quinta-feira, 28 de agosto de 2008

P6 - MINHA MÃE MÃE MARIA ANTÓNIA BARBOSA AGUIAR - 88 ANOS

O 88º ANIVERSÁRIO

Maria Antónia Barbosa Aguiar nasceu em Gondomar, a 28 de Agosto de 1920.
A Mãe tinha regressado, definitivamento do Rio de Janeiro poucos meses antes. Quando fez a última travessia do Atlântico já estava esperando a menina. E, por isso, a Maria Antónia se considera brasileira! Ou brasileira e portuguesa.
Mas não conhece o país de origem (hoc sensu...). Eu tê-la-ia convidado para uma viagem até lá, se ela estivesse disponível para essa "aventura". Não está. O mais longe que consegui que fosse, de avião foi à Madeira, em 1977, juntamente com a Maria do Carmo, também minha convidada. O susto enorme que todos apanhámos com a aterragem no Funchal ("todos" incluía ainda a Tia Lola e o Tio Gustavo e a Rosa Maria Gayoso) foi, para ela, dissuasor de futuros "voos"...
Voltando à sua história, muito sintética:
Tem um olho de cada côr, um azul esverdeado e outro mais verde, verde. Quem descobriu a anomalia foi o Pai. "Maria, a menina tem os olhos de côr diferente", disse à mulher, um pouco abalado. Não sei se ela se preocupou muito com isso. Pela forma como, mais tarde, me contou esse episódio, parece-me que não... Certo é que a filha sempre gostou da singularidade! Uma das primeiras coisas para que chamava a atenção dos namoradinhos de juventude (vários!) era para esse detalhe.
O pior é a forte miopia, de que sofre e o facto de não terem detectado, a tempo, a diferença de diopetrias entre os seus belos olhos, que acabou por lhe provocar, a partir dos 4 ou 5 anos, a cegueira funcional do olho esquerdo. Nada que a tenha tornado infeliz. Soube, em regra, escolher bem os óculos - e, para as fotografias, quase sempre os retirava.
Do Pai, lembra-se mal. Morreu quando tinha 6 anos. A irmã "quase gémea", a Tia Lola, apesar de mais nova, parece guarda mais memórias do Papá, que lhe chamava "a minha molequinha", por ser muito morena, como ele, e muitos dos Aguiar. Curiosamente, uma das lembranças que ambas partilham é a do Pai a colher morangos, a lavá-los, um a um, na água corrente do tanque do jardim, e a oferecê-los, nuns cestinhos bonitos, às duas meninas. Ele era um apreciador de frutas e, pelo visto, elas também.
As duas suportaram e detestaram a vida no Colégio da Esperança. Eram cabulonas, e tão mal comportadas que as colegas lhes chamavam "os galos doidos". Podemos imaginar o que fariam para merecer tal epíteto...
A Maria Antónia era brilhante em história e geografia, e boa aluna a línguas - nada de matemáticas, nem de ciências. Fez o antigo 5º ano (hoje 9º), mas em "disciplinas singulares" (aquelas de que gostava), uma modalidade, entretanto, desaparecida..
Do que gostava mais era mesmo de tocar piano, que aprendeu, desde pequena, com a prima mais velha Nucha Aguiar. Um dos seus amigos , o pianista Fernando Marques Ribeiro, a quem chamavam o "Chopin português", considerava-a talentosa! E, por sinal, o seu compositor preferido era o Chopin original... Ainda é.
Os seus romances foram variados, mas superficiais. O primeiro, a sério, foi o jovem viúvo, João Dias Moreira, de Avintes. Conheceram-se, num encontro, porventura, programado pelas famílias, na capelinha do Monte da Virgem, em Gaia. No seu curriculum, ele tinha duas qualidades muito apreciadas pela Avó Maria: em 1º lugar, o ser muito católico. E, acessoriamente, o facto de ser filho único de pais ricos.

