terça-feira, 9 de junho de 2009

W98 - VIAGENS DA MANUELA

Não posso negar que nasci na Villa Maria, a 9 de Junho de 1942 , de manhã bem cedo, 6.30, hora solar, 8.30, hora estival.
Faço hoje 67 anos, sem dúvida ...
Mas, ao contrário do que a "lenda" diz - todos deixamos para a posteridade familiar, quando deixamos alguma coisa, um rasto de memórias imprecisas... - não fui assim tão "Manuela a voar", durante muito tempo. Na verdade tinha pavor da ideia de andar lá por cima, de avião! Cruzar os oceanos, nem pensar!
A primeira viagem aérea foi um prémio, dado ao melhor aluno de fim de liceu ( aos que já tinham recebido o "prémio nacional"), em 1960, ano do centenário do Infante Dom Henrique. Representei a cidade do Porto e o Liceu Rainha Santa Isabel, numa viagem às terras do início da expansão portuguesa, oferecida pelo governo e acompanhada pelo SNI . De Ceuta a Alcácer Kibir. Boas e más recordações da História, mas só boas da nossa própria incursão!!!
O medo de andar lá em cima era sempre antes - psicológico, mental.... Durante, lá dentro, já ia resignada e serena, e gostei de ver as nuvens, o mar, o pôr do sol e as cidades brancas do Magreb, do alto das alturas.
Organização excelente. Muitos amigos, que depois não encontrei mais, excepto a Helena Vaz, colega em Coimbra, e o inefável Mota Amaral, que não pude evitar na política.
Segunda travessia aérea, de montes e vales europeus, apenas 8 aos mais tarde, em Fevereiro de 1968: uma bolsa de estudos irrecusável da OIT (International Institute for Labour Studies, de Genebra) para a frequência de um curso de 3 meses sobre economia e desenvolvimento. Primeiro convite dirigido ao Ministério das Corporações e Segurança Social, isto é, a Portugal, então ainda "ditadura" e "guerra colonial". E, pelo menos naquele ano, era eu a única mulher entre mais de 30 participantes do vasto mundo, da Europa, poucos, à África, Ásia e Austrália. Uma nova experiência de outras gentes e costumes...
As primeiras idas ao estrangeiro, em férias, foram de comboio, naturalmente...
À Inglaterra, Londres e Hove -Brighten, no verão de 1958.
À Alemanha, Bingen, castelos do Reno, Frankfurt, Mainz, Wiesbaden, no verão de 1963. com a prima Docas, que depois também apareceu e permaneceu em Genebra, animando imenso um ambiente exageradamente masculino.
Pouco depois, mais uma saida, a mais longínqua até à data: à Suécia, para um curso de verão: "Connaissance de Suède", organizado para um grupo de jovens considerados "promissores". Um convite, muito selectivo, do Instituto Sueco de Informação , em colaboração com a Universidade de Upsalla. Creio que foi, também, uma 1ª vez para Portugal... Em Junho de 1970. A Gesinne Fast, amiga alemã, foi ter comigo a Estocolmo, finda a parte oficial e rumámos, em turismo, à Noruega - um tempo lindo, de sol e calor!
Nova bolsa para um colóquio, em Haia, sobre "direito do trabalho", com uma comunicação, em parceria com a Fernanda Agria. Colega do "Centro de Estudos" do dito Ministério das Corporações, onde em 1967 comecei a minha vida profissional, como auditora, e, depois, assistente (entrava-se com a nota mínima de curso de 16 valores , e não simplesmente "por cunha", note-se).
Só depois ousei aventurar-me a "voar", nas minhas férias, para poupar as longas deslocações de comboio (meio terrestre que usei, sempre, a par do automóvel, nas idas e voltas entre o Porto e paris, como bolseira da Gulbenkian nos anos de 68, 69 e 70...).
Mas ia só em voos directos, para visitar a Cristina, na Alemanha. Por exemplo, voava para Zurique. seguidamente tomava um lento comboio para Stuttgart. A Cristina não compreendia tão estranha fobia... Ralhava-me imenso!
E perdi, nessa época a hipótese de ter veraneado em Angola, a convite do Tio Eduardo, com a Docas, Xana, Nestó. Ou de visitar o Tio Zé, outro incomparável anfitrião, em Nova York - aí ainda estive, no 44º andar da 42, com vista para o Hudson, mas anos e anos depois.
Em 1977, a mais perigosa aventura: férias no Funchal, com a Mãe, Maria do Carmo, Tios Lola e Gustavo e Rosinha Gayoso. Uma aterragem de susto para o mais corajoso! O avião "borregou". Tudo aos tombos, lá dentro. As hospedeiras lívidas. Uma ventania ciclónica. Um aeroporto que parecia um pequeno adro de igreja, no meio do mar... A minha Mãe regressou, porque não queria passar ali o resto dos seus anos, mas nunca mais voou... Entretanto rebentara uma greve da Tap, e viemos todos separados, sendo eu a última escalada para o retorno!
Já como assessora do Provedor de Justiça, duas novas bolsas, com passagem aérea incluida:
Da OCDE, para umas semanas em Genebra; das Nações Unidas para estágios em serviços do Ombudsman - no Reino Unido, Inglaterra, Escócia e Gales. na Dinamarca, Suécia e França, com entrevista final e entrega do relatório em Genebra. Parece que terei sido, de todos os bolseiros da instituição, o primeiro ( no caso, primeira) a apresentar o relatório "in loco", de imediato - fui-o fazendo, em cada cidade, enquanto me lembrava bem do que ia acontecendo. Um alívio, também, não ter o trabalho à chegada. Assim, em Lisboa, limitei-me atraduzir do original inglês para a nossa lingua - coisa não tão fácil como parece, mas lufa-lufa menor, é claro...
Como Secretária de Estado do Trabalho, no Governo Mota Pinto, em 1979, apenas uma deslocação oficial à Madeira, onde conheci o Alberto João - amor, politicamente falando, à 1ª vista - e sem sustos , no ar ou em terra. A perfeição! Acompanhei o Ministro e o caríssimo João Padrão, colega de Coimbra. Lá recebeu-me, regiamente, o Bazenga Marques, Secretário Regional do Trabalho e meu aliado de muitas negociações sobre a regionalização dos serviços.

A história desta fase em que a Manuela detestava voar estava prestes a chegar a bom termo.
Mais umas férias com duas amigas, conhecidas da Provedoria, na Córsega , em Setembro de 1979 - ligação Tap Lisboa- Nice e, depois, barco para a ilha e comboio e carro no interior. Uma beleza!
Durante essas excursões, tentou o PSD - Sá Carneiro - contactar-me, para me convidar para a lista de deputados pelo distrito do Porto. Sem êxito. Aseleições foram em Outubro.
Só haveria de o encontrar, frente a frente, quando me convidou para o seu Governo (Secretária de Estado da Emigração), em Janeiro de 1980 (e nessa altura relatou-me as dificuldades de me localizar, enquanto estava numa ilha, que ele, alías, confundia com outra, Sardenha ou Malta, já não sei bem).

A partir daí, voar fazia parte integrante da missão. Para ir ao encontro da Diáspora!
Tornou-se, pois, coisa corrente, normal e agradável. Com destino à emigração, ao Conselho da Europa, à UEO!
Perdi a conta às travessias de todos os mares do mundo. Tenho, possivelmente, mais horas nas alturas do que muitos pilotos ou hospedeiras de bordo.
Tudo somado, talvez tenha, de facto, passado anos a voar. Os melhores da minha vida.
E por uma boa causa!

