domingo, 13 de dezembro de 2009

W144 - FERNANDO CALADO CORREIA

Durante as próximas férias, em Espinho, vai ser feita a história do Fernando.
Para já, apenas este registo, e os parabéns.

Conheci o Fernando em Luanda, em fins de Fevereiro, ou princípios de Março de 1968 (há quase 42 anos). Estava lá destacado como médico militar, a cumprir o serviço militar obrigatório. Tinha o seu consultório médico no centro de Luanda e fazia as cirúrgias no Hospital do Ultramar, onde também dava aulas aos alunos universitários. Gostava tanto de África que, se não fosse o 25 de Abril de 1974 e toda a instabilidade que a partir daí de fez sentir em toda a Angola, o Fernando nunca mais regressaria a Portugal - hoje, por certo ainda lá estaria, perfeitamente integrado naquele ambiente e com uma vida bem mais livre do que aquela que se tem na Europa. Fez todos os planos para ficar em Angola - investiu tudo lá... e tudo lá ficou... Veio em Janeiro de 1975. Em Lisboa começou do "zero" a sua carreira de cirurgião, no Hospital Inglês (British Hospital). Comprou um apartamento no Restelo, onde ainda hoje vive.

10 comentários:

Maria Manuela Aguiar disse...

Esta é mesmo uma síntese à maneira da Docas. É tudo exacto, mas fica muito por dizer.
O Fernando é um médico excepcional e um homem de imenso charme. Além de bonito, tem sentido de humor, é culto, divertido, sociável.
Tem bom gosto e sensibilidade artística. É um fotógrafo fora de série, com obra publicada (um livro lindíssimo sobre as quintas de Sintra)! Da Docas, na sua idade de ouro, fez retratos também dignos de um museu da fotografia.
É um primo de quem gosto muito. E, como médico, salvou-me a vida uma vez, quando tive uma intoxicação arrasadora, em pleno Palácio das Necessidades. Fui internada, de emergência, no Hospital Inglês!

Maria Manuela Aguiar disse...

E também salvou a Endora, a minha querida Serra de Aire, convencendo a Maria a pô-la na dieta adequada.
A Maria tratava a cadelinha como se fosse uma criança. De manhã, dava-lhe sopinhas de leite. Ao almoço, carne, arroz, batatas. A meio da tarde, um lanche variado e, à noite, a Endora partilhava a nossa refeição e ainda comia fruta!
Como pouco exercício fazia, estava a engordar imenso. Caía-lhe o pelo, tinha problemas de pele...
Eu bem a aconselhava a cortar tais
excessos, mas ela não me ouvia. Felizmente, acreditou no Fernando - o Senhor Doutor... - quando ele, com ar muito severo, a preveniu que a continuar a sobrealimentar a cadela, ela não teria mais de 6 mese de vida.
Remédio santo! A partir daí a Endora passou a comer só duas vezes por dia e melhorou, a olhos vistos!

Maria Manuela Aguiar disse...

Algarvio e definitivamente sulista (e, talvez, como diria LF Menezez, também elitista e liberal) o Fernando raras vezes visita o Norte. Abriu uma excepção para vir à inauguração da primeira exposição de pintura da Docas, em Espinho.
Fez muito sucesso. A minha Mãe adora-o!

Maria Manuela Aguiar disse...

Falei do bom gosto do Fernando.
É, sem dúvida, uma das suas muitas virtudes.
Bom gosto em matéria de arte em geral, de música, pintura ou fotografia em particular, mas também bom gosto para se vestir e para escolher roupa elegante para a Docas - que entregue a si própria passaria a vida inteira com a mesma parda e triste indumentária...
Ao longo dos anos, sempre que a vía com um fato bonito perguntava:
"Foi o Fernando que escolheu, não foi?".
A resposta era sempre afirmativa.
Ainda assim é. Apareceu agora, no novo ano, com uma camisola de lã, beige, moderna e chique e um anorak desportivo, confortável, obviamente de óptima qualidade.
Claro, prendas do Fernando!

Maria Manuela Aguiar disse...

Só mais um breve comentário, antes de passar o computador à Docas, para dizer que o Fernando é também um "gourmet" e um cozinheiro requintado.
Quando vou jantar à Rua do Guarda Jóias é quase sempre o Fernando que prepara o prato principal: massas italianas, com molhos esplêndidos. My favourite!

Maria Manuela Aguiar disse...

