como os dois cunhados bem amados pela futura sogra - muito embora fosse um bom cristão. Deparou com uma barreira intransponível. Assim, restava à Tia Lena esperar o dia em que atingisse a maioridade.
Fez 21 anos. Preparou a mala. Partiu. Casou na Igreja de Santo Ildefonso, no Porto. E a Avó não tardou a aceitar o genro. Esta filha escolheu quem quis e escolheu muito bem (e quanto a este Tio, mutatis mutandis!). Acho que a "Léninha", como o Tio lhe chamava, foi, de todos os irmãos, (o) a mais obviamente feliz na vida de casada. Não digo que alguns dos outros não o tenham sido, também. Mas não tanto!

quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

W64 - Estado de graça da nossa benjamim!!!!



Kika está grávida!!! E o António também.
Soubemos ontem à noite.
Terá sido da brincadeira da noite da passagem de ano?
Como diz a Mamã, mais vale um a mais do que a menos! Palavras sábias
Muitos parabéns aos papás.
Muitas, muitas felicidades.

Beijinhos da Nó

P.S.: Se necessitarem de uma "jovem" avó... disponham. Ah, Ah, Ah





DA PRIMEIRA VEZ, COM A BEATRIZ, FOI ASSIM:
































































































VEJAMOS, NO SÉCULO PASSADO, A JOVEM MÃE, ENQUANTO FILHA


















quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

W63 - MARIA ALEXANDRA AGUIAR DA FONSECA

O TALENTO E O "CHARME"

Maria Alexandra Aguiar da Fonseca, nasceu em Gondomar, na Vila Maria, em 28 de Janeiro de 1948.
Esse dia está, de uma forma muito especial, gravado na minha memória. Passei horas, com o Nestó e a Madalena, a olhar os céus, através do vitral gigante, que marcava o patamar de divisão entre o primeiro e o segundo piso da casa da Avó, e que oferecia a mais ampla das vistas para detectar a chegada da cegonha. A cegonha, segundo nos disseram, traria a criancinha pelos ares. A irmã ou irmão do Nestó, a minha prima ou primo. Esperamos, como imaginam, em vão... E eu, a certa altura, já farta da longa espera, resolvi ir fazer visita à Tia Lola, no preciso momento em que nascia a menina! Foi um segundo alvoroço, a acrescer ao principal... Toda a gente (por tal se entendendo, pelo menos, o Tio Manuel, a Tia Clarinha, a minha Mãe e a Avó Maria...) julgou que a terrível e imprevisível criancinha tinha visto o que não era próprio para a sua idade... Engano! Disso não tenho qualquer recordação. Só do facto, bastante suspeito, de me mandarem embora, com tanta pressa e tanta vozearia, tipo "olha a menina!". Fiquei com curiosidade. Saí e esperei apenas uns minutos para voltar aquele palco demovimentações misteriosas e interessantes. Dessa segunda vez, surpreendi o Tio Manuel - que, como acontecera comigo e com a Lecas, fazia o papel de médico parteiro, com eficiência - a bater no bebé, suspenso pelos pés e fiquei indignadíssima! A chorar, perante a aparente barbaridade de um Tio, até aí tão simpático, fui defender a recém nascida, batendo eu no agressor... Um bébé gordinho e muito vermelhusco. Quando recuperou desse transe genesíaco, revelou-se a mais bonita das meninas, com a sua testa muito alta (dizem que denuncia proporcional grau de inteligência e, no caso dela, é rigorosamente verdade), e os seus enormes e expressivos olhos verdes. Este é o "meu" princípio da "sua" história.
Parabéns,

Manela

CV BREVE
Escola primária a peregrinar pelo país, com os pais: Freixeda, Sortelha, Espinho (dois meses) e, de novo, Sortelha. Exame da 4ª classe na Guarda.
Curso da Escola Industrial: Porto (Escola Aurélia de Sousa), Setúbal e, depois, Lisboa (Escola Josefa de Óbidos).
Apesar do direccionamento técnico do curso e dos 19 a matemática, tendia para as letras. Escreveu inspirados poemas desde os 11 anos e até aos 40. Estão compilados pela Docas.

Profissão

Em Novembro de 64, o 1º emprego. Tinha 16 anos. Foi secretária de um milionário, Charles Simoulin, que morava ao lado do rei Humberto de Itália. Queria adopta-la, queria que continuasse a estudar. A Tia Lola não permitiu.
Concorreu depois à CUF. Entre mais de 1000 candidatos, escolheram 3, sem cunhas, através de testes psicotécnicos - um deles a Xana. O ordenado era enorme, tudo corria muito bem até que a mãe decide ir para Luanda, sem lhe deixar alternativa - teve de seguir com ela e perdeu o lugar...
Em Angola, foi secretária do dr. Pinto de Andrade no Instituto da Indústia da Pesca. Por trabalhar com ele, chegou a ser chamada à PIDE...
Estava, de novo, bem integrada e satisfeitíssima, quando a mãe resolveu voltar a Lisboa. Mais um recomeço! De início, à falta de melhor, vendia enciclopédias da Caxton. Logo depois foi secretária do dr. Roger Carp, até que a mãe a faz regressar com ela a Angola. Por algum tempo. Depois, reinserida em Lisboa, sem trabalho, viu o anúncio de um concurso para a Trefilaria. Noutro vasto conjunto de candidatos, foi seleccionada e gozou de mais um sumptuoso estatuto remuneratório. O casamento, ao fim de poucos anos, levou-a para outra cidade - Leiria. Procurou novo emprego - Nissan, Montepio.
Começou, então, um percurso de emigração: França, onde vivia a Docas, por poucos meses. África do Sul, Joanesburgo. Primeira colocação numa agência de viagens, segunda na empresa do comendador Bernardino Faria. Esteve prestes a entrar na redacção do jornal "Século de Juanesburgo", mas desistiu dessa experiência, porque já pensava no retorno à pátria.
Em Lisboa e arredores, nova carreira: secretária ou dama de companhia de milionárias.
Primeiro, por escassos meses, uma excêntrica Mariazinha Braga, de quem poderá contar histórias divertidíssimas, seguidamente uma verdadeira Senhora de quem gostou muito: Dona Eugénia de Mello, com quem esteve 6 anos. Um acidente, uma operação ao ombro, deixou-a "de baixa" durante 18 meses. Foi substituída, é claro. Mas, quando recuperou, o cunhado de Dona Eugénia, José Manuel de Mello, contratou-a para tomar conta da Quinta dos Perdidos, no Alentejo. Outra época aurea! Tinha uma casa linda, gostava do trabalho, do ambiente, dos animais.
Uma mirabolante oferta de emprego de um misterioso milionário francês - com fabuloso vencimento! - convenceu-a a deixar a Quinta dos Perdidos. Em má hora...
Não chegou a concretizar-se!
Solução: emigrar, mais uma vez. Inglaterra, onde a contrataram como governanta e a puseram a lavar pratos, o que, naturalmentem recusou, de imediato. Suiça, onde foi secretária de uma cantora de ópera (casada com um milionário), na altura em que a Ana estava casada com o espanhol Yuste. A separação da Ana e a vinda para Lisboa, logo depois do nascimento da Laura, fá-la perder outra magnífica colocação. A cantora era simpática, apreciava as suas qualidades e pagava bem por tarefas muito agradáveis.
Durante estes 5 anos tem sido, sobretudo, a Avó da Laura. De momento, está apenas à espera da reforma - o que não quer dizer que novas e extraordinárias oportunidades não possam surgir!




























































Publicada por Maria Manuela Aguiar em 15:35

Comentários

Maria Manuela Aguiar disse...
61 anos. Quem diria!Eu, bem mais velha, continuo a lembrar-me, sobretudo, dos tempos da infância Imaginem a menina com 9 meses. Ao colo da Tia Lina, na sala de jantar da Avó. Vem Inês, a terrível, fazer festas ao bebé. Começa devagar, acariciando as duas bochechas. Depois, aperta, mais e mais. E a criancinha, sentindo-se "apertada", levanta uma mão, já relativamente grande e forte, e dá-lhe uma sonora bofetada!

