quarta-feira, 9 de outubro de 2019

PARTE II A FAMÍLIA PATERNA - PEREIRA DE AGUIAR


4 - OS PEREIRA DE AGUIAR  -  SOB O SIGNO DA DIVERSIDADE
De diversidade se pode falar, a seu propósito, em diversos sentidos. Antes de mais, num confronto com o outro lado da família. Enquanto nos Barboza e nos Ferreira Ramos há uma memória que os traz até nós, com a marca de uma acentuada homogeneidade  não só de classe social, de fortuna ou profissão (com predominância de comerciantes, empresários, funcionários públicos, professores, médicos, advogados, que se irá acentuando nas novas gerações), como de intervenção cívica, para além das fissuras ideológicas, nos Aguiar encontramos precisamente o oposto.




A TRISAVÓ ANNA PEREIRA DE FRANÇA
De Anna Pereira absolutamente nada se saberia se seu trineto Hernâni Maia não tivesse escrito sobre ela, baseando-se num fidedigno relato da prima Beatriz Lobão. E, assim, uma avó de tantas gerações revive, num perfil enobrecido de coragem e de bondade, recompensadas numa vida de início árduo e de fim feliz.
Nasceu em 1813, a quinta dos onze filhos de Pedro Pereira de França e de Maria Fernandes de Jesus, de Pevidém, Seus avós paternos eram Manuel Pereira e Custódia de França, originária de uma antiga família de São Cosme - de apelido  França, descendentes remotos de gente muito abastada, os Tomé, de Bouça Cova, e os Moura, da Cónega, ligados. desde 1616, pela união de Catarina Tomé e Domingos de Moura.
Anna casou, no dia 1 de julho de 1834, com José Pinto dos Santos Garrido, de Penafiel. Ficaram a morar na Gandra  e esperaram seis anos por uma filha única, Rosa. Ele morreu logo depois, deixando-as, mãe e filha, em muito má situação financeira. A fortuna dos antepassados há muito se perdera, sucessivamente dividida entre membros de famílias extremamente numerosas 
A viúva, mulher destemida, sem poder contar com ajuda de ninguém, tratou de se estabelecer, ali mesmo, na Gandra, com um pequeno comércio, que lhe permitiu subsistir e criar a menina. Na sua venda veio a conhecer João Moreira dos Santos, filho de gente rica, da Foz do Sousa, negociante de ourivesaria que ali passava, de vez em quando, quando, terminados os afazeres, regressava a casa.
 Num fim de dia de temporal, quando se pôs a caminho da Foz, foi surpreendido por fortes chuvadas, e chegou à loja de Anna completamente encharcado. Condoída, ela teve o gesto gentil de lhe emprestar roupa do falecido marido, guardando o fato sujo e molhado para o limpar e devolver, quando ele voltasse. Encantado com a sua postura, João  Moreira não tardou muito  em a pedir em casamento. Um pedido que a surpreendeu, porque já ia nos 38 anos, e ele, também viúvo, após um casamento efémero e sem descendência, era um jovem de 25. Pôs uma só condição: teria de tratar Rosa como se fosse sua própria filha, pedido ao qual um homem de bom caráter não teve dificuldade em aceder, nem em cumprir. 
O matrimónio foi celebrado em 28 de junho de 1851. No ano seguinte, nasceu Violante Pereira Moreira dos Santos,  em 16 de junho de 1852, e seguidamente, em 21 de fevereiro de 1854, já a mãe ultrapassara a barreira dos quarenta, um rapaz, João Moreira.
 Rosa foi madrinha da irmã e seriam íntimas ao longo de toda a vida.
Anna formou com João Moreira dos Santos e os três filhos uma  família mais pequena do que a dos pais, (tinha 10 irmãos), ou do que a sua primogénita (com os 15 Pereira de Aguiar)), mas perfeitamente harmoniosa. O marido tornara-se o ourives mais abastado de Gondomar. Morreu novo, com 49 anos, em 1874, mas, desta feita, os herdeiros puderam manter intacto o seu nível de vida. 
De Anna existe uma só imagem, guardada num album dos netos António e Maria Aguiar. Um retrato de estúdio, que a mostra em idade avançada (faleceu com 73 anos), possivelmente já viúva, vestida de preto, com uma jóia  sóbria. Já os filhos aparecem juntos em muitas fotografias de passeios e festas de família, a testemunhar a amizade que sempre mantiveram.

