quinta-feira, 18 de abril de 2019

ESCRITOS de MINHA MÃE


FORMATURA DA MARIA DO SAMEIRO

Deu-te Deus essa fé determinada
Dos que sabem seus sonhos realizar
Que nasce em ti, em cada madrugada
A Estrela que brilha em teu olhar

Esse teu ar esbelto e elegante
Esse andar airoso de gazela
Teu olhar sereno e confiante
Sejam eco da tua Boa Estrela


Espinho, Março 1988
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Resposta à Nita
  verão 1978

E das arribas do mar
agradeço a atenção
Bem quis logo responder, 
mas não tinha a direção

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23 - 8 - 79
O postalzinho da "praxe" 
cá chegou, muito obrigada
Agora espero a visita 
Dessa minha "sobrinhada"

Para a Nita, Sameiro, Rosário, Lisa e Paulo
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1982
A saudade quando veio
veio mesmo para ficar
aqui no meio do peito, 
fazendo rir e chorar

Saudade fica comigo,
porque já me acostumei
Não fujas de mim saudade
 - de uma vida que te dei
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Eu tinha umas tranças loiras
E tão loiras eram elas
passando em campo de espigas
eu parecia uma delas.

Saltando muros e leiras
Na pressa com que corria
Voaram as tranças loiras 
E só por isso me ria

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Perverso, inconstante mar
revolto do meu ser
Vagas em fúria
na porcela tenebrosa

Ao longe o meu olhar perdido 
na imensidão deste mar revolto
Vem-me a lembrança daquele louco amor
que agora é minha solidão
Pediste ao mar para me falar de ti 

 ou
Ao longe, o meuolhar perdido na imensidão
deste mar em fúria, revolto como eu.
Vem-me à lembrança aquele louco amor
que enche agora a minha solidão

Pediste ao mar para me falar de ti

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(Para o João)

Há tantos anos que não te vejo, que já nem me lembro bem da tua cara. Apesar dos retratos que tenho espalhados por toda a casa.
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(Para a Lecas)
Minha adorada, luz da minha vida
A noite inteira conversei contigo
Num pranto de saudade infinda
destruí minha alma

LECAS
Depois de nos faltar uma filha, nunca mais se esquece. Tenta-se viver como se pode, mas o coração está sangrando constantemente e nunca mais se é a mesma pessoa
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 Turbilhão de amores que me deixou presa
Insatisfeito amor minha alma perturbando
Sempre na procura de um amor melhor

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Em noite longas de dor e sofrimento. 
meus olhos já cansados de chorar
Eu peço a Deus que me dê alento
E me deixe contigo conversar

A minha adorada, minha confidente, 
Conversei contigo, solucei meu pranto,
De saudade infinda, que no peito trago
A noite inteira falei e tu falaste

Compus outrora poemas desmembrados
sem conseguir dizer o que queria
mas agora, passados muitos anos.
 a sós contigo  (já conseguiria?)
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A CASINHA DA PEDREIRA
Queria voltar a ver
as camélias a florir,
as laranjas a crescer.

Queria voltar a ter 
na minha mão pintaínhos 
acabados de nascer

Queria voltar a ver
o jardim, a capoeira,
a horta - querida Maria - 
que te enchia de canseira

Limonete ao fim da escada
Alecrim pro's ramos bentos
toda uma festa, a ramada
a casinha, tão modesta,
com o nicho e a cantareira...

Agora, recordo a chorar
as pedrinhas da calçada
que já não volto a pisar. 
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Ainda tocam trindades na Igreja de São Cosme. Ouvi tocar a primeira carreira para a missa das 7, uma hora antes da missa. !/4 de hora antes,  2ª carreira e, depois, picou para a missa.
Fez-me muitas saudades, ouvir tocar para a Missa. Pareceu-me ouvir a voz da minha mãe a dizer: "Meninas, vamos embora, já tocou a segunda carreira".
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Tenho saudades de pedir a benção à minha Mãe e minha Tia
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Vila Maria
Apesar de sentir a falta do nosso Pai, eu e os meus irmãos éramos felizes e não sabíamos. A única falta nas nossas vidas (ainda tão jovens) era aquele lugar na mesa da grande sala de jantar, o do Papá (como a nossa Mãe dizia)ocupado pelo meu irmão António agora


