sábado, 29 de novembro de 2008

P23 - OS PRIMOS DO CANADÁ




Amélia, António, Tó Mané, Chloe Angélica.
Tão distantes na geografia das residências, mas sempre tão próximos numa relação que se baseia, para além dos laços de família, na alegria do convívio, que se procura no dia a dia, sempre que há uma oportunidade, na compreensão e na cumplicidade nas situações mais diversas em que a vida nos vai colocando e em que sabemos poder contar uns com os outros. Pessoas com quem nos apetece passar o máximo de tempo possível, a conversar, a ver tv ou a ouvir música, a deambular por aqui e ali, a almoçar e jantar num restaurante ou nas casa uns dos outros. Conhecemos bem os nossos respectivos feitios, idiossincrasias, histórias boas e menos boas, problemas, esperanças...
Somos membros de um "inner circle",que nós próprios traçámos, como queríamos.
E por isso digo: não é só o facto de sermos família que nos une, mas sim o facto de gostarmos de o ser e de tirarmos todo o partido de uma realidade, a que, evidentemente, como noutros casos acontece, poderíamos não dar a mesma "intensidade".
Quando a Amélia e o António viviam em Avintes, os encontros entre primos eram praticamente quotidianos!
Antes mesmo, quando eu era criança, iamos a casa dos Tios Reis, os pais do António, com muita frequência, de visita, tardes inteiras. Uma casa enorme, e cheia de mobílias antigas, que eu já então apreciava, mas, acima de tudo, acolhedora - com "bom astral", como dizem nas telenovelas. Os Tios eram divertidos. O ambiente era sempre de festa. Nos terrenos grandes, atrás (porque a casa ficava à face da estrada, ou melhor da Rua 5 de Outubro, que atravessa Avintes) havia flores, vinhas e, sobretudo animaizinhos,que eu adorava. Cães!. Para além dos cães da casa, os"pequinois" de impecável pedigree, criados pela Maria Angélica - alguns, não todos, capazes, de longe a longe, de impôr respeito a crianças irrequietas, mordendo um calcanhar ou um sapato...(acho que o mau era só o "Petit", um macho enormíssimo e lindo, importado de Inglaterra, o pai dos outros todos! )
O António casou tarde, mas valeu a pena esperar: A Amélia, que terá conhecido, se a memória não me atraiçoa, "na tropa", feita em Lisboa, era muito bonita e encantadora. Tornou-se imediatamente uma amiga especial.
Também a Maria Angélica casou já com trinta e tal ou quarenta anos e com um primo, dela e nosso : o Corinto (Marques). Igualmente primo do Chico ( outro Marques). Pertencia ao grupo deles , desde sempre. O único que em jovem, acabou o curso. Era arquitecto, e filho de um pintor, que viveu o princípio do século em Paris e foi amigo daqueles pintores todos que conhecemos dos museus. Creio que era um bom arquitecto, mas para nós, era sobretudo uma pessoa fantástica, com um incrível sentido de humor.
Os casamentos foram memoráveis, como feéricas ocasióes festivas. Toda a gente se conhecia, e tudo nos era permitido! Tudo á vontade, naqueles salões compridos dos tios Reis.

Muito há a contar. Mas não hoje. Hei-de ir recordando, a pouco e pouco. Esta é a maneira de mantermos bem vivos na memória os nossos melhores amigos.O António pode contar comigo, dentro das minhas muitas limitações. Bem merecia uma cronista mais competente!

Devia ter começado por dizer quanto era comunicativo, inteligente e culto. Tinha, mais do que qualquer dos primos, um porte aristocrático, uma distinção natural, uma elegância (muito alto e magro, sempre, em qualquer idade!) em suma, um"charme", que lhe poderia ter aberto portas em Hollywood, se essa fosse - e obviamente não era! - a sua vocação. Um talento inegável para a música, de que falei, há tempos, na "crónica" do seu tio e meu avô Manuel: tocava os clássicos de ouvido. Creio que ensaiava no piano da Mª Angélica, que, ela, sim, deve ter aprendido, com professor, como era, então, mais comum para as meninas do que para os rapazes.
Tendo dito que a Amália era, e é, uma beleza rara, podem imaginar o casal que formavam, nesse inesquecivel dia do casamento, celebrado na Sé do Porto, com retrato de família nos claustros. Os meus pais foram os padrinhos do noivo.

