domingo, 17 de maio de 2009

W88 - INÊS MARIA DO AMARAL BARBOSA DE AGUIAR

A mítica Inês Maria!.
A filha mais velha do Tio António e da Tia Toninha. Nascida a 30 de Julho de1945, falecida há 20 anos, a 17 de Maio de 1989.
Tão jovem, tão bonita!
Terá sido a mais bonita e inteligente das mulheres do "círculo Aguiar", da sua geração.
Impetuosa e formosa, por igual,  desde muito pequenina.
Com ela nada ficava parado, nada ficava como dantes! A sua fenomenal energia, nesse começo de vida, podia constituir um problema para pais, e para quem quer que habitasse o espaço à sua volta, mas, mais tarde, fez dela uma Mulher formidável, uma mãe e uma companheira  formidável - é de evitar a palavra "esposa" , se conotada com submissão, defeito de que a Inês não sofria, sempre insubmissa a pais, marido, chefes - a todo o mundo.
Tirou o curso do magistério primário, muito contrariada. Queria ir para a universidade, pedido a que os pais não acederam, talvez por preconceito. Ela teria acabado qualquer curso, com nota máxima. Foi sempre uma aluna excepcional. Conseguiu ser uma boa professora, apesar da falta de vocação. Era briosa demais para não desempenhar bem qualquer cargo...
Vestia-se bem, com gosto e sobriedade. Cabelo sempre impecável. Olhos verdes, verdes. Irradiando luz e alegria, salvo num momento de cólera, que passava depressa.
Emotiva, guerreira, se necessário. Tenaz e desassombrada, mesmo em tempo de ditadura - há divertidos episódios, do domínio do incrível, envolvendo ministros e poderosos funcionários do velho regime, a quem disse o que mais ninguém se atreveria a dizer.
Curiosamente, os pais eram serenos.  O Tio António era um verdadeiro diplomata. A Tia Toninha preocupava-se com as coisas da família e do lar, excelente dona de casa tradicional, à maneira tradicional. Os três irmãos - António Alexandre, Madalena Maria e maria da Conceição (Sãozinha), eram, comparativamente, para além de serem uns anos mais novos.
Só no círculo Aguiar mais alargado encontramos exemplos vagamente comparáveis, mas que, de certeza, não a moldaram. Podem, sim, revelar, uma predisposição genética, herdade de mais remotas antepassadas......
Casou com o António José Monteiro Pinho. em 1965. Uma noiva muito jovem -20 anos - e exuberante. Estava apaixonada e felicíssima e não o escondia. Creio que gostou dele "forever". Quando  o Tó Zé foi para a guerra de África, acompanhou-o. Teve dois rapazes, que são hoje uns homens bonitos e interessantes, em quem teria legítimo orgulho.
A sua vida, intensamente vivida e breve demais, merece ser lembrada!





10 comentários:

Maria Manuela Aguiar disse...

Em pequenina a Inês "intimidava" qualquer um , maior ou menor... É conhecida a célebre expressão da Docas, que era da mesma idade e tamanho, quando lhe disseram que estava a chegar a prima: "Ai, meu Deus, que ela mata-me!".
Matar não matava - nunca causou dano a ninguém - mas assustava!
Até a mim, na altura muito maior, com 3 anos de diferença, ela me deu, num dis especial, uma bofetada - e apanhou em resposta, como era previsível, uma mais forte...
As circunstâncias são o melhor do episódio. Estava eu vestida de anjo, anjo amarelo, de asas brancas, para seguir numa procissão.
Felicíssima, pois essa era a maior ambição da minha vida, à época.
Os meus pais não queriam, mas a Avó Maria impôs-se e foi feita a sua, e minha, vontade.
Não sei o motivo porque a Inês bateu no "anjinho". Pediu-me para me baixar, pois queria dar-me um beijo. Assim fiz. Em vez do beijo da paz, a inesperada bofetada!
O que mais escandalizou a Avó, que assistiu à cena toda, foi o anjo ter, pouco angelicamente, corrido atrás da criança, para responder à "agressão", em ponto grande. Devia ter dado a outra face, mas não tinha feitio para tanto...

Maria Manuela Aguiar disse...

