sábado, 17 de janeiro de 2009

P30 - SERAFIM CAETANO MARTINS PEREIRA

SIMPATIA LIDERANÇA RASGO EMPRESARIAL


Serafim Caetano Martins Pereira

O Tio Serafim nasceu em S. Cosme, a 18 de Janeiro de 1905.

Casou com a Tia Lina, quando ela tinha apenas 17 anos.A Avó Maria deu o seu consentimento, com grande entusiasmo. O noivo era de uma família conhecida, da terra, e muito católico. Ia à missa todos os dias, acolitava o Padre Crispim. Cantava, com a sua voz fenomenal, no coro da Igreja. Possivelmente, foi altamente recomendado pelo Senhor Abade. Esse factor terá pesado muito...E talvez a Avó se tivesse apercebido da sua inteligência e da capacidade de trabalho e de empreendimento de que haveria de dar prova, pela vida fora. Nessa altura ainda fazia parte da empresa familiar - ourivesaria. Eram considerados suficientemente "ricos". Além disso, era um belo homem, alto, elegante, desenvolto, com ar de atleta, que não sei se foi, realmente (de desporto, sobretudo de futebol, e do FCP, sei que era grande adepto). O casal foi viver para Quintã - para aquela simpática casa antiga, onde, mais tarde, morou a Maria Ernestina (irmã do Tio Eduardo, mulher do Dr. Mário Caetano Pereira, o irmão mais novo do Tio Serafim - assim se cruzam as famílias em terras pequenas...). Acrescento, fica situada mesmo em frente à casa do Mário, o meu primo, filho do Tio Serafim. Mais tarde, arrendou a casa da Cónega, de tão boas memórias. Seria a casa do Tónio e da Xaninha, a partir do fim da década de 60.Os meninos, António José e Mário nasceram ainda a Tia não tinha os 20 anos, ambos na Vila Maria. Quando o Pai,  José Caetano Pereira morreu, a indústria de ourivesaria ficou para o filho mais velho, Joaquim, que era o Pai da Maria do Sameiro. O Tio Serafim começou de novo - e saiu-se muito bem em todos os negócios que desenvolveu. Vários, e simultâneos: ourivesaria, electrodomésticos, gás, posto de gasolina, e outros. Um homem de fortuna, ganha por si próprio, com visão e com grande capacidade de gerir e progredir - sempre, até que a doença o travou. Era, porém, muito mais do que um homem com habilidade para os negócios, e com o simples fito de enriquecer. Tinha também, por exemplo, gosto e vocação para a política (à direita, diga-se - monárquico e salazarista...). Não quis envolver-se directamente, em cargos nacionais ou municipais, como poderia ter feito, mas gozava de grande prestígio e influência. Era um dos dirigentes locais da UN e tinha um círculo enorme de amigos - sociável e comunicativo, bom conversador. Escrevia muito bem (lembro-me sempre do discurso da minha comunhão solene, que redigiu, num ápice, e que eu decorei, com facilidade, porque me agradou). Há muitas fotos dos grandes passeios, que dava, pelo país fora, com os cunhados e sobrinhos do lado Aguiar. Todos, obviamente, muito bem dispostos! Eram inseparáveis, formando filas de carros, uns atrás dos outros, certinhos, como quem está habituado a "navegar" em grupo, por montes e vales. (ainda não consegui fazer a recolha dessa iconografia de dias alegres, mas vou fazer). Eu própria, para além de uma precoce participação nessas excursões, passei, anos depois, muitas tardes magníficas com ele e com o Tónio a ver o FCP vitorioso, no velho estádio das Antas, então ainda novo. Eram os meus companheiros constantes. Não perdíamos um só jogo. O encontro era sempre na Praça Velasquez, onde arrumavam o carro. Daí seguíamos a pé, de cachecol e bandeira (pelo menos eu...), rumo à bancada central. Era um tio, que gostava muito de mim, e de quem eu gostava muito - havia um bom entendimento natural, nas conversas, as mais diversas, apesar de não sermos da mesma linha política (antes pelo contrário...). Mais importante do que isso, pertencíamos à mesma família (era um Tio que não considerávamos só o marido da Tia Lina, mas um Tio por "direito afectivo"!), do mesmo clube, de um círculo estreito de convivência, que ele sabia cultivar, de forma excepcional. Merecedor, por isso, de muita admiração e de muitas saudades.