... A menina cresceu rapidamente. Aos 10 tinha quase a altura que tem hoje (passe o ligeiro exagero). E era toda despachada. Sabia o que queria. Por essa altura, um dia, veio comigo para casa dos meus Avós, em Avintes, e não havia "menu" que lhe agradasse - muito menos os bifes com batatas fritas, que, ali, eram a receita-chapa, quando a Lecas e eu tínhamos aquela idade . Estava eu muito preocupada, quando ela viu batatas cozidas - um "must" na dieta do meu Avô Manuel - e disse que era aquilo que lhe apetecia.Reguei as batatinhas, abundantemente, com azeite, e a Xana, para nossa tranquilidade e satisfação, repetiu várias vezes. Só depois vim a saber que esse era o seu prato favorito! Simplesmente batatas. A navegar em azeite!

Para quem não aprecia, particularmente, os prazeres da boa mesa - como é o meu caso - parecerá estranho que continue a recordar histórias ligadas á gastronomia.Mas as histórias são, já o povo o diz, como as cerejas. Interligam-se. Esta passa-se uns 10 anos mais tarde. A Xana estava de férias, connosco, em Espinho e íamos almoçar à Tia Lena, no meu 1º carro, que era um "Viva", de cor clara e assentos azuis.Resolvemos levar, para oferecer aos Tios, uma grande quantidade de papos de anjo, com óptimo aspecto. (O Tio David era grande adepto de doçaria, mas a Tia Lena controlava as suas dietas, com muito cuidado, embora, também, com suficientes excepções). Eu conduzia. A Xana levava o embrulho nos joelhos. Uma de nós, por altura da Granja, perguntou à outra: "Os papos de anjo são muitos. Vamos comer um cada uma?"Assim fizemos.Eram, de facto muito frescos, recém chegados de Aveiro.Achamos que podíamos repetir - só mais um... E, logo de seguida, outro, e outro, e outro... Até que a Xana me disse: "Agora já são poucos. É melhor acabarmos com eles". Assim fizemos. E não perdemos o apetite para o excelente almoço da Tia Lena. Juventude!

Como a Xana foi minha madrinha de casamento, a primeira cadelinha que o Manel e eu compramos em conjunto (ainda em lua de mel), uma linda perdigueira portuguesa, recebeu o seu nome. Ela gosta de cães, e por isso, aceitou, de bom grado, a homenagem. Mas, quando a perdigueira cresceu, tornou-se difícil segurá-la dentro de casa, e, com imensa pena, acabámos por dá-la a um caçador.Havia que comprar um sucessor.Fomos a um horto, perto do mercado do Bolhão - que desde que me lembro de aí passar, pela mão da Avó Maria, também vendia cachorrinhos supostamente de raça - e empreendemos a difícil escolha perante uma irrequieta e numerosa ninhada de "fox terriers". Eu queria trazer um magro e ladino, mas a Xana insistia na beleza da cadelinha mais gorda. Aceitei o conselho e regressamos a casa, no tal Vauxall Viva, a Xana de fox ao colo.Mas, a meio caminho, eu reconsiderei, e resolvi ir fazer a troca pelo meu preferido. Quando já estava perto da loja, a Xana grita: "Para! Para, que a cadelinha está a sentir-se mal. Vai vomitar".E, realmente, assim parecia. Parei. O animal tossia, engasgado, com ar muito doente. Condoí-me, fiz a vontade à Xana. Decidi: "Bem. Fica essa!"É incrível, mas é verdade. A "fox" percebeu que estava "salva". Curou-se, instantaneamente, não hesitando em dar claras mostras da sua felicidade recuperada.Era a raínha das cadelas espertas! A minha Mãe considerava-a "gente". (não era 100 por cento pura, mas tinha um formoso e expressivo focinho, preto e bege).Chamava-se Docas. Porém, nessa época, a Docas não era muito dada a cães... E ficava furiosa, se respondia ao chamamento "Docas!" e nós lhe dizíamos: "Estamos a falar com a fox".