Com o Tio David, aconteceu coisa semelhante: Zangou-se com ele - que, por sinal, até tinha, normalmente, sucesso com crianças todas - e, como estavamos à mesa, e à sobremesa, atirou-lhe com um pedaça de melância, acertando-lhe ,em cheio, na cara. Cena de filme cómico, mas o Tio, que, por bem, era óptimo, não suportava desaforo. Levantou-se, com um pedaço de melância na mão e foi esfrega-lo, devagarinho, na cara da Inês, sem lhe dar hipótese de fuga.
Espantada com a reacção, habituada a levar a melhor, gritava: "O homem é maluco!".
Nunca se viu coisa mais divertida!

Maria Manuela Aguiar disse...

Para terminar uma trilogia de histórias da infância da Inês, que, tal como eu própria, era "terrivel" (enfant terrible, à moda Aguiar) só mais esta, de quando já teria uns dez anos, pelo menos: estavamos todos a passar férias na Vila Maria - ela, irmãos, Nestó, irmãs, eu e irmã - e fomos desafiados, o Nestó e eu, pela Inês, a subir a uma das árvores mais altas, para espreitar um ninho. Dizia ela que tinha visto o criado fazer o mesmo, na véspera, que a velha macieira (seria macieira?) era sólida e aguentava bem o nosso peso.
Debaixo, ela dava-nos instruções e incitava-nos. O Nestó ia à frente, devagar, com cuidado, a achar os troncos pouco resistentes... E eu logo atrás. Já mesmo à beira do ninho, o ramo cede, parte, o Nestó voa uns metros (mais do que a altura do 1º andar alto, da casa da Avó e aterra, com muita sorte, em terra mole, entre couves de Gondomar! Eu fiquei com o pé precisamente em cima do local de fractura da árvore.
Muito a prima teve de correr, a fugir de nós...

Maria Manuela Aguiar disse...

São episódios soltos, que não caracterizam o nosso relacionamento. Bem pelo contrário! Eramos amigos, e companheiros de brincadeiras. Gostávamos particularmente uns dos outros. Eu apreciava gente destemida, como ela. Inteligente, engraçada. Em anos e anos de convívio, sobretudo em casa da Avó, que frequentávamos muito, não me lembro de mais desaguisados! As guerras eram muito mais com a Lecas, por exemplo, do que com as primas "quase irmãs" - tipo Docas ou Inês.
O Nestó era um visitante mais esporádico, mas, apesar disso, sem dúvida, o primo favorito da Inês.

Maria Manuela Aguiar disse...

Quando a Inês acabou o quinto ano do liceu e queria continuar para o sétimo e para a universidade - o que o pai não permitiu, preferindo um curso mais rápido, como o do magistério - estive sempre do lado dela!
Achava uma pena não dar a uma rapariga tão superiormente inteligente as oportunidades de uma carreira académica!
E argumentava com o Tio,infindavelmente, impressionada com o desgosto e as lágrimas da Inês (tal como, por exemplo a Lélé, na geração seguinte, lágrimas enormes, correndo de olhos imensos...).
O Tio Tónio adorava a "Inesinha", como lhe chamava. Não sei porque não a deixou seguir outra carreira. Provavelmente, porque considerava, à moda tradicional, que uma mulher é destinada ao casamento...
Embora sem terem manifestado a mesma vontade de estudar, coisa idêntica aconteceu à Docas e à Xana, que nem sequer fizeram o liceu, mas a "escola comercial" ou "industrial, até ao quinto ano!
Não para poupar em propinas, que eram mínimas - até porque, no caso delas, com os pais em aldeias remotas, o mais caro era o alojamento na cidade... Tratava-se de uma opção, vista como a melhor para as meninas.
Nesse aspecto, os meus pais foram mais "modernos" : educação em bons colégios, com a perspectiva de tirar a licenciatura.
Precisamente por isso, é que eu "lutei", quanto pude, pelo sonho da Inês, que era igual ao meu. E ambas alunas premiadas!

Maria Manuela Aguiar disse...

Por coincidência, visitaram-nos, hoje, ao fim da tarde, a Sãozinha e o Alvarinho, e trouxeram com eles o neto da Inês, o António, para a minha Mãe ver, pela 1ª vez.
Tem 6 anos e é lindo!
Uns olhos fascinantes, como os da Avó, que não pôde conhece-lo!

Maria Manuela Aguiar disse...

