domingo, 6 de março de 2011

W192 - VOLTANDO À MINHA INFÂNCIA...

Também há memórias do que era menos bom, do que ensombrava um dia perfeito. Por exemplo, aqueles enormes laçarotes de seda, que me encaixavam com longos ganchos nos cabelo muito lisos. Detestáveis, todos! Ou os enormes chapéus de palha que me obrigavam a usar em dias de sol...Ou os vestidos cor-de-rosa, côr que ainda agora evito, instintivamente. Era o tempo em que, para além de tecidos estampados de florinhas, se usava para meninas, essencialmente, o rosa, o branco e o azul. Preferia o azul, mas esse estava sempre reservado para a minha irmã, que tinha uns bonitos olhos dessa cor e, para mim sobrava o rosa...
Decepcionantes, também, os presentes que recebi no dia da comunhão solene: uma grande quantidade de terços de prata, uma canete permanente verde e feia, uma máquina fotográfica daquelas tipo cubo - -em verdade, nada de que me recorde pela positiva...
E a crise que provoquei mesmo à hora de sair para a Igreja em Avintes. Não podia comungar! Acabava de me lembrar, subitamente, de um pecado grave, cometido na véspera. Felizmente, em casa da Avó Olívia, tal como em casa da Avó Maria, eram frequentes as visitas de Padres e, nesse dia de festa, estavam lá 2 ou 3. Um foi logo voluntário para me ouvir em confissão e para me absolver. Só ele soube o que acontecera na véspera... Regressava eu sozinha a casa, descendo a 5 de Outubro, quando uns rapazes me disseram qualquer coisa imprópia. Corri atrás deles, apanhei um e bati-lhe. Na altura achei natural a reacção. Mas já de longo vestido branco e véu a acompanhar, veio-me ao pensamento o episódio e fiquei cheia de problemas de consciência. Depois de perdoada, rezei as "Avé Marias" da penitência e lá segui em paz, e tudo o mais foi bonito de viver...
Também em outro momento de glória, tempos antes, tinha eu 4 ou 5 anos, outro incidente perturbou a beatitude exigida pelo traje: estava eu vestida de anjo - amarelo - com grandes asas para participar numa procissão em Gondomar (depois de um braço -de -ferro entre os meus pais, que eram contra, e a Avó Maria, que compreendia melhor a aspiração da neta...). E eis que vem a prima Inês, sabe-se lá porquê resolve dar-me um grande estalo na cara. Lá fui eu, asas de anjo a abanar, em perseguição da prima, até lhe retribuir a bofetada, em triplicado... A Avó ficou siderada com a impropriedade da conduta. Recuperei, depois , a pose, e as fotografias que há só mostram o anjo radioso e radiante...


Sem comentários: