sexta-feira, 15 de agosto de 2008

P4 - A TIA LOLA - GLÓRIA DOROTEIA BARBOSA AGUIAR

Glória Doroteia Barbosa Aguiar nasceu em S. Cosme, Gondomar, em 20 de Agosto de 1922.
Muito morena, cabelo negro, negro e os grandes olhos claros. O Papá chamava-lhe, à moda brasileira, " a minha molequinha". Era, entre os oito filhos, a mais parecida com ele e, naturalmente, achava-lhe uma graça especial. A Mamã também, embora, tenha contrariado, quanto pôde, o seu romance com o  Eduardo, colega dos filhos mais velhos. Não tinha a ver com a família, que pertencia ao mesmo círculo social, mas com o próprio pretendente, por ela considerado pouco católico e demasiadamente boémio. Foi uma "grande guerra", que acabou por perder..
Embora dois anos mais nova do que a mana Mariazinha funcionava praticamente como sua gémea. Ainda por cima, depressa se tornou do mesmo tamanho, e, por volta dos nove ou dez anos, já era a mais alta. Entendiam-se às mil maravilhas, perfeitas aliadas contra a disciplina e severidade da Mãe, que quase só as deixava sair da Vila Maria para missas, novenas e festas de igreja. Exceptuando, como é óbvio, as férias de verão, passadas na praia da Foz e nas termas de Vizela.
De qualquer modo, a casa, o jardim circundante, a, nas traseiras, uma extensa quinta  de pomares e vinhedos eram suficientemente amplas para que preferissem o meio ambiente familiar a qualquer outro lugar da terra e, sobretudo, à "clausura" do colégio da Esperança.
A Tia Lola, pouco depois da irmã ter completado o 5º ano do liceu (que é o atual 9º) e regressado a Gondomar, arranjou maneira de ser expulsa. Por dois delitos que ficam bem no curriculum de qualquer jovem voluntariosa e imaginativa: engendrar um esquema criativo para namorar através de uma frechas do edifício, que davam para uma sossegada e estreita rua lateral e escrever uma crónica muito crítica sobre vários aspetos da vida no colégio, em especial a qualidade da restauração ...
Antes desse ponto final, muitas vezes foram as manas castigadas por coisas menores. Eram terríveis, ambas, conhecidas, entre as companheiras, como "os galos doidos"...
O seu Eduardo foi o único namorado admitido na sala de vistas do colégio. Como era mais velho e já ligeiramente calvo apresentava-se na respeitável e respeitada qualidade de tio e, assim, era admitido na sala de visitas, onde podia sauda-la com dosi beijinhos e conversar longamente. Curiosamente este embuste nunca foi descoberto, não constando do processo de expulsão. Felicíssima com o implacável veredito, que deixou a Mãe em estado de choque, viu-se, como era seu ardente desejo, de volta, à Vila Maria. E aí retomou um jogo de muitos lances e esquemas, bem pensados e bem executados, para se encontrar com o Eduardo, contando com a imensa compreensão e cumplicidade da irmã, dos amigos e, sobretudo, dos criados. Muitas vezes. o encontro era no discreto mirante, não muito alto, que ficava na extremidade da quinta, mas ele chegou a entrar, ousadamente,  em casa, à noite, depois da mamã adormecer. Entrava pela casa janela da pequena casa de banho do primeiro andar, junto à cozinha, subindo por um escadote convenientemente esquecido, em baixo, pelo criado. A teimosia compensou e o casamento realizou-se no início de 1943, tinha ela 20 anos.
Um casamento feliz, por largos anos. Três filhos lindos. Uma vida variada, por terras do interior de Portugal,  o "portugal profundo", como mulher de um nómada engenheiro de minas. Soube sempre adaptar-se bem, com o seu temperamento alegre e generoso. Gostava de dar o seu apoio aos mais pobres (e, nessa época, os pobres, nas minas, eram muitos ). Em algumas dessas aldeias remotas, a sua casa era a única de pedra e cal! Fazia o lugar de "1ª dama", com a maior das naturalidades e era popularíssima!
Entre os sobrinhos também. Nas férias que passei na sua casa, fiquei com a impressão que o céu , lá em cima, onde se goza vida eterna é uma aldeia imensa como aquelas em que ela imperava (sem pobres e sem ricos, evidentemente...).
A Tia Lola foi sempre um símbolo e uam bandeira de Liberdade!
Tomou, ao longo da vida, concordassem os outros, ou não, as decisões que quis. O divórcio. A ida para Lisboa. O novo casamento, com o Tio Gustavo. As partidas para África. Os regressos de África. De navio, na 1ª classe do Infante Dom Henrique. Ou de avião.
Como a Avó Maria, revelou-se uma viajante nata, sempre pronta a zarpar, fosse para Itália ou para a Inglaterra (comigo, por companhia), para as Espanhas e França ( com a Zé e o Nestó), para a África do Norte ou para o Extremo Oriente (com o Tio Gustavo), para as ilhas do Atlântico. A mais recente terá sido Palma de Maiorca, com filhos e netos, a Rosinha. Falhou, por pouco, os projectos das visitas ao Tio Zé, em NY, e ao mítico Brasil, onde o seu pai já era milionário antes dos seus 30 anos.
O gosto pelo movimento é um traço da sua idiossincrasia. Por isso aproveitou em pleno as mudanças constantes de residência, de ambiente, no campo ou na cidade, que teriam perturbado qualquer outra rapariga do seu tempo e da sua "extracção social".
Gosto pela aventura e, também, pelo risco (como foi tomar a iniciativa de romper o casamento).
E liderança! O Tio Eduardo deixava-lhe uma enorme margem de decisão. E deram-se tão bem assim! Foram um casal esplêndido, divertido, descontraído.
O segundo marido, (outro engenheiro de minas, mas mais sedentário, com residência em Lisboa), o Tio Gustavo Costa pPreira,  também nunca conseguiu fazer-lhe oposição - pelo menos, oposição frontal.
Embora sempre tivessemos preferido o Tio Eduardo, tivemos de concluir que o Tio Gustavo foi, para ela, um companheiro inseparável e, para nós, extremamente  simpático. Bem educado, sereno. Com uma infinita paciência com as esporádicas "impaciências" da Tia.
A doença, a  senilidade que o debilitou, nos últimos dois anos da vida, suportou-a de uma forma exemplar.: serena! A Tia ficou, em Julho deste ano uma viúva inconsolável. mas resistente, porque é, como foi, invariavelmente, uma mulher forte e corajosa.
Um "senão": ter recomeçado a fumar - de boquilha - aos 80 anos de idade (recomeçado ou começado?).

CV Breve

Estudos
Primária na Escola de S. Cosme, Gondomar, tendo como professora a D. Aurora Montenegro, uma distinta e simpática senhora.
4ª classe concluída com distinção.
Liceu em internato do Porto - o Colégio de Nª Sª da Esperança. Expulsa no ano letivo em que devia terminar o antigo 5º ano (actualmente, 9º). Tocava piano e falava francês, fluentemente. No colégio, rezavam o terço em francês e eram obrigadas a conversar nessa mesma língua durante os recreios, sob pena de castigo (comer de pé!).À Lólita acontecia muitas vezes e por essa e outras razões que não essa ...). A expulsão deveu-se a um libelo contar o poder reinante, uma parodia à gastronomia do internato. Escrevia muito bem e usou todo o seu talento nesse precioso texto que, infelizmente, se perdeu, porque foi destruído, depois da apreensão.

Música
No piano, tendia para música popular, tocava, de preferência, as modinhas favoritas do Tio Eduardo como a que começava assim: "Porteiro, suba e diga...". Mas cantava na Igreja e na Capela do Crasto, música sacra, a Avé Maria  de Gounod , com uma voz maravilhosa.

Casamentos e prole

O casamento com o bem-amado Eduardo da Ascensão Fonseca, foi celebrado, em 1943, na capela da Casa da Torre, em Rio Tinto, propriedade dos pais do noivo.
Filhos nascidos em 1943, 1945 e 1948: Ernesto António, Mª Eduarda e Mª Alexandra.
Divórcio nos anos 70. Novo casamento com Gustavo da Costa Pereira, em 1991, na Conservatória do Registo Civil de Gaia, seguida de copo de água nas salas da Cooperativa dos Pedreiros, no Porto.

Em algumas imagens, a nossa famosa TIA LOLA!



























23 comentários:

Anónimo disse...

Parabéns minha Avó pelas tuas 86 primaveras! Tens sido uma Avó da qual muito me orgulho e "chateio" muitas vezes. Creio no entanto que tudo é por uma simples razão: porque te AMO!

Tua neta sempre amiga, Ana.

Anónimo disse...

Manuela disse: sempre vi a tia Lola como uma encarnação da alegria de viver. As melhores férias da minha infância e juventude foram passadas em sua casa - do Minho ao Alentejo... O tio Eduardo levava a família consigo, de mina em mina, como bom engenheiro especializado que era. Para além de ser também um tio encantador. Eram ambos muito divertidos - o que do ponto de vista das crianças os adultos raramente são... Com eles cada dia oferecia uma nova aventura. Tudo era permitido às simpáticas "pessoas pequenas", filhos ou sobrinhas, por igual.
Magníficos tempos, esses.
Saudosas terras, essas: Arcos, Freixeda,Sortelha, Mina da Bica, Cercal do Alentejo, Milfontes. Obrigada.Feliz dia de anos.Beijinhos

Anónimo disse...

Comentário breve à foto em que seguramos firmemente os chapéus:
que ventania no adro da igreja da nossa terra, São Cosme de Gondomar, naquele feliz dia de Setembro de 1993 em que casaram a Bela e o Carlos. Beijinhos Manela

Anónimo disse...

Docas comenta: Oh! Mãe! (frase do poema do tio João, por mim recitado na cerimónia da comunhão solene na Igreja da Freixeda), que saudades desse Verão de 1953, em que juntamos toda a família e demos grandes passeios naquele jeep do tempo da "Grande Guerra", hoje peça de museu. Ali, na foto, estamos nós, a tia Mariazinha, o tio João, as primas Manuela, Lecas e Inês e até a avó Maria a experimentar a aventura de andar de jeep, por estradas de montanha, cheias de buracos, onde por vezes nos perdíamos - por absoluta falta de qualquer tipo de placas de sinalização ou orientação. Aliás nem carros havia, só burros ou carroças de bois. Parabéns pelos 86anos!

matilde disse...

Devo dizer que a minha Avó, além de ter sido uma mulher lindíssima, ainda é uma Avó bonita. Lembro-me de a chamar de super avó, há já alguns "anitos", época em que havia uma série na tv de uma super avózinha fantástica. A minha, não lhe ficava nada atrás!!!

Lolita, deixaste um trio de filhos, a meu ver garbosos. A minha mãe nem preciso de comentar... Quanto aos meus queridos tios, além da sua qualidade física, são das melhores pessoas que conheço! Tenho de agradecer a ti e, se o meu incomparável Avô "Careca" ainda estivesse entre "nós", também o faria. Melhor que os filhos, o Pai deles. Obrigada por terem existido e ainda existires, veres a tua 1ª bisneta Laura, que tem uma paixão pela biabó Lola, crescer. Obrigada por simplesmente, seres!

Anónimo disse...

