quinta-feira, 6 de agosto de 2009

117 - A AVÓ MARIA 121 anos

A Avó Maria nasceu há, precisamente, 121 anos.
O ano passado, com ela abrimos este "Círculo Aguiar". Contámos um pouco da sua história.
Agora vou apenas falar das pequenas histórias do quotidiano, que eu própria vivi na sua companhia. E espero que os outros netos e bisnetos façam o mesmo.

Sou, neste momento, bastante mais velha do que era aquela Avó , que lembro nas minhas primeiras recordações, sempre de vestidos escuros e um ar de senhora idosa. A maneira de estar, talvez mais ainda do que a maneira de vestir, acrescentáva-lhe uns anos... Mas, olhando-a com a minha experiência de hoje, reconheço-lhe uma juventude, que eu pareço ter e, afinal, não tenho.
Juventude, no sentido de gosto de conviver, de se movimentar em círculos sociais, de viajar - sempre, para qualquer lugar, em qualquer circunstância, passeios a pé, de carro, de combóio, já que navio e avião eram mais inacessíveis, almoços, jantares, férias na praia, nas termas, peregrinações e romagens, pelo país fora, reuniões de família ou de Igreja, ou de associações beneficentes.. . imparável e incansável... - de convidar "multidões" para sua casa, de cuidar, de brincar, de ensinar tantas crianças, os numerososo netos e bisnetos, que por vezes coincidiam ruidosamente nas salas, nos corredores, no jardim.
Juventude, no sentido não só de agilidade física e de energia, mas também de inteligência, de capacidade de raciocínio e de memória. Neste sentido, nunca envelheceu, numa longa vida de 91 anos!
Como morávamos com ela na Villa Maria, quando comecei a dar os primeiros passos, tenho, cronologicamente, idênticas recordações dos meus Pais e da Avó. Mais do que qualquer outra, ela é a primeira figura grande, tutelar, porque é a maior, a mais amável, a mais velha .
Onde os pais impunham disciplina, incompreendida, a Avó mostrava compreensão, colocando-se do meu lado.
A hora de deitar, por exemplo...
Vejo-me em pranto, sozinha, no quarto às escuras, enquanto pelas frinchas da porta entrava um fio de luz e o som de vozes e de risos dos adultos... E a Avó sempre a interceder pela menina - depois de certa hora, sem sucesso.
O sonho de desfilar na procissão da terra, vestida de anjo!
Os Pais achavam a idéia ridícula. Do ponto de vista deles, era bem melhor participar na solenidade com um bonito vestido rosa ou azul, a pegar numa fitinha de um andor. Só a Avó teve a sensibilidade para se aperceber da importância que o "ir de anjo" tinha para mim. Um dos momentos sublimes da minha infância. Difícil encontrar outro igual, se excluir as vitórias do FCP, no estádio das Antas, ou a "Volta a Portugal" ganha pelo Dias dos Santos.
Pois bem! Dessa vez, a Avó levou a melhor e conduziu -me, tão contente quanto eu, de fatinho de cetim até aos pés, cinto fino enrrolado à cintura e - supremo pormenor! - amplas ASAS AMARELAS nas costas, até ao reduto dos anjos, onde segui os demais, em fila indiana, mãos postas em oração. Comportamento xemplar, é evidente.
A primeira comunhão, aos 7 anos!
Houve um qualquer probema, e em S. Cosme de Gondomar, teria de ser adiada. Fiquei desolada. A Avó moveu as suas influências e descobriu um Abade disponível para ministrar o sacramento, em especial e em exclusivo, para a neta da Senhora D. Maria, em São Pedro da Cova. Lá fomos, todos até essa Igreja. Outro momento emocionante . Não tenho da Igreja ou do Padre a menor ideia. Só do meu vestido branco, do sabor da hóstia sobre a língua, e, sobretudo, da consciência do Sagrado, do Divino, do Menino Jesus, da "iniciação" de ser, emfim, uma critã fervorosa, uma menina crescida.
