quinta-feira, 8 de outubro de 2009

W133 - O MEU INESQUECÍVEL AVÔ MANUEL

As primeira memórias que tenho do Avô Manuel não são certamente as primeiras, mas as que marcaram o início de uma relação de companheirismo, destinada a durar a vida inteira: as idas ao cinema no Porto! O cinema Batalha, antes dos outros todos.
Porque terá decidido começar a levar-me consigo, tendo eu 5 ou 6 anos apenas?
Não sei... mas posso aventar hipóteses: a conjugação de dois factores indubitáveis, para quem conhecia hábitos e idiossincrasia de Avô e neta - ele um apaixonado por teatro e cinema, actor amador do Grupo Mérito Avintense e frequentador quase diário das salas de espectáculos da nossa cidade, ela (eu...) sempre pronta para passeios e aventuras que animassem o quotidiano. E particularmente bem comportada nesse contexto!
O péssimo comportamente restringia-se ao monótono dia a dia, mais parecendo, visto retrospectivamente, uma maneira de criar a animação que faltava. E muito terá pesado o facto de ele ter uma muito especial afeição pela terrível criança que eu era... Achava-me parecida com a famosa Tia Esperança, uma das irmãs da não menos extrordinária Bisavó Quitéria Francisca, sua Mãe...
Não me recordo de dizer, mas recordo-me de ele me contar que aos dois anos, mais mês, menos mês, eu dizia: "tenho os olhos verdes como a Tia Pança".
Quantas vezes deambulei com ele por Avintes, de uma ponta a outra - à beira rio, em idas ao teatro, ao clube (que então era um clube elegante e elitista), ao barbeiro, à igreja, a casa de amigos, ou d irmã, a minha Tia Francisca Reis...
Este seu dia de anos, 9 de Outubro, é assim, sempre, um dia de saudade,

4 comentários:

Maria Manuela Aguiar disse...

A Mãe não se lembra de quando eu comecei a partilhar as "matinés" cinéfilas com o Padrinho. Até pensava que ele me convidava para um filme infanti. nada disso! Eram os normais, para gente crescida - nada de "indecente", porque então a censura aos maus costumes, como diria o Saramago, começava nos rigorosos censores de Holliwood...
Por isso, eu detestava desenhos animados e fitas para crinças. Considerava-me num patamar muito superior!
Via musicais e "westerns" com enorme entusiasmo.
às vezes, conta a Mãe, quando não estávamos em Avintes, iam buscar-me de automóvel, à saída. Um dia em que chovia muito, com a pressa de entrar no carro, bati com a cabeça no cimo da porta e quase fiz traumatismo craneano. Um barulho assustador, depois logo um enorme "galo". Só isso. Já era crescida, 13 ou 14 anos, a cabeça era dura e resistente, como ficou provado.

Maria Manuela Aguiar disse...

O cinema a dois - a Avó Olívia, que era muito católica, à moda antiga, devia achar o cinema coisa frívola e nunca me recordo de o ter acompanhado... - continuou pela vida fora.
Com ele vi os primeiros filmes a cores, depois em "cinemascope" - operetas divertidas, como " 7 noivas para 7 irmãos", Ohklahoma, e muitos outros. no cinema Trindade, no Rivoli... Mais tarde a série de "Sissis", que ele adorava e eu também.
Um filme pesado, que ainda hoje, só de o lembrar me causa depressão - ou melhor, ainda sinto a depressão que então se abateu sobre mim... - sobre a vida e morte de Tchaikovsky.
Preferia o "happy end" mais habitual...
Depois, com a chegada da televisão e, também, com um novo tipo de cinema, que lhe agradava menos, o padrinho passou a entreter-se mais com o pequeno ecrã. Quando eu estava em Espinho, na sua casa, víamos juntos e comentávamos as informações e as séries da tv. Ainda a preto e branco! Em casa ou no café.
(No "Nosso Café", presentemente em ruinas).

Maria Manuela Aguiar disse...

O último filme que o Padrinho assistiu, sózinho, aqui em Espinho, já não lhe agradou muito.
Eu tinha comprado o bilhete, para essa noite, e, depois, por qualquer razão, não pude ir. Dei-lhe o bilhete e ele lá foi.
Parece-me que o título era: "Longe da multidão".

Maria Manuela Aguiar disse...

Já agora, referência a um programa de tv que,distintamente me lembro de ter visto com ele, no tal "Nosso Café", entre muitos outros de que me esqueci, de todo:
o funeral de Salazar, longa e lúgubre transmissão.
O Padrinho muito triste e condoido, porque tal como a Madrinha, a Avó Maria, a Tia Rozaura era salazarista . Eu não - não partilhava a sensação de "perda nacional"...
O que mais retive da cerimónia inteira foi aquela figura de negro, espaventosa, sempre em primeiro plano, feia, feia, com um feio ar rústico. Eu nem sabia quem era. Julguei que fosse alguma parente de Santa Comba.
Não era - reconheceu-a o Avô. Era a filha do Presidente Tomás!