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Agradeço à Nossa Senhora
A VIDA
Fátima, 26-4-86
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Agradecer, agradeço esta paz diferente, que sinto em Fátima, como se fosse, em cada ano, a primeira vez. E, neste constante turbilhão de sentimentos, que me invade, sinto-me, aqui em Fátima, mais benevolente e compassiva são só três dias de "tratamento", mas já é bom para o meu espírito cansado e atormentado.
Parece que renasci, aqui, hoje.
Fátima, 27- 4 - 89
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Compus outrora uns poemas desmembrados
sem conseguir dizer o que queria
e hoje, volvidos tantos anos, 
não sei se era verdade ou se mentia...
quando dizia , amor, quanto te amava,
que era capaz de morrer por ti
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 (A Manela)

Corria veloz. cheia de energia
ceifando flores do belo jardim.
Protestos e ralhos. Como elea se ria...
São minhas as flores, são todas para mim...

Manelinha, mas isso é maldade,
dizia-lhe alguèm, decerto era eu.
Intervinha a Avó, ar de cumplicidade, 
São dela, claro, foi Deus que lhas deu

É muito inteligente, não trecisas ralhar
Um anjo a menina e só eu a entendo. 
Só a Avó  a sabia levar

E aquele anjo, menina vestida de anjo, de asas partidas, cabelo em desalinho, laçarote perdido, ia para a procissão
Eu peço a Deus para te acompanhar
O tempo vai passando e a saudade fica connosco pela vida fora
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Nos 50 anos da Manela

Tempestade traz bonança
o passado traz saudade,
 a vida é sempre esperança,
 busca da felicidade

Passa um ano, entra a saudade
mil beijos para ti, meu bem
a maior felicidade 
te deseja sempre a mãe

Espinho, 8-6-92

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De todos os sentimentos humanos, nenhum mais natural do que o amor pela Terra, pelo vale, ou pelo bairro onde crescemos. A nossa Terra aviva-nos as recordações mais familiares (íntimas), mexe com as nossas emoções mais profundas. Tudo o que faz parte dela, pertece-nos, em alguma medida, e, decerto forma, nós fazemos parte dela também, tal como a folha pertence à árvore.
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Saudade, palavra amarga e doce. Saudades da minha linda terra, S Cosme de Gondomar, onde imperam os grandes artistas de filigrana de ouro. Saudades do meu Monte Crasto majestoso, donde em noites de luar (esse luar ímpar das noites de Natal, que eu guardo na minha memória e recordo comovida), se abrangia toda a minha terra, banhada de um manto de prata. Saudades daquela prenda do menino Jesus, que a minha querida Mãe, com tanto amor e carinho, pòs debaixo do meu travesseiro: uma linda pulseira de prata, toda feita de margaridas, que ainda hoje guardo, com todo o meu amor. Saudades da minha mocidade, dos meus amores, das minhas ilusões, dos meus tempos de colégio, de minha casa, do meu jardim cheio de flores, do meu piano, meu confidente, o meu piano, que escutou tantas histórias de amor,
Saudades da minha Terra, a minha casa, os meus Natais...
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Não posso olhar para a nossa casa, a casa da minha Mãe, sufoco de saudades, e as recordações são tantas! Festas de Natal, os risos das crianças, o cheiro das rabanadas, o cheiro da minha adorada casa. Tantas Páscoas = o compasso!), casamentos,  E, de repente, pela minha cabeça passava a minha meninice, adolescência, as nossas gargalhadas - eramos sete - as repimendas da nossa querida Mãe. "meninas (a minha irm-a Lolita e eu passávamos a vida a rir):não se riam tão alto, não é bonito". Além disso, Muito riso, pouco siso"
Dentro daquelas paredes guarda-se a história das nossas vidas, meus irmãos, minha Mãe, quantas alegrias, quanto amor, e quantas tristezas também!
Parece mentira que tanta história caiba dentro daquela adorada casa, Desci aquelas escadas para me casar na Igreja da minha Terra. Deois, e a história continua, ali nasceram as minhas filhas. Mais risos, mais gargalhadas. tudo se repete. é a nova geração!
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Compasso na minha Terra
Corações cantando almas em flor, flores em casa e no jardim também. Vem o compasso - é Deus , é amor. Pela aldeia fora campaínhas a tocar. Flores desfolhadas e "verde" pelo chão, Aí vem o compasso, aí vem a Cruz a chegar.
Pojeiras onde os criados da minha Mãe iam buscar verdes para pôr no chão - fora do portão, do portão até ao terraço e pelas escadas acima, o percurso que, no domingo de Páscoa fazia o cortejo do compasso.
Alguns anos antes, íamos com a Nucha buscar fetos e verdes ao Barroco. Tão lindo! Era um vale entre a Gândra e Pevidal

