domingo, 19 de outubro de 2008

P17 - ROZAURA BARBOZA RAMOS

TÃO RARO E SIGNIFICATIVO O NOME COMO A TIA
Nascida a 19 de Outubro de 1879

I - O NOME
O de uma personagem de romance antigo, que o bisavô Joaquim andava lendo, ou relendo, quando nasceu a primeira das suas filhas:

"RETIRO DE CUIDADOS, E VIDA de CARLOS, E ROZAURA."
I e II Parte
Composta
Pelo P. MATTHEUS RIBEIRO.
Theologo;Prègador deste Arcebiíspado, e natural de Lisboa.
Dedicado
A DIOGO DE VASCONCELOS.
Fidalgo da Casa de Sua Magestade.
LISBOA
NA OFFICINA DE DOMINGOS RODRIGUES.
Anno de 1740
Com todas as licenças necessárias

Sou hoje a herdeira deste livro, com a capa de couro castanho, já em mau estado, e as páginas de robusto papel a ameaçarem desfazer- se ao nosso toque. Assim, muito lido, como deve ser um bom livro, terá chegado às mãos da Tia Rozaura, que prezava, sentimentalmente, as antiguidades e as conservava, como ninguém...
Por isso o não submeto a qualquer forma de "scanning" e procuro reproduzir, na medida do possível, o título, com a grafia anterior a vários acordos ortográficos. E o mesmo se diga dos primeiros parágrafos dedicados a Rozaura, a pags. 19:
" De tudo vivia Alexandre livre; porque nem era pobre, para menos estimçaõ, nem tão rico, para mayor emulaçaõ da inveja: todos o veneravão por quem era, e a todos agradava, porque de nenhum necessitava.
Tinha uma unica filha. de vinte annos de idade, se na belleza tem os annos jurisdicção na idade; que se chamava Rozaura, com quem a roza não podia competir pelo bello, que há formozuras taõ superiores à emulaçaõ, que deixaõ a covardadas todas as competencias: e se a roza he a Rainha das flores ,todas deixava vencidas, quem tinha o nome de roza. (...) Era Rozaura com tanto extremo bella, que parece, que se a formozura pudéra prder-se, em Rozaura podia restaurar-se. Competia a discricção com a belleza..."
Assim falava Carlos, ao tempo, estudante "de Leis " a residir em Nápoles . E, longamente, continuava, num texto repleto de citações de Seneca, de Ovídio, Demóstenes e tantos outros doutos pensadores, que por nós andam esquecidos demais ...
Nas pags. 452 e 453 o fim feliz, com o casamento de Carlos e Rozaura:
"...Chegàrão com este acompanhamento a Igreja, levando a Marqueza a Rozaura da maõ, e D.Manrique a Carlos ao lado direito, assistiaõ ao seu recebimento e quando voltaraõ por quantas ruas passaraõ choviaõ infinitas flores das janellas, com repetidos vivas, que aos despozados davaõ, e como entràraõ em casa, saindo o governador a recebellos, D. Manrique, e o Capitão Theodozio se despediraõ do Governador, e de Carlos , e Rozaura a quem rendeo, ella ella com muito avizo as graças de honra, e mercé, que a ella e a Carlos seu espozo fizeraõ; (...)"
E, a terminar escreve o autor: LAUS DEO


II - A TIA
Um nome faz um destino?
Não sei...Mas frases como " competia a discreção com a beleza" ou Senhora de "muito avizo", são certamente as que rigorosamente a caracterizam. Uma beleza de juventude, que ,com o passar dos anos era , sobretudo uma expressão vivissima e perspicaz - a lembrar, um pouco, a Miss Marple dos livros de A. Christie. Não que jamais, com a sua "descrição", se envolvesse a solucionar crimes de morte, Mas poderia. Nada lhe escapava... Conhecia bem a natureza humana e as suas fraquezas. Dava-se com todos, gostava de todos, mas...gostava muito, muito e incondicionalmente, de muito poucos... Minha Mãe, que era sua afilhada, tornou- se na menina que não teve, em dois casamentos tardios. E a Lecas e eu as suas netas,
Residimos, com ela , então casada com o 2º marido, o tio Manuel Lima, e depois que enviuvou, durante alguns anos, numa casa que me deixa saudades, Mais tarde, e por mais de 20 anos, foi connosco que viveu, no Porto e em Espinho.
Faleceu, serenamente, no sono de velhice, no dia 1 de Janeiro de 1979: o ano do seu centenário!
Que pena tivemos de o não poder festejar, como estava planeado, à distância... Tivemos, sobretudo, o desgosto de perde-la, como pessoa tão especial, que era. Mas também de perder a sua fabulosa memória das histórias do seu tempo, e da família.

