domingo, 20 de maio de 2018

VERSOS PARA A JOANA

Fim de curso e de começo
De vida em tempo futuro
Que traz do tempo pasado
 Sinais p'ra o bem que te auguro...

 Da escolinha da Azenha
 À FAC Abel Salazar
 Foi sempre, sempre estudar
Cumprir, vencer e brilhar.

 Vitória que é só tua
 Mas vais querer partilhar
 Porque escolheste missão
 Que tem por lema "salvar"


 Salvas o mundo pela cura
 O mundo de cada pessoa !
Juntas ciência e bondade
 Porque és médica e és boa

 Joaninha boa, boa!
Joaninha voa, voa!

 Vai depressa, em altos voos,
 Vai em plena liberdade
 Viver o tempo futuro
 Em gestos de humanidade!

domingo, 13 de maio de 2018

A conversa com Hernâni sobre o FCP VIV'Ó PUARTO

Uau, que grande celebração! Que grande festa! A minha irmã Judite também torce pelo FCP, mas não com tanto entusiasmo como tu. Ela tem a tua energia, não pára de trabalhar e de gerir IPSSs, mas é menos expansiva. O meu pai foi sócio do FCP no princípio do século passado, no tempo em que era um clube de elites, mas nunca jogou futebol: patinava e pouco mais. A Raquel orgulha-se de ter assistido à inauguração do Estádio Nacional, na companhia dos pais e da avó materna. Eram todos adeptos do Sporting e “inimigos” do Benfica; suspeito que festejavam mais quando o Benfica perdia do que quando o Sporting ganhava… Isto no tempo em que os adeptos do Sporting eram bem comportados! Da minha parte o futebol nunca me entusiasmou. O máximo que fiz, nos primeiros anos do secundário, foi colecionar “cromos” de jogadores, que trocava com os colegas na mira de preencher uma caderneta que daria uma bola de futebol como prémio; mas nunca aproveitei da bola porque tinha pouco jeito para dar pontapés — sempre que tentava era tão desajeitado que os meus colegas riam-se de mim, quando não se zangavam por eu ser um incompetente. Penso que a minha inclinação era mais como coleccionador, em que também nunca me apurei. O meu pai tinha o condão de detestar futebol, que associava com o Estado Novo, e transmitiu-me um completo desinteresse. A Raquel mantém-se a par de todas as notícias, não perde um daqueles golos espetaculares e guarda os vídeos para me mostrar. Mas gosto de ver um jogo bem jogado, na TV, em que pela certa se vê muito melhor do que nos estádios. Maas apenas quando os jogadores são bem comportados, pois irrita-me ver golpes de batota e de violência. Aprecio ver os jogos da equipa portuguesa em campeonatos internacionais. A Raquel fica nervosa e nunca quer assistir, particularmente se pressente que a “nossa” equipa ou o seu clube poderá perder. O meu genro, marido da Francisca, e o filho, são fãs do FCP, talvez como tu. Apreciei ver hóquei em patins cujos relatos ouvia entusiasticamente na rádio na companha do meu pai, que era apreciador. Mas nunca assisti a nenhum jogo ao vivo Na minha juventude patinava e cheguei a tentar jogar hóquei, mas, decididamente, não tenho jeito para jogador. Apreciei e aprendi um bom bocado com e perfil que traçaste, tão bem, do treinador Sérgio Conceição. Admiro o Mourinho e também apreciei o Villas Boas, de quem deixei de ouvir falar. Acho piada ao brejeirismo do Pinto da Costa e, particularmente ao seu apurado sentido do humor. Não parece nada um descendente de “boas famílias”, nem irmão do sério psicólogo que faleceu recentemente. O meu grande amigo que foi António Norton Sousa Pires detestava futebol e envergonhava-se de ser primo do Luís Norton de Matos jogador. A mãe do António, que conheci, era sobrinha do general Norton de Matos; não sei muito bem qual era a ligação com o jogador, pois o António nem queria ouvir falar nisso. Este meu grande amigo, com cuja família nós costumávamos fazer férias, morreu alguns meses depois de eu ter deixado de fumar na esperança de que o aliciava a fazer o mesmo. Terá sido em 1988 — 30 anos. A mulher tinha sido minha colega na Faculdade e tem agora 84 anos e uma energia invejável, aparenta ter menos 20 anos, grande amiga, sempre presente quando pode, pronta para dançar e bailar sempre que há uma ocasião. Então, fica combinado, para