Do marido se conhece também, apenas, uma foto pertencente a seu trineto Hernâni Maia. 


OS BISAVÓS ROSA PEREIRA (de FRANÇA) E MANUEL PEREIRA DE AGUIAR

 Rosa Pereira e Manuel de Aguiar, tiveram 15 filhos, que chegaram à idade adulta (não havendo notícia de que outros tenham desaparecido em crianças, como então era comum). Ao que parece, distinguiam-se mais pelas diferenças do que pelas parecenças e tiveram destinos também muito variáveis. Maria, a mãe de Maria Antónia, dizia que nunca vira família que, nesse aspeto, se comparasse àquela! Havia loiros e morenos, os muito bonitos e os que não o eram, os  altos e os baixos, os ricos e os pobres, os muito trabalhadores e os boémios, os que que fizeram história da família e os que caíram no mais completo anonimato.... De Manuel de Aguiar, a longa lista de avoengos está por investigar. O pai, Miguel Aguiar e as gerações imediatamente anteriores eram, provavelmente do concelho de Gondomar.  
Já ascendência de Rosa Pereira está estudada, ao longo de mais de 300 anos, graças por Hernâni Maia, professor catedrático e especialista de genealogia, descendente direto de um segundo matrimónio de Anna Pereira de França, a mãe de Rosa. São, surpreendentemente, 300 anos de enraizamento em Gondomar. Deles, todavia, só se conhecem o grau de parentesco, nomes, apelidos diversos, como França. Moura, Castro. Alguns desses antepassados ter-se-iam dedicado à arte que põe no mapa a vila de Gondomar .Numa imprecisa crónica oral destaca-se a vaga memória de uma parente, Joaquina, que foi a primeira mulher de Camilo Castelo Branco (a pesquisa do primo Maia permitiu confirma-la), e de um Bispo, figura ainda mais nebulosa, ainda não encontrada e, que, se existiu, será do lado Aguiar.



OS IRMÃOS DE ROSA

VIOLANTE PEREIRA MOREIRA DOS SANTOS

Violante casou com um jovem ourives, empregado de seu pai, José Martins de Almeida Lopes, pouco depois daquele falecer, em 1834, Em dez anos de casamento, tiveram sete filhos, e mais não foram provavelmente, porque ele decidiu tentar a sua sorte no Brasil, onde foi pouco afortunado e onde acabou por falecer. 
Violante, com a meação na herança do pai, criou cinco raparigas e um rapaz (uma das meninas desaparecera prematuramente), continuando ligada ao ramo da ourivesaria  Todas as filhas casaram bem e ela teve um vida confortável , na sua casa da Gandra, falecendo aos 81 anos




JOÃO MOREIRA 
João Pereira Moreira dos Santos, conhecido como João Moreira, foi casado em primeiras núpcias, com a abastada proprietária de uma joalharia da Rua das Flores, de quem não teve descendência, unindo-se, depois de viúvo, a uma criada, de nome Rosa. Era um tio que Maria Aguiar visitava, muitas vezes
JOÃO MOREIRA
João Moreira era um jovem de 20 anos, quando perdeu seu pai, com quem, ainda adolescente, aparece num formal retrato de fotógrafo. Coube-lhe continuar os negócios de família e, também dele se pode dizer que casou bem, com a proprietária de uma grande joalharia da Rua das Flores. Levou sempre um vida de alto nível, foi um dos primeiros gondomarenses a ter carros de luxo e motorista.
Desaparecida,a mulher, tomou por companheira uma criada, Rosa, com quem terá oficializado a união.Julgava-se que não teria filhos de qualquer dos matrimónios, mas à Madalena Aguiar (Maria Madalena do Amaral Barbosa Aguiar Ribeiro, filha do Tio António e uma das primas que ainda vive em São Cosme), que ele teve um filho da companheira e, depois, mulher Rosa, que em vida não perfilhou, mas reconheceu no testamento, deixando-lhe a metade da sua grande fortuna, que incluía quarteirões de prédios na rua do Heroísmo, no Porto. Um apesquisa do primo Hernâni sobre essa informação da Madalena, permitiu desvendar mais uma pequena história, que parece ficção literária, mas é real, já em pleno século XX. Não sabemos se pai (ou pais) e filho sigilosamente conviviam. Certo é que o segredo só foi descoberto no século XXI.
O Tio Moreira foi sempre muito especialmente estimado pelos sobrinhos António e Maria Aguiar, e pelos sobrinhos netos, que o visitavam, com frequência, na sua casa de Quintã, e o convidavam para a Vila Maria.
Fotos de um piquenique, em que está em primeiro plano, à direita, entre a segunda mulher e mãe desse filho secreto. e a irmã Rosa Pereira, de um passeio de automóvel, em que é acompanhado pelas irmãs, Rosa e Violante. e de um convívio na casa da Gandra