Para mim foi uma Avó- nos últimos tempos, até a mais próxima. No afecto, não sei distingui-las!
A minha Mãe considerava-a também a sua Mãe, e não apenas a segunda.
Tal como a o Tio Alexandre, como que adoptou a Tia Lena, a Tia Rozaura e o Tio Marques, o seu primeiro marido (com quem foi felicíssima!),"adoptaram a "Mariazinha". Aconteceu naturalmente, sem que a Avó Maria, também muito inteligente, e confiante nestes "irmãos- aliados", se sentisse de menos no afecto dos filhos. Com isso todos ganharam.
A nossa "rosa de ouro", como diria o Bisavô Joaquim, gostava deste nome raro ( em vida só uma vez, e em Espanha, encontrou umu homónima!...) e de contar a sua razão de ser... Como contava tantas e tantas histórias deliciosas, que vamos, pouco a pouco, recordar em "comentários".
Por isso lhe dedico hoje aquelas trancrições de um romance oitocentista, folheando as páginas, a "ver" o Bisavô, fazendo o mesmo gesto.
A nossa fabulosa Tia Rozaura tinha, para além de uma inteligência tão rara, quanto o nome, umas "mãos de fada", para rendas e bordados, os mais intrincados, os mais delicados. Era incomparável, nessa arte, com que,positivamente se deleitava. Aos 95 anos, fez a última e esplendorosa colcha de "crochet" . Depois, a nosso pedido, só peças pequenas. .. Por uma razão simples: o excessivo afã, com que avançava na obra, cansando-se demais, com o receio de morrer a meio e a certeza de que ninguém a saberia terminar...
Um fenómeno de boa longevidade: haviam de ve-la, a ler o jornal, a ver televisão, a comer, com grande apetite (uma noite, que se tornou inesquecível,13 pêssegos, à sobremesa...).
Querida Tia, rosa de ouro centenária e eterna, na lembrança!




O Dr. Manso, Director do Sanatório da Serra da Estrela, seu grande Amigo. Daí veio curada da tuberculose.
Fotografia de família para enviar à irmã Maria, então a viver no Rio de Janeiro


Com os sobrinhos Carolina e Manuel

O primeiro marido, Manuel Marques, natural de Braga, funcionário da Contrastaria de Gondomar, padrinho da minha mãe, Maria Antónia. Uma excelente pessoa, o marido perfeito!

Os tios, com amigos, numa viagem a França.

Os tios, Rosaura e Manuel, no fotografo de Gondomar.



O segundo marido Manuel Lima, viúvo, emigrante regressado do Brasil.
























17 comentários:

Anónimo disse...

A minha Tia Rozaura
Recordo-me dela já muito velhinha quando a ia visitar, tinha sempre qualquer coisa para nos dar a mim e à minha irmã Nó, e não queria que fossemos para o quintal por causa do poço. Mais tarde já em casa da Tia Gijinha, lembro-me dela a ler o jornal, a fazer croché e a mandar a Olívia fazer tapioca para as meninas merendar. Quase a fazer cem anos, mas muito lúcida, estava sempre atenta ao que os meninos estavam a fazer, não queria que “bulíssemos” nas coisas, que não eram para estragar, o seu linguajar era muito característico dos seus cem anos de vida!
Quem me dera lá chegar assim como ela!!!

Anónimo disse...

