quinta-feira, 16 de agosto de 2018

O ENCONTRO DOS MEUS PAIS no Monte da Virgem NAMORO/CASAMENTO

I- A PARTIR DE UM SONETO (transcrever) Os meus pais conheceram-se num domingo de outubro de 1940, na "missa nova" de um amigo comum. No dia seguinte, ele partiu para Lisboa com o primo António, para uma visita a "Exposição do Mundo Português". De lá lhe enviou uma carta, acompanhada de um primeiro soneto, em que lhe fazia uma discreta, mas não demasiado subtil, declaração de amor. Para dois quase desconhecidos, impunham os bons costumes de época, discrição, mas a excessiva subtileza poderia, afinal, por em risco a mensagem. Embora a menina de Gondomar, com o seu 1.50 de altura, bonita e elegante num conjunto rosa pálido, vestido e casaco comprido, longos cabelos ondulados e olhos expressivos, muito claros, de cores diversas, mais verde o direito, azulado o esquerdo (singularidade para o qual gostava de chamar a atenção), parecesse intuitiva e vivaz, convinha não exagerar. Os encontros entre os dois, já não ocasionais, embora alguns se destinassem a parece-lo, haveriam de continuar e os sonetos, que os assinalavam, também. Ele sempre escrevera, com facilidade ao correr da pena. Era um poeta repentista, como a mítica avó Quitéria Francisca, grande contadora de histórias, que, nas festas e nos serões da aldeia, também cantava ao desafio, com rara acutilância e rima certa. E, assim como a avó dizia os versos irónicos, o neto escrevia os poemas de amor, por vezes à mesa do café, para si e para os amigos, desejosos de impressionar as namoradas, como poetas, que não eram, inspirados por uma paixão que, talvez, não o fosse... Não a julgava poesia que valesse a pena guardar, toda desapareceu, menos os sonetos que dedicou à mulher e ela, sim, conservou. Uma colecionadora nata - de cartas, postais, fotografias, e de outras coisas, igualmente ligadas a memórias, jarras, terços, caixinhas, serviços de chá, colchas, vestidos antigos de seda, a desfazer-se, coisas com história, que tinham passado pelas mãos de várias gerações. Apesar de muitas andanças, de terra em terra, de casa em casa, uma ameaça à salvaguarda deste tipo de espólio familiar, quase tudo chegou, com ela, ao século XXI, dentro das mesmas gavetas, das mesmas caixas, dos velhos albums, do imenso guarda-louça da bisavó Carolina . Fui achar os sonetos, manuscritos numa letra bonita e intemporal, em papel amarelecido, impecavelmente conservados, num fundo gavetão de guarda-vestidos. Levei-os ao poeta, para que os relesse, meio século depois. Com uma proposta de publicação. que inesperadamente,aceitou e até deu título ao futuro livro: "Íntimo". Epígrafe de um dos seus sonetos bem guardados. Estávamos na década de 90, tinha ele mais de setenta anos. Dividimos tarefas. Cabia-lhe fazer a revisão do texto, acrescentar ou cortar vírgulas, no que era muito bom. Costumava submeter ao seu superior conhecimento dos segredos da língua os meus textos - prosa, naturalmente, e sobre questões pouco poéticas, mas para efeitos de vírgulas, a mesma coisa. Na divisão de tarefas acordada, das restantes - capa, imagens, tipografia, edição - eu me encarregaria. Todavia, o poeta foi adiando, adiando... Reuniu as folhas soltas, uma para cada soneto, numa pasta de cartolina preta. Às vezes, até saía com a pasta debaixo do braço, a caminho do Café Palácio, sua segunda casa em Espinho. A intenção era ir trabalhando a pontuação, enquanto esperava os amigos, depois da leitura vagarosa do jornal (estava sempre atualizado, acompanhava, de perto, as vicissitudes da política - bem mais do que ea filha, então sempre de partida para as reuniões do Conselho da Europa ou para visitas às nossas comunidades transoceânicas). Em geral, os amigos não tardavam. ou encontrava-os já sentados nas mesas redondas do novo Palácio ou, mais raramente, no bar do Casino. O tempo, para os mais velhos, corre depressa, esgotava-se nas conversas, nos passeios à beira-mar, diante do ecrã de televisão (horas...), na leitura pela noite fora - ultimamente biografias, os policiais de Sara Paretsky, Ruth Rendel, Amanda Cross (que eu providenciava), os seus eternos favoritos Jerome K Jerome, Guareschi, Umberto Eco. E havia, ainda, os encontros em Gondomar, com os sobrinhos, os alegres sete filhos do António e da Xaninha. Mais os quatro do Mário e da Sameiro, onde nunca falhava nas tardes de sábado, não esquecendo as missa e novenas na capela da Senhora da Ajuda. A revisão dos versos não tinha, obviamente, prioridade nesta preenchida agenda de reformado, em terra de tertúlias, esplanadas, praias e mar, de que tanto gostava, desde menino. Não havia pressa - até que a morte veio subitamente, num domingo de Páscoa. O seu coração parou. Parou mesmo, coisa absurda, enquanto conversava connosco, ao jantar, a meio de uma frase... Bem disposto, a comentar um artigo de Marcelo (Rebelo de Sousa), uma próxima peregrinação a Fátima e a festa em casa do Mário, onde nunca falhávamos o "compasso". Uma tradição bonita, que andava perdida em Espinho, há muito, em Espinho, e se mantinha, religiosa e etnograficamente intacta, em São Cosme de Gondomar Já não sei qual foi a crónica de Marcelo, que, na altura, recortei, talvez do " Expresso". Incondicional admirador do cronista, decerto apreciaria agora o seu estilo na presidência. Dou por mim, muitas vezes, a pensar nos diálogos que teríamos sobre vagas de acontecimentos que se sucederam na sua ausência - vitórias do Porto, derrotas do Porto, Lopetegui e Sérgio Conceição, a "troika", a "geringonça", o perigo Trump, o "Brexit", o bom Papa Francisco... A coletânea dos sonetos, publiquei-a prontamente, sem mais revisões, com a ajuda de um dos mais jovens participantes da tertúlia do Café Palácio, o Fernando, que tratou da parte gráfica, numa tipografia dos Carvalhos Esta ligação aos Carvalhos, lugar onde viveu 11 anos felizes no famoso colégio, ter-lhe-ia agradado, com certeza 2 - rmãos - uma amizade qye remontava ao colégio dos Carvalhos. Foi através deles que conheceu, na capelinha do Monte da Virgem, em Outubro de 1940, a família Aguiar, a Maria Antónia, que viria a ser a sua segunda mulher. Maria Luísa Pinheiro, irmã dos futuros padres, andara no colégio do Porto com a minha mãe. Era natural, por isso, que, anos depois, estivessem todos presente na "missa nova" do Padre António - levando consigo as catolicíssimas avós Maria Aguiar e a avó Olívia Conta a mãe que dois bonitos rapazes passaram a missa, bastante distraídos, a olhar para ela, um moreno (o Fontes), o outro loiro (o João Moreira). O interesse de ambos agradava-lhe, embora confessasse, mais tarde, que, à primeira vista. preferia o moreno, Não só aquele, em concreto, ou seja, preferia os morenos, ao contrário dos homens, ao que parece, preferem as loiras. Todavia, naquele dia, quem se antecipou foi o rapaz do cabelo claro... Cá fora no adro, antes mesmo de serem formalmente apresentados, já ele lhe pedia para aceitar uma lembrança do dia da "missa nova" do amigo comum, comprada numa tendinha, que vendia terços, imagens da Virgem e pequenas peças de artesanato. O pai escolheu uma miniatura de socos de couro castanho, com que, depois, a Madalena e eu, costumávamos brincar, até que se perderam. Presente no círculo de apresentações e cumprimentos, formado à saída da capela, estava ainda a tia Arminda, que morava em Avintes e ia, assiduamente, a Gondomar, sendo amiga tanto da avó Olívia, como da Avó Maria. A tia Arminda era, na verdade, tia da Nucha Aguiar (professora de piano das primas mais novas, Mariazinha e Lolita) e gostava de visitar a família na casa da Gândara, berço dos Aguiar, que, nessa altura, pertencia oai da Nucha, o tio Augusto que a mãe lembra, sobretudo, pelos seus grandes olhos azuis e pela joalharia chique da rua das Flores. Enquanto as três cristianíssimas senhoras conversavam, João contava a Maria Antónia que, no dia seguinte, partia para Lisboa, com o primo António, para passarem férias