Sempre que penso na minha irmã ou na Inês, o sentimnto de perda e de injustiça é o mesmo.
Ambas eram mais novas do que eu e deixaram-no há tanto tempo!
A Madalena há 45 anos, a Inês há 20Com doenças, que lhes minaram a saúde, mas não a vontade de viver, a vitalidade, a simpatia, a beleza.
A Madalena não teve, até aos últimos dias, a noção de que o fim se aproximava. Parecia estar em plena forma, pronta a participar em todas as festas e convívios, no centro da animação e da alegria.
Se tinha dores e indisposições, superava- as, como se nada fosse. O ânimo era grande!
A Inês teve uma coragem espantosa, porque sabia exactamente o que tinha e o que a esperava, desde que o cancro da mama alastrou em metástases. Nos últimos meses, a dificuldade de andar era tão grande, que usava bengala.
Mas não desistiu de nada!
Continuava lindíssima. Cuidava do seu aspecto - fatos, penteados - como antes da doença. Deixou de si, como queria, essa imagem perfeita! É assim que a recordamos, como era sua vontade!
Mas sabia que o tempo corria, muito depressa contra ela. Procurou estar o mais possivel com a família, com aqueles que, por variadas razões, estavam mais distantes e encotrava raramente.
O caso da Docas, por viver em Lisboa. O meu caso, por andar, constantemente, pelo mundo fora.
Assim a encontrei, um dia, na Assembleia da República!
Tenho tanta pena que a política me tenha afastado da maioria das pessoas mais próximas, como a Inês!
Afastamento determinado pelas funções, pela forma quase obsessiva como as desempenhei - e para nada, porque não resolvi os problemas do mundo e perdi a vivência da família - da Avó, dos Tios, dos Primos.
A Inês, já muito mal, depois de uma última cirurgia, fez um reparo: eu era dos primos e primas, que ela prezava tanto, aquela que ainda não a tinha visitado. Quando me deram conta de que não havia muito tempo para fazer essa visita, corri para Gondomar. Passei uma tarde com ela, em casa dos pais, onde estava, no pós operatório.
Acho que já via mal, já ouvia mal, mas não se notava! Bem disposta, contente, por podermos recordar coisas do nosso passado de meninas.
Custava-me a acreditar que a sua situação fosse tão grave, mas, quando me despedi já temia não a voltar a conversar assim com ela.
É estranho, mas a verdade é que recordo com saudade esse último encontro, embora tenha sido um momento breve e irreal de felicidade. Eu fazia de conta de que tudo estava bem - e foi como se estivesse! E, naquela derradeira fase, talvez ela tivesse recuperado um pouco de esperança no impossível.

Maria Manuela Aguiar disse...

O último encontro com a Inês ainda a andar pelo seu pé - ainda que com dificuldade - aconteceu durante o funeral da Tia Lina. Estavamos ao lado uma da outra, falando de uma querida tia, com quem tinhamos tido, na infância, uma grande proximidade. E, a certa altura, ela disse-me: "O próximo funeral é o meu".
Foi.
Fiquei, então, muito impressionada.
E, depois, meses mais tarde,no seu funeral, só me lembrava dessa frase. Admirando-a, mais e mais, pela sua lucidez e serenidade. E pela sua coragem, uma qualidade que sempre lhe reconheci, desde os primeiros anos de uma infância partilhada.
A qualidade que a tinha tornado muito especial, aos meus olhos de criança um pouco mais velha,e com vocação de "liderança".

Maria Manuela Aguiar disse...

Recordo-me, também, das primeiras e esplêndidas festas e recepções, em casa da Inês e do Tó Zé. Na altura, ele era dirigente do FCP, e fazia umas incursões na política.
Acho que ainda faz. A última vez que estive com ele foi na apresentação da candidatura do Dr. Mário Soares, na Alfândega do Porto.
A Inês gostava, com certeza, dessas actividades e era capaz de lhe dar um grande apoio. Como fez sempre!

Maria Manuela Aguiar disse...

Uma das mais espantosas histórias da Inês passou-se com um Ministro ou Subsecretário de Estado da Defesa, a quem pediu uma audiência, para lhe expôr um assunto. Como conseguiu a audiência, sem ter grandes contactos políticos, não sei. Não era mulher para desistir...
Foi apresentar um requerimento ao alto dirigente, pedindo uma alteração das datas de partida do Tó Zé para África (como miliciano do exército português), de forma a poder acompanha-lo na viagem, em navio.
Não posso precisar, com exactidão, os pormenores. Era coisa praticamente impossível, mas ela venceu essa guerra!
O senhor disse-lhe logo, ali, que sim, que despachava favoravelmente o assunto, ao que ela, à despedida, respondeu qualquer coisa deste género:
"Está a fazer-me a promessa, e mal eu saia daquela porta, vai deitar o requerimento ao caixote do lixo".
Mas não, não deitou.
Deve ter-lhe achado muita graça!