Nónó disse: muitos, muitos parabéns à tia Lola, a quem carinhosamente a avó Maria, tratava pela minha "Lolinha".
Eu e a Lé também temos algumas recordações da Tia Lola, quando vinha ao norte, passar uns dias com a Avó Maria, e trocava de indumentária na Villa Maria e trepavamos às àrvores a apanhar fruta. Teriamos uns dez ou onze anos.
Era uma Tia muito divertida.
Muitos beijinhos da sobrinha neta Nónó.

Anónimo disse...

Docas comenta: A avó raptora - todos nos lembramos quando foste a Leiria buscar a Ana, para passar uns dias de féria no Porto e ao Porto buscar a Maria João para passar uns dias de férias a Lisboa. Os pais acreditaram... até ao dia seguinte, quando a Maria João telefonou para casa: Pai! Estou na Ilha da Madeira! Estou bem! O Nestó: chama a tua Avó... Não queria acreditar!
E o telefonma da Ana: Mãe estou na Ilha da Madeira, no Funchal! Estou bem! Também não queria acreditar...
Chama a tua Avó...
Reacçõs simétricas.
Os filhos ainda entenderam - conhecem a Mãe! Agora a nora e o genro... Que grande drama!
Isto foi um mês depois de teres ido à Madeira com a tua irmã Maria, a Manela, a Maria do Carmo, a Rosa Maria e o tio Gustavo. Dois meses depois dava-se o grande acidente de aviação, no qual morreram muitas pessoas...

Anónimo disse...

Docas comenta: A mãe que fazia parar os comboios - no dia em que decidiste ir visitar a tua irmã a Espinho, apanhaste o comboio em Vila Nova de Gaia (estavas em casa do teu filho), mas confundiste os comboios. Entraste no rápido "non stop" para Lisboa. E agora o que fazer? É muito fácil! Quando chegar a Espinho, puxo o "alarme".
E assim foi... Um alarido tremendo. Tudo tocava - no comboio e na estação! Até que apareceu o revisor, a correr esbafurido. O que é que a senhora fez? Vai já para o Gabinete do Chefe da Estação. Aí, explicaste com muita "lata": a culpa é vossa, pois na estação de Gaia não avisaram pelo altifalante que este comboio vinha antes do meu. Assim, foste multada só com a taxa de "excesso de velocidade". Pagamento ste, que fizeste muito agrado, achando que valeu a pena!

Anónimo disse...

Recordo as nossas subidas às árvores em casa da Avó, as minhas férias grandes em Lisboa, eu e a Nó felizes e contentes a passear com a Tia e com o Tio Gustavo, as nossas idas ao Nicola, as visitas a Sintra e à Serra da Arrábida, relembro ainda o dia do meu casamento em que a tia apanhou o meu ramo... e a Tia casou passado uns anos. Oh Tia! Que saudades!... A Tia é para mim um exemplo de jovialidade que eu quero que permaneça na minha memória.
Minha querida Tia Lola um beijo grande de parabéns da Lélé.

Anónimo disse...

Docas disse: Desde a morte do Tio Gustavo, a mãe anda de "preto total", e não adianta nada - antes pelo contrário...- sugerir que vá aliviando o luto,porque isso nada adianta aos mortos e deprime os vivos.É assim fora de casa.Dentro é outro mundo. Eu sei que lutos são para o exterior. Mesmo assim imaginem o meu espanto, quando chego lá e a mãe me recebe de roupão vermelho. Absolutamente,indubitavelmente vermelho- a sua cor favorita. E, depois, explicou-me, muito preocupada,que já tem roupões de sobra, mas da mesma cor...

Anónimo disse...