Amanhã, sigo para Lisboa - de onde vim hoje mesmo - e, a partir da Portela, para Newark.
Para participar no 30º "10 de Junho" da Fundação Coutinho. O nosso mais grandioso e popular "dia nacional" do mundo". Em 30 anos, devo lá ter estado presente uns 25...
Como estive, em tantos dias mais, todos, afinal, "nacionais", a par de outros, mais exactamente "internacionais", num sem número de reuniões do Conselho da Europa (essa Assembleia bem amada), da União da Europa Ocidental (uma outra Assembleia, de algum modo, porque mais restrita, ainda mais simpática)e de delegações parlamentares, como a primeira que chefiei - e que uma mulher portuguesa pela primeira vez chefiou - inesperadamente a uma superpotência, o Japão, ou de visitas, a convite especial, a países tão diferentes, de Israel (por iniciativa de um embaixador amigo, Gad Rannan , mas concretizada no tempo de Colette Avital outra grande amiga) a Cabo Verde (convite do MNE Silvino da Luz, uma vez em que fiquei ao seu lado, num banquete, no Palácio das Necessidades) ou Iraque, durante a guerra Irão- Iraque (à frente de uma delegação parlamentar feminina, para contactos com a Federação das Mulheres Iraquianas)
Agora - depois da reforma da política activa, com o abandono definitivo do Parlamento, e do Círcul o eleitoral que representei, a maior parte do tempo, e que abrangia o mundo inteiro, exceptuado o velho e pequeno ntinente europeu, assim como as minhas Assembleias, que, sendo europeias, colmatavam a lacuna do Círculo - ritmo baixou, enormemente. Sem parar.



45 comentários:

matilde disse...

Manela, de facto lembor-me muito bem do teu pavor em voar... mas, tb me lembro de te ter bem perto de mim, a 12000km de Terra Lusitana e, devo dizer, com muito agrado!
Devo ter sido das poucas pessoas da "minha geração", que nunca te acompanhou numa viagem mas antes e talvez a única que te recebeu...
Devo confessar, que a emoção foi enorme receber-te! A distância e a saudade dos nossos, tem destes sintomas!
Queria deixar-te aqui um grande beijinho de Parabéns.
Espero que cumpras muitos mais e que continues a voar e a transmitir a tua energia e a tua Alma Portuguesa, como exemplo à nossa Família e à nossa Comunidade Portuguesa espalhada por todo o Mundo!
Um beijinho muito grande e um abraço, Ana.

Maria Manuela Aguiar disse...

Que bom teres lembrado esses encontros do hemisfério sul, e o mais sul possível, no País do Cabo da Boa Esperança.
Aí pertencias à comunidade emigrante, que eu procurava representar!
Um caso raro e, de facto, emocionante. Representar a família, e uma prima muito especial, em circunstâncias também muito especiais!
Da segunda vez, assisti ao teu sucesso como debutante no baile de gala da Sociedade de Beneficência, com a presença do nosso Rei, Dom Duarte de Bragança, do Minitro dos Negócios Estrangeiros, Pik Botha, e do Embaixador Cutileiro.
Era eu, ao tempo, Vice-presidente da Assembleia da República, e, coisa insólita, acompanhava o Chefe da Casa de Bragança a uma visita a vários reinos e repúblicas africanas, com a plena concordância de dois republicanões portugueses, o presidente da AR Vitor Crespo, e o presidente do grupo parlamentar do PSD, Montalvão Machado...

Maria Manuela Aguiar disse...

Tens razão: para além da parte oficial do programa, foi esplêndido ser recebida, com emoção e alegria, pela família tão próxima e querida naquele belo fim de mundo. E houve tempo até para estar em tua casa, em conversa tão natural e tão alheia ao ambiente circundante, que se diria estarmos na nossa terra, na vossa casa de Leiria, da qual também guardo tantas recordações, ou em Gondomar, ou em Espinho...

Maria Manuela Aguiar disse...

Uma das boas surpresas desse "pôr a conversa em dia" foi saber que te tinhas integrado no liceu, de uma forma espectacular: ao fim de poucos meses, a língua não era barreira, pelo contrário já eras a melhor aluna a inglês! E ESCREVIAS BELOS POEMAS, NAS DUAS LÍNGUAS. oNDE ESTÁ ESSE POEMA, QUE ME DESTE A LER?
Quero-o reproduzido, aqui, no blogue!É genial.

matilde disse...

Manela, aqui vai, a teu pedido. Apesar de já ser uma coisa bastante "velha"...

"Johannesburg"

Johannesburg,
city of gold...
Johannesburg,
best of all...

Johannesburg,
stand and stare...
Johannesburg,
would you dare?

Johannesburg,
I want to say:
"Johannesburg,
please, don't go away!"

'Cause Johannesburg,
you are the hope
and not the war,
caused by gold on the flor!

Johannesburg,
your lights at night shine...
Johannesburg,
illuminating your are heart and mine...

Johannesburg,
I never thought I would ever like you...
But all of a sudden I've realised,
that the future can be a surprise!

Johannesburg,
the town of towns;
with emotional
ups and downs...

Pleas Johannesburg,
give us faith...
so we can help you
to not go away...

Johannesburg,
give us hope...
'cause that is just
what we want!

I would like to be proud
and be able to say:
"Johannesburg,
is not going to fade away!"

For that,
we have to fight!!!
In Peace... no matter
if I'm either black or white...

Johannesburg,
do not drift away;
that would be the last thing
I would like to say...

If one day
we'll stay apart,
it was not a decision
from my heart!

Understanding as well!
'Cause
Johannesburg,
there's so much to tell!

Johannesburg,
city of gold...
Johannesburg,
best of all...

by Ana Aguiar de Noronha
november 3rd 1989

Docas disse...

As minhas primeiras viagens ao estrangeiro foram feitas com a Manuela. Tinha eu 18 anos e estava a trabalhar como "au pair" em Londres. Na casa de um casal novo, que gostava muito de mim, porque a criança se dava bem comigo.
Ele era advogado, judeu. Os dois eram judeus.
Queriam que eu fosse passar as férias com eles a Biarritz, mas, entretanto, a Manela escreveu-me a contar que ia para férias na Alemanha, a convite de uma amiga de Bingen, a Gesinne Fast. Eu achei mais interessante esse programa e dise "adeus" aos ingleses.
Fui à TAP, pedi o reenbolso da passagem de regresso a Portugal, e, com esse dinheiro, comprei a passagem de combóio até Paris, onde me encontrei com a Manela. Na estação. Seguimos juntas para a Alemanha.
Eu não levava farnel, mas a Manela, sim. Preparado pela Avó Olívia. Chegava e sobrava para as duas.
De um frango, só restava o cú (não há outra maneira de dizer - é assim, tecnicamente falando). Fazia-nos impressão comê-lo, mas com eu estava com fome, comi mesmo . Surpresa: era bom!
Viajávamos em "turística" (2ª classe), numa carruagem de bancos corridos e cheia.
Mas o entusiasmo de nos termos encontrado fazia esquecer isso. Conversámos o tempo todo. E, com a ingenuidade própria da idade, estavamos cientes de que ninguém entendia a nossa língua. Fartámo-nos de dizer asneiras. Em política, nem tanto: dizímos horrores do regime e do Salazar, com grandes exclamações:
"Que maravilha, esta sensação de podermos falar assim do Salazar, em liberdade!"
Também íamos analisando os companheiros de carruagem, de uma forma agradável.
A um canto, estava um rapaz feio, a ler um jornal francês - foi um "bombo da festa". Nunca levantou os olhos do jornal. Numa paragem do combóio, levantou-se, estava eu à janela, e a Manela no cais, a dar uma volta, e ele disse-me, em bom português:"Tenham uma boa viagem e continuem a divertir-se muito"
Fiquei vermelha, como um tomate, e sem reacção!
Depois, tentámos recordar tudo o que tinhamos dito e bradávamos, constantemente:
"Ai, que vergonha!"

Docas disse...