e verem a exposição do "Mundo Português". De lá, lhe escreveu um postal, com um um soneto, em que, discretamente, falava de amor que se procura. Começava por falar, patrioticamente, da pátria: : "Lancei o meu olhar sobre esse imenso Tejo, À noite semeado de um encanto vago E vi em cada onda uma sombra, um lampejo Dessa história de heróis, que no meu peito trago" Dir-se-ia que toda a inspiração vinha da "expo", de uma imersão nas suas temáticas, mas não... na última estrofe o Autor sente o irreprimível desejo de lançar às ondas do Tejo o seu coração "em busca de um amor", Pelo, visto, não tardaria a encontra-lo. Continuou a correspondência, depois, os encontros em Gondomar, no Porto, num roteiro de terras, como Branzelo ou Santo Tirso, Santo Tirso, onde, por coincidência, a Maria Luísa Pinheiro dava aulas num colégio e o António, irmão da Mariazinha, como lhe chamavam, era tesoureiro da Fazenda Pública. Morava numa pensão e namorava a sobrinha dos donos, uma beldade de olhos verdes (Antónia ou Toninha, com quem viria a casar). A mana passou a visitar o irmão, repetidamente. Havia sempre um quarto para ele na mesma pensão, e encontrava-se com a amiga dos tempos do colégio, assim como com o namorado - evidentemente. alojado em outra pousada, como exigiam os costumes de época.. O tio António era tão severo como a avó Maria, embora com agenda mais preenchida, abrandasse a vigilância durante o horário de trabalho. Passeavam os jovens pelas ruas, pelo parque, sempre acompanhados pela Toninha ou pela Luísa. Entretanto, já o pai era companheiro aceite pelos alegres e turbulentos sete irmãos Aguiar! Os mais velhos casados e com filhos pequenos. Muito diferentes entre si, com uma tradição de confronto e discussões políticas, que jamais acabavam mal, embora raramente alguém mudasse de opinião e menos ainda de campo (o que nunca terá acontecido) . Nas gerações anteriores, uns eram monárquicos, outros republicanos. Naquela, em plena guerra, ou no pós-guerra, degladiavam-se, sobretudo, anglófilos/democratas e germanófilos/salazaristas. Felizmente, eram também muito dados às artes da música e da dança, facilmente passavam do modo de "tertúlia - debate" para o de tertúlia musical. Tocavam piano as senhoras, cantavam todos em coro, alguns, esplendidamente, como o Tio Serafim e irmãs Carolina, Lólita e Mariazinha (só a irmã Lena era melhor como pianista) . O pai com o seu belo timbre de voz, era uma mais valia - e não gaguejava a cantar, ao contrário do que acontecia no auge de qualquer debate. A futura sogra, embora preferisse ouvir as meninas a cantarem a "Avé Maria " de Shubert, gostavamúsica religiosa e profana e abria a sua casa grande. a Vila Maria, a serões, muito frequentados pelo pároco, os, coadjutores, padres de fora, seminaristas, freiras, missionários... Ser o João um católico de missa e comunhão quase diárias, tornou-o, desde o encontro do Monte da Virgem, muito popular na Vila Maria. No verão de 41, a família Aguiar não pode veranear na Foz, como era habitual. Madalena, a mais nova, estava convalescendo de uma "primo infecção" e os médicos aconselhavam os ares da serra, não as nortadas do litoral. Passaram o verão numa quinta de amigos, em Branzelo, numa espécie de "turismo rural". Duas primas do João, a Alda e a Maria Helena foram convidadas da avó. O João vinha, nos fins de semana, mas tinha de procurar quarto numa pensão, convenientemente perto. Eram noivos, sem oposição alguma, (graças ao catolicismo do viúvo, a que acrescia a fama de herdeiro rico), sem, contudo, permitir "liberdades" impróprias, segundo os seus cânones rigidamente conservadores. Todavia, as filhas, sobretudo a dupla Mariazinha/Lolita, sabiam achar mil e uma maneiras de contornar proibições. Cumplicidades nunca lhes faltaram, a de uma com as outra, a das amigas e, particularmente importante, a dos vários e sucessivos empregados ao serviço na "Vila Maria" (ou das criadas e criados, como então se usava dizer). Sobre Branzelo há uma carta do Pai, em versos bem humorados, contando uma atribulada viagem de regresso de fim de semana, em que os convivas tinham sido muitos, incluindo o jovem Padre Vitor Hugo, coadjutor na paróquia de São Cosme, autor uma grande reportagem fotográfica dos acontecimentos... Avintes, tantos de tal daqui fulano de tal etc. e tal Maria: Venho escrever-te/porque o ler também diverte/quem nada tem a ocupá-la.../- E enquanto a pena desliza/A gente sente, imprecisa,/ A sensação de que fala!