Junho! Quando te for apropriado, farás o favor de anunciar, peço.te Em 29 e 30 de Maio estarei em Lisboa, a assistir à jubilação duma colega e das maiores amigas da Raquel. Aproveitarei para almoçar e jantar com alguns bons amigos que já não vejo há algum tempo. Não temos nada agendado para Junho e iremos passar a primeira semana de Julho em Vila Real, num hotel, para explorar algumas aldeias da região, particularmente Sedielos, onde tive antepassados, de que sei tudo desde 1600 até 1750, por uma base de dados genealógicos que produzi e publiquei. Tudo pela internet e agora quero ir lá fazer uma visita. Espero encontrar a madrinha do meu meu primeiro casamento, médica, que viveu em Lisboa muitos anos e, depois de enviuvar, regressou as origens, Mateus. Nunca mais a vi, embora tenha tido notícias dela por um amigo comum. Será um autêntico revivalismo de velhos… Continuo sem notícias do MNSR e, também, da DGPC. Um silêncio estrondoso! Estou a pensar que será talvez melhor leiloar a “santa” no Sotheby’s e dar o dinheiro a quem precise, do que deixá-la em herança a alguém que um dia a ponha à venda na OLX… Um grande abraço â moda do Puarto. Vivó Puarto! Hernâni Maria Manuela Aguiar 02:00 (há 1 dia) para Hernani Boa noite, Hernâni Muito obrigada pelo "Vivó Puarto"! No sotaque mais tradicional até pode ser "Bibó Puarto"... O que me faz lembrar um episódio passado com Mário Soares (estou sempre a lembrar-me dele, mas a verdade é que é figura central da maioria das memórias divertidas da minha passagem pelas margens da política). No que respeita a futebol era a tua alma gémea. Detestava o jogo e conotava-o com o velho regime - quem gosta não faz essaa identificação. Eu, por exemplo, com a ditadura só conoto o Benfica. Para mim, é o "clube do regime". Clube imperial, arrogante, megalómano, símbolo do poder, que não do desporto..... Voltando à história do Dr Soares: ele não apreciava o espetáculo nos relvados, mas respeitava a instituição e não faltava às comemorações dos títulos. que o FCP, em democracia, passou a ganhar com regularidade. Encontrei-o, várias vezes, naturalmente, no pavilhão das Antas, mas num ano, não sei porquê. houve, também, celebrações a sul, no casino do Estoril, E lá estava o Presidente Soares e eu ao seu lado, em representação da Assembleia. O programa foi absolutamente atípico - não houve discursos, nada... apenas o jantar, acompanhado por um "show", sem sombra de graça, e, ainda por cima, repetitivo, pois os diálogos e as canções eram-nos apresentado em português e, depois, em inglês... Tenho uma vaga ideia que envolvia piratas! O Dr Soares suportava a ordália de olhos fechados, como que a dormitar, quando as as luzes se apagavam, e "acordava", logo que ouvia o som das palmas de circunstância. Até que, do fundo da sala, alguém solta um grito que encheu a sala: "Biba o Puarto, c-----! " . O Dr Soares abriu os olhos, voltou-se para mim e disse: "Até que enfim, alguma coisa de genuíno!" A Dr.ª Maria Barroso ainda me parecia mais radicalmente anti- futebol. Custava.lhe muito ver o sobrinho Eduardo Barroso a fazer comentário desportivo, alardeando o seu clubismo (sportinguista) na TV. Não aceitava como coisa normal o facto de ele ser muito mais conhecido no país inteiro pelos seus excessos nesses programas ligeiros, em tom de comédia, do que pela sua classe como cirurgião (pioneiro dos transplantes, em Lisboa, como o Mário foi no Porto). O Alfredo Barroso também, é um mestre neste domínio e adepto do mesmo clube, embora muito mais comedido no discurso. O tio, pelo contrário, fazia gala da sua ignorância na matéria. Segundo me contou Pinto da Costa, numa das partidas a que assistia no camarote presidencial, quando as equipas entravam em campo, perguntou candidamente: "Quantos são de cada lado?" Eu nunca pertenci ao "plantel" daqueles programas semanais de grande audiência, (que vejo, regularmente), mas estive muitas vezes em programas esporadicamente dedicados ao futebol, em entrevistas do "Expresso da meia noite", da Maria Elisa (que, na altura estava no topo