quinta-feira, 7 de maio de 2020

MANUEL JOAQUIM (com fotos)

MANUEL JOAQUIM



Manuel Joaquim


O primeiro dos rapazes recebeu, também o nome dos avós, Manuel (ramo Aguiar) e Joaquim (ramo Barboza). Era loiríssimo, com olhos de um azul muito claro, e o mais irrequieto dos sete, o mais criativo, para o melhor, lado que felizmente se foi acentuando à medida que crescia, e para o pior, na infância e na adolescência prolongada. Um líder, um chefe de tribo, orador inspirado e convincente, imaginativo artífice de partidas medonhas, que executava ou mandava executar com infalível eficiência. De facto, a sua lenda negra não ficava muito aquém da realidade. e, assim, naturalmente, tudo o que de insólito acontecia já na escola primária era atribuído aos Aguiar. A cidadã exemplar, que, não obstante. era a mãe dos pequenos malfeitores, passava pelo suplício de reconhecer agravos,  indemnizar eventuais vítimas e castigar, severamente, os infratores. Incorrigíveis, qualquer que fosse a natureza, muito variável, dos desatinos - urinar nos tinteiros, ou, pior ainda, defecar nos trombones da banda de música, partir com fisgas os vidros da vizinhança (modalidade em que brilhava o aparentemente pacato António Maria, um campeão de pontaria), explodir laboratórios de química, (a mais catastrófica  experiência do José, recordista absoluto de expulsões do colégio).


Manuel Aguiar conseguia compatibilizar estas atividades marginais com outras mais do agrado de sua mãe - a poesia, o teatro amador e, sobretudo, um impecável curriculum académico, desde a primeira classe ao último ano do curso de medicina, quase completado na Universidade de Coimbra.
Como dramaturgo a sua obra, mais representada e celebrada foi uma comédia musical, ou, segundo o cartaz "revista humorística  de usos e costumes regionais"  intitulada "O Nabo" - uma co-autoria com os colegas Abílio Brochado, Mário de Castro e Bismark de Melo, e música de Damião de Almeida e Domingos Monteiro. Ensaiador: Alexandre. Mendes Barbosa, o nosso Tio. Estrondoso sucesso, comemorado 24 depois, num  grande almoço, que reuniu, no Monte Crasto, a relembrar, nostalgicamente, a brilhante geração académica de 1933. Ausentes Bismark de Melo e José de Aguiar (um dos atores de "O Nabo" e então já emigrado nas Américas) mandaram mensagens. Já formados, professores, juízes. A Manuel ainda faltava o Dr. O cursos que viria a levar a bom termo, política social e ciências afins, seriam concluídos bastante mais tarde, quando era um especialista nos domínios da previdência ou segurança social. Na década de 30. desistira da formatura no último ano para casar com a paixão da sua vida, uma conterrânea, rapariga de forte personalidade, inteligente e bonita. Perfeita, escolha, mas, aparentemente, não haveria necessidade de tanta pressa. Muitos filhos bonitos - sete. Dois deles seriam os últimos  a morrer  de tuberculose. Ao  menino que se chamava António dedicou na lápide de mármore do jazigo, uma quadra que me ficou sempre na memória, porque é afinal a história da passagem de gerações pela vida 
"Dorme, filho. Em tua graça
Uma virtude consigo
No breve instante que passa
Eu irei dormir contigo" 
A pequena Margarida, de olhos tão azuis como os seus, é recordada numa outra quadra singela, que fala da cor dos céus. Margarida Clara, se chamou a irmã nascida logo depois (todas as filhas eram Claras, como o mãe, uma também de olhos muito azuis, a Manuela Clara

Durante a vida, que o levou para outros terrenos, a sua vocação de médico perdurou - era consultado pela família próxima em caso de doença e mantinha as amizades de quantos médicos famosos do Porto tinham sido colegas em Coimbra, que tratavam os irmãos e os sobrinhos completamente de graça numa gama infinita de especialidades... De Coimbra ficou. também a paixão futebolística pela Académica. Era uma dor de cabeça constante para os portistas da família,  em que ele era a única exceção
























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