quinta-feira, 27 de novembro de 2008

P23 - ADEUS ANTÓNIO

A mais triste das notícias do ano. Um telefonema da Amélia, de Toronto, a dizer-nos que o António morreu. Uma pneumonia, depois as complicações de quem foi um grande fumador... Esteve ainda nos cuidados intensivos, mas não conseguiram reanima-lo.
Como tenho pena de ter perdido a ida ao Canadá, para o congresso das Academias de Bacalhau, em Outubro! Teríamos tido uma última conversa, talvez sobre coisas do passado, que a sua prodigiosa memória lembrava, e que mais ninguém poderá lembrar, de agora em diante.
Ele era, na verdade, o primo-irmão sobrevivente de um "trio" muito unido, muito amigo, muito engraçado: o Chico, o meu Pai e o António, o mais novo dos três. Todos inteligentes, talentosos, sonhadores, generosos e, por isso, pouco dados à combatividade da "selva" que é o mundo do sucesso puramente material.
Todos filhos de pais abastados, todos alunos de bons colégios, todos com qualidade para fazerem o seu curso universitário, sem que nenhum o tenha acabado, no tempo de juventude. (O Chico, quase formado em arquitectura, seria desenhador toda a vida profissional. o meu pai completou, tarde, vários diplomas e uma licenciatura, recomeçando os estudos na casa dos 40, e o António, brilhante em qualquer ramo que quisesse seguir, não seguiu nenhum, e acabou por emigrar para o Canadá - uma decisão que nós lamentávamos, porque nos fazia falta a sua companhia!).
Recordo, com imensas saudades, esses tempos em que convivíamos, quase diariamente.
A amizade dos três primos inseparáveis alargou-se ao círculo das suas famílias. As mulheres e os filhos, sem nenhuma excepção, eram amicíssimos. A conjugação de feitios, de temperamentos era absolutamente perfeita: entre a Nini, mulher do Chico, a minha Mãe, e a Amélia, mulher do António, a cumplicidade era do mesmo género e grau da dos homens, que se conheciam desde sempre... Nós, a Madalena e eu, o Finho, oTó Mané, a Esperancinha, apesar das diferenças de idade, eramos bons companheiros, de brincadeiras e conversas.
Quando eu tinha 10 ou 15 anos, os três primos trabalhavam no Porto e almoçavam todos os dias no mesmo pequeno restaurante. Muitas vezes a minha Mãe ia ter com eles, almoçava também, e, depois, passava a tarde com a Cristina. Hoje, esteve a recordar esses encontros: o meu Pai e o António, a discutirem um com o outro , em debates altamente filosóficos, e o Chico, sempre a rir, divertidíssimo, sem entrar em querelas de escola... Gostava era de cinema e fotografia, assuntos que, em regra não estavam em disputa.
Vivi em casa do Chico e da Nini, entretanto já no seu enorme andar dos Olivais, em Lisboa, durante anos. Desde o meu 1º emprego, de recém licenciada, no Centro de Estudos do Mº das Corporações (desde o começo de 1967 e enquanto estudava em Paris e vinha a Lisboa de longe a longe). Só quando regressei ao Ministério, em 1970, é que arrendei o andar de Benfica
E, quando, em 1980, enveredei pela política, e comecei a ir ao Canadá, com frequência, ou ficava em casa do António e Amélia, ou, pelo menos, andávamos juntos para todo o lado. A paciência que o António tinha para me acompanhar, mesmo em reuniões infindáveis nas associações de emigrantes ou no PSD!
Isto diz o que o António representava para mim, a amizade que sempre me manifestou e que eu, evidentemente, retribuia. Extensiva à Amélia, ao Mané e à Chloe.
Os meus caríssimos e interessantíssimos primos do Canadá.

2 comentários:

Maria Manuela Aguiar disse...

Foi por um telefonema da Amélia que soubemos a notícia. Foi muito triste. O último daquele quarteto de primos(incluindo o Corinto), tão unido e bem disposto.Todos acabaram por ser, indirectamente, vítimas do vício do tabaco. Eram fumadores compulsivos... O Chico acabou com complicações pulmonares,num hospital de Lisboa. Tal como o Corinto, que, em Avintes, já muito mal, ainda tinha ânimo para brincar com a doença, e a proximidade da morte. O pai contou-me isso , bastante impressionado, na última visita que lhe fez. O meu Pai morreu de enfarte do miocárdio,instantaneamente, quando conversava connosco, ao jantar, num domingo de Páscoa. Não sentiu a morte chegar... E, agora, o António não resistiu a uma pneumonia, para ele mais grave ainda, por causa dos antecedentes. Que bela geração, a deles! Eram pessoas excepcionais. Tão diferentes, os quatro, mas todos singularmente notáveis. E nem fisicamente se podia dizer que tinham um ar de família. Mas tinham o sentido de família e eram praticantes da amizade mais sincera. Só nos deixam fantásticas recordações.

Maria Manuela Aguiar disse...

A última vez que estive com o António, no simpático lar, onde vivia,foi há cerca de um ano. Tratou-se, como é,infelizmente quase sempre o caso, de uma curta e ocupada visita minha, para o aniversário do "Casa do FCP" de Toronto. Uns anos antes o António, portista também, teria estado em todas as cerimónias e conhecido o mítico Vitor Baía... Assim. foi o caro amigo Manuel Leal, quem me levou ao encontro da Amélia, e ,com ela, ao encontro do António. Ele estava bem disposto e animou-se coa a conversa! Tirámos fotografias. Fiquei à espera de voltar lá. A última imagem que guardo, é feliz.E foi,igualmente, o convívio final com o Manuel Leal.Morreu de ataque cardíaco, em Junho passado. Senti muito a morte dele. Era o "sucessor" do António, como companhia em todos os compromissos comunitários - ele e o Virgílio, que graças a Deus, continua bem.