Manela disse: Acho que a Tia Rozaura fez o encanto de sucessivas gerações de crianças da sua família! Tinha um particular talento para contar coisas, por mais triviais que fossem. Com ela "visualizávamos" situações passadas no dia anterior ou há muitas décadas, como num filme realista. Tudo em detalhe, e a cores! Podia ser o encontro de juventude com Afonso Costa, que era amigo do Dr. Manso ou o funeral do Rei Dom Carlos e do Príncipe Real (estava, por acaso, em casa de uma amiga, que conhecera num dos sanatórios, onde foi tratada, e salva). Monárqica, viveu essa tragédia com infinito desgosto...E falava sobretudo do príncipe,tão novo, tão bonito, tão branco e loiro...Quando, dois anos depois, em Lisboa, foi proclamada a República quem estava lá era a Avó Maria, com o Avô, em lua de mel, e de partida para o Brasil. O casamento tinha sido celebrado no mês anterior ( a 10 de Setembro).Coincidências...

Anónimo disse...

Manela disse : A juventude da tia Rozaura - a sua vida protegida e despreocupada na plácida vila de Gondomar - foi bruscamente agitada pela "doença fatal" desse tempo, que era a tuberculose. Primeiro foi contagiada na "Escola Normal" a Glorinha, depois o Américo. Parece que a Tia Rozaura terá insistido em os tratar em casa.O pai queria que fossem para um sanatório. Mas eles próprios também não devem ter suportado a prespectiva do afastamento e do isolamento numa clínica de montanha... Ficaram. E a Rozaura fez tudo por eles, sem conseguir evitar o pior. Não bastava a dedicação... Por fim, viu-se vítima do mesmo mal. Desta vez, o pai convenceu-a de que só num sanatório poderia curar-se. (As hipóteses eram ténues, o estado grave). Resistiu. Passou, pelo menos, por dois - o que está, em foto, no blog e o da serra da Estrela, onde tudo lhe correu bem! O Dr. Manso era um amigo.Um amigo especial. Apaixonaram-se! Mas era um amor platónico e sem futuro. Ambos estavam tuberculosos( os directores de hospital não são imunes a contágio...) e receavam transmitir a doença aos filhos que viessem a ter. Não sei se havia, cientificamente provado, esse risco. Havia, pelo menos, o preconceito! A Tia era, então, nova e bonita, menos exuberante do que as irmãs, modesta a vestir, reservada entre estranhos. Discreta, medianamente culta e muito sagaz. Devia preencher o ideal feminino para a maioria dos homens desse tempo. Preenchia, sem dúvida, o do Dr.Manso. Um belo homem,que até numa velha fotografia transmite energia masculina e magnetismo. Podem pensar que estou influenciada pelo que ouvi dizer... Talvez, de algum modo. Mas o retrato aí está, para fazerem uma ideia.

Anónimo disse...

Maria Antónia disse:Pena não ter terminado em casamento esse romance! A vida da Tia Rozaura teria sido muito mais cosmopolita! Gostava muito do Tio Marques, e ele foi óptimo para ela, para mim. Todos o apreciavam.Era sereno e gentil com a mulher e com toda a Dgente.Mas já eram ambos de meia idade...Ele viúvo, ela "solteirona"...Tenho a certeza de que nunca esqueceu o "glamour" do jovem doutor do sanatório. Numa caixinha guardava um pacote de cartas, que nunca quis destruir. Deixou no envelope, onde estavam, a nota de que deviam ser enterradas com ela. E foram! Ninguém ousaria desrespeitar a sua vontade. Não sabemos o que continha o. Eu julgo que eram as cartas do enamorado...

Anónimo disse...

A sobrinha neta (mais neta do que sobrinha!) Manela disse: O tempo passado no sanatório deve ter sido "de susto" para a Tia. Mas, à medida que o prognóstico melhorava, converteu-se num simpático "resort" na serra. A convivência era de clube de gabarito, e o médico-director atraente demais. Fez muitas amigas, nas casas ou quintas das quais gozaria depois férias, retribuindo na casa paterna de S.Cosme(era numa quinta da Amadora, que estava, por umas semanas, quando se deu o regicídio). Distraiam-se em passeios e piqueniques, pelos montes e vales da "Estrela".Os que se encontravam recuperados conviviam com o mundo exterior - assim conheceu Afonso Costa. O Dr. Manso devia ser outro republicano assumido...

Anónimo disse...

Manela disse: Esqueci-me de contar um pormenor, que sempre achei "incrível", mas era absolutamente verídico. Do tratamento intensivo, da dieta, fazia parte uma dose de 12 ovos, diariamente. Entre outras barbaridades. Era preciso uma saúde de ferro( tuberculose à parte...) para resisitir a tanto excesso!Não admira que ,depois dessa tormenta a Tia tivesse chegado, sem mais maleitas, até aos - quase,quase -100 anos.

