quinta-feira, 23 de julho de 2020

W PADRE MANUEL PINTO DA SILVA, O PRIMEIRO PÁROCO DE ESPINHO

O Padre Manuel Pinto da Silva era meio-irmão de meu Bisavô João Dias Moreira e o Avô Manuel tinha grande orgulho nele, por ter sido intelectual, muito culto e inteligente, que passou grande parte da sua vida no Paço, junto do Bispo do Porto, e que era, também, também um homem muito corajoso, que defendia as suas posições contra o Poder, se preciso fosse.E contava muitas histórias a seu respeito, dos quais me ficaram apenas, infelizmente, memórias vagas, tirando a que aconteceu durante uma procissão, pue achei particularmente divertida.
Da sua biblioteca, havia ainda alguns livros em Avintes, entre eles uma Bíblia valiosa, que foi um dos meus primeiros livros de leitura, a sério, andava eu no fim da primária e nos começos do liceu... Tinha preciosas iluminuras, e um papel de toque raro, que me encantava. E, como descobri, o antigo testamento, era um manancial de hsitórias e aventuras fabulosas. Apanhada a lê-la, logo me foi retirada e escondida num sotão, onde não tardei a encontrá-la, e a deleitar-me com tão dramáticos, desventurados ou crueis heróis. Por fim, tanto tempo que eu passava no sotão levantou a desconfiança da Avó Olívia, que voltou a surpreender-me na leitura proibida da Bíblia. Desta vez, aconteceu o pior: ofereceu a precosa Bíblia ao Abade de Avintes, que era o Padre Álvaro. O meu desgosto não teve fim, ainda hoje o sinto...
Meu Tio bisavô nasceu no lugar do Paço, em Avintes, a 28 de Março de 1838. Era filho de José de Sá e Silva e de Maria Pinto (que, depois de enviuvar, casou, em segundas núpcias, com Manuel Dias Moreira). Foi ordenado Padre em 1860. Foi padre encomendado da Abadia de Avintes, até que o  Bispo do Porto, Cardeal D. Américo Ferreira dos Santos o convidou para seu fâmulo. No Paço episcopal exerceu funções durante muito anos. Em 1989, o Bispo encarregou-o de organizar a paróquia de Nossa Senhora da Ajuda, em Espinho. Aí foi, durante dez anos, o primeiro pároco, mas teve um exercício marcado por conflitos com as elites republicanas da terra, ele que era monárquico tradicionalista. Em Espinho esteve entre 23 de Setembro de 1889 e 27 de abril de 1899.. Nos seu últimos anos viveu na sua casa do Paço, em Avintes, que foi sede do primeiro jornal da milenária vila, "A aurora de Avintes", por ele fundadao e dirigido, em 1915. Era um jornal católico e monárquico, de intervenção política- Faleceu em 1917.
Não se sabe onde (Avintes? Espinho?...), nem quando se passou o episódio que me foi contado pelo Avô Manuel, o da procissão. Levava ele a custódia, quando no passeio da rua, um adversário republicano não tirou o chapéu e fez comentário desrespeituoso. Logo O padre Pinto da Silva entregou a custódia a um jovem Padre e foi interpelar o paroquiano, obrigado a descobrir-se e a desculpar-se, sob pena de ser logo ali agredido em nome da Fé. Não era para graças...
Os dois irmãos eram grandes amigos - ideologicamente próximos, com certeza, mas com temperamenttos, pelo que de um e outro se sabe, diferentes. O teólogo bem mais capaz de duros afrontamentos do que o irmão empresário e lavrador, que levava a vida com serenidade e diplomacia. Ambos de uma honestidade exemplar. Dos últimos anos do Padre, ali, no lugar do Paço (qual seria a sua casa?..havia rão poucas, para além da Quinta do Paço, da casa e da quinta da Pena pertencentes ao meio-irmão mais novo) só me lembro de ouvir contar que celebrava missa, junto à fonte de pedra da Quinta da Pena.

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