O Menino Jesus! Como eu adorava o Menino Jesus! E a Avó contava que a primeira palavra que eu disse foi, justamente, "Jesus" - apontando com o dedo para o crucifixo, na parede do quarto da Avó. Nada demais , se não tivesse apenas 6 meses de idade. Ninguém acreditou na palavra da embevecida matriarca... Coincidência, diziam! Até que a Dona Maria Aguiar levou a neta para junto do crucifixo, com uma audiência de várias testemunhas, e ela repetiu a palavra "Jesus", apontando em frente, sem deixar margem para dúvida.
Os primeiros passos - uma "corrida" no mesmo quarto... Aos 9 meses. Mas num dos seguintes ensaios, a criança despenhou-se, batendo com a cabeça na esquina do guarda-vestidos. Consequência: apenas um susto, e a regressão, durante umas semanas.
Isto e muitas mais "habilidades" eu ouvi, muitas vezes â Avó, que era, també, a madrinha de baptismo.
Sempre me senti a predilecta. E, sobretudo, compreendida. Havia entre as duas, a mais perfeita cumplicidade. Todos se queixavam de que eu era um "terror". E a Avó, indignada, respondia: "Não sabem lidar com ela. É preciso explicar-lhe tudo. Se ela perceber a razão das regras, porta-se exemplarmente". Eu ouvia, e cumpria à risca os comandos da minha aliada. Os dos outros, nem pensar!...Era, realmente, um furacão...
Com a Avó ia à igreja, a casa de amigas, ao jardim, vê-la apanhar flores, ou podar as roseiras, dar ordens aos jardineiros, ou às criadas - sempre sem pisar o risco. Não parava, é certo, cá fora ou lá dentro, aos saltos à volta ad casa oupelos corredores e escadarias e isso incomodava a Avó. Achava demais. Comprava-me lindas e atraentes cadeiras, com ou sem braços - de verga, de madeira, de pano, de várias cores e feitios... - e eu gostava muit, até me lembro, ainda, de algumas, mas não me sentava mais do que um minuto...
Ìamos ao Porto, muitas vezes, e quase sempre, de eléctrico, quando o grupo era apenas feminino (nenhuma das senhoras tinha carta de condução...). Parece-me que era o "dez com dois traços", muito prático, pois a viagem era linda, através de paisagens, então maioritariamente rurais, campestres e terminava no centro da cidade, ao lado do mercado do Bulhão. Perto havia imensas atracções: a pastelaria Villares, onde acabàvamos, sempre, a tomar chá - para mim, leite quente, com muita canela, e bolos de arroz; uma florista, que tinha cãezinhos de raça na montra: e, na Rua Sá da Bandeira, um enorme bazar, onde eu conseguia sempre, um brinquedo apetecível. Foi aí que a Avó satisfez outros dos meus sonhos: deu-me um grande boneco preto, preto!
Noutra das incursões pelo Porto, contra a vontade da minha Mãe, comprou-me, na "Lã Maria", logo a seguir à florista, uma carteirinha de verniz, meia cinzenta, meia vermelha, em gomos alternados, pequenina, quase um "porta-moedas - mas , pormenor deslumbrante, de pôr a tiracolo!
Livros da Condessa de Ségur - "Os desastres de Sofia", o mais apreciado - outros de cariz religioso, biografias de santos, também muito apreciadas, e "santinhos", às centenas, com dedicatórias, na sua caligrafia inclinada!
E quantas horas a ouvir histórias - não ficção, mas histórias da sua vida, da família, histórias da "vida real", que sempre me fascinaram mais do que quaisquer outras!
Ou a cantar músicas do "seu tempo", com uma bonita voz.
Ah! E, à noite, o ritual de verificar se todas as portas e janelas estavam fechadas. Não confiava a tarefa a mais ninguém. Eu espreitava por todos os cantos, dabaixo das camas...
A casa ficava isolada, no meio do jardim, e era enorme, e, por isso, parecia vulnerável.
Só à noite. Curiosamente, de dia, a Avó náo tinha sensação de qualquer perigo. Vivíamos de portas bertas, A da cozinha, pelo menos, estava sempre aberta. Mas a cozinha estava, é claro, habitada...
Por sinal, ou por influência desses receios, também eu tenho medo da noite, estando só, numa casa grande. Um apartamento, de preferência pequeno, é bem mais confortável.
Casas grandes precisam de muita gente!
Era o caso da Villa Maria.
Era assim que a Avó se sentia bem. Connosco à sua volta.

22 comentários:

Anónimo disse...