ROSA E VIOLANTE - IRMÃS INSEPARÁVEIS
Rosa e Violante moravam ambas na Gandra,
 Rosa e Manuel Aguiar, num casarão de pedra, à face da estrada, com extenso terreno nas traseiras. Manuel era ourives, não se sabe precisamente se fabricante (hipótese mais provável), se dono de estabelecimento comercial. Também não é seguro que os canteiros de rosas, que mais tarde, ocupavam uma área grande do jardim, existissem já no seu tempo. Mas  ali brincou, com certeza, uma numerosa prole, crianças alegres e engraçadas, pois a extroversão e a vivacidade são as qualidades mais comuns aos Aguiar, ao menos aos que se mantiveram no círculo de convivência na Vila Maria, levando a supor que os demais não fossem  nesse aspeto tão diferentes como eram em tudo o resto.







 Solidariedade foi também valor que parece ter predominado em família tão propensa a clivagens de fortuna e infortúnio, levando uns a valerem, fraternalmente, aos outros. Conhecem-se muitos exemplos: o de Augusto que, ao ficar, em partilhas, com a casa da Gândra, manteve a irmã solteira Guiomar e uma outra, casada com um jovem chamado Camilo, no amplo rés do chão da sua casa, ocupando ele o primeiro andar, que, num mesmo plano, dava acesso direto  ao jardim.
De igual modo, João e António, no Rio, tentaram, em vão, dar modo de vida ao aventureiro e estroina Alberto (Alberto, talvez, nem o nome pode ser tido por exato...). Na geração seguinte, são é exemplar a atitude dos sete Aguiar Saraiva, que, tendo ficado órfãos e empobrecidos, quando uns eram muito jovens, uns, e outros ainda crianças, se uniram, os mais velhos ajudando a bem educar os pequenos, recuperando, todos, assim, todos, o estatuto social e o nível de vida que fora o dos pais.
Se é certo, que sempre procuraram ajudar-se mutuamente, não pode, porém, negar-se que a história da  família se fez e transmitiu com acento tónico nos mais bem sucedidos, e que dos fracos praticamente  não reza... Aqueles criaram, entre si, um círculo mais íntimo de convivência:
João e Augusto, António Carlos, e uma das raparigas, Amélia. os favorecidos com o "toque de Midas".
Gracinda Aguiar (Saraiva), casou com homem rico, ainda que, depois, o casal tenha conhecido oscilações de fortuna.
Os filhos continuariam sempre próximos dos Barbosa Aguiar, quase como irmãos. António, o mais velho era afilhado do tio António Carlos
Dos outros, Pereira de Aguiar ficaram quase só imagens em retratos coletivos..