//Começo por te contar/ Que ainda antes de chegar/ Ao Porto- que forte perda/ O camião de Branzelo/ Furou antes do Covelo/ E teve "panne" na Meda/E assim sem mais novidades/ Cheguei cheio de saudades/ Ao café para engraxar;/ Mas aí, nova surpresa/ Sentado em frente a uma mesa- / Me estava a aguardar.../- Espantei que nem Texugo/...Era o Padre Victor Hugo/ Cheio de fotografias./ Tinha ali toda a excursão/- A Maria e o João/ E mai-las outras Marias!/ A Lolita numa delas/ Está tão só que mete pena./Apenas aos pés, deitada,/Uma galinha coitada (esfolada) Tem pena de não ter penas.../ (Diz a má língua que as outras eu/ As comi- tenham juízo -/ Que alguém as comeu, comeu!/ Quanto a mim estou "indeciso" ...)/ Na da Penha vi: que vento!/ Se me rio mais rebento/ De dar tanta gargalhada - / Quanto a ti minha "migalhas",/ Se te ris mais, escangalhas/ Não se te aproveita nada!/ Agora assunto mais grave/ - A Lolita sempre quer/ Fazer anos quarta-feira?/ porventura ela não sabe/ Que isto de envelhecer/ É grande asneira, ui, que asneira?!/ Ela que tenha juízo/ durma bem e ganhe siso/ Um ano a mais... não vem mais/ A graça morre, se passa.../ Recordar é uma desgraça/ Desgraças já há demais!/ Oh abri alas.../ E a Lena como está?/ Sossegue, sim?- que a Tatá/ Um dia faz-lhe a surpresa!/ Lá quando menos o conte/ Inda o "Sole" "male" desponte/ Na manhã! Ei-lo a ele!que surpresa!/ Oh! abri alas!/ E vocês como estão?/ Não estejam com "cem" cerimónias!/ Por aqui andou toupeira/ Já lambeu a capoeira,/ Sou todo vosso/ João Uma narrativa, que podia ter saído da pena, ou melhor, oralmente, da voz da avó Quitéria Francisca... cheia de pormenores explícitos e sub-entendidos - alguns difíceis de descodificar, mas que nos falam de amizade e boa disposição, de passeios, de romances de verão e de amores que se revelariam duradouros... Nos versos dedicados às futuras cunhadas Lolita e à Lena, a primeira letra de cada estrofe dá-nos uma pista, o nome dos rapazes muito especiais, nesse agosto de 41: Eduardo e Esolino. O primeiro, que viria a ser o querido e divertido tio Eduardo, acabado exemplar "bon vivant", estava na lista negra da Avó por isso mesmo, e por ser católico pouco praticante(apesar das famílias pertencerem ao mesmo círculo social da vila de Gondomar...). O Esolino era vizinho do lado, as propriedade confinavam, o pai era músico, compositor, tocava na igreja, (preenchia uma condição "sine qua non"...), parece que gostava da menina, muito bonita e serena (ao contrário das manas, que eram tão bonitas, quanto temperamentais). E talvez ela lhe achasse graça, mas aos 15 anos, era cedo para se pensar em compromissos. A Tatá que levaria o simpático vizinho a Branzelo era a Tia Hermínia, cunhada da Avó Maria e uma segunda mãe da Tia Lena, sempre pronta a fazer-lhe todas as vontades. Mais enigmática é a menção à galinha retratada numa foto, e às galinhas devoradas. Talvez uma forma de auto-crítica, porque o Pai tinha um apetite muito saudável, que manteve até à meia idade, comia quantidades assombrosos de carne de qualquer espécie. Comia imenso e bebia pouco. O gosto dos contrastes - ele tão alto e tão apreciador de boa mesa, ela tão magra, frugal e pequenina... Quanto ao passeio à Penha, havia de repetir-se muitas vezes, afrontando a ventania, com risos e gargalhadas. (Como os jovens de 20 anos, em Portugal, estavam longe de uma guerra tão próxima, que acompanhavam pela imprensa e pela rádio, mas não entrava no seu quotidiano!).