Docas disse:
Uma vez a Avó, se calhar por não ter disponíveis as netas habituais, tipo Manela, levou-me a mim a passar férias, em casa de um Senhor Abade.
Ele vivia só, com uma criada velha.
Creio que eu era muito pequena. Não estava acostumada a ficar sozinha com a Avó. Foi a 1ª e última vez...
Tenho a imagem de uma casa muito velha, sem qualquer criança para brincar comigo. Por isso, senti-me muito infeliz, num ambiente estranho, solitário, entre pessoas estranhas.
Era muito diferente de estar na Villa Maria com a Avó, rodeada de primos, mais ou menos, da mesma idade!

Anónimo disse...

A Avó, mesmo no ermo da Mina da Bica, não dispensava as missas e as visitas ao senhor Padre, com quem fez amizade, imediatamente!
O meu Pai ía levá-la de jeep a Sortelha, e nós aproveitávamos, logo, o passeio.
Há uma foto em que a Avó está ao lado do Sr. Padre, provavelmente, à porta da residência paroquial.
Passou férias connosco, mas correu tudo tão bem, que nada mais ficou na memória.

Anónimo disse...

Para mim , a Páscoa na Villa Maria era um grande acontecimento, por causa do compasso.
Padre e sacristão a tocar a sineta, para avisar da visita. Uma alegria! As janelas eram enfeitadas com colchas de damasco, vemelhas.
Entravam, na casa da Avó, logo à direita, na sala de visitas. A família toda ajoelhava-se e, um por um, ia beijando a cruz. Terminada a cerimónia, iamos para a sala de jantar, enorme, com uma grande mesa já posta, com vários doces e vinhos. Aí, era a confraternização com o abade e acompanhantes, mais a família Aguiar!

Maria Manuela Aguiar disse...

Também me emocionava com o Compasso!
Antes, durante e depois...
Antes, a cortar os ramos verdes e as flores, para fazer um longo tapete, desde o portão até às escadas da casa, que era uma forma tradicional de convite para a entrada de todos os que vinham no compasso.
A espera, por vezes, era longa. Até que se ouviam as benditas campaínhas, ao longe.
"Vem aí! Vem aí!"
Corríamos, a ver, do alto do mirante, de onde o cortejo se aproximava.
Nessa altura, o pároco, ou, por ele, um dos padres estava sempre presente. A Avó vinha recebê-los connosco.
Feliz, com a visita "do Senhor"! Beijávamos a cruz, na sala de visitas, à direita. À esquerda, era a sala de jantar, para onde todos íam, seguidamente.
A enorme mesa, como a Docas conta, estava posta com pão de ló, e mais doçarias. Porto e champanhe, para acompanhar.
Não sei como eles, os caminhantes do "Compasso" resistiam a tantos lanches, uma casa atrás da outra... Mas, pelo menos ali, não faziam cerimónia!
Depois, ainda acompanhávamos o grupo, no seu percurso, , com o olhar, até o perder de vista, sempre ao som das campaínhas.
Ainda hoje, quando posso, vou a Gondomar, receber o Compasso em casa do Mário.
Em Espinho, a tradição morreu há mais de 40 anos!
Nas comunidades portuguesas da América, como as distâncias das casas são enormes, vão de carro, mas guardam os bons costumes. Pelo menos, em algumas paróquias de Connecticut.

Anónimo disse...

Maria Antónia disse:
Os mais novos já não sabem como era a "VILLA MARIA" e o seu território a perder de vista.
Havia ramadas, ao longo do muro do Monteiro, ramadas altas, e, no interior, bardos, em fileiras - desde a eira até quase ao mirante do fundo. Todas em suportes de granito e ferro - pelo menos, até ao tempo da guerra. Nessa altura, o Zé, sem dizer nada à Mamã,arrancou os ferros, que substituiu por paus de madeira, e vendeu-os, por bom preço...

Do lado do Monteiro, mais perto da casa, uma das ramadas era de uvas americanas pretas, que davam um vinho leve e muito bom.
Junto à eira, havia uma outra de americano branco, especialmente plantado para a Mamã, que gostava muito - e nós também.
Quando as uvas americanas foram proibidas, e arrancadas à força, as nossas escaparam ao "massacre".
Ninguém se atrevia a investigar as propriedades da Dona Maria Aguiar...
À esquerda,a seguir às americanas brancas, uvas "chance-la-rose".
Depois começavam os bardos - os primeiros de moscatel de Hamburgo.
Fazíamos vindimas, com o criado e jornaleiros.
Pisavam as uvas no lagar, depois comiam na cozinha, numa mesa comprida, pratos fortes, carnes de porco, bacalhau...
Na adega, ao lado do lagar havia enormes pipas de vinho. Da adega, por uma porta verde, passava-se à garrafeira, num átrio onde havia uma escada interior de acesso à casa, ao primeiro andar. À esquerda, ficava uma grande loja de arrumações.