Mês de maio

Mês de maio, minha aldeia tão linda,tão florida. Ao entardecer subíamos o Monte Crasto, para as novenas do "mês de Maria". Eu toco o pequenino órgão do coro da capela de Santo Izidoro. no Crasto, a Lolita e outras raparigas, como nós, cantam coisas tão belas!

23-2 - 74   PORTO (um sábado)
Primavera nos jardins, primavera nas casas e nas pessoas, sim, porque entrou também a primavera nos corações de cada um. Minha terra tão linda, estás perdida, mas eu encontro-te, minha raínha. Minha terra  coroada de mimosas, A tua coroa é o Crasto. Sala de visitas das gentes de Gondomar e de tantas outras. Minha terra, berço de todos os meus... Não é a minha vida que vou passar ao papel, -são várias vidas, porque terei de lembrar antepassados e contemporâneos
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Oh, meu Gondomar, minha linda terra
Tu que embalaste o meu 1º amor
Porque não levar-te presa nos meus braços
oh, meu Gondomat, para onde eu for?

Encantamento que nunca esqueci
roseiral em flor desse meu jardim
tanta rosa murcha pelo chão caída.
mas tanto botão a abrir para mim...

Gondomar, meu berço, capital do mundo
És a minha casa, és o meu jardim
Foste tu que viste os meus primeiros passos
E irás guardar-me, ao chegar ao fim. 
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Procuro-me e não me encontro
E fico parada assim
A chorar, meu Deus, porquê?
Por ter saudades de mim!
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E o tempo passava
O tempo corria
Eu já não chorava
Apenas sofria

Andava à procura de um sonho vivido
Num lindo castelo entre árvores e flores
Perdida, encontrei-me num mundo perdido
Meus ais, meus queixumes, meus loucos amores.
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Gondomar, ponto final
do mundo tão grande assim
Mas para mim e, afinal, 
a terra maior
deste nosso Portugal

Meu Crasto bendito
Mimosas em flor, Minha Terra
Novenas de Maio
quando era menina
Festas de S Izidoro
Música no coreto do Monteiro...
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Sonhos meus, audaciosos, inquietantes, insatisfeitos - como eu, uma insatisfeita - sonhos belso de um amor quase perfeito. Mais de uma vez desci o Crasto num voo pleno de graça e leveza. Senti mesmo os pés a levantarem-se do solo e voei acima daqueles queridos pinheirais, eucaliptos e mimosas, voava em direção a minha casa...
Mas fiquei diferente, sim, depois que perdia minha querida filha. Ela era a minha alegria e a minha vida, era minha e roubaram-ma. Fique perdida num deserto, fiquei sozinha, Que me perdoem todos os que ficaram comigo, ficaram muitos, ficámos todos , menos ela. Que me perdoem, mas eu fiquei sozinha.
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Não sou bonita, nem feia, sou simpática, fui sempre muito simpática (isto não é narcisismo...). É verdade. E fui em tempos, há muitos anos, uma rapariga 
interessante, pequena, bastante pequena, mas cheia de saúde, extuante de vida, vida e alegria, que transbordava por todos os poros do meu corpo. Diziam até que eu tinha muita graça, aquela graça natural de uma rapariga que da vida só queria a vida e nada mais. E o fulcro da vida era o amor. De uma sensibilidade doentia, muito sincera, expansiva e nada egoísta. 
LECAS
Depois de nos faltar uma filha, nunca mais se esquece. Tenta-se viver como se pode, mas o coração está sangrando constantemente e nunca mais se é a mesma pessoa