Chegamos à Alemanha, a casa dos pais da Gesine, que tinha duas irmãs. Ficamos lá durante um mês. Depois a Gesine viria de férias a Portugal e ficava ela em nossa casa. Era uma troca entre adolescentes e, assim, a estadia ficava de graça. Lembro-me de eu e a Manela termos aproveitado fazer turísmo por algumas cidades do rio Reno. Em Colónia, ficamos numa residencial, provavelmente, barata, pois o dinheiro era pouco e sempre contado. Ao visitarmos a cidade eu utilizava sempre os mapas - não sabia uma palavra de alemão. A Manuela falava e entendia bem a língua alemã - assim, preferia perguntar a alguém, todas as indicações de como chegar aos pontos interessantes a visitar na cidade. Nessa altura já não se viam ruínas dos edifícios provocadas pela 2ª Guerra Mundial. Só restava a recuperação das igrejas ou capelas - isso em 1962 ou 63. Ora, numa dessas igrejas que queriamos visitar, segundo a indicação no meu mapa, estavamos no local exacto. Mas não víamos a igreja, porque à volta era um grande monte de terra e a igreja ficava escondida no meio dele - visto de fora, parecia ser um monte compacto e nada mais.
Andamos às voltas, sem encontar qualquer entrada. A Manuela apanhou uma fúria, porque achava a minha mania dos mapas, completamente inútil e, por minha causa, não tinha perguntado a alguém, indicações sobre a localização da tal igreja. Zangamo-nos e cada uma foi para seu lado. Eu, claro, ofendida, mas a minha teimosia própria de "carneiro", veio à tona. Não podia desistir... Sozinha havia de dar conta do recado e mostrar isso mesmo à Manuela. Andei o dia todo de mapa na mão e acabei por descobrir a tal igreja, mais todos os outros sítios interessantes a visitar em Cólónia. A Manuela a mesma coisa, pedindo indicações às pessoas. Cada uma por seu lado, seguimos à risca o roteiro daquilo que queríamos ver e, à noite, quando chegamos a casa, já mais calmas, trocamos impressões e chegamos à conclusão que ambas tinhamos andado pelos mesmos sítios e visitado tudo o que havia sido planedo. Ficamos muito contentes! Tenho a acrescentar que anos mais tarde, a Manuela ficou adepta dos mapas!
Continuando a lembrar a nossa estadia na Alemnha: Era a época das Festas de Bingen. Todas as noites iamos para os bares, com mesas muito compridas e bancos corridos - a Gesine e as irmãs com respectivos namorados. Todos de braços dados, a cantar e inclinando de um lado para o outro e bebendo muito vinho branco do Reno. Um levantava-se e dizia "prost" - as canecas tinham de estar cheias de vinho e esse acto, repetia-se pela noite fora. A Manela fingia que bebia e a sua caneca estava sempre cheia, mas eu, não tive essa esperteza. Quando me ia deitar, já estava muito irritada, por "obrigada" ter bebido demais. Os copos tinham de estar sempre cheios de vinho e era grande ofensa se alguém não bebia, quando todos levantavam os copos a dizer: "prost"!

Docas disse...

Depois dstas férias na Alenha, fui para Angola e qundo decidi deixar África, em Março de 1968, estava Manuela num curso do BIT, em Geneba. Após uma semana em Lisboa, voei até Genebra para estar com a Manuela. Foi-me esperar ao aeroporto e qundo nos encontramos, eu sai com uma mala pequena branca, na mão. A Manuela ia com um amigo e disse-me: agora vamos esperar que desembarque a tua mala. Ficou muito admirada quando eu respondi: Só trago esta - não foi preciso despachá-la no aeroporto de Lisboa, pois como é um tamanho pequeno, pode vir comigo no avião. Ia passar um mês na Suíça.O alojamento que a manuela arranjou, era muito simpático e confortável. Foram uma férias fantásticas! No BIT conheci e convivi com os colegas da Manuela. Fizemos várias excursões. Numa ida a Lyon de comboio, qaundo chegamos à gare, a Manuela pediu-me o passaporte. Tinha-me esquecido dele no meu quarto. Rápida como a Manuela é, apanhou-se logo um táxi e quando regressamos, foi uma correria pela estação até se ouvir o apito da partida do comboio - no último instante entramos - foi por um "triz"...

Docas disse...

Mais tarde, já me encontrava a trabalhar em Lisboa. Juntava dinheiro durante o ano, para nas férias, Junho ou Julho, ir ter com a Manuela a Paris. Estava a tirar um curso na Sobornne. Esteve alojada na Cidade Universitária, primeiro na Casa de Portugal e depois na Casa da Argentina.
Nas férias grandes, muitos alunos iam de férias e, por isso, havia vagas de quartos, onde eu também fiquei, por um preço irrisório. Durante o dia a Manuela ia para a Universidade e eu dava os meus passeios pela cidade de Paris.

Maria Manuela Aguiar disse...

A Docas contou bem a história da excursão Genebra-Lyon, mas à sua maneira sintética...
O caso foi muito mais grave do que parece. À saída do lar de freiras, onde estávamos muito bem instaladas, por pouco dinheiro, eu recomendei-lhe que verificasse se tinha o passaporte na carteira, com eu sempre verifico.
Ficou irritada. "Tenho, não é preciso confirmar". E, como é "carneiro", entrou no táxi, sem mais. Atravessámos grande parte da cidade, até chegar à gare de Cornavin (será este o nome?) e eu tornei a insistir: "Tira o passaporte da carteira, para passarmos depressa".
È que eu era a guia turística daquela excursão, que incluía muitos colegas do curso do BIT, nenhum dos quais falava francês...
A Docas abre, finalmente, a carteira, e exclama: "Não tenho aqui o passaporte!".
Bem... Imaginam a minha indignação... Nem saímos do táxi. Pedi-lhe para voltarmos atrás. Demorou um século, apesar dos esforços do suiço, que fez tudo, excepto infringir a lei.
Por milagre, apanhámos o combóio no último segundo. Percebendo a nossa situação, os funcionários da alfândega mandaram-nos passar de qualquer maneira, saltando barreiras.
Os meus colegas estava em pânico, sobretudo o checo, que era sempre importunado com perguntas(estávamos em 68, o ano de Dubcek...)

Docas disse...

Lembrando ainda às férias passadas na Alemanha, o regresso a Portugal, de comboio, com a Gesine, foi uma aventura. No mês de Agosto ficavam superlotados, com a vinda dos emigrantes de férias. À noite, para dormirmos, deitou-se a Gesine e uma professora de alemão, num dos bancos - uma virada para cima e a outra para baixo - e no banco da frente mais dois passageiros, que dormiram também neste esquema. Só restava espaço no chão entre os dois bancos. Então, a Manuela, sempre imaginativa, encheu um colchão de praia que tinha comprado na Alemanha. Pô-lo no chão - eu, deitei-me virada para cima, com a mala a servir de almofada e a Manuela virada para baixo. Só sei que dormimos bem a noite toda. Não tivemos insónias...
Quando se é jovem, não há complicações!

Docas disse...

Fomos convidadas para um jantar, pelo Vice-Ministro do Trabalho do Paquistão, que era um dos participantes do grupo da BIT. Os paquistaneses eram três: um muito bonito, professor universitário, outro muito feio, que andava com os pés para fora, tipo Charlot e o mais importante dos três que era o único político, levou a mulher com ele. Aliás, muito bonita e culta -um dos seus irmãos era o Embaixador do Paquistão em Londres. Gente fina, interessante e simpática!
A refeição era tipicamente paquistanesa e eles todos também, só nós as duas é que não!
Uma grande terrina foi posta no meio da mesa. Nesse momento, para nossoespanto, os homens arregaçaram as mangas da camisa e começaram a meter as mãos, directamente, na terrina, cheia de frango cortado aos pedaços, em grande quantidade de molho gorduroso. Comiam à mão, com o molho a escorregar pelo punho abaixo. Eu, disse à Manuela, em português e muito baixinho: não olhes e come que é bom!

Docas disse...