Docas comenta: A minha Mãe nunca teve paciência de esperar... Tudo tem de ser resolvido no momento!
Durante o tempo em que o meu Pai esteve em Angola, por casamento, (decidiram, por mútuo acordo, divorciarem-se, só alguns anos após a separação, ela tinha direito à assistência médica pela ADSE. Mas as receitas tinham de ser assinadas pelo beneficiário - o marido. Apesar do meu Pai autorizar o que fosse necessário, enviar a documentação para Angola e esperar pela sua devolução, não dava com o seu feitio. Decidida e, rapidamente, punha sempre a assinatura do meu Pai na documentação e, pronto... problema resolvido!
De outra vez, estava ela em Luanda, chegou em meu nome uma encomenda. Foi aos correios. No "guichet" informaram-na que só podia ser levantada pela própria (eu estava a trabalhar na Mobil). Com toda a "lata" e o despacho do costume, dirigiu-se a outro "guichet", ao lado, no mesmo instante. Apresentou o meu bilhete de identidade, fazendo de conta que era eu. Desta vez, também teve êxito!
O mais espantoso, aconteceu, quando falsificou a assinatura do meu Pai e foi reconhecida pelo notário. O documento destinava-se a fazer uma viagem até aos Estados Unidos da América, a convite do irmão, o tio Zé. Nessa época era necessária a autorização do marido, coisa que ele não se importaria, mas ia levar o seu tempo, até o documento chegar a Luanda e, depois, ser devolvido para Lisboa.
Assim, mais uma vez, tudo rapidamente solucionado - pronta para viajar até América, desistiu à última da hora.

Anónimo disse...

Docas disse: No 25 de Abril, estava em casa da Manuela. A notícia, em primeira mão, foi dada por um telefonema da minha Mãe. Sempre teve o hábito de muito cedo, tomar o pequeno almoço na "Suíça", um café do Rossio - chegava tão cedo, que por vezes, tinha de esperar que abrissem as portas. Nesse dia, telefonou muito excitada: meninas, não saiam de casa, há uma revolução. Os militares estão a evacuar esta zona, aconselhando toda a gente a ir para casa! Entusiamada, assistiu ao aparato da revolução!

Anónimo disse...

Docas disse: Depois do 25 de Abril, a minha Mãe achava bonito dizer que era do partido socialista. Não percebia nada de política, como a maior parte das pessoas. Era moderno. Quase toda a família tinha escolhido o patido democrático mais à direita. Havia discussões. A minha Mãe defendia o protelariado e o seu partido à esquerda, com muita exuberância - sempre gostou de uma "guerra" bem acesa. Mas uma coisa é ela criticar a família, outra é os de fora atacarem os seus. Aí, atira-se de "unhas e dentes".
Foi o que se passou no Rossio, numa manifestação do partido comunista. Através de um auto-falante ouviu soar pela rua fora: Manuela Aguiar é a Manuela a voar... Ficou "roxa" de fúria. Deu meia-volta, foi aos manifestantes de mala no ar e deu na cara, a torto e a direito, a quem lhe aparecesse pela frente - grande confusão! Lá a agarraram. Não houve feridos, nem mortos.

Anónimo disse...

Docas disse: Na década de 70 ou 80 (já não me lembro bem), passava na televisão uma série cómica. A história envolvia um casal e uma filha pequenina, a viverem, pacatamente, numa casa. Mas o marido ficava muito nervoso, sempre que aparecia lá em casa, sem avisar, a sogra. Surgia de repente! As visitas eram constantes, para grande alegria da mulher e da filha, mas não dele. O genro perdia todo o seu sossego - três adversárias era demais!
Nessa época, a minha Mãe ia muitas vezes a casa do Carlos (genro), Xana( filha) e Ana (neta), em Leiria. Também ela, aparecia sem avisar e instalava-se sem cerimónia. O Carlos começou a chamar-lhe "Endora". Assim ficou a chamar-se, por "graça", durante os anos em que a Xana e o Carlos estiveram casados.
Nessa altura, a Manuela comprou, no Rossio, uma cadelinha de pêlo grande e preto, aos caracois - tantos, que não se viam os olhos - era de raça "Serra d' Aires. Muito traquina e esperta. Em honra da minha Mãe, a Manuela pôs o nome de Endora, à sua cadelinha.