A minha Mãe e a minha Tia diziam: "Quem muito dorme, pouco aprende (ou seja. é estúpido)
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A minha Mãe recitava:
Minha terra tem coqueiros
onde canta o sabiá
As aves que cá gorgeiam
não gorgeiam com
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12-6-93 ESPINHO
Pmtem fui a Gondomar ao baptizado do António, filho da Ana e do Tozinho. Lindo baptizado, maravilhoso jantar em casa dos pais da Ana em S Cosme.
Qie saudades da minha linda Terra, que saudades da minha Mãe, da minha querida casa, dos meus irmãos todos (quando éramos jovens), do terço rezado à volta da mesa, depois do jantar - as criadas e o criado, à porta da cozinha, a rezar connosco), que saudades de mim, meu Deus! Tantas saudades de tudo, que nem me cabem no coração. E chor, choro, por tudo o que eu tive e perdi. Oh minha terra,(onde se vê o céu), meus verdes campos, meu lindo Monte Crasto.
18-5-93 ESPINHO
Daqui do meu sofá, na minha sala virada para o jardim, a partir da porta larga - de parede a parede - vejo um retalho pequeníssimo do jardim da minha casa (pensando) no jardim da casa da minha Mãe, da nossa querida casa.
O meu jardim, o meu roseiral,, as minhas adoradas rosas, que parecem as nossas rosas, minha Mãe!A trepadeira vermelha que sobe pela parede, junto ao poço, (e tem ao lado uma japoneira) está coberta de flores e todas as outras mais parecem rir-se para mim.

19-8-93, quinta-feira  
UM DIA
Levantei-me às 9/2. Está um dia de sol e calor. O João passou por mim nas escadas e disse: "bom dia" (mais para dentro do que para fora). A Plívia foi às compras de "cara" amarrada, aliás, como anda sempre.
Vou tomar o meu chuveiro e vou ao café, Talvez encontre a Leninha, (que está cá, a passar uns dias no apartamento do pai). Porque aqui em casa, não há conversa. Não há agora, nem houve nunca, só discussões. Sofro muito, mas só Deus sabe porque sofro, nem eu   
27 Set 94
TITA
Hoje tenho-me lembrado todo o dia da Tita, minha querida cadelinha, que morreu há mais de um ano.
Mas hoje vejo-a sentadinha no sofá, tão pequenina (era uma yorshire terrier). Não gostava que ninguém se sentasse perto, queria o sofá todo para ela.
Sabia quando eu estreava uns sapatos, farejava-me os pés.
29 - 3- 95
LENA E DAVID
Gosto de encontrara a Lena e o David (ao domingo), em casa do Mário. Já vamos tendo tão pouco tempo para nos encontrarmos, munha querida irmã. temos de aproveitar as ocasiões que se proporcionam para nos vermos. Está a aproximar-se a Páscoa. Que saudades das nossas Páscoas, na nossa casa, que saudades do compasso (com a nossa Mãe, claro), nós, todos or irmãos reunidos, as minhas adoradas filhas, os meus sobrinhos,, os namorados deles, as 
criadas na cozinha, o cheiro dos cozinhados,o saudoso cheiro bom da nossa casa, que cheirava sempre a flores, o nosso jardim, aquele paraíso, como a minha mãe dizia

LECAS
Minha Lecas, minha filha, a coisa mais linda que eu fiz e criei, na minha vida. Nem as rosas, as flores do meu jardim. Minha querida filha, valeu a pena viver e sofrer, só para te ter, a ti.
Tristes prenda sque te dou, minha adorada filha, padre nosso e flores. Tu que gostavas tanto de vestidos, de sa+patos, de pequenos chocolates.

ESQUEMA de BIOGRAFIA 4 partes
1ª - nascimento e vida em família
2ª internamento no colégio
3ª regresso a casa aos 18 anos: namoros
4ª  - casamento e peripécias seguintes

(quem não se enfeita, por si se enjeita)

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