Um dia fizemos um passeio até ao Monte Salève, que víamos dos nossos quartos, em Genebra. Era já território francês, mesmo à saída da cidade de Genebra. Ia-se de eléctrico até à aldeia, e subia-se ao alto do monte de teleférico. A vista era espantosa! Mas a Manuela assustou-se, porque a cabine abanava muito. No regresso insistiu em descer a pé - vários kilómetros de percurso, no meio de bosques. A minha vigança foi dizer-lhe que ali devia haver muitos javalis - ambiente propício ao habitat de tais animais. O silêncio, sem "viva alma", só com o barulho do vento a dar nas folhas das ávores, ainda assustou mais a Manuela. Já imaginava os javalis, ali perto...
Cada vez andava mais depressa e eu a acompanhá-la e sempre a refilar. Só sei que chegamos aos nossos quartos cansadíssimas. No dia seguinte, doiam-nos todos os músculos das pernas!

Maria Manuela Aguiar disse...

A boa memória da Docas!
Foi precisamente assim. Desci o monte Saléve a fugir de javalis imaginários...
Quanto aos amigos paquistaneses, penso neles muitas vezes. O que lhes terá acontecido, depois? Deus queira que tenham sobrevivido a perseguições, que tenham conseguido sair para Londres. O nome dele era Rahman.
Foi o nosso - meu e da Docas - primeiro "encontro de culturas". Claro que não é fácil, para nós, comer um frango à mão, mas a amizade deles valia o sacrifício.
A senhora chegou a meio do curso. E ele disse-me, logo que ela chegou, que queriam convidar-nos para jantar. Mas acrescentou que ela não era como nós, que era pouco culta e inteligente e falava um fraco inglês. Confesso que fiquei na dúvida. Acho mesmo que acreditei.
Depois de alguns minutos de conversa com ela, percebi que não era verdade.
Para começar, era muito bonita e tinha um ar de menina, apesar de já ter filhos crescidos. Vestia lindos "saris". Falava inglês lindamente, melhor do que o marido. Concordava com as minhas teses feministas. Defendia os direitos das mulheres. Ainda por cima, o casal dava-se obviamente muito bem. Ele tratava-a com a máxima cortesia.
Aprendi que eram os costumes que impunham que o marido não valorizasse a mulher, como não se devia valorizar a si mesmo...
Só que não era preciso exagerar.
Foi muito agradável conviver com eles, no dia a dia.

Maria Manuela Aguiar disse...

Havia um outro participante, indiano, que tinha uma reacção oposta. A mulher chegou já quase no fim ddo curso e, antes, ele dizia-nos que ela era muito superior a ele - uma médica famosa, em quem ele tinha grande orgulho.
Porém, ao contrário da paquistanesa, a indiana era tímida e introvertida. Bonita, também, e, obviamente, uma universitária de valor, mas sem as arte convivial e o "charme" da outra.
Ficámos amigas, claro. Com o passar dos dias, ela tornou-se um pouco mais expansiva. Ele era encantador!
E, assim, tivemos uma prova real de que India e Paquistão são países vizinhos, mas muito diferentes.

Docas disse...

O curso da OIT era composto por uma trintena de participantes, de todos os continentes e de vários países - Japão, ilhas Fiji, Seychelles, Russia, Austrália, Turquia, Checoslováquia, Finlândia, Hungria, Alemanha, Tailândia, mais os 3 mpaquistanese, 2 indianos, e outros.
A única mulher era a Manuela.
De um dos indianos, a Manela já falou. Do simpático e civilizado.
O segundo indiano não era uma coisa nem outra.
Não participava, nunca, em excursões, porque achava que não valia a pena. Para ele era tudo igual - todas as cidades tinham casas e árvores...
Uma vez, para o gozar, inscreveram o nome dele na lista de um dos passeios. Ele ficou furioso, e apressou-se a riscar o seu nome...
Diziam que não queria gastar dinheiro, e que, por isso, se alimentava só de batata frita!...

Docas disse...

Uma dessas excursões, a maior de todas, já no fim do curso, foi a Itália, de autocarro, atravessando o túnel de Simplon. Os Alpes no seu melhor, com um tempo fabuloso, sol e calor, em Abril!
O pretexto era o de visitar centros de formação da OIT em Turim e Milão, o que fizemos, para além de fazer turismo.
Eu era convidada para tudo. Também fui.
Um dos acompanhantes era uma secretária inglesa da OIT, de meia idade, com um ar muito frio e distante. Nunca se ria, com o seu semblante austero. Em Genebra.
Chegada a Itália, parecia outra.
Feliz, sorridente, contente com os piropos dos italianos.
"Aqui sinto-me uma mulher viva. Os homens sabem olhar para nós. Até os padres!"
Nunca mais me esqueci desta frase, vinda de quem vinha.
E era verdade. No que respeita à inglesa, e no que respeita aos homens italianos.

Docas disse...

Para a Manela e para mim não tinha a mesma graça. Em Portugal estávamos habituadas àqueles "olhos de carneiro morto"... Ridículos...
Mas gostei das cidades.
Em Turim, as instalaçóes hoteleiras do tal "Centro" da OIT eram óptimas.
O quarto era "duplex, com uma janela de alto a baixo, cortinados côr de laranja, e vista para um relvado. A escada para o piso cima, onde ficava a cama e um guarda-vestidos, era íngreme e completamente aberta, sem corrimão.
Em baixo, à entrada, a casa de banho, com porta de correr preta, azulejos e armários pretos e sanitários de louça em vermelho vivo.
O finlandês, Kauko Relander, veio ter connosco e comentou que o quarto era "very exciting".
Outra frase que resistiu ao passar do tempo. Desta vez,concordei plenamente.

Docas disse...

À volta, já na Suiça, no "Valais", o último jantar, tipicamente suiço: "raclette" (queijo fundido e batata cozida - nada mais).
Os asiáticos, de uma maneira geral, deram o dinheiro por mal empregue. Para eles, aquilo não era refeição que se servisse...e não beberam o vinho da região, como eu e quase todos os outros. Ficámos muito alegres. Grande ambiente.
Começam todos a cantar, sucessivamente, à vez, cada um na sua própria língua. Quando chegou a nossa vez, dissemos a verdade: não sabíamos nenhuma canção e não tínhamos voz.
Mas eles insistiram. Gritavam o nosso nome, sem parar. Já que não conhecíamos nenhuma música exigiram a que todos aprendem - o hino nacional.
E nós fomos mesmo obrigadas a entoar "heróis do mar, nobre povo".
Parece-me que não passámos daí.
Foi a melhor justificação da nossa recusa - uma horrorosa desafinação...
Todos se riram e o Kauko, divertidíssimo, concordou connosco, quando repetimos "nós não sabemos cantar":
"Não sabem, não. Nós ouvimos".
E o pior é que todos os outros eram afinadíssimos.
E, na nossa família, todos o são também, excepto nós as duas e o Tio ZÈ.

Maria Manuela Aguiar disse...

Foi traumática, a nossa exibição.
Até decidimos, com receio de que acontecesse, de novo, na festa da despedida, ensaiar coisa mais fácil: o alecrim, alecrim aos molhos...
Pelas ruas desertas de Genebra. No lar não ousávamos.
Era só marginalmente menos mau.
Em alternativa, eu pensei num "efeerreá" coimbrão.
Estas boas ideias vêm sempre tarde demais, não quando somos apanhadas de surprsa.
E, por acaso, já não foi preciso...

Docas disse...