.JOÃO PEREIRA DE AGUIAR

Foi, na última década do século XIX, o primeiro da sua geração a partir para o Brasil, o país para onde, então, quase todos os portugueses emigravam. Ignora-se a data exata em que deixou Gondomar, se foi ao encontro de parentes ou conterrâneos e como decorreu a adaptação ao novo país. Pode, sim, dizer-se que rapidamente se integrou e alcançou um elevado patamar social e económico, como joalheiro, pois em 1896 chamou para junto de si, António, o irmão mais novo e ajudou-o no início de uma ascensão meteórica, Era um homem muito elegante e bem relacionado, introduzi-o nos círculos que frequentava na sociedade, incentivou-o a valorizar-se pela cultura, pois ele mesmo prezava esse lado do seu percurso brasileiro, não a limitando aos aspetos materiais, com que muitos dos emigrantes dessa época se contentava. Era assíduo conviva nos meios portugueses, o seu nome consta, pelo menos, entre os associados do Real Gabinete de Leitura do Rio de Janeiro, uma instituição já florescente e prestigiada, que acolhera, até a Academia Brasileira de Letras na sua sede, e possui, ainda hoje, uma extraordinária biblioteca, atualmente a segunda maior do país, e uma das mais belas do mundo..  Em 1902, casou com Judith Andrade da Cruz Ferreira, uma jovem encantadora, da burguesia carioca, que viria a ser, a partir de 1910, a melhor amiga da cunhada Maria. Se algum dia João alimentara um projeto de retorno às origens, o amor por uma brasileira radicou-o lá, definitivamente lá. Foi no Rio que construiu a sua imponente mansão na Rua de Payssandú. À família de São Cosme, enviou a fotografia da casa, onde se destaca o detalhe simbólico de uma águia grande escura na frontaria branca. Também António Carlos, mais tarde, colocou na Vila Maria, bem alto, na cercadura de painéis de azulejos a toda a volta do torreão, o desenho de águias castanhas, de asas abertas, segurando um "R" no bico. 
No Rio, viveu sempre em casas arrendadas, como quem estava de passagem, no centro da cidade ou em Santa Teresa, onde os filhos de Judith e João aparecem em muitas fotografias com os tios e primos portugueses.
Depois que estes regressaram a Gondomar, em 1920 e que António Carlos realizou a sua última viagem ao Rio em 1926, o ano em que veio a falecer, os contactos foram mantidos, durante várias décadas através da correspondência das cunhadas Judith e Maria. Todas essas cartas se perderam e só pelas memórias, não muito precisas, de Maria Antónia se sabe que entre os seus descendentes houve aqueles que continuaram os negócios da família, outros enveredaram pela diplomacia ou por carreiras políticas. Com Portugal não conservaram ligações, perdidas que foram os contactos entre os promos, apenas retomadas por José Augusto, na década de cinquenta, quando viveu, por poucos anos, no seu Rio de Janeiro natal. Há algumas fotos dele com as primas, todas muito bonitas, com aqueles traços que, por generalização (excessiva), se atribuem à maioria dos Aguiar, a tez morena e os grandes olhos claros.
Não se conhecem, sequer os seus nomes, apenas se sabendo que o mais velho, João, como o pai, nasceu em 1903 e veio a casar com Mariette Veronese, dando origem ao ramo Veronese de Aguiar










