segunda-feira, 15 de setembro de 2008

P13 - CRISTINA em AALEN

Cristina Fernanda Aguiar Saraiva

Nasceu a 15 de Setembro

A 15 de Setembro, há 32 anos eu estava em Aalen, a festejar o aniversário da Cristina. Longe de imaginar que seria o último. Que depois de voltar das férias aí passadas, como se tornara já habitual, não a veria nunca mais. A Cristina, que esta gente nova não teve a sorte de conhecer, era "muito Aguiar", com todas as qualidades e sem qualquer dos defeitos dos demais "Aguiar"! Era morena, cabelo preto, preto, como o da Tia Lola ou o da Docas. Olhos grandes, imensos! Parecida com aquelas primas (prima direita da minha mãe e da Tia Lola). Mas bem mais alta. Elegantíssima! Lembro-me de a seguir, um dia, na piscina de Espinho, ela com um sóbrio fato de banho verde, e de ver toda a gente a olha-la, com espanto, como se fosse uma "star" de Hollywood. A Cristina, serena, segura de si, imperturbável, não retribuia os olhares. Eu, sentia- me, confesso, um pouco intimidada. Era criança e nunca tinha assistido a um despertar público de admiração semelhante... Acho que ela era uns 10 anos mais nova do que a minha mãe e uns 10 anos mais velha do que eu. Conseguia conviver tão bem com uma , como com a outra geração. Para a prima Mariazinha, era a mais divertida das companhias. Entendiam - se maravilhosamente. Para a Madalena e para mim, era um verdadeiro ídolo! É que, além de ser tão atraente, era uma mulher inteligentíssima e com um enorme sentido de humor. Para nós, um símbolo do espírito moderno e cosmopolita - geria a empresa do irmão António, viajava para o estrangeiro, constantemente. Coisa rara, naquele Portugal tacanho e misógeno da década de 50 . Gostava muito de nós. Levava-nos à piscina, ao cinema, a lanchar a Vila do Conde... Chegámos a passar dias com ela e a Rosinha, no andar da rua Santa Catarina, enquanto não vivíamos, ali perto, em Latino Coelho. Até que casou, com um alemão, que tinha sido empregado do António, o Ernst Lamb, e foi viver para longe. Primeiro, na região de Mainz. Depois, em Aalen, a algumas dezenas de quilómetros de Stuttgart. O Ernst fez uma bela carreira profissional. Nos anos 70, foi director da Zeiss, seguidamente da Rodenstock . Ia muito ao oriente, Japão, etc. A Cristina "virou" dona de casa. Foi pena! Uma perda de talentos... Era muito comunicativa, tinha amigos em todo o lado. Porém, não tantos por lá, até porque o marido tinha feitio completamente diferente, fechava muito o círculo de convivialidade... Ela adorava vir a Portugal. Vinha, claro, todos os anos . E ficava sempre tão feliz quando recebia a família lá! Uma anfitriã imcomparável. Eu, como disse, passava, na Alemanha,pelo menos, uma semana no verão. Depois, a partir de Stuttgart, ia ,em excursões de autocarro, para a Itália ou a Austria (agora detesto excursões!) . Em geral, escolhia ocasiões em que ela estava só e podíamos passear à vontade. Mas também me entendia lindamente com o Ernst : Era a única visita portuguesa que comia, voluntariamente, peixe crú e bifes tártaros... E isso, parecendo negligenciável, na Alemanha não é... Ele sentia que eu era uma genuina admiradora do seu país e dos usos e gostos locais! Mais do que a própria "Frau Lamb",tão sociável à maneira mediterrânica... Querida Prima! Morreu no verão de 1977, subitamente, de enfarte do miocárdio, Na cidade de Munique, e na véspera de uma vinda a Portugal . Quando a irmã, a Belita me falou, a dar a notícia, eu julgava que me ia dizer a hora a que a devíamos ir esperar. Um choque, uma tristeza sem fim... Que saudades da Cristina !





4 comentários:

Anónimo disse...

Manela disse:A Lé tornou a recordar os tempos que passavam em minha casa em Lisboa, com os excelentes cozinhados da Maria Póvoas e a animaçâo da Endora, rainha dos "Serra de Aires",e lá veio à baila a prima Docas, que elas achavam misteriosa e fascinante. Partias para os fins de semana,com saias "hippies" e um minúsculo "nessessaire" na mão. Só te faltava "a flower in your hair". Consideravam-te a 5ª essência da modernidade! Ao ouvi-la, pensei logo no sentimento de admiração da Lecas e meu pela Cristina, encantadora prima mais velha. Não pelas mesmas razões...Moderna também, sim, mas muito sóbria e senhoril...

Anónimo disse...

Docas disse : Foi em Genebra e não proprimente na Alemanha, onde nunca mais voltei, desde esse ano de 1963,que tive contacto com a Cristina. Estávamos num lar de freiras, eu de férias, a Manela num curso do Instituto de Estudos do Trabalho da OIT e a prima veio passar uns dias connosco. Ela num bom hotel, como o Ernst queria. Por ela, teria ficado no Lar...De facto, era um espírito jovem. Parecia da nossa idade- então,em 1968, pouco mais de 20 anos. Divertida, risonha! Sabia falar de tudo, das trivialidades à política internacional. Que belos dias, de passeios,cinema,almoços e cházinhos,em esplanadas com vista para o lago e conversas infindáveis.Depois não voltamos a estar juntas,mas fiquei para sempre a gostar imenso dela.

Anónimo disse...

Manela disse:Ela muito bem vestida, tu e eu, nada de comparável, mas mesmo assim, tu e ela com uma parecença de parentes próximos! Eu não. Hélas!Fisionomicamente falando, sou muito pouco Aguiar...Recordo bem essa visita da Cristina, enqunto o marido estava do outro lado do mundo - que era quando ela tinha tempo para si e para a família. Tenho a certeza de que foi tão agradável para ela, como para nós. Passámos metade de tempo a rir à gargalhada e a outra metade a falar de coisas sérias, mas nunca "chatas".Com ela, era sempre assim. Fazíamos-lhe confidências e ela retribyia.Era boa psicóloga. Sabia em quem podia confiar. Tu passate, logo, ao "inner circle"

Anónimo disse...

Maria Antónia disse:A Cristina e eu costumávamos passear pelo Porto. Umas vezes íamos lanchar à Leitaria da Quinta do Paço ou tomar um café ao Ceuta, quando não almoçar lá - uma refeição ligeira, bife no pão, acompanhado de "Grande Jó".Tinhamos uma mesa habitual, ao fundo, à direita de quem entra. À esquerda, no único sofá que havia, estavam sempre duas senhoras velhas, bem vestidas, de chapéu. E a Cristina dizia : "Mariazinha,olha para as velhas.Somos nós daqui a 40 anos..." Tinha muito sentido de humor! Quando o António( irmão com quem trabalhava) lhe emprestava um carro- o que era frequente, e até podia ser um grande Mercedes, novo, a estrear...- davamos uma volta pela Foz ,Matosinhos, Leça...Muitas tardes passamos, também na livraria Lello ou na Latina, em Santa Catarina. Os donos eram amigos dela e muito simpáticos.Quem me dera ir agora com ela ao Ceuta- já decorreram os tais 40 anos...