Manela



























































Comentários:
Maria Antónia disse:
Lembro-me, perfeitamente, do tempo em que a Lininha e o Serafim namoravam, na sala de visitas da casa da minha Mâe, ela tocando piano e ele cantando, com a sua voz lidíssima canções como "O luar do sertão" e "a casinha da colina". A Lólita e eu íamos logo ter com eles. Às vezes, ele cantava com as duas ao colo dele, uma sentada em cada perna.
Sábado, 17 Janeiro, 2009

Maria Antónia disse:
Depois do casamento, quando viviam na casa de Quintã, eu ia passar as tardes com a Lininha, muitas vezes. Fazia-lhe companhia. Ela gostava muito de mim e o Serafim também. Jantava com eles, e, depois, vinham trazer-me, a pé, dando um passeio. Mais tarde, na casa da Cónega, continuei as visitas. Já os meninos eram crescidos, 6, 7 anos, e mais, e eu brincava imenso com eles. Era uma loucura! Um dia, a empurrar o Tónio, num balancé, fi-lo com força demais, e ele voou, aterrou no galinheiro, e partiu a cabeça. Fiquei assustadíssima. Nem deixei a criada ajudar. Peguei, eu mesma, nele e corri para o escritório do Serafim. Quando cheguei, ele acalmou-me logo: "Não te preocupes! Não é nada de grave. Vou levá-lo à Farmácia Gonçalves."Era um homem com serenidade e sangue frio, não entrava em pânico, nunca.
Sábado, 17 Janeiro, 2009

Maria Antónia disse:
Conheci bem os pais do Serafim. A mãe era alta, chamava-se Teresa. O pai, baixinho, sempre sorridente, era um encanto. Ambos muito simpáticos, mas o meu preferido era ele, o Sr. José Caetano Pereira. Tanto o Serafim como os irmãos eram amigos dos meus irmãos. Um deles, o Zé, morreu afogado no rio Douro. Quase todos os anos havia um que tinha essa triste sina... Nós, sempre que o Manuel, o Tónio e o Zé saíam para os passeios no Douro, ficávamos apavoradas e rezávamos até os ver de volta a casa... (outros dos nossos amigos afogados foram o Licínio Pinto e o Zé de Rio Carreiro). O Eduardo fazia parte desse grupo, e até tinha um barco.Outro dos irmãos do Serafim era padre - o Padre Vitorino, com quem uma das irmãs, a Elisa, viveu sempre. Havia, ainda, a Pompeia e a Maria e um rapaz mais novo, o Mário, que se formou em Direito, em Coimbra. Família numerosa, como a minha!
Sábado, 17 Janeiro, 2009

Maria Manuela Aguiar disse...
Fiquei a saber, em conversa com a minha Mãe, que a Mãe do Tio Serafim era Rosas, dos Rosas de Gondomar (apelidos Martins Rosas). Talvez tenha sido ela quem orientou os negócios do casal para o ramo da ourivesaria, que era dominante na terra, a par da agricultura (simbolizada nos famosos nabos). Parece-me que, na família paterna, foram agricultores, porque viviam numa grande casa de lavoura - uma daquelas sólidas e tradicionais casa de pedra, existente no terreno, onde foi, depois, construída a casa da Meira e do Mário. Eu não me lembro nada do lugar. E pensava que se tratava de um terreno pertencente à casa dos pais da Meira. Diz a minha mãe que os pais do Tio Serafim moraram mesmo lá. Mas eram também os donos daquele prédio, definitivamente urbano, que fica em frente ao edifício da Câmara Municipal. Será que moraram ali, nos últimos tempos? Foi a casa das filhas solteiras, embora, em partilhas, tenha cabido ao Tio Serafim - ele foi sempre muito amigo das irmãs. Outra coisa que aprendi, é que "Caetano" não era apelido, mas segundo nome. Quem o converteu em apelido foi o Tio Serafim. Excelente ideia, porque "Caetano Pereira" soa bem .
Terça-feira, 20 Janeiro, 2009

Maria Manuela Aguiar disse...
O estádio das Antas foi realmente, para mim, um espaço de grande convivência - e companheirismo portista - com o Tio Serafim. Era um espectador contido, mas muito conhecedor das estratégias de jogo. Lia o jogo perfeitamente! Lembro muitos momentos emocionantes, mas também o mais dramático de todos: a morte do Pavão, ao 13º minuto de um FCP - V de Setúbal. Estávamos na bancada central, mas um pouco descaídos para sul (assim acontecia, quando chegávamos tarde...). Exactamente em frente ao local em que Pavão tombou, depois de um passe para Oliveira. Estou a vê-lo a sair, de maca, e o tio Serafim a dizer: "Vai morto. Aquela posição de cabeça não engana". E tinha razão. Via muito bem e sabia de tudo. Era espertíssimo, perspicaz! Depois, já com a notícia confirmada, viemos para minha casa. Desolados! Nesse dia soubemos também da doença do Sr. Razzini. Que dia!
Quarta-feira, 21 Janeiro, 2009

