sábado, 15 de agosto de 2009

W119 - CORDOBA, lejana y sola

A Inês Barbosa foi em maio para a universidade do Minnesota, Duluth (terra natal de Bob Dylan e autêntico "ártico" no inverno, segundo os tios Paulo e André Barbosa, que por lá viveram, em crianças, os 5 anos em que a mãe foi professora na mesma universidade - ainda que no polo da capital, Minneapolis). Fica lá até dezembro e vai ser assim durante os 4 anos da bolsa e do doutoramento em oncologia genética - a não ser que o namorado, a estudar eng. informática no ISECoimbra, arranje forma de se transferir para lá, do que ela já está a tratar. Isto ainda nos embalos do verão, que em novembro e dezembro é capaz de perder o entusiasmo por aquelas latitudes. Antes de ir quis dar um passeio comigo (andava irritadiça e muito no ar, com aquela sensação de irrealidade que o mundo toma em vésperas de grandes mudanças). Fomos até Sevilha e Córdova. A Mesquita e a Catedral, com o cruzamento do Islão e da Cristandade, pelo menos ao nível da arte - e o que isso revela de genéticamente fundador do espírito peninsular, determinaram a escolha. Com o Lorca à mistura, claro.
O regresso a Coimbra, num domingo despovoado, foi directo ao laboratório de genética da UC, para tratar células de cancro do pâncreas que são, pelos vistos, muito frágeis...



Eram 8h da tarde, e ainda estive 1 hora de jejum, a secar no laboratório. Foram as únicas fotografias boas da viagem...


JOSÉ SEVERO




















Fica o poema do Lorca e link (o Paco Ibañez tem uma fantástica interpretação deste poema, mas não a encontrei no youtube) :
Canción de jinete

Córdoba.
Lejana y sola.

Jaca negra, luna grande,
y aceitunas en mi alforja.
Aunque sepa los caminos
yo nunca llegaré a Córdoba.

Por el llano, por el viento,
jaca negra, luna roja.
La muerte me está mirando
desde las torres de Córdoba.

¡Ay que camino tan largo!
¡Ay mi jaca valerosa!
¡Ay que la muerte me espera,
antes de llegar a Córdoba!

Córdoba.
Lejana y sola.

8 comentários:

Maria Manuela Aguiar disse...

Quando abri o blog, com a Docas por perto, tive a boa surpresa de ver esta tua notícia.
Gostamos imenso!
Ela não conhece a Inês - acha-a lindíssima.
É. E é sobretudo muito simpática, muito inteligente, muito interessante.
O "Círculo" existe, justamente, para nos conhecermos melhor.
Aguardamos mais detalhes da aventura de emigração da Inês nos "States".

Anónimo disse...

Docas disse:
Do teu ramo da família, infelizmente, não cheguei a conhecer ninguém, excepto o teu Pai. Dos teus Avós Celestina e José não tenho, praticamente, memórias. Estava em Gondomar, com a Avó Maria, quando o Tio José morreu e ela levou-me à casa de Quintã - creio que foi a única vez que lá fui e, como era pequena, guardo umas vagas imagens desse dia, de termos sido recebidas pelo teu Pai, logo à entrada, e, depois, da Tia Celestina a conversar com a Avó.
Muito mais tarde, em fins da década de 70, um dia, o teu Pai foi a Lisboa e ficou em casa da Manela, na Avenida do Uruguai, onde eu morava, nesse tempo.
A Manela estava fora, como era costume, e o Zé Quim - como lhe chamávamos - convidou-me para jantar. Conversámos longamente, e eu descobri que tinha um primo muito interessante e muito culto!
Depois, nunca mais o vi, mas nunca mais o esqueci - um sentimento de família que nasceu instantaneamente. Mas há família e...família.
Ele acrescentava-lhe valor. Era uma pessoa especial que eu gostava de ter como primo!

Maria Manuela Aguiar disse...

É sempre assim que as coisas acontecem neste blog - começamos a falar de uma geração e, logo, nos vem à memória a anterior, ou a seguinte...
Eu também tinha uma especial amizade e admiração pelo teu Pai - e tive a sorte, sobretudo, durante os dois anos em que fui assistente na Faculdade, em Coimbra, de conviver diariamente com ele, contigo, com os teus irmãos...
Um tempo animado e refrescante, com uma revolução a espraiar-se, em váras direcções, e um ventinho de loucura e de utopia a soprar de norte a sul e de sul a norte...
Nós politicamente, não tínhamos nada a ver uns com os outros, mas isso nunca foi obstáculo a uma sintonia total na convivialidade.
Com o teu Pai, não me lembro da mais pequena querela...
Recordo-me de analisarmos, como uma espécie de "comentadores residentes", muito serena e civilizadamente, a sucessão meteórica de acontecimentos que a tv nos dava - um permanente "reality show", como de diria agora!