Maria Manuela Aguiar disse...

Em conversa, no sábado passado, as irmãs Maria Antónia e Lola, recordavam os primeiros tempos de casadas. Fui anotando, para não me esquecer...
uma das primeiras terras remotas onde a Tia viveu com o Tio Eduardo foi S. Mamede de Riba Tua. Tinha ele sido colocado como engº nas minas da Escavada. No fim do mundo! Foram de comboio, com o Nestó - um mês e meio de idade! - e as malas. Na estação do caminho de ferro esperava-nos o guia, com dois cavalos. A Tia Lola montou, sem receio, com o menino numa ceira. O Tio Eduardo, nem pensar em tal. Acompanhou a caminhada a pé!
Estão a ver a cena, quase bíblica...

Maria Manuela Aguiar disse...

Antes da ida para as minas da Escavada, estiveram nas minas da Bejanca - recém-casados. Era relativamente perto de Viseu, onde a Tia Lola ia, muitas vezes, fazer compras, de comboio, acompanhada pela criada. Receberam, no verão de 43, a visita dos cunhados Mariazinha e João e da sobrinha, com um ano (eu...), que não parava um minuto e não lhes dava descanço.
Estavam as duas grávidas (o Nestó nasceria a 7 de Novembro e a Lecas a 12 de Dezembro).
A coisa mais marcante que eu disse, vendo o umbigo do Tio Eduardo, foi: "botão". Mais de 65 anos depois, a gracinha ainda não está esquecida.
Já tinha vocabulário - e um espírito de observação que, actualmente, me falta.

Ao que parece, o lugar era bonito e o ambiente muito rural. A casa de banho teve de ser construida numa cabana de madeira, anexa à casa. Compraram uma grande banheira de zinco, que se enchia de água quente, à mão. Aí, não havia electricidade. À noite, era preciso recorrer a uma candeia, para iluminar. A Mariazinha tinha tanto medo, que levava sempre o marido com ela!

Maria Manuela Aguiar disse...

Adenda ao último comentário da Docas: está tudo correcto.
A magnífica e inteligentíssima cadelinha, que estava para se chamar "Lola", recebeu o nome de "Endora", comouma espécie de sinónimo codificado.
Resta só precisar o título da tal série televisiva: " Casei com uma feiticeira".
A feiticeira cônjuge era uma "querida", mas a feiticeira-mãe, ou sogra, era terrível!
Pelo que, a comparação feita pelo Carlos não era propriamente simpática. De qualquer modo, "Endora" era poderosa, como amiga ou inimiga...

Maria Manuela Aguiar disse...

Outras minas no curiculum do tio Eduardo foram as do Gerês. Nessa altura, era, ainda, solteiro.
Muitos, muitos anos depois, foram revisitá-las, a pé (como tem de ser...), pelas margens cénicas do rio Homem.
Estava um dia quentíssimo, pelo que, quando se aproximavam de uma das lagoas naturais, tomavam um banho refrescante.

Maria Manuela Aguiar disse...

Na conversa, que fui transcrevendo -tant bien que mal -estavam muito presentes os partos dos meninos.
O do Nestó, que esteve em risco de vida, porque, a dada altura, pararam as contracções da parturiente, e foi tarefa complicada convencê-la a não desistir (a mesmíssima situação aconteceu comigo, ou com a minha mãe - com o Tio Manuel, desesperado, a lutar contra o tempo, tendo chegado a dizer ao meu pai " o gajo morreu, vamos tentar salvar a mãe").
Assim, o Nestó nasceu roxo, e foi, logo, submetido a banhos de água quente e de água fria, alternadamente. Por fim, começou a chorar baixinho.
Diz a Tia Lola: parecia um gatinho.
O da Docas aconteceu em Paços de Ferreira, às mãos de uma parteira muito experiente, que resolveu uma daquelas situações tantas vezes fatais dos recém-nascidos, que trazem o cordão umbilical à volta do pescoço. Porém, nota singular, a menina vinha dentro de um "fole" - segundo o Povo, sinal de feliz predestinação. A parteira abriu o "fole" e retirou o cordão!