7 comentários:

Maria Manuela Aguiar disse...

Na fotografia da comunhão do Tó Mané, em Avintes, tirada no Cruzeiro,vemos o António, por interessante acaso, entre os primos Corinto(de óculos)e João, o meu Pai. A Maria Angélica está ao lado da Avó Olívia, atrás da tia Francisca Reis. Eu quase desapareço, mesmo atrás do Corinto. A Nónó ficou à direita da Amélia e a Lélé à esquerda do António. Estavam a passar o fim de semana connosco em Espinho, e form, naturalmente, convidadas para a festa. Ambas eram amigas do Tó Mané,e, mais ou menos, da mesma idade, embora muito mais pequenas. Ele foi sempre enorme para a idade que foi tendo. E continua a ser.

Anónimo disse...

Maria Antónia disse: Tenho-me lembrado muito de bons momentos passados com o António, a Amélia, a Mª Angélica e os Tios Reis. Quantas vezes íamos para casa deles de manhã e ficávamos o dia inteiro. Almoçávamos e jantávamos, com o lanche a meio da tarde! A Mª Angélica e eu tocávamos piano(o piano da sala de visitas). E o António, quando estva presente fazia o mesmo. Impressionante, porque, realmente, tocava de ouvido! Sonatas de Beethoven, rapsódias de Liszt- parece-me que estou a ouvi-lo,na rapsódia nº2...

Maria Manuela Aguiar disse...

A Mº Angélica, tal como a Tia, era um sucesso com as crianças -com a Lecas comigo. Conversavam, contavam histórias de cães e gatos, nossos temas favoritos, davam-nos bolos óptimos, uma geléia divina (de mão de vaca),sumos. Em casa da Avó Olívia, também não faltavam doçarias, mas eram diferentes. Os seus bolinhos de côco, po ex., eram famosos. Tudo isto, claro, quando estávamos a passar uma temporada em Avintes. A minha mãe não parava em casa, nunca se entendeu muito bem com os sogros: ou ia para o Porto ou ia, connosco visitar estes tios. Para verem como eram queridos, todos, incluindo a prima, que chamávamos "Géli", vou contar uma pequena história, que parece anedota, mas é verdadeira. Alguém disse, em conversa:"Está a chegar a primavera". E a Lecas, que deveria ter uns 5 anos, comentou: "Não me interessa. Gosto é da Prima Géli!"

Maria Manuela Aguiar disse...

A prima Géli deu-me, qundo fiz 7 anos, o primeiro presente fantástico da minha vida: um dos seus lindos e valiosos "pequinois"! Nesse dia, trouxe a casa dos meus avós a ninhada inteira, para eu escolher o que quisesse. Ainda estou a vê-los. muito gordos e pequeninos, com os olhos imensos e o longo pêlo avermelhado, a caminhar, um para cada lado. Uma escolha difícil! Recaiu,depois de muito hesitar, numa "menina", à qual chamei Chinita.(em homenagem às remotas origens chinesas). Era uma beleza. Não foi, mas podia ter ido a exposições caninas. E mansa, muito mansinha. Eu bem gostaria, com o meu belicoso feitio infantil, que ela mordesse os estranhos, ou, pelo menos, os assustasse. Mas, não! Era sociável, simpática e muito obviamente inofensiva. Só nos dava preocupações porque era uma "fugitiva nata". Viveu connosco, quando partilhávamos a casa da Tia Rozaura, em Gondomar, e tinha um grande terreno para brincar e saltar, mas estava sempre atenta às oportunidades de se escapulir para o Largo da Pedreira e caminhos da vizinhança. O que a Lecas e eu corremos atrás dela! E ela gozáva-nos: olhava para nós, parava, quando nós parávamos; galopava, logo que tentávamos aproximar-nos. E só se deixava apanhar quando queria, ao fim de muito tempo...

Maria Manuela Aguiar disse...