Para a Mª Antónia terá contado mais o ele ser um belo rapaz, alto e loiro, poeta e divertido.
Namoraram pouco tempo, mas intensamente, a partir de umas muito faladas férias em Branzêlo, na quinta de uns amigos da Avó. Casaram em Novembro de 1941, em Gondomar. Lua de mel no itinerário do Vouguinha ( o combóio, claro...), até Viseu!

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CV Breve

Estudos
Primária na Escola de Gondomar, com a Professora Dona Clarinda Bismarck de Melo, "uma senhora muito chique", segundo esta antiga aluna.
Exame da 4º classe, com distinção.
Liceu no internato de Nª Sª da Esperança - Porto
Fez o antigo 5º ano do liceu (actual 9º) e o 6º incompleto, escolhendo as cadeiras que mais lhe agradavam, como história, geografia, francês, inglês. Chamava-se a esse regime optativo: "singulares".
Era óptima também em dactilografia, mas não trouxe para casa o diploma porque não lhe apeteceu ir ao Porto para a prova final de exame!

Música
Piano desde os 8 anos, com professora em casa - a Nucha Aguiar. Prosseguiu no PORTO. Fez o 5º ano do Conservatório. Em Gondomar, retomou as aulas com a Nucha. Compositores favoritos: Chopin e Mozart.
Considerada talentosa. Muito elogiada pelo compositor e amigo José Fernando Marques Ribeiro.

Casamento
Casamento na Igreja Matriz de Gondomar, em 15 de Novembro de 1941 (algum tempomdepois do casamento civil, como era obrigatório antes do regime concordatário).
Filhas nascidas em Junho de 1942 e Dezembro de 1943: Mª Manuela e Mª Madalena.




Viveram os primeiros anps na Vila Maria. Mais tarde, mudaram-se para outra casa espaçosa, a da Tia Rozaura, uma verdadeira 2ª Mãe para a Mª Antónia e 2ª Avó para a Lecas e para mim.
A partir dos anos 60, seria a Tia Rozaura a mudar-se para o Porto, para o nosso andar da Rua Latino Coelho, e, depois do 25 de Abril de 1974, para Espinho.
Passámos temporadas em Avintes, com os Avós Olívia e Manuel, de quem nós, as crianças éramos muito próximas, mas com quem a Mãe nunca se entendeu bem. Melhor era a ligação com os Tios Reis, Francisca e António, com a Mª Angélica, o António - e a Amélia, depois do casamento, em que os meus Pais foram padrinhos do noivo - e, igualmente, com o Xico, a Nini , os outros primos d Avintes. Todos amicíssimos!
A Mª Antónia nunca trabalhou fora de casa - e não gostava da tarefas domésticas. À época do casamento, nem sequer sabia fazer chá ou café! Em casa da Mãe ou da Tia, não tinha de se preocupar com isso. Ia para o Porto, com a Tia Lina , ou encontrar-se com a prima Cristina, frequentemente. Às vezes, para uma sessão de cinema. Invariavelmente, para ver montras e lanchar. O Pai também era "cinéfilo" , mas só nas sessões da noite. Aos fins-de-semana, grandes passeios, com copiosos almoços e jantares, sobretudo "minhotos", com irmãos, cunhados e sobrinhos - e com a Avó Maria, também, às vezes
. Fátima, era outro dos destinos, e o preferido da Avó, que, porém, estava sempre disponível para sair, fosse para onde fosse... As corridas, em Vila Real, ou no Porto: um "must"!
A única tragédia foi a doença e a morte da Lecas, de leucemia, aos 20 anos, em 1964. A Mãe andou de luto durante anos, até que eu decidi oferecer-lhe um vestido de cores garridas e convenci-a a usa-lo, de imediato. O desgosto não diminui, nunca, nem a lembrança, mas o luto era absolutamente inútil, e deprimente.
Os Pais celebraram as bodas de ouro, em Espinho, com uma festa alegre e muito animada com as canções dos Aguiar Pereira!
O pai morreu, subitamente, sem um sinal de aviso, a meio de uma frase, num domingo de Páscoa, 7 de abril, ao jantar. Foi terrível, contudo, desta vez, a Mãe não se transformou numa velhinha vestida de negro.
 Os sobrinhos têm sido uma boa razão para viver, com alegria, como se deve sempre viver.
Está cada vez mais excêntrica, e faz gala da sua excentricidade. Insiste em se vestir bem - e de griffes. Mas os pormenores ficam para os comentários. Aqui está o convite, a contarem  histórias sobre uma Tia muito especial ( um pouco à Mourinho, num outro terreno de jogo...)