Anónimo disse...

Docas comenta: Dpois de fazer a 4ª classe em Sortelha, fui estudar para o Porto, onde fiquei, durante 3 anos, hospedada em casa da D. Cândida, na Rua Braancamp, muito próximo da casa da tia Lena e tio David. Foi nesse período que tive mais contacto com a família.
Aos fins-de-semana estava quase sempre com a tia Mariazinha, tio João, Manuela e Madalena, ora na Pedreira, ora em Avintes, ou então, em casa dos meus avós paternos, em Rio Tinto.
Na Pedreira só me lembro da sala de refeições e aos domingos de estar o rádio muito alto, a dar os desafios de futebol (grande distracção do tio João e Manuela), para grande tristeza minha, que preferia estar a brincar, em vez de ouvir relatos de futebol...
Já na Rua Latino Coelho, no Porto, em casa dos tios, lembro-me da tia Rosaura sentada num sofá a ler frequentemente o jornal, sempre com uma atitude muito calma, calada e uns grandes olhos escuros a observar tudo e todos.

Anónimo disse...

Maria Antónia disse: Em Gondomar a Tia Rozaura vivia para a família. Todosos dias visitava a minha mãe. Muitas vezes as cunhadas, Tia Celestina, mulher do Tio José e a Tia Hermínia, mulher do Tio Alexandre. Quando era nova, depois do internamento nos sanatórios, saia muito,para casa de amigas, em várias regiões do país...Em Lisboa tinhamos também primos : os Harbertz, os Ortigão Ramos, descendentes do primo direito António Ramos (flho do Tio Manuel Guedes)e de uma filha de Ramalho Ortigão e outros. Mais tarde, com o Tio Manuel Marques ainda dava grandes passeios - foram a França, em peregrinação a Lourdes, por ex. Mas nos últimos tempos preferia ficar em casa, ao contrário da Mamã. As suas saídas, quando vivia comigo, no Porto ou Espinho,eram cada vez menos- na própria cidade, perto, para a igreja. pequenos passeios, de carro, com a Lecas e o Manel Vale (há várias fotos!)idas a Gondomar, nas festas, Natal, etc. Entregou a casa da "Pedreira", apesar de ganhar a acção de despejo (por estar ausente- que, com a idade, era direito que tinha, para receber assistência, assim julgou o Juiz...)e perdeu aquele "laço" com a terra. Dizia sempre: "Bem faz, quem em casa está em paz"

Anónimo disse...

Maria Antónia disse : A casa da "Pedreira" era alugada, mas viveu lá, durante muitas décadas! Sua era uma propriedade rústica, com uma pequena casa de pedra, onde tinha muitas árvores de fruta e hortas. Perto de S. Cosme. Com um nome bonito: "A passagem". Vendeu- a, quando o Tio Manuel Lima adoeceu. Uma pena! Pena também não termos comprado a casa da "Pedreira", de que eu gostava tanto, e teria conservado, como era, com as lindas janelas de vitrais coloridos e o miradouro coberto de glicínias...

Anónimo disse...