Uma das mais bonitas excursões, que fizemos a partir de Genebra, de combóio, foi a Montreux, no outro extremo do lago. De barco teria sido ainda melhor, mas, por qualquer razão, não foi possível.
Era o fim-de-semana de Páscoa - talvez não tivessemsos conseguido um lugar.
Ficámos alojadas numa simples pousada de Juventude. Estávamos no limite de idade de admissão... A frequência era de muito jovens, com os quais nos misturámos, sem destoar demais. Eram alegres e ruidosos. Demos passeios à beira do lago, com grandes magotes juvenis. Mas dormimos pouco, numas camaratas horríveis, com uns lençóis, que pareciam de um presídio.
No dia seguinte, vimos os cartazes a anunciar a final do torneio de Montreux, em hóquei em patins, e resolvemos comprar bilhets para mais um Portugal-Espanha.
Ficamos mesmo junto ao ringue, à espera de apanharmos uma bolada e de irmos parar ao hospital. De princípio, com esse receio, quase não víamos o jogo. Por poucos minutos! O entusiasmo fez-nos esquecer o pormenor.
Ao nosso lado, estava um grupo de portugueses, também eufóricos com a classe da nossa equipa. Festejámos, em delírio, a vitória portuguesa.
Fomos até um café, e, no decurso da conversa, a Manuela descobriu inúmeros amigos comuns. Eram gente de confiança, muito simpáticos. Uns deles deram-nos boleia, de volta para Genebra. Fomos à pousada, pegámos nas malas, e, nesse domingo de Páscoa, já dormimos nos confortáveis quartos do lar de freiras... Que alívio!
Cada coisa tem a sua idade, não é? '

Docas disse...

Acrescento mais algumas recordações à Pousada da Juventude, em Montreux. Essa dormida foi bem mais traumática, pelo menos, pra mim, do que a dormida no chão do comboio da Alemanha para Portugal. Era uma grande sala, cheia de beliches. Eu fiquei num dos beliches de cima. Para subir, a Manela teve que ajudar-me, com as mãos juntas, para eu poder trepar. Estava muito frio! Havia um cobertor cinzento escuro e a almofada era aos quadrados vermelhos e brancos. Dormi vestida... Os adolescentes, mais novos do que nós - 14 ou 15 anos - de vários países, estavam lá, a passar as férias da Páscoa. O entusiamo era tanto, que passaram a noite a conversar e a rir. Não conseguíamos dormir com o barulho. De manhã, para nos lavarmos, havia um grande corredor com vários lavatórios grandes e as torneiras altas, de onde saía só água fria. Acho que lavei a ponrta do nariz e mais nada. Um horror, até porque já não éramos propriamente adolescentes e estavamos habituadas a mais conforto!
Durante a noite, antes de nos deitarmos, demos um passeio, rodeadas desses miúdos (rapazes e raparigas) que cantavam em grupo e, um deles, tocava viola. Foi divertido, apesar das diferenças de idade. Eu e a Manuela, teríamos 23, 24 anos. Por isso, bem mais velhas do que eles.

Docas disse...

Como não pudia deixar de ser, fomos também numa excursão até ao Mont Blanc, com o professor Checo, a mulher, o japonês e não me lembro de quem mais. Um frio de "rachar" e um nevoeiro tal, que não se via um palmo à frente do nariz - entre o nevoeiro, só aparecia à nossa frente, a parte debaixo dos pinheiros. Uma frustação!... Passamos parte do tempo, num café, a conversar, até ao regresso da camioneta para Genebra.
Mais tarde voltamos ao Mont Blanc, já com o céu limpo e sol - realmente, uma paisagem deslumbrante!

Docas disse...

Nos anos 70 e 71, fui ter com a Manela a Paris, numa férias de Verão. Era fácil arranjar um quarto simpático na Cidade Universitária, porque muitos estudantes saiam para as férias nos seus países. Da primeira vez, fiquei na Casa de Portugal. Enquanto a Manela ia para a Universidade da Sobornne, eu aproveitava para conhecer a cidade de Paris. Um dia também fui ela até à Universidade, que ficava dentro de um bosque. Mas quando quisemos regressar a Paris, tinha acabado de sair um autocarro e o que partia a seguir, ainda demorava. Havia estudantes que pediam boleia e nós, assim, seguimos o mesmo exemplo.
Depois de vários carros não terem parado, por fim, um "Alfa Romeu" branco, com um senhor de idade, de cabelos brancos e ar distinto, parou. A Manela, como sempre, mais rápida do que eu, enfia-se no banco detrás. Não tive outra alternativa, senão sentar-me ao lado do condutor. Nessa altura usavam-se as mini-saias, e eu estava com uma curtíssima!. Mal o carro arrancou, o senhor põe a mão nas minhas pernas - aflita, bem as tapava com a mala de mão. Mas, felizmente, tudo durou muito pouco tempo. A Manela começou a falar num bom francês, explicando que estudava ali, na Universidade. O senhor não sabia que no meio do bosque havia uma universidade - percebeu de imediato, que o pedido de boleia era inocente. A partir daí foi simpático e não teve mais "investidas" indecentes. Deixou-nos em Paris, seguiu o seu caminho e nós o nosso...

Docas disse...

No ano seguinte, voltei a passar férias de Verão, em Paris, com a Manela. Mas desta vez, fiquei alojada na Casa da Argentina - bem mais divertido!. Eram um grupo muito alegre. Organizam bailes, festas e muitas vezes reuniamo-nos num dos quartos a tomar café, a cantar e a Mora a tocar viola. A Mora, era filha do Director da Casa da Argentina - uma rapariga muito interessante. Tinha uma "carocha" e correu parte da Europa, com um grupo de amigas e a sua inseparável viola. Tinha um namorado, um jovem médico argentino, com muito charme - lindissimo!. Entretanto, recebeu uma carta do namorado que tinha deixado na Argentina, a comunicar que ia casar. Ficou tão desgostosa, que nessa noite apanhou uma grande bebedeira e acabou o namoro com o médico argentino. Dizia com com este, só conseguia discutir pelo telefone, pois quando lhe aparecia à frente, ficava tão deslumbrada com a sua beleza que já não conseguia impôr as suas ideias. Achava que não tinham nada a ver um com o outro. Este jovem médico, quando viajava escolhia sempre hóteis de 5 estrelas, enquanto que ela gostava de acampar no meio da natureza. Ele tinha um porte aristocrata e a vida que ela gostava era bem mais simples e descontraída.
Chegou à conclusão que tinha deixado fugir o seu homem ideal, quando ele lhe propôs casamento e, ela, com medo, tomou a decisão de sair da Argentina e ir para Paris, com a desculpa que ia ter com os pais.

Docas disse...

A Manela comprou um carro em Paris e para fazer a rodagem, tinhamos combinado ir até à Normandia e Bretanha, as três (eu, Manela e Mora). Mas à última hora, a Mora desistiu - estava muito deprimida com o desgosto amoroso do namorado da Argentina ir casar com outra e por ter terminado o romance com o jovem médico, que ela acreditava não ter futuro, por serem muito diferentes!
A Manuela nunca perdeu o contacto com a Mora. Vive agora em Buenos Aires, solteira - nunca chegou a casar. Infelizmente, parece que se encontra com uma doença grave e incurável.

Docas disse...

Manela disse:
Reencontrei a Mora, na Argentina, várias vezes.
Esteve connosco no "Encontro para a Cidadania" , na Biblioteca de Buenos Aires, em 2005. Fez um depoimento excepcional.
Voltei a estar com ela, nesta última visita, em Novembro de 2008.
Tem, de facto, um problema de saúde, mas continua alegre e encantadora. Encontramo-nos no apartamento dela, no centro da cidade, onde vive sszinha.
Estava a fazer fisioterapia - espero que resulte!
Levei-lhe um CD de Carlos Paredes, e ela gostou, naturalmente. A música, a viola, a guitarra, são o seu mundo.

Maria Manuela Aguiar disse...

Nesse ano de 1970, em que a Docas ficou alojada na "Fundação Argentina", cujo director era o Prof Covian, pai da Mora, tudo foi muito divertido, mas houve um momento de tragédia iminente, mesmo lá em frente do quarto dela, no Boulevard Jourdan.
Andava a Docas de sandálias, de sola, daquelas que deslizam como patins, quando menos se espera. Íamos atravessar o Blv, fora das passadeiras, como em Paris se recomenda. Nesse preciso momento, um autocarro vinha, a velocidade vertiginosamente parisiense,a aproximar-se. E a Docas escorrega, na direcção do autocarro! Rápida, mais rápida do que o desastre anunciado, eu puxo-a paa trás pelo ombro!
Julgam que me agradeceu por lhe ter salvo a vida?
Não! Ficou furiosa, a queixar-se de dores no ombro!

