terça-feira, 10 de dezembro de 2019

ANTÓNIO MARIA (com fotos)


Foi buscar os nomes, numa transição geracional, ao Pai António e à mãe Maria. O mais parecido com o Pai, um menino moreno, de grandes olhos serenos (ainda que não verdes, mas castanhos).
Era aparentemente menino exemplar, pacato, de falar pausado, não muito menos irónico do que os que falavam mais alto, capaz de se acantonar rezar o terço, vituosamente, enquanto os irmãos se batiam à sua volta, impressionando a Mamã, que o olhava como um pequeno santo em crescimento  e grande capacidade de observação. Qualidades que o tornavam o grande favorito da mamã, embora, na verdade, não fosse rapaz acima de toda a suspeita. Distinguia-se dos manos mais nos meios do que nos fins - na prática continuada de ilícitos e contravenções próprias da idade. De uma coisa, pelo menos, era invariavelmente o principal responsável; no apedrejamento repetido dos vidros da vizinhança. Era o tal que, de fisga na mão, não falhava o objetivo. Um campeão da pontaria. O pai pagava a faturas  em dobro, para aplacar a vizinhança (ou porque gostava de pagar tudo fartamente) e castigava-o, sem condescendência.. Não foi por falta de punição que eles não tiveram emenda. Eram mesmo resistentes...Nas meninas, o pai nunca  tocou, como dizia o ditado, "nem com uma flor". Ficavam, para o efeito, nas mãos da mãe, nesses tampos remansosos de casada, ainda muito"passa-culpas".
António Maria depressa de converteu num bonito rapaz, muito dado à poesia e ao romance (na literatura como na vida quotidiana). Terminado o liceu, sem mácula de expulsões no "curriculum", não quis continuar e, talvez por conselho ou influência do tio Alexandre entrou na função pública e, durante décadas correu o continente e ilhas (ou, pelo menos a Ilha da Madeira) como tesoureiro da Fazenda Pública - Funchal, Santo Tirso (onde se apaixonou pela futura mulher, uma lindíssima rapariga de fulgurantes olhos verdes, Maria Antónia do Amaral, sobrinha dos donos da pensão familiar, onde aí morava, que lhe asseguraria uma descendência de rara beleza, três raparigas, ao lado da mãe e um rapaz parecido com ele), Paços de Ferreira e, finalmente, o posto mais desejado, Gondomar. Aposentou-se cedo, dedicou-se aos negócio e enriqueceu. Foi o único!  Sempre amável, bem humorado, fleumático, muito chique nos seus fatos completos, que não dispensavam o colete, chapéu na cabeça e sapatos italianos (dir-se-ia sempre os mesmos, coisa que se explica, porque quando gostava de um modelo, comprava logo, pelo menos, dois ou três). No dia do seu funeral, a dona da pastelaria que frequentava no todos os dias, dizia, melancolicamente: "morreu o último verdadeiro senhor de Gondomar". Tinha mais de 80 anos, e mantinha o seu ar não só jovial, mas verdadeiramente jovem, o seu humor subtil, o seu belo sorriso, que podia ser benignamente trocista de uma forma muito subtil










































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