A primeira das meninas da Xaninha e do Tónio. Muito, muito loira e muito bonita. Serena e bem comportada. Tudo características que a haviam de acompanhar pela vida fora, até aos dias de hoje.
Na altura, não poderíamos ainda adivinhá-lo, mas depois de formada a família de sete crianças - os mais velhos vieram a este nosso mundo ao ritmo de um por ano, e os mais novos só ligeiramente mais espaçados... - verificava-se que tinha sido irrepetível. Ou seja, era singular, ou, se preferirem, única. Não apenas pela côr do cabelo, mas sobretudo por feitio e postura.
Sendo uma boa irmã dos outros, não parecia sê-lo. O contraste era completo, com a mana mais nova, Madalena ou Lélé. Um dia o Pai Tónio, numa gravação que eu estava a fazer, na Villa Maria, com o objectivo de a enviar, com um cartão de Natal para o nossoTio Zé, em Nova York, ao enumerar os novos sobrinhos que ele não conhecia pessoalmente sobre as meninas disse:
"Uma é a Nónó, que é muito mansinha, e a outra a Lélé, que é muito brava".
Notem o uso dos adjectivos...
Estas duas irmãs nada "siamesas" eram, porém, muito unidas - complementares! - entendiam-se maravilhosamente e vinham connosco para Espinho, em fins-de-semana longos, com frequência. Elas adoravam, andavam, mais ou menos, à solta, na praia ou na piscina, passeavam e saltavam na esplanada do "Palácio". Eram disciplinadas, obedientes - incluindo a "brava" - alegres e bem dispostas. Cantavam, dançavam. Davam um permanente espectáculo. Para nós, os meus pais e avós, e para mim, era sempre um prazer tê-las cá. Idem, quanto aos dois rapazes mais novos (vinham sempre dois a dois, sem mistura de sexos, não por "sexismo", mas porque eram as duplas que melhor se conjugavam na brincadeira), se bem que fossem um pouco menos exuberantes. O Jão-Jão era do género, mas mais narrador de histórias do que cantor (apesar de ser agora o músico nº1...) e o Carlinhos era tranquilo, todavia, mais de observar - e de fazer comentários pertinentes - do que de tomar o palco.
Se há dois Aguiar Pereira semelhantes, em certos aspectos, eles são a Nónó e o Carlos - ainda hoje, no que respeita a um sentido de equilíbrio e ponderação, que não é muito comum nos "Aguiar"...
Mas, depois de "entrar na briga", a Nónó, pelo menos então, era muito mais aguerrida. E comandante. Serena, sim, mas autoritária também - com diplomacia, evidentemente...
Sempre bem vestida, bem penteada (uma esplêndida cabeleira farta e comprida, de um loiro branco, com o sol de verão) com ar, digamos, naturalmente aristocrático, ao lado da irmã mal vestida, com as saias ponta acima, ponta abaixo, mal pentada, com um cabelinho fino e escorrido (mas, atenção, muito bonita, também, com olhos verdes grandes, expressivos e faíscantes!) e desageitadinha. A metamorfose em elegante mulher, que actualmente é, aconteceu anos e anos depois - acho, até, que só após o casamento...
A Nó sempre "destroçou" corações masculinos. Os pretendentes foram variados. De longe, claro, que ela não os deixava aproximar.
Veio a casar com um dos primeiros"pretendentes", que assumiu o interesse desde os tempos do colégio - o Helder, filho de uma das professoras.
Nessa época, já a Teresinha tinha acabado o seu curso de Direito, no Porto, e sido convidada por mim para ocupar o cargo de adjunta do gabinete, no Ministério dos Negócios Estrangeiros. O lugar vagou e lembrei-me dela, com o seu aspecto tão adequadamente "diplomático" . Em boa hora!
Revelou-se - digo isto com rigor, foi mesmo uma "revelação! - competentíssima, eficiente, rápida e simpática. Teve um mestre perfeito no Chefe de Gabinete, o Embaixador Jorge Preto.
Fez parte da minha última "equipa", do meu último gabinete, que foi o melhor!
Saí do governo, mas ela continuou. Foi convidada para a Delegação do Porto, e, mal chegou, o director partiu para férias e entrego-lhe a responsabilidade de tomar conta da "casa".