Maria Manuela Aguiar disse...

A notícia triste da morte de Ted Kennedy, fez-me recordar a única vez em que o cumprimentei e troquei com ele umas breves palavras. Nada de especial. Ele era simpático, à maneira americana, saudava toda a gente, com o mesmo "Nice to meet You", dito com um largo sorriso.
Claro, eu não ía ali reclamar o meu estatuto de "Kennedysta" de longa data, nem contar-lhe que tinha o meu quarto de estudante, em Paris - 1968, positivamente forrado de posters dos seus irmãos John e Bob...
Quem lhe teria falado de tudo isso, se estivesse no meu lugar e dominasse o inglês, era a Tia Lola, a quem devo o prazer daquele encontro. Foi ela que me levou consigo, e insistiu, não só em cumprimentar, mas em aompanhar a comitiva do Senador, pela rua abaixo. Salvo erro, a Duque de Loulé, em Lisboa.
Não fazia muito o meu género, mas não podia deixar a Tia sozinha...
Vista a cena retrospectivamente, devo confessar que tenho vontade de lhe manifestar uma enorme gratidão. Afinal não foi sequer embaraçoso, porque fomos aceites como gente de confiança pelos seguranças (suponho, pois ninguém nos afastou, talvez devido ao ar entusiasmado, de verdadeira fã, da Tia Lola!) e este acabou sendo, so far, o meu único contacto cos os Kennedys...

Maria Manuela Aguiar disse...

Segundo a Docas, a Tia Lola era uma "habituée" das recepções a celebridades, em Lisboa. Uma boa maneira de passar um pouco da tarde ou da manhã, que começava cedo, com o café tomado naquela pastelaria do Rossio, que ainda hoje é óptima, escapando à degradação do Rossio. (como é que se chama?).
Lia os jornais, e, depois, tinha muito tempo livre, até à hora de almoço com o Tio Gustavo. Seguidamente, tarde livre, para o cinema, ou para ver montras e fazer compras, até ser hora de jantar. Uma espera de qualquer vedeta, fazia a diferença na rotina!
Eu não voltei a acompanha-la, porque não calhou.
Só me lembro de outro encontro memorável da Tia. No Porto, à saída da Sé. Um cumprimento a Diana de Gales. O carisma da fã, obviamente, fã, voltou a funcionar!
A princesa parou, apertou-lhe a mâo, enquanto a Tia dizia, em português, "é tão bonita!". E repetia. E Diana não precisava de tradução, para perceber que era coisa boa, Nota 20!

Maria Manuela Aguiar disse...

Uma nota curiosa: a madrinha do 2º casamento da Tia Lola fui eu, o padrinho o Gustavo filho (Tavinho). O Tavinho, para além de ser um homem simpático e muito atraente, com o seu mais de 1.90 m de altura, era um académico, professor catedrático de Engenharia.
Foi triste e inesperada a sua morte: sozinho num veleiro, que acabava de comprar, em viagem de Lisboa para o norte.
A partir dessa tragédia, o Tio Gustavo entrou em declínio. Foi um choque tremendo - era o filho mais querido e admirado. Pouco depois, de ataque cardíaco, desapareceu o segundo filho, o Rui, mas o Tio já quase não reagiu.

Maria Manuela Aguiar disse...

A festa do 2º casamento da Tia Lola foi espectacular! A noiva parecia uma actriz de Hollywood.
Na altura, a Cooperativa dos Pedreiros era um dos locais "in", para banquetes. O do casamento da Lé teve esse mesmo cenário, no alto do arranha-céus, que eu vía da janela, quando moráva em Latino Coelho..