Maria Manuela Aguiar disse...

Segundo susto: queda da Docas, dessa vez, consumada, na descida do "Mont St. Michel".
Talvez com as mesmas sandálias - eu tê-las-ia deitado fora, depois da 1ª ameaça, mas ela não, até porque não acreditava no risco que tinha corrido em Paris... - escorrega nas pedras irregulares e polidas e bate com a cabeça, estrondosamente. Isto é, com um estrondo aterrador. E desmaia!
Crâneo esfacelado, penso. Mas não havia disso sinais exteriores. Traumatismo craneano, de qualquer modo, é a minha convicção...
Junta-se uma multidão. Surge, do seu meio, uma socorrista. Coloca a Docas sentada num banco. Durante uma eternidade, ela continua sem dar acordo de si. (uns minutos, porventura, mas compridos). Começo a acreditar que está morta!
De repente, ela acorda. Vê a minha cara, de boca aberta e de olhos arregalados. Quase desmais de novo, de susto (isso contou-me ela, mais tarde...).
Mais umas recomendações da expedita salvadora francesa, muitas opiniões dos circunstantes, ainda numerosos, e, sem outros percalços, seguimos, no Peugeot, a caminho da próxima meta do programa.
Nem sequer fomos a um hospital.
A Docas garantia que o desmaio tinha sido provocado por uma insuportával dor de cotovelo, pois foi o cotovelo que lhe amorteceu o primeiro embate com as lages do chão. E a cabeça não apresentava nem galos, nem nada.
Cabeça dura!...

Maria Manuela Aguiar disse...

Uma das ambições da Docas era comer "gaufre" com "chantilly", que eu comecei por gabar, exageradamente, em Paris. Mas, no Blv. St Michel, onde costumava comprar "les gaufres", decerto por ser verão, tinham fechado as vendas que conhecia tão bem.
Só voltámos a pôr a vista em cima dessa especialidade no próprio Monte ST. Michel. Logo que as viu, a Docas quis comprar uma. Não sei porquê, sugeri que o fizessemos mais tarde.
Ela tinha justamente começado a comer a sua gaufre, quando tombou, lançando pelos ares o que restava dela, e espalhando o chantilly pela calçada... Ainda hoje fala disso, com a nostalgia daquela gaufre - daquela, muito em particular.

Maria Manuela Aguiar disse...

Tirando essa catástrofe, sem consequências de maior, o circuito pela Bretanha e Normandia foi uma viagem de descoberta de maravilhas turísticas, de que tão pouco se fala. Natureza, património, gente amável e poucos turistas!
Em boa verdade, não ia à espera de tanto. Ia, apenas, como todos os portugueses que compravam carro novo, fazer a rodagem do bólide. Umas centenas de quilómetros de território plano, muito conveniente. A outra alternativa era a Holanda. Uma ida e volta a Amsterdão completava, sem mais, o necessário para, depois, submeter a viatura ao "pára e arranca" de Paris.
Para os mais jovens esclarece-se que a tal "rodagem" era obrigatória para a saúde futura do automóvel, para "desenvolver" o motor e afinar a caixa de velocidades e o resto. Agora, vem tudo testado de fábrica...
Já tinha visiado tantas vezes os Países Baixos, com os amigos "compradores-de-carros", que propus à Docas a opção pela costa e praias desse noroeste francês. Em boa hora!
Pontos altos (não direi o "Monte", embora seja alto e espectacular, por causa do acidente - "mixed feelings"...), mas Etretat, Honfleur, ST. Malo...eu sei lá...
Pequenos hoteis simpáticos... Simples e gloriosa restauração... Muita cidra... Muito mar - não praia, porém, porque tempo era de "sol de inverno" em Portugal...
Recordo, em especial, um minúsculo hotel, onde comemos as mais requintadas especialidades bretãs, sob o olhar embevecido de duas velhinhas. As donas. As cozinheiras.
Dir-se-ia que vínhamos d outra Galáxia... Os turistas estrangeiros não abundavam. Éramos espécie rara. Fora de uma aldeia portuguesa, nunca tinha visto nada igual. Claro, estávamos numa ALDEIA da Bretanha, em Junho de 1970.

Maria Manuela Aguiar disse...

A propósito de Amsterdão. Como disse, fui lá vezes sem conta.
A história mais divertida é a da rodagem do carro do Padre Mário. Ele foi, com um acompanhante, mais cedo, para ir devagarinho. Nós partimos depois, e encontrámo-nos na cidade.
Mal chegou ao centro, viu um canal e resolveu estacionar, logo ali. Achou que era um lugar especial, muito bonito, daqueles que não dá para esquecer. Foi andando, e vendo cada vez mais canais. Mas, mesmo assim, não ficou alarmado. Depois de jantar, na volta é que começou o "calvário".
Os canais eram todos, todos muito iguais. Onde estava o carro?
Boa pergunta... Foram muitas horas à procura. Quando já se dispunha a ir à polícia, dar o carro como perdido, encontrou-o!

Maria Manuela Aguiar disse...

Os dois padres, nossos colegas na Casa de Portugal, eram muito interessantes, sociáveis, com carisma, com liderança. Os grupos giravam muito à volta deles. Padre Mário, o grande intelctual, especialista de assuntos arménios, teologia, sociologia etc, etc. E Padre Micael, o sociológo, que era também um grande conhecedor de bons restaurantes e rotas turístas. Muito prestável, mostrou, magnificamente o "tout Paris" à minha Mãe, à Docas, a qualquer amigo ou amigo do amigo , vindo da Pátria.
Além disso, dáva-nos umas boleias de categoria, nas viagens de regreso a Portugal. Partilhavamos as despesas - gasolina, etc.- e ele sabia escolher, por preços módicos, os melhores alojamentos, os melhores sítios para bem comer. E ainda dava passeio guiado às cidades que atravessávamos. A Docas foi quem teve mais sorte, porque apanhou uma viagem de regresso no verão, sem pressas. Até por Andorra andaram: o Padre, ela e o que ela descreve como um seminarista muito apagado. Seminarista não devia ser, pois não tinhamos colegas com essse perfil. Bom, não interessa...
Nesse ano, vim mais tarde, com a Eduarda, a Madalena Bettencourt e o Fleming, que era exilado e não podia entrar em Portugal. Ficou em Vigo, e a família foi lá passar as férias com ele.
Combinámos vir juntos com a equipa do Padre Mário, no seu carro novo.
Ele teimou em sair cedíssimo, às 4.00 da manhã. Uma barbaridade. Custou-nos imenso.
Saímos em fila indina, muito bem, uns atrás dos outros, ele à frente, sempre muito rápido, andámos um ou dois quilómetros... e nunca mais o vimos!!!
A Eduarda manteve acesa a esperança de os reencontrar. Até almoçávamos em esplanadas, sempre a olhar, à procura do seu "mini".
Mas eu achava que não. Ele, na estrada era um corredor nato, e a Eduarda, com um "carocha", era grande condutora de cidade - tipo táxi - e só rera competitiva em meio urbano. Por ali, avançava lentamente...

Docas disse...