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AUGUSTO PEREIRA DE AGUIAR

Augusto Pereira de Aguiar teria  quase a mesma idade de João. Era alto e, talvez, o mais parecido com o pai, um belo homem loiro, com olhos azuis. sorriso fácil, invariavelmente bem disposto. Como João e António, era dono de uma joalharia - a dele na emblemática Rua das Flores, as dos dois expatriados na não menos emblemática Rua do Ouvidor no Rio de Janeiro.
O negócio prosperou e ele podia e gostava de viver bem. Sempre impecavelmente vestido, (usava, frequentemente, rosas frescas na lapela), frequentava tertúlias e teatros portuenses. Melómano, quis que as filhas, Lucinda  e Leonor estudassem nos melhores colégios e no Conservatório de Música. Uma quarta menina morreu tuberculosa. Maria Antónia não se lembrava dela, e nem sequer do nome, só de ouvir dizer que era linda. A Tia Leonor Sá era de Avintes e aí, na casa de família, que ainda existe na Rua 5 de Outubro, nasceu a filha Lucinda, que seria a madrinha da Maria António, mais uma prova da sua proximidade com os Barbosa Aguiar.
Leonor (Nucha) terminou brilhantemente o curso do Conservatório, mas não fez carreira artística. Casou cedo, passou a dar aulas particulares de piano e foi professora das primas, Maria Antónia, Glória (Lolita) e Madalena, todas bastantes mais novas. 
 Maria Antónia guardava do Tio Augusto as melhores recordações. Visitavam-no amiúde na casa da Gandra, que ele tinha remodelado e mobilado. Do jardim há uma única fotografia em que vê a mãe Rosa Pereira com três pequenos netos não identificados e, em primeiro plano, o filho António à conversa com um irmão, (não Augusto, que era muito alto) ou um amigo. O jardim teria sido, tal como a edificação antiga, modificado ou o roseiral já existiria? A sua paixão por rosas, partilhada pelo irmão António Carlos, pode ter sido, ou não, inspirada pelos pais. Sabe-se que ganhou, pelo menos, um prémio importante, em 1903. Seu bisneto, Homero Aguiar Figueiredo, é hoje, em São Paulo, o guardião desse troféu. Por esse primo se soube que Lucinda casou com Homero Figueiredo, quando ele era proprietário de uma farmácia no centro do Porto (perto do antigo Governo Civil e da Praça da Batalha), e, muitos anos depois, acompanhou o marido, nas suas andanças pelo mundo. Ele montou uma farmácia em São Paulo, e, de seguida, mais duas no Perú. A aventura peruana levou, por fim, à sua separação de Lucinda, para se casar, pela segunda vez. A vida, porém, não lhe correu favoravelmente -  ao que consta, não foi um gestor. prudente... Tarde demais chamou o filho, que, em vão, tentou salvar esses negócios. Lucinda, que passara alguns anos no Porto, à frente da Joalharia da Rua das Flores, uma mulher corajosa, decidida, sempre lembrada pela afilhada pela cordialidade e alegria de viver, não hesitou em partir para São Paulo, e ajudar a família, quando Homero os deixou, para se lançar em negócio no Perú, e, depois, na América. Por lá ficou, e, a partir dos anos cinquenta, cessou as vindas a Portugal, perdendo-se, desde então, o contacto com ela - até que, em 2019,  as novas tecnologias nos trouxeram notícias, através de um bisneto. Até então era, sobretudo, uma boa recordação de infância da afilhada das tardes passadas na farmácia de Homero  "naquela rua que vai da Sé para a Batalha, passando pelo antigo Governo Civil", a comer enormes quantidades de doçarias,por vezes na companhia de um sobrinho de Homero, Fernando Figueiredo, que viria a ser seu médico e grande amigo. 