Manela disse : Entrava-se na casa da Tia Rozaura pelo largo portão de madeira, com acesso, em frente, às lojas do piso inferior, que podia servir para garagem, adega, arrumos... Subíamos uma escadaria de pedra e estávamos, então,no jardim ou quintal. Flores, algumas árvore de fruta, à esquerda o mirante das glicínias (de onde se via o largo da Pedreira e um imenso tanque público de água ensaboada por muitas e ruidosas lavadeiras, assim como, à porta de uma ou outra das casas vizinhas, verdadeiras artistas, a trabalhar, eem pequenas bancas, fios de filigrana, a célebre filigrana de Gondomar - um lugar incrivelmente típico e atraente). Para entrar em casa, mais alguns degraus nas escadas da porta principal, e, ao fundo, para as da cozinha. A porta da cozinha, de dia, sempre aberta, como, nessa época era possível, sem risco de assalto...A outra, abria-se para as visitas. Dava directamente para um pequeno "hall", entre duas salas: uma saleta, que foi adaptada para quarto das meninas (a Lecas e eu) e a sala de visitas, com um bonito canapé antigo, de palhinha, cadeirões e cadeiras a condizer, pequenas mesas ovais... Não me lembro de grandes detalhes - não era aí que brincávamos. O sector dos quartos era separado por uma segunda porta de madeira muito larga. Do lado de lá, um corredor espaçoso,iluminado por uma clarabóia, e três quartos: o da Tia, o dos meus pais e o da Maria Póvoas, a estimadíssima empregada, que aí estava desde os tempos de infância da minha mãe.Do lado de cá, um corredor estreito e comprido, levava-nos em direcção à cozinha, (em linha recta), e a uma pequena salinha, onde guardávamos os brinquedos, e à sala de jantar (à direita). Também à casa de banho, e a arrumos. Vivemos aí uns anos felizes, com o gato preto e branco "Lulu", que era da casa, e a minha cadela "Chinita", de pura raça "pequinois", como eu dizia, com orgulho. Nas traseiras, o quintal dava para a casa dos avós da Ana Maria, uns excelentes vizinhos. E próximos não havia mais nenhuns. Com o declive do terreno, a maior parte da zona de delimitação do quintal era muro, a um nível vários metros acima do terreno da outra vizinha( chamada Adriana se bem me lembro).Uma lástima não termos podido comprar este espaço, tão isolado, e tão acessível!

Anónimo disse...

Maria Antónia disse: A casa da "Pedreira" era antiquíssima! Fora, dos dois lados do portão, havia dois compridos bancos de pedra. A fechadura abria com uma gazua. O chão era coberto por uma enorme lage de pedra. Nos degraus das escadas de pedra, havia vasos de nardos brancos, que chamávamos "Madalenas". Cá em cima o jardim tinha flores lindíssimas, que agora quase não vemos, em lado algum: Cosmes, de todas as cores, roxos, amarelos, cor de rosa, beladonas, cravos e cravelinas, brincos de princesa, ervilhas de cheiro, lírios, dálias - um festival de cores! Também hortelã, ,e, aos pés de uma larangeira, pionías raras. àrvores, para além dessa, só um pessegueiro e um loureiro, arbusto grande, perto do tanque e do coradouro. E vinhas: normal, à frente, americana atrás, onde ficava a horta. Quem trabalhava a terra, com habilidade, era a Maria, quase sozinha. Lembro-me também do limonete, ao fundo das escadas da porta de casa.

Anónimo disse...

A Olívia acrescenta : quando fui trabalhar para a SrªD. Rozaura, depois da Maria e de uma outra , que esteve pouco tempo, o jardim já tinha muitas mais flores, além das que falaram - batesónias brancas e rosa, gipsofilas, palmas de stªRita, um grande lilaseiro, jarros, e também, alfazema, alecrim, margaridas...Havia muitas árvores -pelo menos, duas laranjeiras, três pessegueiros, duas ameixoeiras, e mais uma que nasceu, sem se saber como, no meio da horta, e dava grandes ameixas amarelas...E muitas videiras - até fazíamos vinho da casa.

Anónimo disse...

Manela disse: A Mãe e a Olívia não cessam de acrescentar mais flores e mais árvores ao jardim da Tia Rozaura... Decidi aguardar, até completarem o esforço de memória! Eu só posso dizer que era tranquilo e simpático, discreto, quase escondido, por muros, que não pareciam cercar um "território" tão grande e tão cheio de cores e de cheiros tradicionais. Refectiam muito do que era a Tia, com a sua paixão por tudo quanto vinha do passado e precisava de ser conservado. Até aquelas flores, de nomes bizarros para nós, mas, afinal, quase todas simples e campestres... Vivemos vários anos nesse pequeno mundo, que adorávamos. Muito à vontade, como se a casa fosse nossa! Talvez uns 7 anos- dos meus 9 aos 15. De lá, fomos para o andar do Porto, e ao fim de algum tempo - meses, um ano ou mais? Difícil precisar... - a Tia foi viver connosco. Já tinha mais de 80 anos e estava habituada a companhia. Eramos a sua família próxima: filha, netas, não do ponto de vista biológico, mas no plano afectivo, que é o que interessa! Retribuíamos, inteiramente! De princípio tentou manter a casa da "Pedreira. A OLívia ficava lá, trazia flores, fruta, legumes. A Tia contestou uma acção de despejo, por abandono do espaço e ganhou, no tribunal. Mas acabou por a entregar, mais tarde. Era difícil e dispendiosa de manter, com tão pouca serventia... E a Tia Rozaura foi sempre um fantástico exemplo de sensatez. Soube sempre ser poupada e independente, com rendimentos mais limitados do que os da irmã e dos irmãos. E conservou, mais e melhor do que qualquer deles, património herdado: jóias, embora talvez não as mais valiosas, mobílias, serviços de loiça, linhos, rendas, candieiros, relógios e também cartas, fotogrfias... E é por isso que, hoje, estão em minhas mãos essas preciosidades, muitas delas mais de valor afectiva do que de valor monetário.