Maria Manuela Aguiar disse...

Ontem, por acaso, ao folhear uns cadernos antigos, fiz uma descoberta sensacional.
Uma récita da Avó Maria de pequenos versos esquecidos, recolhida por mim.
E, entre eles, uns que o primo António Lobão lhe dedicou!
Nunca foram namorados, porque ela não quis.
Mas gostava muito desse primo, de outro modo. Ele morreu muito novo, com um problema de espinal medula, ou de espinha - uma tristeza.
E a jovem Maria guardou na memória, até ao fim dos seus dias, já muito velhinha (mas com uma memória fabulosa), essa declaração de amor, poética e sentida.
Ei-la:

Olhos garço, olhos garços
Esses teus olhos, Maria
Dão-me toda esta tristeza
Roubam-me toda a alegria

Longe deles enlouqueço,
Perto de ti fico louco,
Porque te amo, Maria,
E tu me estimas tão pouco.

Que não me amas eu sei,
Mas deves compadecer-te
De mim, que exijo tão pouco,
Que sou feliz só de ver-te!

Havia ainda uma outra quadra, mas ou a Avó a esqueceu, mesmo, ou não quis deixá-la para a posteridade.
Que bela descoberta, na madrugada de hoje! Senti-me como quem descobre um retalho da Atlântida...
Com tudo isso, deitei-me tardíssimo. Mas encantada!

Maria Manuela Aguiar disse...

Foi em Espinho, no dia 24 de Outubro de 1974, que a Avó Maria recitou, de cor, aqueles versos de seu primo António, e muitos outros, que eu gravei e transcrevi. Aqui ficam registados, para que os mais jovens a não esqueçam, como ela era, com a sua extraordinária vitalidade, o seu sorriso , a sua perfeita dicção (tenho de encontrar, agora, a gravação), a sua constante disponibilidade para nos transmitir histórias, saberes, canções, poesias.
Simples, românticas, místicas... algumas inspiradas no seu nome - Maria.
Estas, quas seu nome - Maria.

Maria Manuela Aguiar disse...

Lá foi gralha...
vou repartir as poesias por diferentes comentários . à cautela, porque com este detestável Windows Vista Premium, alguns somem...
O primeiro:

Uma criança que canta, que salta,
Que ri, que chora
É uma risonha aurora
Que o coração nos esmalta
Triste daquele a quem falta,
Na vida que se evapora,
Uma criança que canta, que salta, Que ri, que chora!

Maria Manuela Aguiar disse...

São crisálidas de sonho
Mensageiras de Jesus
São asas feitas de renda,
E rendas feitas de luz.

São revoadas de beijos
A consolarem martírios
Baladas com que as estrelas
Vão adormecer os lírios.

São a gôndola de esperança
Branco nenúfar dos lagos
Rosas de amor entreabrindo
Numa corbeille de afagos

Crianças, que tendes n' alma
Os (reflexos?) da aurora,
Vós sois os risos das lágrimas
Que a gente na vida chora.

Maria Manuela Aguiar disse...

O 3º:

Quando subo pela encosta
P'ra casa da minha querida,
Com a pressa com que subo,
Parece-me uma descida.

E, depois, na retirada,
venho, então, a reflectir
Que a tal encosta a descer
É pior do que a subir!

Maria Manuela Aguiar disse...

O 4º:

Eu conheço uma criança
Que tem 10 anos somente.
Não há génio mais travesso,
Nem cara mais inocente.

Quando estou em sua casa
Já nem do mundo me lembro,
Às vezes, nas longas noites
De um aborrecido dezembro.

Quando me sento, cismando,
Numa cadeira de braços,
Ao fogão, cujo braseiro
Avivo e reformo, a espaços,

Vem, mas só para me mostrar
Com meigo, infantil empenho,
Uma costura acabada,
Um começado desenho,

E, com toda a leviandade,
De quem só vive de enganos,
As mil prendas que lhe deram,
No dia em que fez 10 anos.

Depois, contente e modesta,
Dos cabelos soltos fios
Enrosca nos alvos dedos,
Para ouvir meus elogios.

Crava em mim seus grandes olhos,
Encosta-se aos meus joelhos,
E diz-me, com ar de mofa,
"O senhor é como velhos!