. O casamento civil foi, em Gondomar, a 1 de novembro de 1941. Cada qual continuou em sua casa, pois para as famílias o que contava era a cerimónia religiosa, realizada na Igreja Matriz de Gondomar, duas semanas depois. O "pedido da mão da noiva" tinha sido feito formalmente, à mãe e ao irmão, o Tio Alexandre, o que sempre acompanhou os sobrinhos como um pai, na falta do pai. O Tio defendeu, pois, paternalmente a Maria Antónia, com uma variante de "sermão laico" sobre as suas obrigações como marido (era um republicano anti-clerical - os seus únicos defeitos, do ponto de vista da irmã - e o ser o noivo muito devoto para ele não era virtude que o recomendasse). Lua de mel na bela região do Vouga! Como o noivo ainda não tinha comprado o seu primeiro carro, viajaram no comboio, no famoso "vouguinha", a partir de Espinho, fazendo paragens para pernoitar, aqui e ali, até chegarem a Viseu, cidade onde a minha mãe fez questão de passar uns dias. Era outono, quase inverno, mas o tempo pouco importava. Voltaram a Gondomar - a Avó Maria insistia que ficassem a viver na sua casa enorme, onde já só só moravam com ela dois filhos solteiros, o Zé e a Lena. O Pai tinha encontrado uma nova família, grande e divertida - gostava de todos e todos gostavam dele. A Mãe com os sogros nunca se entendeu muito bem - acho que nunca a viram como a filha que tinham encontrado em Celina, e ela retribuía, interpondo cada vez mais distância - mas adotou e foi adotada, facilmente, pelos tios e primos, e até também pela famosa Avó Quitéria Francisca. Achava-lhe a maior graça, mesmo quando a repreendia por usar saias tão curtas (coisa que não toleraria a mais ninguém, com exceção da sua mãe, naturalmente). A uma e outra respondia que "era a moda", que sempre fez questão de seguir, à sua maneira. Curiosamente, nesse aspeto, o Pai não era diferente - embora muito mais comedido em matéria de compras, o seu lema era "pouco, mas bom" - fazendas inglesas, costureiro famoso do Porto (durante muitos anos, o Arménio). Quando iam para Avintes passar uns dias (a casa dos Avós tinha, também, espaço de sobra), o convívio com os tios e primos Reis e Marques, sobretudo, mas também os Capela era uma festa constante. Mas, onde quer que estivessem, o Porto era um ponto de encontro frequente. Para tomar café (no Guarani, no Imperial, no Paládio), para ir ao cinema nas noites de sábado, para deambular por Santa Catarina e Santo António. Curiosamente, os casais frequentavam juntos esses cafés, com os primos solteiros, o que, naquele tempo, não era coisa habitual (seria influência das vivências de Espinho, onde isso era a regra?). Mas, claro, as senhoras, quando só entre elas, escolhiam as confeitarias tradicionais, como a do Bolhão, ou a Ateneia. A Mãe e a prima Cristina eram

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