Anónimo disse...

Manela acrescenta: Numa das primeiras recordações dos tempos de residência na casa da Tia Rozaura, vejo-a a mostrar- me uma caixa de música, com a imagem em bronze da Nª Sª de Lourdes. Eu achava a música lindíssima. E, depois, a Tia contava muitas histórias do seu passeio a Lourdes, incluindo uma tragédia de uma das excursionistas, que ia com a cabeça fora da janela do combóio. Estão a imaginar o que aconteceu... Eu nunca me debrucei de janejas de carros ou combóios... Ah! Tenho de terminar, dizendo que a Nª Sª está no quarto da minha mãe e acho que ainda toca o hino religioso.

Maria Manuela Aguiar disse...

Manela diz: Tão grandes eram as diferenças de feitio entre a Avó Maria e a sua madrinha de baptismo, Tia Rozaura, como as diferenças de estilo de vida ditadas pelo destino!(destino, mesmo, porque, por exemplo, também a Tia R. podia ter casado com um homem rico, e isso esteve para a, contecer...)Com reflexos até na forma de conservar bens de valor afectivo, pequenos objectos, ou costumes caídos em desuso,as flores "em vias de extinção", que cultivava no se terreno, os sabores de uma cozinha simplicíssima, mas deliciosa, com os estrugidos bem morenos, e um arroz escuro, que acompanhava todos os pratos e era mais do que óptimo. As "criadas", como então se dizia, ficavam anos e anos,( uma de cada vez!) enquanto as da Avó (durante décadas, no plural, pelo menos duas - e mais, no tempo dos meninos pequenos...) se sucediam, com regularidade. Assim, na casa da Tia R. só conheci a Maria Póvoas, que lá esteve uns 30 ou 40 anos (andou com a minha mãe ao colo) e saiu para viver com uma sobrinha, a Géninha, e a Olívia, que leva quase
50 anos connosco- na casa da Tia e,depois,no Porto e em Espinho.Ora a Maria cozinhava à moda antiga e divinamente. Ensinada,pela Tia, que tudo fazia bem...

Maria Manuela Aguiar disse...

A colocação da 1ª foto da Tia pode dar lugar a alguma dúvida entre as Rozauras, sobre qual delas é - a da novela ou a da família. Pois bem, eu esclareço: essa bonita jovem é mesmo a Tia!

Anónimo disse...

Manuela disse:
Neste Maio chegaram à sobremesa as cerejas e os magnórios.
Duas frutas que, invariavelmente, nos fazem falar da Tia Rosaura.
As cerejas, porque eram da sua predilecção.
Os magnórios talvez não tanto. Quem tem um fraco por eles sou eu. Mas os primeiros de que recordo foram experimentados das árvores da "Passagem", a bonita propriedade rural da Tia Rosaura. Eu era muito pequena e estava com a Tia e com a Maria Póvoas, que me deu um magnório a provar. E eu comi e disse: É delicioso!
O que elas se riram... E a frase ficou célebre... Nem eu a esqueci.Nem a frase nem o êxtase do0 momento.
A "Passagem" ficou sempre ligada à ideia de um paraíso terreal, embora de pouco me lembre com precisão: Espaço, correrias e magnóris! A casa rústica, de pedra, de que fala a minha Mãe, não entra nas memórias que guardo.
Pena que, por razões económicas - as doenças do 2º marido, o Tio Lima "brasileiro" - fosse forçada a vendê-la!