sexta-feira, 5 de março de 2021

TOZINHO SOBRE TIA GIGINHA

Olá manela! Recebi mais um comentário para adicionar a publicação do centenário da tia giginha, desta vez o do Tózinho!! Um excelente texto, que acho que descreve na perfeição a visão da nossa geração sobre a Tia Giginha! Deixo em seguida para dares uma olhadela. Beijinhos, Tété Talvez não haja muitas pessoas que tenham o privilégio de ser tia, avó e bisavó, tudo em simultâneo. Era a Tia Giginha. O facto de não ter tido netos e bisnetos, não significa que realmente não os tenha tido. Primeiro com a minha mãe e os meus tios e já mais tarde com a minha geração, em particular comigo e com a Tété, uma presença assídua aos sábados, durante os longos meses de agosto, e mais tarde, a vários dias da semana. E foi num destes dias, à hora de jantar, que recebemos uma chamada da Manela. A tia tinha caído e não a conseguia levantar. Rapidamente fomos a casa da Tia Giginha prestamos o auxílio. Já sentada na sua pequena poltrona, agradeceu e despediu-se com: “És o meu salvador”. Longe estava eu imaginar que aquelas seriam as últimas palavras que ouviria dela. Um ou dois dias depois, já no hospital, o destino estava traçado e perguntaram-me se a queria ir ver. A resposta foi simples: “Não”. A despedida em vida estava feita, e de tão perfeita que foi tornou-se intocável. O dia da despedida foi um dos dias mais marcantes da minha vida. Eram 12:30 quando me preparava para sair do trabalho, almoçar e ir para a Igreja Matriz de Gondomar. Recebo uma chamada do meu pai. Acabava de falecer a minha avó paterna. Até aqueles dias de fevereiro de 2019 só tinham falecido duas pessoas próximas, curiosamente o Tio João (marido da Tia Giginha) e o Avô Bártolo (Avô paterno), e as memórias desses dias são vagas ou mesmo inexistentes. Era então uma experiência nova e desconhecida, um pouco assustadora até pelo facto de não saber como lidar com a situação. O que já era um dia difícil rapidamente tomou proporções inimagináveis. Felizmente estamos a falar da Tia Giginha e toda a ideia tenebrosa que tinha de um funeral apaziguou todo o receio que sentia. Foi uma cerimónia à sua altura, cheia de cor, alegria e emoção. As horas seguintes também não podiam ter sido melhores. O dinheiro que deixou na carteira foi dado pela Manela à Tété, que utilizou da melhor forma possível. Um grande lanche com a Família em casa da Avó Xaninha. Foi como recuar às fantásticas tardes de sábado, onde a casa da Tia Giginha se tornava numa verdadeira festa, com conversas e coscuvilhices, cantorias e claro, muito vinho. Deixou de ser uma despedida e passou a uma verdadeira celebração da vida. Aquele que muito provavelmente era um dos dias mais escuros dos meus 20 e poucos anos de existência, ganhou um pouco de mais cor. O maior legado que podemos deixar é não sermos esquecidos, e a tia deixou um enorme legado simplesmente pela a alegria de viver. Acompanhei de perto 26 anos de uma longa vida, ouvi e absorvi todas as histórias, alegrias e tristezas de uma aventura (e foi mesmo!) de 98 anos. Todos a reconhecem como um exemplo de animação e jovialidade, mas talvez a maior aprendizagem que retive foi que viver muito tem o seu preço. Não é só o organismo que dificulta a caminhada, mas o peso da tristeza e da saudade que se tornam insuportáveis. Tinha perdido a alegria de viver, não por culpa dos que a rodeavam, mas por todos os outros que tinham partido e saber que o tempo não volta atrás. Foi em Paz. Em paz porque tinha aceitado o seu destino. Apesar de não estar connosco jamais será esquecida. Vou para sempre relembrar a tia maluca que descia as escadas pelo corrimão, que fumava o cigarro ao contrário, que me deixava sempre uma notinha na gaveta e que me deu o carinho e amor de uma avó. A sua singularidade perdurará sem duvida por muitas gerações na nossa família. Um beijinho do sobrinho neto e bisneto Tózinho. Enviado do Correio para Windows 10

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