dos rankings de audiências), do Jorge Gabriel, do Malato... E durante mais de um ano, participei num programa semanal, de 2ª a 6ª feira, na Rádio Comercial, com o título "Os cinco violinos". Cada um dos comentadores (cinco, é claro) tinha um dia da semana para ler o seu apontamento de cerca de dois minutos - pelo telefone. Como eu viajava constantemente, nessa época, falei de destinos tão longínquos como o Hong-Kong, Buenos Aires, Los Angeles, Tóquio... ou de uma qualquer cidade da Europa, sem falhar uma única vez... Foi obra!. Tudo isto te deve parecer bizarro... Se no futebol não partilhámos gostos, já no óquei em patins estamos e estivemos bem sintonizados, desde crianças. Também seguia, pela rádio, os relatos da seleção. Pelos clubes, o entusiasmo era incomparavelmente menor, pelo menos aqui no norte, porque os campeões eram lá de baixo (Paço de Arcos, por exemplo...). Um dia, quando a seleção estava em estágio, escrevi aos jogadores, a pedir autógrafos e eles responderam-me, de imediato. Guardei sempre a carta como um tesouro, que, agora, tenho de procurar. No colégio do Sardão tínhamos tudo em matéria de infra estruturas desportivas - parecia um colégio inglês! "Court" de ténis, ginásio polivalente," equipadíssimo, embora pouco utilizado), mesas de ping-pong, campos de volei, andebol e basquetebol, pistas para bicicletas e até um ringue de patinagem. Só faltava a piscina. Lugar escolhido já havia, muito bonito, rodeado de uma pérgola, mas a obra não avançou por questões atinentes aos bons costumes... Entre as freiras, a ala conservadora e a progressista nunca se entenderam quanto ao traje: fato de banho normal ou um modelo especial, com saia até ao joelho (como era obrigatório na ginástica e nos desportos de campo). Eu detestava o ritmo de vida do internato, os dormitórios, os duches de madrugada, a missa matutina, as marchas de braços atrás das costas pelos longos corredores, a disciplina, o confinamento,( embora numa grande casa rodeada de uma grande quinta, que terá pertencido a Almeida Garrett). Um verdadeiro aquartelamento militar! Mas adorava o desporto, que contando os tempos de recreio, me ocupava várias horas por dia. Horas felizes! Nem sei se era particularmente dotada, ou não. Penso que não, mas compensava com velocidade e entusiasmo, levando tudo (e todas) pela frente. Temível...No futebol, eu própria me achava do género do Séninho, um célebre extremo do FCP, que batia todos na corrida, mas, de vez em quando, saía pela linha de cabeceira, com a bola... O Séninho acabou bem a carreira, do Porto saiu com um contrato milionário para a América, que, então, dava os primeiros passos no "soccer". Ainda hoje o "soccer" lá não é muito popular. Para a cultura americana, falta o condimento da violência. É visto como jogo para mulheres. Nunca vi, em campo, o selvático futebol americano, mas fui a alguns jogos de óquei sobre o gelo, que não é muito mais civilizado. A última vez foi em Toronto e, por sinal, como a equipa mais dura estava a ganhar, o espetáculo decorria mansamente. Para compensar essa sensaboria, os grandes ecrãs, suspensos do teto, transmitiam imagens terrivelmente agressivas de jogos anteriores, para "animar a malta". Fiquei estarrecida... O futebol feminino, que só conheço pela TV, é muito bonito, menos faltoso e cada vez mais tecnicista. EUA e Canadá apresentam excelentes seleções, a par da China, da Alemanha, da Suécia, do Brasil... Nós estamos estamos longe do topo, mas temos evoluído imenso. Todavia, as Doroteias do Sardão, nos anos 50, tinham colocado o futebol no "index". Proibição e penas pesadas para chutos na bola. Nada que me dissuadisse de organizar partidas clandestinas. Em geral, começávamos pelo legalíssimo andebol, que passava a futebol, logo que víamos a vigilante absorvida nas suas pias e evangélicas leituras. Um dia, porém, numa pausa da leitura, houve uma que percebeu a diferença entre as duas modalidades... Presumiu - e bem - que a responsável pelo desacato era eu e denunciou-me. Fui, de imediato, levada ao gabinete da Madre