Porque não fala comigo?
Deixe a vida preguiçosa,
Recite-me aqueles versos
"saia nova, cor de rosa"!

Todos se riem, a ouvi-la,
E cada palavra sua,
Cai sobre a fronte materna
Como reflexo da lua.

Quando a mãe lhe borda um lenço,
Junto à mesa da costura,
Pensando nos outros filhos,
Que dormem na sepultura

Ou quando a família inteira
Ao pé do lume, agrupada,
Se entretem numa conversa
Longa, ruidosa, animada,

Vem ela por ali dentro,
Coberta de mil fulgores,
Espalhandoas alegrias,
com punhados de flores

Maria Manuela Aguiar disse...

Seguem-se quadras soltas:

Já lhe pedi com fervor,
Na minha triste oração,
Consiga que este amor
Deixe em paz meu coração.


Amei-te, sem o sentir,
Adorei-te, sem saber,
Agora que te conheço,
Hei-de amar-te até morrer


A rosa, para ser rosa,
Tem de ser de Alexandria.
A dama, para ser dama,
Tem de chamar-se Maria.


Maria, teu lindo nome
Quem t'o pôs, quem t'o poria?
Baptizou-te a madrugada
foi madrinha a cotovia.


O nome de que mais gosto
É do nome de Maria
Quem te pôs tão lindo nome
O meu segredo sabia...


Maria, tu és na terra
O que os anjos no céu são
Se tu morresses, Maria,
Morria o meu coração.

Maria Manuela Aguiar disse...

Iranscrito, com a indicação de que é da autoria da Avó:

Eu, noutro dia, enganei-me
Quando olhei para ti, Maria,
Julguei-te a Nossa Senhora
Da Igreja da freguesia.

Maria Manuela Aguiar disse...

No sábado, dia 29, a Avó, a Villa Maria, as guerras dos meninos, as lições de piano das meninas, os assaltos de ladrões (não consumados, felizmente!), tudo isso foi lembrado e relembrado.
e eu anotei...
A Avó gostava muito de piano - coisa excelente, porque ele era intensivamente utilizado. A Nucha dava horas de aulas por dia, uma menina atrás da outra. As quatro!
Mesmo as escalas soavam bem à Avó... As interpretações de Chopin da minha Mãe, então, nem se fale!

Do piano se passou à complexa tentativa de reconstituição das alterações de utilização dos espaços da casa. Foram muitas, ao longo dos tempos, e algumas um pouco inesperadas. Só no res-do chão - adega, lagares, lojas de arrumações - não houve, nunca mudanças.
Parece que, inicialmente, o destino de cada compartimento era o mais óbvio.
No 1º andar, a enorme cozinha (que ficou sempre no mesmo sítio, vá lá...), uma pequena casa de banho e a grande sala de jantar, com portas para a varanda, que se vê em muitas fotos (idem, idem, também intocadas), dois quartos de média dimensão, do lado sul, usados para arrumações (e quarto de criadas? O criado, esse ficava fora, num pequeno "chalet", a "casa do forno", porque aí havia um forno, claro) a sala de visitas e o escritório, dando para o corredor da entrada principal.
No 2º andar, do lado da rua, o "quarto grande" (o dos Avós), e o quarto duplo (o dotio Manuel e Tio António), dois quartos virados a sul (o do Tio Zé e o das 3 meninas, que ficavam juntas, em caminhas separadas). Dois quartos do lado norte (costura? arrumações?) e, ao fundo, um espantoso quarto (ou "salão"...) de banho - que ocupava toda a fachada poente (com sete janelas!).
Depois da morte do Avô, os rapazes eram os únicos habitantes do 2º andar!
Naquele imenso casarão, cheio de quartos desocupados, as 3 meninas mais novas dormiam no quarto da Mãe, uma com ela (tia Lena), as duas outras em cama ao lado!...
A Avó mudou-se para o antigo escritório. Entretanto a tia Lina já casara e morava em Quintã.
Quando a minha Mãe casou, ocupava de inverno, um dos quartos do 1º andar (quarto azul) e, no verão,o "quarto grande".
Quando, depois dos meus Pais terem deixado a Villa Maria e a Tia Lina e Tio Serafim arrendaram o 2º andar, fizeram grandes obras. dividiram a casa de banho, contruindo a cozinha na metade norte. Nessa vertente norte, mobilaram uma sala de estar e sala de jantar.
Os rapazes ficavam em frente, nos quartos que tinham sido das meninas e do Tio Zé e, eles próprios, no antigo quarto do Tio Manuel e Tio António.
O vasto e panorâmico quarto de hóspedes assim se manteve.
Eu não teria resistido a aproveitar os espaços da frente como sala de visitas e biblioteca- escritório,usando como quartos de dormir as divisões mais pequenas (quatro).
Vou ver se arranjo quem faça a planta...