Afinal ainda sou eu, para acrescentar uma história, contada pelo Fernando, que tem a ver com a matéria das migrações portuguesas recentes - ou relativamente recentes. Quando saiu de Luanda e se instalou no Restelo, em 1975, decidiu ir passar férias ao Brasil.
E, como lá estavam, então, a receber, com dispensa de formalidades, todos os retornados de África e ele tinha passaporte emitido em Angola, poderia ter ficado no país, na qualidade de imigrante, porque lhe carimbaram um visto permanente!
Generosidade brasileira que nós não saberemos nunca retribuir...
E, já que falo de viagens, lembro uma conversa tida com a Docas, o ano passado.
Passeávamos à beira-mar e ela contava:
"O Fernando foi para África duas semanas com uns colegas - para a Nigéria".
Incrédula, respondi:
"Não pode ser! A Nigéria está a ferro e fogo".
A Docas, para não fugir à regra, teimou, mas depois lá se lembrou que não era a Nigéria, mas o Senegal.
Il y a une différence, quand même...

Docas disse...

Conheci o Fernando na casa da Marilú Corte Real, que foi colega da Manela no Colégio do Sardão.
Ela estava com uma gravidez de risco , que a obrigava a permanecer na cama.
O Fernando era o médico que assistia, e ia lá a casa, de vez em quando.
A Xana tinha ido para Luanda de barco (navio Infante D. Henrique, em iª classe, evidentemente) com a Mãe. E, qundo chegou foi, por coincidência, substituir a Marilú como secretária de Pinto Andrade(já então perseguido pela PIDE e que, depois da independência, viria a ser assassinado pelo próprios compatriotas). Ao ver na secretária o nome da Marilú associou-a logo à Manela e foi a casa dela. Ficaram amigas. Eu acabei por ir com a Xana visita-la, várias vezes, e, numa dessas visitas, encontrei o Fernando. Ao vê-lo, fiquei imediatamente fascinada. Que homem bonito, elegante e charmoso. Pensei: Com este homem gostava eu de ter um romance.
Não perdemos tempo, até porque não havia tempo a perder. Já me tinha despedido da Mobil e comprado viagem de volta para Portugal, e, depois, para a Suiça, onde fui passar férias com a Manela (em Genebra).
Uma boa decisão ter "fugido" de Luanda, visto que nessa altura tinha um namorado, o Oscar Bruxelas, velejador, com quem passava fins-de-semana no barco à vela. Se tivesse continuado, enfrentava uma escolha difícil.
Assim, deixei os dois para trás, em África.
O Óscar veio a casar, depois. Morreu novo. Soube através da informática da Caixa. A mulher e o filho recebiam pensão.
Era o 2º casamento. O primeiro foi com uma alemã, de quem teve dois filhos.

Docas disse...

Reencontrei o Fernando em Luanda em 1973. Voltamos os dois em Janeiro de 1975 - eu com o meu Pai, que deixou lá tudo, casa (com renda paga durante dois anos) etc. com a intenção de regressar depois de férias. Foi sabendo de assassinatos de amigos e colegas e desistiu do regresso...
Em Lisboa, reatei o romance com o Fernando, até hoje.

Docas disse...

Houve épocas de grande convivência social, principalmente com a colónia belga.
Em casarões como se vêem em cinema, ou em moínhos velhos, que só os estrangeiros sabem aproveitar,ou em casas na praia sem electricidade, nem banheiro (íamos tomar banho a um riacho, com sabonete e toalha na mão).
Na barragem de Santa Clara - entre o Alentejo e o Algarve - muitos tinham casas de campo e juntavam-se, famílias inteiras ao fim-de-semana. Os jantares eram sempre muito agradáveis, com muita conversa e muito vinho.
As crianças eram responsáveis por lavar a louça, secar e guardar.
Tudo prático: duas mesas compridas, uma para os adultos, outra para as crianças.
Dois quartos só, com estrado e colchões encostados à parede, um para os adultos, outro para as ditas crianças.Cada um levava o seu saco cama individual, poupando, assim, lençóis e cobertores. Neste sistema cabia imensa gente nos dormitórios. A roupa arrumava-se em cabides de madeira encaixados num pau preso por duas cordas suspensas a partir do tecto. Tudo descontraído.
À entrada aproveitaram uma mangedoura para arrumar todas as malas e sacos dos visitantes.
Era giríssimo.
Havia barcos a remos, à vela.
Para os menos activos, mesas para jogar cartas, scrubbles e outros jogos. Eu costumava ficar num cadeirão a ver a paisagem, contemplativamente.

Docas disse...

Esta intensa convivência com estrangeiros era facilitada pelo trabalho do Fernando no Britsh Hospital.
Agora seria incapaz de fazer essa vida - levantar-me cedo para ir trabalhar e passear constantemente, de um lado para o outro aos fins-de-semana!
Mas foi óptimo! Um tempo muito feliz!
Tudo tem a sua época, como dizia a Cristina. É preciso saber aproveitar. E eu soube.