Maria Manuela Aguiar disse...
Muito o Tio se riu e gozou, com toda a razão, quando eu não vi um enorme buraco no passeio, em frente à casa da Xaninha, e deixei lá enfiada a roda dianteira da direita do meu Peugeot. Divertidíssimo - até pelo telefone dava para perceber - mandou, imediatamente, dois homens, tipo pronto socorro, para tirarem a roda do "alçapão".E o carro não sofreu dano. Ficou o episódio, para recordação.
Quarta-feira, 21 Janeiro, 2009

Maria Manuela Aguiar disse...
Como já disse, o Tio Serafim, monárquico - daqueles que ía a S. Marcos, anualmente, cumprimentar o Duque de Bragança - e conservador, era, acima de tudo, uma pessoa civilizada e inteligente, que sabia respeitar as opiniões diferentes e não gostava de discussões académicas, que podem ser divertidas, mas não levam a lado nenhum.Não me lembro de o ver dar resposta, por exemplo, às investidas do Tio Manuel, que era um "provocador" nato, e tinha êxito com outros cunhados...E comigo, então, é que não houve uma só discussão! Gostava que eu andasse envolvida na política, no pós 25 de Abril, mesmo que não fosse exactamente no partido dele. E não posso esquecer o, para mim, surpreendente apoio que dele recebi, quando me divorciei. Estávamos no início dos anos 70, e nessa altura, não havia divórcios na família. Não se usava. Era mal visto, socialmente, pelo menos para a mulher... Ora, um dia, aqui mesmo, em Espinho, íamos os dois a subir a Rua 7 e ele tomou a iniciativa de me dizer: "Decidiste divorciar-te, e eu acho que fizeste muito bem. Tens o meu apoio. O que eu não te perdoaria, era voltares atrás e aceitares o homem, pela segunda vez". Tinha toda a razão! Não é decisão que se tome de ânimo leve. E, se assim é, não faz sentido repensar a linha de rumo.O Tio era um homem de carácter e exigia que as pessoas, que estimava, também fossem.
 O divórcio foi um episódio da minha vida em que tomei as resoluções sozinha, e sem me ralar nada com as opiniões alheias. Aliás sempre fui imune, quanto baste, a pressões externas (o que, para quem anda pela política é fundamental - embora, na altura, ainda não sonhasse sequer com essa possibilidade...). Todavia, pela positiva, o suporte é sempre bem-vindo. Confesso que fiquei muito sensibilizada com a solidariedade do Tio! Ninguém mais me disse nada.
Quinta-feira, 22 Janeiro, 2009

Maria Antónia disse:
O Serafim era excelente a fazer muitas coisas, a gerir negócios, a conversar ou a cantar, por exemplo, mas não a guiar. Ao volante de um carro, era um perigo...Um dia ia para o futebol, levando o Tónio à frente, e o meu pai e o Mário atrás, e não passou de Valbom. Numa curva para a direita, perdeu o controlo da máquina, caiu na valeta e bateu no muro. Com o choque, o pai partiu um braço. Levaram-no ao hospital de Santo António. Veio de lá com o braço esticado em cima de umas talas enormes, enroladas em ligaduras brancas. Nessa noite, o primo António (Reis) que o viu quando ia a atravessar uma rua, perto da Batalha, foi dizer à família, em Avintes: " Vi o João num automóvel. Levava um grande ramo de flores brancas na mão".
Domingo, 25 Janeiro, 2009

Maria Manuela Aguiar disse...
Lembro-me perfeitamente desse dia. Foi um susto, ver o Pai entrar, na casa da Pedreira, com aquele aparato, e, ainda por cima, cheio de dores. Já nessa altura a população nem sempre era muito bem tratada nas urgências... No dia seguinte, o Pai recorreu a um amigo dos tempos do Colégio dos Carvalhos, um grande especialista, o Dr. Abel Portal, que o pôs bom, num instante. Antes, teve de lhe recolocar os ossos no sítio certo... Tudo vantagens, incluindo o reencontro de colegas, que, no colégio, se tinham zangado, por qualquer coisa insignificante.Ainda por cima, a Mãe também reencontrou aí uma amiga médica, a Drª Miriam Cavalieri, que era assistente do Abel Portal!...
Domingo, 25 Janeiro, 2009

