sexta-feira, 17 de outubro de 2008

P15 - MÁRIO BARBOSA AGUIAR CAETANO PEREIRA


TÃO IMPORTANTE NA VIDA DE TANTA GENTE
O Mário nasceu em Gondomar, a 17 de Outubro de 1932.
Foi, a meu ver, sem sombra de dúvida, a individualidade mais extraordinária da família, nas várias gerações, cuja história conhecemos. Um homem que teve o maior sucesso e reconhecimento na sua carreira ( dentro e fora do país!), como médico, cirurgião, investigador, professor, pioneiro dos transplantes em Portugal ( ainda era, quando se reformou, presidente da Associação Portuguesa de Transplantes).
Reconhecimento no mundo científico, não a nível mediático. Para ele, essa forma de notoriedade era absolutamente prescindível e, talvez, até nefasta. A sua postura foi sempre a de se concentrar no trabalho, em profundidade, sem fazer do trabalho uma espéciede palco da fama e da glória. Raras vezes dava entrevistas ou publicitava realizações fora do lugar próprio, que era, naturalmente, o das revistas cientificas. Mas não criticava a "escola"de Lisboa, que pensava diferentemente...

Genial, mas discreto demais.

Um fabuloso operador, experiente, dedicadíssimo: nâo saberemos, nunca, quantas pessoas lhe devem a vida...

Um lutador: pelo avanço científico, pela conformação das leis às necessidades da Medicina, pelas condições de trabalho e de atendimento dos hospitais, do "seu" Hospital de Santo António, no Porto. Até aceitou, durante um período difícil, ser director deste hospital! Creio que foi então que se projectou o novo edifício. Lembro-me de relatos sobre as resistências burocráticas, que enfrentou. Admirava a paciência e a tenacidade com que se envolvia em tarefas, que nem eram as que mais lhe agradavam...E a voz de comando, que, nessa veste, sabia ter. Não era para graças!

Para graças era , isso sim, no "inner circle", no círculo Aguiar, alargado aos demais apelidos! Em família era, de facto, o mais sociável, o mais divertido, o mais disponível, que é possível ser!Arranjava tempo para todos nós, para nos ouvir, para rir connosco, muitas vezes, das originalidades e peripécias esquesitas da nossa política e políticos, e, até, à mistura, para tratar os nossos males de corpo e alma(foi sempre um incomparável clínico "generalista", com um "dom de adivinhar", de diagnosticar, de curar, com remédios, se não apenas com palavras convincentes!...)

Sobre ele, uma das surpresas que viria a ter, seria a constatação de que, não só para a família, mas, igualmente, para muitos antigos doentes de Gondomar, dos seus tempos de recém licenciado, continuou a ser o médico de proximidade...Disseram-mo, durante o seu velório e funeral, muitos desses (para mim) desconhecidos conterrâneos, de lágrimas nos olhos. Fiquei impressionada, não tanto pela generosidade e simpatia humana desses gestos, de que o achava bem capaz, mas pela forma como geria a sua agenda, abrindo espaço para tanta actividade, para tanto convívio, para tanta gente, para tanta coisa!...

É verdade que todos nós tendemos a desconhecer o lado profissional dos nossos parentes, sobretudo se eles se não vangloriarem dos suas obras - e, como disse, o Mário era completamente avesso a isso. Não que fizesse questão de guardar segredos: até contava o que vinha a propósito, como algumas das batalhas "administrativas" ou legislativas, que travou. Como eu lhe contava as minhas, noutras áreas e questões. Evidentemente que não estranhei a insistência com que, um dia, numa viagem de Lisboa ao Porto, qundo eramos ambos deputados, o Dr. Paulo Mendo me dizia:" O seu primo è uma sumidade!" e eu respondia:"eu sei, eu sei", mas ele não acreditava que eu soubesse mesmo...E saberei? Não sendo da especialidade, talvez não me aperceba da dimensão total... Admito que possa ter sido ainda melhor do que supômos- nesse domínio.

Mas também foi maravilhoso e insubstituível como primo - como irmão, que eu assim considerava (ele, o Tónio e o Nestó eram, realmente, mais irmãos do que "primos direitos") .

Em 2005, perder o Mário foi perder o irmão mais velho, um segundo pai, como às vezes, são os irmãos mais velhos - 10 anos mais velhos, e mais sábios e sensatos...

E que casal ele formou com a Meira!... Perfeitos! Nascidos um para o outro!