Continuando a descrição da nossa viagem de carro, desde Paris a Portugal, passando de novo pela Normandia e Bretanha, descendo sempre pela costa francesa...
Num dos hóteis de estrada, em Espanha, já perto de Salamanca, paramos para jantar e dormir, como costumavamos fazer, ao fim da tarde, para descansar.
Na sala de jantar grande e quase vazia, pedimos o menu, escolhemos e para beber, depois de alguma hesitação, optamos por uma garrafa de vinho. O empregado perguntou se queríamos com gás, ou sem gás... com gás, dissemos. Achamos que um vinho gasoso teria um teor alcoólico mais baixo, do que um vinho tinto normal. Quando ele vem à nossa mesa, pousa uma grande garrafa de vinho e outra de água gasosa (cada uma de 1,5 litro). Desatamos a rir à gargalhada. O empregado deve ter pensado que, por qualquer motivo, nos estavamos a rir dele - ofendido, mandou um colega servir-nos, nunca mais fomos atendidas por ele. Bem, eu bebi quase o vinho todo, porque nessa idade aguentava grandes doses, sem ficar com os "copos". A Manela diz que bebeu muito pouco, mas teve uma reacção explosiva, misturando o vinho com a água gasosa. Só sei que ficou muito alegre e bem disposta, tal e qual como o pai, meu tio João. Lembro-me sempre dele, com muito sentido de humor, quando bebia um pouco mais de vinho - o que era raro...
Fomos para o nosso quarto, eu deitei-me e a Manuela ao fundo da cama, em pé, dançava e ia atirando a roupa pelo ar. Eu, ria às gargalhadas, até chorar...
Foi uma noite muito divertida, à custa da garrafa de gás, pelos vistos, mais do que a garrafa de vinho.

Docas disse...

A minha viagem com o Padre Micael e o que considero um seminarista (a Manela diz que não, porque na casa de Portugal só havia padres feitos), foi muito agradável. Ele vinha a Portugal de 6 em 6 meses visitar os pais. Isso deu-lhe muitas oportunidades para descobrir bons restaurantes e hotéis, por um preço fantástico. Era um "gourmet", gordinho, naturalmente, com a boa disposição, própria dos gordos, com um ar intelectual - grandes óculos, cabelo comprido e sempre de cachimbo na mão.
No percurso foi só turismo. 5 dias em cheio. Andorra, belas cidades de Espanha, Burgos, Salamanca - um hotel esplêndido na Praça!
Aí ofendi, novamente, um criado de mesa.
O Padre tinha-me aconselhado a comer "churros", e eu assim fiz. Depois, voltei sozinha e pedi "burros". O homem julgou que o estava a "gozar", não podia saber que sou um pouco disléxica.

Docas disse...

Devo ao Padre Micael a pós-graduação que fiz na "Católica", em Paris. Ele andava por lá, na Sociologia e descobriu uma espécie de "Maîtrise", dada com a frequência de três cursos - no meu caso, Sociologia do Direito, Filosofia do Direito (com óptimos professores) e outra cadeira de sociologia, dada por um padre muito "à la mode", mas insuportavelmente pretencioso, com quem me desentendi. Mas, no mesmo ano, passei a todas - com notas altas só nas duas primeiras... - e recebi o "Diplôme Supérieur d'Études et de Recherche en Droit". Salvou-me a época!
O terceiro padre, não menos notável do que os outros dois, não vivia na Cité universitaire, mas numa paróquia, embora aparecesse por lá regularmente e estivesse, também, a fazer doutoramento ou coisa semelhante, era o agora bispo D. Januário.
Ao Padre Mário, que era magríssimo, enérgico e muito divertido, sabendo falar de tudo e não só de elevadas questões científicas,( e fazia um óptimo café turco, ou arménio, com muito pó no fundo da chávena!) devo a descoberta de meu escritor favorito, P.D. Wodhouse - a 5ª essência do humor britãnico.
Quanto ao cafézinho, eu gostava tanto do pó, em suspensão no líquido, que decidi experimentar o fundo mesmo, mais pó do que líquido, bem mexido, e ía sufocando!

Docas disse...

Logo num dos primeiros dias de férias na Normandia, seguíamos por uma estrada muito estreita, e a Manuela guiava com cuidado, e rigorosamente a contornar as bermas, porque os franceses não tinham o nosso hábito de buzinar nas curvas, e todo o cuidado era pouco. A meio de uma curva, o carro fez "poff" e guinou para a direita. A condutora parou, de imediato, e foi ver o que se passava. Uma coisa estranha: nessa berma havia uns ferros espetados, virados para o ar! E tinham dado cabo de um pneu, que estava completamente em baixo, esvaziado. Colocámos, atrás, o triângulo, para aviso, e por ali ficámos. Estrada deserta. Ao longe, uma única casa, deserta (a Manela correu até lá, chamou, ninguém respondeu...).
Eu ofereci-me para tentar mudar a roda, porque, em África, várias vezes, tinha ajudado o meu Pai em situações dessas. Mas a Manela achava que não, e dizia que nem sequer sabia onde estava escondido o pneu sobresselente!
Esperámos uma meia hora. Surgiu, então um carro, que parou mal nos viu. Era uma família inteira - 5 pessoas. O Pai de família, elegantemente vestido, com um casaco de camurça beige, nem sequer precisou de tirar o casaco. Deu com o pneu novo, tirou um pôs o outro, com perícia e limpeza, enquanto ia conversando connosco - com a mulher , os filhos e nós a observar. Não precisou de ajuda. Como contámos que íamos, poucos dias depois, para Portugal preveniu-nos que era tudo óptimo, através das estradas francesas e espanholas, tudo muito rápido, mas depois da fronteira portuguesa era a 30 km./hora, pelas piores e mais tortuosos caminhos de serra, que ele conhecia. Demorava-se um dia inteiro a chegar ao Porto...
(coisa que nós sabíamos, mas fizemos de conta que não, não comentámos).
O pior é que, por fim, ele perguntou à Manela de que região de França ela era - e ela respondeu que era portuguesa.
Aí, ele ficou incomodadíssimo, desfez-se em desculpas... E, nós bem o tranquilizávamos - era a pura da verdade, a serra a Estrela era um quebra-cabeças.
Agradecemos-lhe muito e continuamos viagem, até uma garagem, na aldeia mais próxima, para consertar o furo.

Docas disse...

A convite da Manela, então Secretária de Estado das Comunidades Portuguesas, fui trabalhar com ela, no Ministério dos Negócios Estrangeiros, durante o Governo do Bloco Central. Além de vários outros trabalhos, a minha função principal, era a de organizar exposições nas comunidades portuguesas, o que me levou a conhecer Brasil (desde Fortaleza, Salvador da Baía, até Porto Alegre), América do Norte (desde Nova Yorque até New Bedford) e Joanesburgo. Depois com o Conselho das Comunidades fui ao Canadá (Toronto) e aproveitei para passar férias em casa da Maria José Cabugueira e Castro Brandão, que nessa altura, era cônsul em Boston.
Fiz a viagem de carro, com eles, desde Toronto, pernoitando em Montreal - num hotel fantástico - até Boston, no Outono. A paisagem era fabulosa. Andamos kilómetros e kilómetros em estradas desertas, com grandes florestas de um lado e outro, em que as folhas apresentavam todas as tonalidades, desde o verde ao amarelo, castanho, vermelho e prateado - uma beleza única!
Depois desta viagem e de ter estado uma ou duas semanas em Boston, em casa da Maria José e Castro Brandão, recebo um telefonema da Manela a dizer-me que tinha de ir, imediatamente, para a Suíça, Genebra, onde fui colocada como chanceler.

Docas disse...