Com as primas, a Mª Angélica era esplêndida. Com o sobrinho, que vinha de Toronto passar as férias de verão, também. Mas ele era um fenómeno, e não só em capacidades intelectuais (lembro-me de que, quando foi para o Canadá, com 8 anos, em vez de perder um ano, ganhou um ano, depois da avaliação realizada na escola...)Igualmente se distinguia, ainda criança, no desporto. E as suas proezas atléticas "aterravam" a Avó e a Tia. Por ex., mergulhar da última prancha da piscina de Espinho, coisa que só atletas de elite faziam, e nenhum da idade dele... Ele ficava muito irritado com as proibições. Eu compreendia as duas posições, a dele e as das resposáveis pelo seu bem-estar em Portugal. Queriam devolve-lo aos pais, intacto... Eu achava que ele, em Toronto,devia praticar, com perícia, esses e outros desportos "radicais", e tentava, moderadamente, interceder por ele. Como seria de esperar, tornou-se, mais tarde, um atleta de 1º plano no desporto universitário, a jogar futebol americano, hóquei sobre o gelo e outras modalidades de risco para a integridade física. do praticante. E até conseguiu fazer história no desporto português,ao concorrer às Olimpíadas de inverno,na década de 80, capitaneando uma equipa de "bobsleigh" (nem sei se é assim que se escreve,,,). Foi o "porta estandarte" de Portugal, e competiu, valentemente, num desporto, no qual nunca tínhamos estado representados, nem creio que tenhamos voltado a estar! . Na família, é caso único!Eu sou sua fã!

Maria Manuela Aguiar disse...

Acho que já confessei o meu antigo medo de andar de avião - fobia da qual me curei no exercício do cargo de Secretária de Estado da Emigração. Em turismo, nunca teria arriscado a travessia dos oceanos. Em serviço, nem hesitei - era o que eu considerava o equivalente ao "serviço militar obrigatório".. E, como sou pragmática, e tinha mais medo da idéia de andar de avião do que de andar, em concreto, dentro de um aparelho voador, depressa me habituei a tais andanças. Em boa hora! Tive inúmeras ocasiões de rever os primos, de conviver com eles, graças à simpatia com que me acompanhavam nos programas oficiais, em associações locais, em longas sessões de esclarecimento público (coisa que parece ter caído em desuso...), em jantares comunitários, onde estavam como emigrantes entre emigrantes. Sempre que podia, optava pelo carro do António, para podermos conversar um pouco mais. E que bem que ele guiava! Havia, quase sempre, uma pequena "aberta" no programa para ir até lá a casa, no Martha Eaton Way. Mais conversa. Deliciosos cozinhados caseiros da Amélia. Depois, víamos bons programas de debate, numa magnífica televisão - a maior que tinha visto até então. Ou ouvíamos música. Ali longe, estava, de novo, em casa! Mais tarde, como deputada, até conseguia, às vezes, pernoitar lá, em vez de ir para um hotel. Ainda hoje tenho a chave do apartamento!

Maria Manuela Aguiar disse...

Há muitas histórias divertidas dos primos João e cª, quando eram jovens. Sei que, no tempo da guerra, foram à quinta da Pena, na altura propriedade do meu Avô Manuel e desabitada, e removeram, para venda, tudo o que continha chumbo(salvo erro...), nomeadamente ss belas lareiras de salas e quartos. Acharam muita graça, porque ouvi contar isto muitas vezes, embora não saiba reproduzir devidamente. Outra, do mesmo género, "vitimou" o Tio Reis. Ele foi dos primeiros avintenses a ter automóvel, no qual se deslocava, quotidianamente, para o escritório, no Porto. O António e o meu Pai, sabendo onde o carro ficava estacionado, iam até lá,e tinham artes para abrir a porta e arrancar, com uma ligação directa, ao motor, para darem saborosos passeios. Depois arrumavam no exacto lugar de parque, e o Tio não se apercebia dos kms. extra. Um dia um polícia apareceu por perto e o António, rápido e decidido, foi pedir-lhe ajuda, para abrir o carro, dizendo que se tinha esquecido da chave. Nunca ocorreu ao polícia que um senhor (jovem senhor...), com tão aristocrático aspecto, pudesse estar a mexer em viatura alheia- ou relativamente alheia, porque era do papá.E ajudou mesmo! Epílogo da história: o Tio vendeu o carro, porque gastava demasida gasolina! Ignoro se, com o carro seguinte, as passeatas continuaram. Talvez, mas em passeios porventura mais curtos... A propósito, devo lembrar que o António era um condutor FANTÁSTICO!