Maria Manuela Aguiar disse...
Esta história não é do meu baú de recordações. Foi-me contada, há pouco, pelo João Miguel. Tem a ver com os pequenos desastres de condução. Diz o neto que o Avó não mexia na caixa de velocidades! Arrancava em segunda, e assim continuava, devagar, até ao fim. Entrava, sentava-se numa posição e não movia daí. Uma tarde, ao dar a curva no Souto, guinou de tal modo que a porta da frente, a da direita, abriu, a Tia Lina, que ia ao lado, caiu na estrada. E ele continuou, sem se aperceber de nada. Até que um espectador da cena foi atrás do carro a gritar, para lhe chamar a atenção. Não houve danos de maior. A velocidade era pouca e a Tia Lina aterrou bem... A verdade é que o Tio Serafim não sendo muito vocacionado para a condução automóvel, andava, prudentemente, a baixa velocidade e não há a registar acidentes graves. Mais tarde era, quase sempre, o Tónio que tomava o volante. Trabalhava com ele, estava sempre pronto a correr de carro para qualquer lado, e era um condutor de categoria "A". Tipo Tio David.
Domingo, 25 Janeiro, 2009

7 comentários:

Maria Manuela Aguiar disse...

Estive, recentemente, com a Ana Maria e o Tó num jantar beneficente patrocinado pelos Duques de Bragança.
Apresentei os primos ao Senhor Dom Duarte.
O Tio Serafim teria gostado de os ver ali, entre monárquicos, com muitos dirigentes do CDS a marcar presença. Era o partido e a Causa com os quais se identificava. O neto predilecto dá-lhe continuação!

Maria Manuela Aguiar disse...

Duas bisnetas em Medicina - alunas excepcionais - dois bisnetos quase em fim de liceu, uma, mais nova, já campeã de patinagem, e com filmes no "you tube", outro a tocar, talentosamente, música num conjunto. Duas meninas lindas de cabelos muito compridos, em cima de muito boas cabeças pensantes. Mais um espirituoso rapaz, três graciosas meninas mais pequenas e uma a nascer no fim do verão. Como ele se sentiria feliz, com todos eles. Feliz e orgulhoso!

Maria Manuela Aguiar disse...

Gosto particularmente daquela fotografia de "grupo em conversa", com crianças saltitantes pela frente, enquanto os homens falam uns com os outros, num mundo àparte.
Era uma tarde passada em Espinho, como tantas outras. Parece que estou a ouvi-los, e aa debater com eles ideias de futebol ou de política - o que devo ter ido fazer, logo depois de tirar a fotografia.
Estão todos tão naturais, exactamente como eram, em especial o Tio Serafim encostado à árvore, a ouvir, preparando resposta pronta.
O local é a Rua 16, em frente ao andar, onde então morávamos, com a Tia Rozaura e as cadelinhas Docas e Mora.

Maria Manuela Aguiar disse...

Um homem de família, que adorava os filhos e os netos.
Todos!
Mas com preferências, como é natural.
Entre os netos, o Tó, com quem tinha mais contacto.
Dos filhos, distinguia o Mário com uma imensa admiração, pela sua categoria como médico.
O Tónio trabalhava com ele, sem que lhe desse grande autonomia. Nem sempre é boa idéia ter o pai como empregador.no caso do Tónio acho que não foi.

Maria Manuela Aguiar disse...

Eu devo dizer que julgo ter sido das suas sobrinhas favoritas. Bem no topo!
Também gostava imenso dele.
Andava embrenhada na política, quando o AVC o vitimou. Depois, fazia-me muita impressão vê-lo na maior decadência física!
Foi terrível e prolongada essa doença, sem cura possível.

Maria Manuela Aguiar disse...

Estava na Hungria, a chefiar uma delegação da AR, quando a mãe me telefonou a informar da sua morte. Não foi possível chegar a tempo do funeral...

Maria Manuela Aguiar disse...

Com a Tia Lina, que, sentimentalmente, morreu com ele, porque, a partir de então não tinha uma boa razão para viver, falei várias vezes pelo telefone.
Os telefonemas encantavam-na!
mas as minhas constantes ausências não permitiram as visitas, que queria ter feito.