Superiora, em estado de grande preocupação com a sentença que me esperava. Os castigos rotineiros pouco me ralavam. O mais comum era escrever qualquer coisa edificante, umas 500 vezes. Neste caso, poderia ser: "As meninas bem comportadas não jogam futebol". Ou, em alternativa, ficar isolada nas pequenas celas onde recebíamos lições de piano, Durante duas ou três horas era coisa muito agradável, desde que levasse um livro comigo (uma vez deixei-me lá ficar pela noite dentro e as freirinhas andaram angustiadamente à minha procura e, quando deram comigo, esquecida no quartinho do piamo, pediram-me desculpa, em lágrimas, e, de seguida, deram-me um jantar melhorado. Na verdade, a porta estava aberta, eu podia ter saído, mas sentia-me bem...Porém, castigo para delitos mais graves era assunto sério:proibição de saída no fim de semana, a bomba atómica dos castigos.... Isso raramente acontecia, porque, na verdade, atingia a família inteira, mas era o que eu antecipava no trajeto de ida ao encontro da Superiora. Ela recebeu-me, com um inesperado sorriso e disse-me palavras ainda mais inesperadas.Em síntese, isto: "Manuela, o futebol não é um desporto próprio para meninas. Não podes organizar jogos com as tuas colegas, Nunca mais! Mas eu compreendo a tua paixão pelo futebol e por isso, para ti, vou abrir uma exceção. Tu tens a minha autorização para jogar - as outras não! As freiras também podem ser pessoas sensíveis e com sentido de humor... Para mim, foi um momento de grande felicidade, porque assim ficavam garantidas as minhas 48 horas de liberdade e uma provável excursão dominical ao estádio das Antas. Claro que continuei a programar os torneios de futebol, em que era a maior goleadora, e nunca mais fui apanhada em flagrante delito. Pertenci sempre ás "seleções" do colégio, nos desportos permitidos, o que não queria dizer muito. Apesar de termos um excelente treinador (Edgar Tamegão, campeão em não sei quantos desportos). a matéria prima era tão fraca, que nunca fomos longe. Tal como a Raquel fico nervosa quando pressinto risco de fracasso nas minhas equipas e, cada vez mais, evito enervar-me... Noutros tempos, aguentava firma na bancada. Tenho há muitos, muitos anos, o meu lugar anual na bancada central do Dragão, mas, nos jogos mais emocionantes, cedo o meu cartão a uma afilhada, bisneta da Tia Carolina, a Teresa, que é tão "fanática" como eu, tem menos cinquenta anos e nervos de aço! No lugar ao lado, senta-se o irmão, António, a quem eu ofereço o lugar anual como presente de anos. É o meu companheiro habitual no Dragão, como, nos meus tempos de juventude, eram os seu bisavô Serafim e o seu avô António. Não falhávamos um único jogo nas Antas!. Em criança era com o meu pai que ia ao estádio e foi ao seu lado que festejei o "meu" 1º título do FCP, em 1956 (foram 13 anos sem conhecer a euforia da vitória!). O treinador era um brasileiro, de Minas Gerais, de ascendência alemã, Yustrich, o nosso ídolo. Um vanguardista, no que respeita a treino, estágios, concentração na véspera dos jogos - na altura. o "jamais vu"... As vedetas de então ensaiaram uma variante da "revolta na Bounty" . Foram todos borda fora, e, mesmo assim, ele conseguiu fazer uma equipa fantástica. Todavia, como afrontou não só a rapaziada, como os diretores, o Dr Cesário Bonito e companhia, acabou despedido. O povo azul e branco, a que pertenço, ficou do lado de Yustrich, então e para sempre! Muitos portistas, entre eles o meu pai, ano auge da indignação, rasgaram o cartão de sócio. No ano seguinte, o FCP voltou à rota descendente, e, até 1974, poucas alegrias nos deu. Como disse, tudo mudaria com a revolução, e com Pinto da Costa. No futebol, consegui-se a verdadeira regionalização, que 44 anos depois, a meu ver, ainda falta fazer na política. No retângulo continental, é claro... Todo o norte tem menos poder do que tinha a Madeira com AJ Jardim. Creio que Portugal é o país mais centralizado do nosso continente, uma espécie de México da Europa... E, por hoje, basta de futebol! Prometo não voltar ao tema. Um abraço