Ei-la nas várias idades : com um ano, doze, vinte e tal, quase quarenta, cinquenta e muitos, à beira dos oitenta, e aos oitenta e oito (quem diria?).









11 comentários:

falkor disse...

Parabéns à GIJA
Para a melhor tia do mundo que, nestes anos tem feito o papel "Super Avó"...
muitos beijinhos
manelinha

Anónimo disse...

Maria Antónia disse: hoje comprei um grilo e chamei-lhe Isidoro.
Lembrei-me de um Isidro Isidoro, do Gondomar, que morreu, ainda eu era pequena. Ele tinha, em vida, deixado bem claro que queria ir no caixão com um cravo vermelho na lapela. Por isso, quando soube da sua morte, pedi à Maria Póvoas que me levasse ao velório para o ver. Nem a Mamã nem a Tia Rozaura consentiram, mas a Maria levou-me, em segredo. E lá estava o morto, de flor vermelha ao peito!
O Isidoro recordou-me outras figuras típicas do Gondomar dessa época:
o Arregalado, que era o trolha da Tia Rozaura;
a Pichela;
as Amarelas, que viviam,logo abaixo da casa da Adriana, na Pedreira;
a Ana Facas e o Caminha, que moravam ao lado da casa da D. Aurora e da Marília Montenegro, perto da Pedreira, numa bonita casa com um mirante ladeado de glicínias, como o da casa da minha Avó Carolina.
Memórias...

Maria Manuela Aguiar disse...

Estou preocupada com o grilo!
Não que eu seja sequer capaz de lhe pegar...
De qualquer modo, com 7 gatos em casa, que, à falta de ratos, caçam e desfazem tudo quanto move, temo pela vida do Isidoro e preparei o melhor lugar para a sua estada segura, nas alturas!
A Mãe serviu-lhe uma refeição de verduras e pedaços de maçã. Pobre bicho... O que ele mais anseia é sair da gaiola.
Esteve aqui, de tarde, a Lélé e propôs-se libertá-lo, lá na aldeia pacífica onde dá aulas. Se calhar é o melhor, embora possa ser comido por sardões ou outros inimigos não menos letais do que os nossos gatos...
A propósito da história que a Mãe lembrou, sem quaiquer referências ao 25 de Abril, que hoje se comemora - mas que ela não comemora nada... - pergunto a mim própria até que ponto, sem se dar conta, foi influenciada pela efeméride revolucionária, ao prender na gaiola o grilo com nome do homem do cravo vermelho - muitas décadas antes de década de 70!

Anónimo disse...

Maria Antónia disse:
Não me falem de 25 de Abril!
Não tem nada a ver uma coisa com a outra. Vi, na rua, uma mulher a vender grilos. Tinha muitos, numa bacia grande.
E eu lembrei-me de ter, uma vez, andado com o meu irmão Zé, a apanhar grilos, quando íamos dar um recado ao Dr. Cardoso, em corta-mato.
Eu não tinha mais de 12 ou 13 anos.

Maria Manuela Aguiar disse...