É normal que uma mulher consiga dar todo o seu tempo a um marido ou filho doente. Mas quantos homens há, capazes de deixar tudo para acompanhar, durante largos meses, a mulher, na fase terminal de uma doença incurável, sem a abandonar um só dia? Foi o que fez o Mário, pondo fim à carreira privada, e pedindo licenças sem vencimento no hospital. aonde voltou, depois que ficou viúvo. Que grande exemplo!

Hoje, quero antes lembrar a alegria das festas, na sua casa da Rua David Tomé Moutinho. Grandes festas, com imensos amigos - não apenas colegas médicos, portugueses, ingleses, mas também os do tempo da "tropa", em Angola, e os amigos dos filhos, para além da numerosa família, do lado Aguiar e do lado Caetano Pereira.

E as ceias de Natal, ou os almoços do 25 de Dezembro, ou os "réveillons", ou os "compassos" no dia de Páscoa... Primeiro era na "Vila Maria". Depois era, quase sempre lá!

E quantas tardes de sábado passadas, ou em Espinho, (aonde, com os filhos, chegaram a vir de férias, para o meu apartamento da Rua 7 ) ou em Gondomar, em conversa amena- ou, às vezes, animada pela discussão política, quando estavam presentes o Tio David ou o Domingos. E o Paulo , sempre pronto a fazer um cafézinho bem forte para o meu Pai...Com tantas mulheres, em casa, era ele o "voluntário"! Mais um sinal da boa formação geral naquela família esplendida. Que saudades!







































4 comentários:

Anónimo disse...

Manela disse: Creio que a primeira pessoa a dar-se conta da excepcional qualidade do Mário, como médico, foi o pai, o meu Tio Serafim. Ele era, também um homem fora de série! Muito inteligente. Um empresário com rasgo, com coragem, com senso, que construiu, sozinho, negócios sempre bem sucedidos. E não só : também um homem que se impôs socialmente, num largo círculo de amigos, graças a uma enorme capacidade de relacionamento pessoal. Influente, muito para além das fronteiras de Gondomar. Admirava-o muito. E ele foi, sempre, um meu aliado certíssimo, apesar das nossas diferenças políticas. De comum, nesse aspecto, só o facto de sermos ambos monárquicos...( mas o Tio, digamos, miguelista, e eu, não).Do Mário posso afirmar coisa semelhante: sempre contei, inteiramente, com ele! Desde a época em que, com muita paciência, me ensinou a patinar, no "rinque" do Crasto, até àquele dia em que foi comigo à televisão (num programa da Ivone Ferreira, na RTP-Porto ) falar dos nossos tempos de alegre convívio na casa da Avó Maria. Ele, que nem gostava nada de entrevistas, e, muito menos, sobre a vida familiar. Guardo cópia dessa entrevista, tão divertida, como uma bela e singularíssima recordação dele e da sua amizade.

Anónimo disse...

Tio Marinho, (era assim que nós os filhos do Toninho lhe chamava-mos)
Realmente não havia mais ninguém que sentisse tanto orgulho pelo filho que o meu avô Serafim, uma vez lá em casa disse-nos que o Tio Marinho era o melhor médico do mundo, melhor que o Dr. Bernard, e era sem dúvida.
Lembrando o Tio, terei que contar as ultimas palavras que teve comigo, eu andava triste (na minha fase má), deu-me o seu braço à saída da missa e disse-me:”Deixa lá Lélé não merecias, existem pessoas que não têm os mesmos valores católicos que nós e tu sabes isso, a vida continua sê a menina boa e alegre que sempre foste e educa a tua filha como Deus manda…”
Naquele momento o meu Tio ficou tão parecido com o meu Pai, as lágrimas correram-me, e… hoje sei que onde quer que o Tio esteja está junto de meu Pai.

Anónimo disse...

Manela disse: Tenho de procurar melhores fotografias do Mário! Aqui a última é do casamento do João Miguel com a Teresa, em que foram padrinhos do noivo a minha mãe (toda de amarelo vestida, para alegrar os seus 83 anos),e o Mário. Aqui,aparece com a família da outra tia, a tia Lola( à esqª, de chapéu preto - são famosos os magníficos chapéus, que usa nos casamentos, sem nunca repetir)

Anónimo disse...

Manela, diz-me pf o teu endereço de mail que eu mando-te outras fotos do meu pai e se quiseres um dos meus filmes.

Beijinhos