O episódio mais caricato dessas minhas exposições no estrangeiro, aconteceu, quando fui a New Bedford, com o Jorge, assessor de imprensa do Gabinete da Manela. O Jorginho, como o tratavamos - era magro e baixo, sempre elegantemente vestido - todo o vestuário era de marca! E em pleno Inverno, com muita neve, aterramos em Nova Yorque. O Jorginho calçava uns sapatos "Gugi". Escusado será dizer, que, com sapatos de sola, estava sempre a patinar na neve, a escorregar e a cair... Então, passou a segurar-se no meu braço! Como se intitulava o "representante vivo" da senhora Secretária de Estado, foi ao Consulado Português e alugou uma limusine, para nos levar até New Bedford - em grande!
Em New Bedford dava ordens ao Cônsul, Arsénio, tratava-o rudemente, e ele sem "tugir nem mugir" - estava convencido que o Jorginho era uma pessoa importante do Ministério dos Negócios Estrangeiros. Eu, observava aquilo tudo e, evidentemente, não dizia nada - não era comigo! A exposição realizava-se na Casa de Portugal, tendo como Presidente, o Sr. Aguiar. O Jorginho, para se equilibrar na neve, passou a segurar-se no braço do Sr. Aguiar -todos gozavam com a personagem do Jorge e achavam rídiculo tanta afectação. Era costume, a comunidade portuguesa ir para um café, beber aguardente feita em casa, escondida num saco de papel (devia ser proibido ter bebidas alcoólicas), que era colocado no chão, ao lado de uma cadeira. Todos confraternizavamos nos copos e achavam agradável eu também "alinhar". Mas, quando chegava o Jorge e lhe ofereciam uma bebida, muito escandalizado, respondia: Não, eu só bebo chá às cinco horas.
Entretanto, chega a Manela com a Maria Luísa Pinto. Quando toma conhecimento do aluguer da limusine (coisa que ela nunca tinha feito), dos disparates do Jorge com o Cônsul, logo ali o despede. Fica desmacarado perante toda a gente, o "repesentante vivo" da senhora Secretária de Estado, que não era mais do que um simples assessor...
A partir daí o Jorge começa a ser mal tratado e tenho até, uma ideia, de que lhe queriam bater. Desapareceu e regressou logo a Portugal. Mas antes disso, deixou uma carta à Manela, a justificar-se. Aproveitou e, ainda metia a conta de uns resguardos para os sapatos não deslizarem na neve, que, entretanto,tinha comprado...
Segundo a Manela, ela e Maria Luísa, choraram de tanto rir, ao lerem a tal carta!

Docas disse...

Numa exposição realizada em Fortaleza e Salvador da Baía, fui com o Marques de Freitas, outro assessor da Manela. Mas este muito ajuízado.
Depois chegou a Manela a Salvador da Baía, com várias pessoas para participarem na reunião do Conselho das Comunidades, entre elas a Rita Gomes.
Fiquei no mesmo quarto da Manuela. Num dos dias, em que houve uma pausa, combinou-se uma excursão aos arredores de Salvador. O encontro era era no átrio do hotel. A Manuela tomou o seu duche de 2 minutos, como é costume, tomou o pequeno almoço e desceu para o ponto de enconro. Eu, mais lenta, tomei o meu duche prolongado e desci à sala de j refeições, para um daqueles fabulosos cafés da manhâ. Havia frutas e sumos de toda espécie , compotas, pães de queijo, chã, café, doces, leite, etc. - à discrição! Ora, eu sentei-me e preparava-me para saborear tudo aquilo! Precisava de tempo. E com não me apetecia paressar-me! Estava na hora e a Manuela, não me via chegar. Mandou a Rita Gomes lá acima chamar-me - não queria que eu perdesse o passeio, provalvelmente, única oportunidade na vida. Chega a Rita, com ar assustado e disz: A sua prima está muito zangada e quer que venha já... e como ela insistia, insistia eu, desabafei: merda, nem posso tomar o pequeno almoço descansada!
Escusado será dizer, que qundo desci para o ponto de encontro, os brasileiros ainda não tinham aparecido e tivemos que esperar... e eu dizia queste pequeno almoço, começava a interessar-me amis

Maria Manuela Aguiar disse...

Este exercício de memórias "a duas" dá resultados muito inesperados: se de alguns episódios ambas nos lembramos, mais ou menos, com os mesmos detalhes, de outros, pelo contrário - para uma, estão bem vivos, para a outra, é como se nunca tivessem existido.
O passeio aos arredores de Salvador desapareceu dos meus registos...
O único passeio que recordo, como se fosse hoje, a uma daquelas encantadoras vilas antigas, que pararam no tempo, e são, arquitectonicamente falando, mais portuguesas do que as (não) restam em Portugal, foi a convite do amigo João, presidente do Gabinete Português de Leitura, e íamos só os 3 - a Docas, ele e eu. Desse dia, há muitas fotografias. E belíssimas, tanto do povoado, cujo nome, agora me escapa, como de nós as duas.
Eu acho, mas a Docas não acha, que essa ocorrência por ela relatada, se passou em Fortaleza, durante o Conselho, o CCP, em 1984.
Fiz aí, durante as pausas dos trabalhos, umas incursões àquelas praias de finíssima areia branca, as únicas onde se pode tomar banho. Fortaleza é só paisagem...e águas poluídas...

Docas disse...

A única viagem que fiz como acompanhante única, ou seja, a comitiva completa da Secretária de Estado, foi a S. Francisco, descendo pela costa da Califórnia até S. Diego, na fronteira do México e depois ao Havai. Foi a única viagem em que nunca nos desentendemos...
Nesse época havia grandes restrições orçamentais (Ministério das Finanças, com Hernâni Lopes). A Manuela viajava em 1º Clase e a acompanhante (eu), para poupar, em Classe Económica. Quando chegávamos a um aeroporto, a Manela era a primeira a sair, evidentemente. Uma grande recepção no aeroporto, com várias pessoas importantes, flores, etc. Mas a Manela e o "comité de recepção" que a tinha esperado no aeroporto -com todo o protocolo - ficavam à espera da acompanhante, que vinha no fundo do avião, e, por isso, demorava muito mais tempo a desembarcar. Absolutamente rídiculo! Há economias que não se justificam, mas os "grandes políticos" assim tinham decidido!
Contudo, tirando este percalço, foi uma magnífica viagem. Correu lindamente! O Cônsul de S. Francisco. fez questão de que ficassemos ambas na sua residência nuns quartos esplêndidos.
Mas esse tinha a mania das grandezas e "obrigou" a relutante Secretária de Estado a fazer a viagem para Santa Bárbara, Los Angelos e s. Diego, numa limusine, por acaso conduzida por uma mulher. Elegantíssima e alta - parecia um modelo.
Depois, voamos até ao Havai, onde a recepção foi única. Com colares de flores que nos puseram ao pescoço - tantos, que até já nos doia o pescoço com o peso.
A Manela, com a sua rapidez habitual, antes de eu pensar o que fazer, já ela, se tinha antecipado, tratado do Chek-in e tudo o mais que fosse preciso. Eu sempre achei normal, claro... Mas em Portugal, mais tarde, soube, que disse à família: Eu viajar com a Docas, em trabalho, nunca mais. Porque eu é que tenho de fazer de sua secretária!

Docas disse...

Com a Margarida Serra e Moura, minha colega no gabinete, numa deslocação que fizemos juntas ao Brasil - para organizar uma última exposição, em 1987, já com o governo caído - aconteceu o mesmo. Ela avançava e tratava de tudo. Eu deixava. Quando nos separámos (ela ficou no Rio, de férias, eu fui, por mim e à minha conta, também de férias, para Salvador, de novo), ela estava com muito medo que eu me perdesse.
Mas eu quando tenho de decidir e de fazer as coisas, faço-as bem.
Não vale a pena competir e haver duas pessoas para a mesma tarefa...

Isabel Aguiar disse...

Manela,
num blog com a extensão que este já leva...às vezes é difícil ver tudo! mas hoje tive um "tempinho" para me dedicar a ele e descobri este em que tu contas e documentas com fotos as tuas viagens...pois é, eu fui uma previligiada por ter tido a oportunidade de te acompanhar em algumas...e que saudades eu tenho! as histórias são imensas...mas desde já quero aqui dizer como foi bom partilhar experiências únicas com a Manela! o que eu vi...o que eu aprendi!
Obrigada por me teres proporcionado momentos que são inesquecíveis!
Beijinhos

António Aguiar disse...

Uma das coisas que mais admiro em ti é o facto de conheceres e já teres viajado pelo mundo inteiro... Também desejo muito viajar para os mais variados sítios, talvez quando for mais velho...