Ainda segundo Maria Antónia, em idade avançada, o Tio Augusto engordou, tornou-se verdadeiramente figura larga e imponente, acentuando pareceças com o Rei Dom Carlos. Os seus olhos claros eram espantosos, sombreados por pestanas muito longas, que impressionavam as sobrinhas no meio das quais era imensamente popular..
Ao que se julga, manteve negócios com o Brasil, para onde exportaria jóias, por intermédio dos irmãos emigrados, sem nunca se deixar atrair pelo sonho da fortuna brasileira - ganhou a sua sem sair do Porto. Das filhas só Lucinda emigrou, e não para o Rio, mas para São Paulo, levada pelas aventuras e desventuras do marido, Depois de se ver só, já o Pai tinha falecido, conseguiu reerguer-se com os filhos e viver as alegrias da chegada de netos e bisnetos. Uma história com fim feliz
Maria Antónia nunca mais conviveu de perto com ela, as visitas foram poucas e breves, e nem sequer sabia exatamente de onde vinham os seus laços de amizade com a muito falada Tia Arminda, de Avintes - falada porque por seu intermédio conheceu o  futuro marido, João Dias Moreira,  no Monte da Virgem, O encontro, que terá sido engendrado para os aproximar, no cenário convenientemente místico de uma "missa nova" de um padre ordenado no Porto. Encontro bem sucedido, numa sequência de tentativa imediata de corte masculina,  em prosa e verso, com poucas reticências femininas, namoro sério e casamento. Arminda Sá era, afinal, irmã de Leonor Sá. Ou seja, a tia avintense de Lucinda, visitante habitual da  mana, na casa da Gandra, e amiga tanto da cunhada de sua irmã, Maria Aguiar, como da mãe de João, Olívia Capela. Homero Aguiar Figueiredo, um dos bisnetos do Tio Augusto veio preencher uma lacuna de informação lacuna e, também, dar a esta crónica familiar os únicos retratos que passamos ter da Tia Leonor e do Tio Augusto, assim com uma mostra da sua bonita caligrafia, (por sinal semelhante à do Irmão António), num postal escrito, em 1930, a um sobrinho Armando Pereira d' Aguiar.  Resta desvendar quem seria Armando (hipótese mais provável: um dos filhos de Judith e João Aguiar). Na verdade, só se conhece um outro irmão que viveu e morreu no Brasil, Alberto, que terá emigrado com ou logo depois de João, pois era, como ele, dos mais velhos. Personagem enigmática!.Não se ficou pela cidade, sumia no interior, com paradeiro incerto. Ele próprio, e tudo em seu redor, é um mistério. Casado ou não, teve vários filhos, um dos quais foi recolhido e educado pelos irmãos, frequentando bons colégios. tal como os primos ricos. Ele, o pai, nunca se fixou em lado nenhum. Aparecia, de longe a longe, com aspeto que desgostava a família e ficava por pouco tempo. Perdida a paciência, João e António desistiram da missão de salvamento.... A mais persistente protetora foi a cunhada Maria. Por sua intercessão, António mandava-o comprar fatos apresentáveis e alojava-o em casa. Um dia, disse adeus e não voltou mais. Um dos filhos educados no Rio, foi empregado de confiança do Tio António que, quando começou a preparar o regresso a Portugal, com ausências prolongadas, o deixou a gerir todos os empreendimentos, com as mais inesperadas e dramáticas consequências. Seria, então, um homem de vinte e muitos anos, quando a primogénita dos Barbosa Aguiar, Carolina, andava pelos sete ou oito anos. Esse sobrinho ingrato não pode ser o Armando a quem o postal é dirigido 1930, pois fala da saúde de seu pai - que será João, pois Alberto desaparecera no início dos anos 20.



AMÉLIA PEREIRA DE AGUIAR

A única mulher empresária que se conhece nas gerações passadas, em qualquer dos ramos da família. Talvez em parceria com o marido, que terá sido, em qualquer caso, de muito mais baixo perfil.. A harmonia no casal parece ter imperado sempre, pois deixou à posteridade uma mensagem de felicidade, de pleno contentamento com a vida que Deus lhe deu, numa frase célebre:"Deus castigou-me com muita saúde, muitos filhos e dinheiro" 









Amélia permanece como figura lendária, pela força de caráter e por riqueza ganha em domínios onde nenhum antepassado se terá aventurado antes: estaleiros de barcos, frota pesqueira...  E uma frase, a única que ficou para a posteridade, revela, em sínteses perfeita, um percurso feminino extraordinário "Deus castigou-me com saúde, filhos e dinheiro" Tudo teve em abundância!.Supõe-se que nos favores divinos incluiria um marido discreto, cujo nome se conseguiu desvendar numa pequena notícia da imprensa - o Sr Oliveira Aguiar. Seria um primo ou parente ou uma coincidência num apelido não muito comum, mas nem por isso propriamente raro? Mais provável é o parentesco, mas não está provado.
Uma fotografia do espólio de Maria Aguiar, amarelada e riscada (estrago atribuído a um dos seus imparáveis meninos, que espalhavam terror infantil e destruição à sua volta...), tem no centro uma senhora alta e forte, de escuro vestida e de rosto determinado, rodeada de adolescentes e crianças, que se supõe ser ela...). É a matriarca dos Aguiar de Matosinhos, com os quais se perderam laços de relacionamento familiar. A migração de Amélia para Matosinhos, embora interna e próxima, produziu, neste aspeto, efeitos não muito diferentes dos da à emigração brasileira de João e Alberto.

1 comentário:

Anónimo disse...

Ola Prima! Boa tarde,
Aqui é seu primo e orgulhoso bisneto de Augusto "Homero Aguiar Figueiredo", obrigado pelo testemunho, acabei de ler ao meu pai que ficou muito contente.
Grande abraço