António Aguiar disse...

Pelo que me falam e pelas fotos da VILLA MARIA, parece um palacete vindo de um conto de fadas. Uma linda fachada. Imagino o interior... Alguém tem mais fotos da casa em questão quer por fora quer por dentro?
Faço um pedido à Manela: Um artigo sobre a famosa casa incluindo histórias e fotografias. É de facto fascinante!

Maria Manuela Aguiar disse...

ESCREVI UM APONTAMENTO SOBRE A VILLA MARIA NO BLOGUE ALTERNATIVO SOBRE A FAMÍLIA, O "AGUIARÍSSIMO", COM ALGUMAS FOTOGRAFIAS Á MISTURA.
MAS SÃO QUASE TODAS DE EXTERIORES.
NESSE TEMPO REMOTO A MAIORIA DAS MÁQUINAS NÃO TINHA FLASH ACOPLADO E, POR ISSO, DENTRO DE CASA SÓ EM LUGARES MUITO "LUMINOSOS"...

Anónimo disse...

Lólita Aguiar disse
A Mamã era muito perfeita em tudo o que fazia, desde os bordados ou rendas às compotas.
E, realmente, gostava muito de música. Até mesmo as aulas de piano da Nucha.
A Nucha era uma nossa prima mais velha. Grande pianista, e muito excêntrica. Teve 12 filhos, mas morreram quase todos. Ainda me lembro de ouvir tocar os sinos da Igreja, quando iam a enterrar os bebés da Nucha, um atrás de outro.
Parece-me que só escaparam dois - o Alvarinho e o Homero

Anónimo disse...

Maria Antónia Aguiar disse
A Nucha era irmã da minha madrinha, Lucinda Aguiar.
A Lucinda teve 3 filhos. Ela e eles foram viver para o Brasil, depois de terem morado no Porto alguns anos.
Ao contrário da Nucha, que era artista, mas viveu com dificuldades, a Lucinda foi sempre uma senhora próspera, como o Pai de ambas, o Tio Alberto...

Anónimo disse...

Maria Antónia disse:
A minha Mãe gostava de olhar o mar, em Espinho, sentada ao fundo da rua 19, e dizia:
O mar tem sempre coisas para nos dizer!
Acho que ela estava era a recordar todas as viagens que fez através do Atlântico, com o meu Pai, e, mais tarde, como os meninos.
O Tónio, quando era pequeno tinha uma ideia fixa: atirar pele borda fora todos as almofadas que encontrava à mão.
A Avó, e a crida que levavam sempre com eles para cuidar dos "terroristas" (viajava com eles em 1ª classe, claro)afligiam-se. O meu pai não se ralava. O preço das passagens incluía tudo isso...

Anónimo disse...

Mª Antónia disse:
Muito talento tinha o Tónio para outras coisas. Por exemplo, o desenho. Uma vez, desenhou a águia dos azulejos da nossa casa, para a Lólita bordar numa camisola. Há fotos do colégio em que ela usa essa camisola, já muito justinha...

Anónimo disse...

Mª Antónia disse:
A minha Mãe deixou de fazer viagens ao Brasil depois de eu nascer. O Dr. Abel Portal desaconselhava as longas viagens - um mês de navio... - porque sofria grandes hemorragias. O meu pai ía sozinho e voltava, logo que podia, para longas férias, em casa, com a família. Depois já da Lólita ser crescida, foi chamado, de repente, pelo amigo banqueiro, Sr. Cunha, para verificar o estado dos negócios. O sobrinho gerente tinha feito grande desfalque. Quando deu conta do que acontecera, o meu pai afligiu-se imenso. Adoeceu - do coração - e só voltou depois de ter alta médica.

Anónimo disse...

Mª Antónia disse:
Primeiro muitas viagens faziam!
O Augustinho nasceu no Brasil, veio a Portugal e tornou a vir. Morreu, de pneumonia, em Gondomar, quando tinha dois anos...
Eu nasci pouco depois, nesse verão.