Estou mesmo a ver os dois irmãos, a atravessarem a vila, numa missão muito concreta, mas em correrias, e não resistindo à tentação de se divertirem um pouco, fosse com o que fosse, a meio da empreitada. Acha a Mª Antónia que foi o Zé quem teve a ideia:
"Maria, e se fossemos agora aos grilos, ali, naquele mato?"
E ela, logo pronta para a distracção, disse que sim... (tinham acabado de passar "os 7 caminhos", interessante nome, esse!).
Aranjaram, in loco, umas palhinhas, procuraram cuidadosamente e foram recolhendo vários exemplares, que o Tio Zé guardava no bolso.
Não devem ter tido problemas, em casa, porque a Avó Maria também gostava de grilos.
Eu tenho uma vaga recordação de tentar, em excursões campestres, despistar pequenso buracos no chão, e de sondar o seu interior com as tais palhinhas... E até de ver grilos. Mas parece-me que sempre preferi deixa-los no seu meio ambiente!
Do que gostei foi de encontrar, hoje, e pela 1ª vez, no meu mini-jardim, mal cuidado, uma linda joaninha. Há anos, sem conta, que isto não acontecia!... A Mãe veio logo que a chamei, pegou na Joaninha e começou a recitar a lenga-lenga:
"Joaninha voa, voa
Que o teu pai foi para Lisboa..."
Depois, como ela não queria voar, foi pousa-la na trepadeira, ao fundo do seu mini-jardim.
No qual andou, ontem, a plantar roseiras novas. Não sei se resistirão a "pipi" de gato...

Maria Manuela Aguiar disse...

Casamento oficiado pelo pároco de Gondomar, Abade Andrade e Silva, um grande amigo da Avó Maria.
Foi também ele que casou a Tia Lola, no ano seguinte, na capela da casa de Rio Tinto.
O copo de água, em ambos os casos, foi na Vila Maria, naturalmente.

Maria Manuela Aguiar disse...

Os CV's escolares das manas são semelhantes, assim como a relativa importância que lhes atribuiam - ambas destinadas a serem senhoras casadas e mães de família, como foram.
Divergências, registam-se algumas, por exemplo, na música, mais clássica para a Mª Antónia, mais ligeira para a Glória Doroteia. Também no namoro - uma constelação de namoradinhos para a mais velha, uma só paixão juvenil para a Lólita - o Eduardo.
E até no casamento - durável o de uma, não tanto o de outra...

Maria Manuela Aguiar disse...

A Mª Antónia recusa, firmemente, ser considerada "dona de casa". De coisas e tarefas de casa, quis sempre o menos possível...
Profissão: Senhora!
O feminino do que os ingleses designam por "gentleman of leisure"...
Já a Tia Lola foi, sem dúvida, uma prendada "dona de casa", que tudo sabe fazer ou mandar fazer, na perfeição. Caso, igualmente, das outras duas irmãs, Lina e Lena...
Mª Antónia é a excepção. Cultivou e praticou a excepção, sempre, pela vida fora.

Maria Manuela Aguiar disse...

Isto já nasce com a pessoa. Eu saio à mãe, nesse aspecto, embora tenha profissão ou profissões exteriores ao lar...
A Lecas, pelo contrário, era muito dotada para as artes domésticas. Mas não só: também para o canto, a dança, o desporto, a condução de automóveis... Embora tivesse, face a estudos curriculares, a mesma atitude da geração anterior.

Maria Manuela Aguiar disse...

Do que a nossa famosa "lady of leisure" gosta é de fatiotas chiques, perfumes caros, champagne (doce, hélas!), para além das telenovelas brasileiras, dos escritores brasileiros (Jorge Amado,
Érico Veríssimo...), da música clássica ou dos fados de Amália e de revistas "ligeiras", a Holla, A Semana, a Caras, a Gente, etc, etc...

Maria Manuela Aguiar disse...

E adora fazer palavras cruzadas! É uma perita. Rapidíssima!
Com tanta revista espanhola que lê, acho que até já faz palavras cruzadas em espanhol...