Maria Manuela Aguiar disse...

Voltemos à Inês:
Eepero que ela se integre bem e depressa no sistema americano.
Se isso acontecer, eu vou sentir-me, de algum modo, "realizada" através dela!
Um dos sonhos que não consegui concretizar foi o de fazer uma pós graduação ou doutoramento nos EUA.
Por culpa minha, depois de me ter sido dada uma bolsa para uma das melhores universidades do país...
Como, nesse ano de 1968, a Gulbenkian me ofereceu uma outra bolsa de estudos para Paris, optei por Paris, no pós Maio 68.
É a única coisa de que, verdadeiramente, me arrependo na vida!
O que ganhei, em França, no "day after", na "terra de ninguém", numa experiência de dispersão, de caos institucional, de evocação já nostálgica de mutações "que poderiam ter acontecido e não aconteceram", não compensa o que eu acho que perdi numa sólida organização americana de Illinois...
E, por isso, fico "torcendo", ainda mais, pelo sucesso da Inês.
Aquilo, lá, é outro mundo! Até em sociologia do direito, que era a minha área, e muito mais, ainda - no bom sentido - no que respeita à area científica da Inês.

Maria Manuela Aguiar disse...

A propósito do frio polar de Duluth, Minnesota, devo dizer que, pessoalmente, não me assustaria.
O que me assustava era passear, num Agosto quente, pelas calles de Cordova.
Nunca fui a Cordova "lejana e sola", e, agora, entusiasmada pela tua reportagem, vou pô-la no meu mapa de viagens projectadas... mas, é claro, no inverno.

José Barbosa disse...

o endereço da Inês é inesbarbosa@yahoo.com, convida-a para o blog, que ela vai gostar...

Maria Manuela Aguiar disse...

Vou fazer o convite, de imediato, e ficamos todos à espera das "crónicas de Duluth"!
Em relação às crónicas sobre as gerações anteriores, faço-te uma pergunta: o que nos podes dizer sobre o teu Avô José Barbosa?
Lembro-me muito bem dele, já velhinho, mas ainda com aquele sentido de humor "ácido", característico do nosso lado "Barbosa".
Morreu quando eu estava no sul de Inglaterra, depois de terminar o antigo 6º ano do liceu. Já tinha optado por Direito e essa opção agradou-lhe , naturalmente. Começou logo a tratar-me como "futura colega"! Seria
um grande aliado, embora até então não tivesse convivido muito com ele. Já não vivia em Gondomar - apesar de lá ir muitas vezes, em fins-de-semana passados em casa da Avó - estive 7 anos interna num colégio e, nas férias de verão o destino era sempre Espinho.
Conheço o seu curriculum, como é evidente - o que consta da monografia do Concelho de Gondomar, de Camilo de Oliveira e um pouco mais. Mas é pouco.
O que sabes tu?

Maria Teresa Aguiar disse...

Olá Zé,
Muitos parabéns pela tua filha. Quando estava a ver o blog fiquei com um nó na cabeça, pois de manhã tinha estado a falar com a Inês, filha do Tó (faz hoje 19 anos), e como "raio" é que ela estava a estudar nos EUA?
É uma pena, não conheço os teus filhos nem os teus irmãos. Temos que combinar o pic-nic, que o teu pai sugeriu, para juntar a familia.
O teu pai era um encanto e a Teresinha também. Mas com quem convivi mais foi com a tua Avó, a famosa tia Celestina, que fazia a melhor marmelada do mundo. A Tia Celestina e a Tia Rosinha (irmã do meu Avô Serafim) vinham sempre a nossa casa, sempre que um de nós fazia anos, uma trazia os seus famosos bolinhos e a outra a marmelada. O meu Pai vinha lanchar a casa e trazia-as e depois um dos empregados do escritório vinha buscá-las. A minha mãe era uma pessoa muito alegre, bem como ambas as tias, e passavam as tardes a conversar. Da Tia Celestina, para além da marmelada e da sua empregada Alzira, lembro-me das suas gargalhadas... Bons tempos aqueles!

Beijinhos da Nó